Mara Gabrilli se elegeu senadora em 2018 a galope do Caso Celso Daniel. A mesma Mara Gabrilli, agora, ficou em cima do muro na hora de decidir quem apoiar à presidência da República. Vice da candidata emedebista Simone Tebet, derrotada no primeiro turno, Mara Gabrilli não seguiu a trilha de apoio a Lula da Silva. Nem poderia.
Nem poderia porque acusou Lula da Silva e o PT de mandarem matar o prefeito petista Celso Daniel, em janeiro de 2002.
Mara Gabrilli virou senadora manipulando uma mentira e agora ficou presa à própria mentira.
Mara Gabrilli desconhece o Caso Celso Daniel. Se não desconhece, sofisma sobre o Caso Celso Daniel. Se não sofisma, mente sobre o Caso Celso Daniel.
PASSADO EXPLICA
De qualquer maneira, Mara Gabrilli não tem competência alguma para falar do Caso Celso Daniel. Exceto quanto à participação do próprio pai no sistema de transporte público de Santo André, atropelado por novos concessionários, Ronan Maria Pinto à frente. O mesmo Ronan Maria Pinta que Mara Gabrilli cita como chantagista ligado ao PT que teria mandado assassinar Celso Daniel.
A única maneira de Mara Gabrilli sair da enroscada em que se meteu seria admitir que é uma maria-vai-com-as-outras no Caso Celso Daniel.
Maria-vai-com-as-outras são todos aqueles que, desconhecedores como pressupostamente é Mara Gabrilli, compraram o bilhete furado do Ministério Público em Santo André, que ligou o assassinato às propinas na gestão de Celso Daniel na área de transporte.
MP e FAKE NEWS
O MP criou uma fake news investigativa tão debilitada e desmoralizada 20 anos depois que só resiste no imaginário de quem jamais se deteve com isenção no Caso Celso Daniel.
O consumidor de informações não tem o dever de aderir à verdade dos fatos entre outras razões porque ainda confia em veículos de comunicação.
A narrativa rocambolesca do Caso Celso Daniel, ou seja, de crime de encomenda, é uma anedota entre os especialistas no assunto. O MP de Santo André fez o trabalho direito. Era para melar o jogo mesmo.
SOMBRA VIRA HOLOFOTE
O MP transformou em “Holofote” um “Sombra”, como progamadamente estigmatizou o primeiro-amigo de Celso Daniel, Sérgio Gomes da Silva.
Não há registro na história da humanidade de alguém já formatado como “Sombra”, ou seja, especialistas em atuar nos bastidores, quando não na clandestinidade do Poder Público, que tenha decidido se colocar como estrela de primeira grandeza na trajetória final de Celso Daniel.
“Sombra” que virou o principal suspeito de um crime politizado só cabe na cabeça de fanáticos e lunáticos.
A aberração investigativa do MP é tão ultrajante à inteligência que chega a ser um deboche.
A maioria ou quase a totalidade dos que acreditam que conhecem o Caso Celso Daniel dá vazão ao enviesamento político-criminal que teve Sérgio Gomes da Silva como autor intelectual do assassinato.
DOCUMENTÁRIO ESCLARECEDOR
Trata-se sim de uma das maiores barbaridades em matéria de fake news que, a Velha Imprensa (ainda sem dar as mãos aos sistemas de aparelhamento que o PT montou no governo federal a partir de 2002) industrializou num período em que as redes sociais praticamente não existiam.
Os intrépidos agentes do Ministério Público de Santo André, a mando do governador Geraldo Alckmin e de seu Secretário de Justiça, trataram sim de melar o crime ocasional cometido por um bando de bandidos pés de chinelo. E foram, os promotores criminais, desmascarados recentemente.
Quem assistiu ao documentário da Globoplay, produzido pelo Estúdio Escarlate, do qual tive o prazer e a responsabilidade de participar, sabe do que estou falando.
MP VERSUS MP
Está lá um graduadíssimo integrante do Ministério Público da Capital a desqualificar com elegância o trabalho dos companheiros em Santo André.
O agente do MP seguiu rigorosamente a trilha das investigações de variadas ramificações da Polícia Civil de São Paulo – e também da Polícia Federal.
Também está no documentário da Globoplay a franqueza de um homem-chave da cúpula petista, Gilberto Carvalho, então secretário municipal em Santo André, a confirmar o esquema de propina até então negado.
Resumidamente, os bandidos que participaram do arrebatamento e da morte de Celso Daniel não tinham e jamais tiveram qualquer relação com a Administração de Celso Daniel, com quem quer que seja, principalmente com Sérgio Gomes.
FÁBRICA DE MORTES
Aquelas sete fatídicas mortes pós-assassinato de Santo André, que a Folha de S. Paulo alinhavou como algo relacionado a queima de arquivo petista, não passaram de fake news segundo os próprios promotores do MP de Santo André. Eles poderiam ter esclarecido os casos publicamente durante todo o tempo. Só o fizeram no documentário da Globoplay.
Essa é a realidades dos fatos que Mara Gabrilli sempre desprezou e, mais que isso, se locupletou politicamente porque cumpriu à risca interesses próprios ou porque não conhece nada do Caso Celso Daniel.
Mara Gabrilli ouviu o galo cantar sobre a morte de Celso Daniel, mas jamais entendeu que o enredo é outro. Se entendeu, fez que não entendeu. Mais que fazer que não entendeu, deu corda e lubrificou a engrenagem de votos.
CONFUNDINDO AS BOLAS
Mara Gabrilli cita nominalmente, e com insistência dos indignados, o nome de Ronan Maria Pinto como envolvido no assassinato, em forma de chantagem à cúpula do PT para supostamente não revelar tudo o que sabia, ou seja, a suposta ordem de execução do prefeito.
Mara Gabrilli confundiu as bolas. Ronan Maria Pinto foi condenado, assim como outros participantes do esquema de propina na gestão de Celso Daniel, exatamente porque participava da operação de caixa paralelíssimo de campanha de arrecadação de fundos petistas para a disputa da presidência da República.
Ronan Maria Pinto participava, portanto, tanto quanto outros, antecessores, ou seja, gente que, antes da chegada de Celso Daniel ao cargo em 1997, também faziam do setor de transporte coletivo uma fonte de enriquecimento nada ortodoxo.
Mara Gabrilli não se conforma com a verdade dos fatos e faz dos fatos gatos e sapatos.
SEM SUSTENTAÇÃO
O que Ronan Maria Pinto poderia utilizar como suposto chantagista para comprar as ações do Diário do Grande ABC, seguindo a vereda de Mara Gabrilli até determinado ponto, seria a possibilidade de denunciar o esquema da gestão de Celso Daniel.
Alguém perguntaria por que razão Ronan Maria Pinto achacaria o PT se Ronan Maria Pinto estava mergulhado no esquema de arrecadação paralela e, mais que isso, tinha relações estreitas com graduados petistas?
Quem ler o inquérito de uma das varas criminais de Santo André, que dá conta da condenação de todos os envolvidos, saberá detalhes que esterilizam a tese de Mara Gabrilli.
SALVADOR DO PT
O que o PT teria a perder e não perdeu porque alguém salvou a pátria petista naquela 2002 de eleições presidenciais em que Lula da Silva tentaria pela quarta vez seguida chegar à presidência da República?
Simples: o PT perderia a eleição que ganhou de José Serra, porque a virgindade ética em forma de impermeabilidade à corrupção que a agremiação tanto combatia iria para o espaço.
O Mensalão que veio depois integra a rede de adensamento do poder do PT. O Petrolão era mais vigoroso ainda.
E quem salvou o PT da morte prematura num tempo em que corrupção denunciada teria efeito devastador?
Exatamente Sérgio Gomes da Silva, a quem o PSDB de Geraldo Alckmin identificou como objetivo a ser duramente perseguido para caracterizar um crime de encomenda.
DELAÇÃO PREMIADA
Não faltaram propostas de delação premiada a Sérgio Gomes da Silva para revelar o esquema de arrecadação paralela na gestão de Celso Daniel. Isso não é folclore. Foi dito pessoalmente a mim pelo próprio Sérgio Gomes da Silva, a quem conheci após o assassinato de Celso Daniel e com o qual mantive encontros prolongados em seu apartamento, em Santo André.
Sei muito mais sobre o Caso Celso Daniel e também sobre o governo Lula da Silva, inclusive da composição do Supremo Tribunal Federal, do que imaginam os mais criativos.
O MP de Santo André cansou de oferecer a Sérgio Gomes da Silva vantagens para dizer a verdade em nome de alguma coisa que estaria longe do que ele suportou após recusar sistematicamente qualquer coisa que lembrasse traição ao PT que tanto respeitava.
BONS COMPANHEIROS
O que se deu tempos depois? PT e PSDB iniciaram conversações apaziguadoras. Mais que apaziguadoras. Frondosamente lucrativas.
O PT deixaria de incriminar o PSDB pela morte de Celso Daniel, porque a criminalidade em São Paulo era aviltante.
E o PSDB deixaria o PT em paz ante o sacrifício de Sérgio Gomes da Silva, boi de piranha de toda a operação.
Foi a partir daí que houve a aproximação entre as cúpulas do PT e do PSDB, Lula e Fernando Henrique Cardoso à frente. Geraldo Alckmin, agora candidato a vice de Lula da Silva, participou de tudo. Os primeiros dias tempestuosos pós-sequestro e morte viraram passado. Quem assistir ao documentário da Globoplay poderá avaliar a reação de Geraldo Alckmin à politização do crime pelo PT.
RELAÇÕES INCESTUOSAS
É uma fraude interpretativa a mídia supostamente progressista, mas que não passa de regressista, chamar de relações civilizatórias o ambiente político-institucional coordenado por petistas e tucanos. A origem de tudo é o acordão de relações políticas de bastidores com cláusula pétrea à manutenção dos interesses das duas agremiações.
A disputa eleitoral se daria sempre com civilidade de adversários que só tinham a ganhar se fingissem animosidades mais agudas.
O PSDB, a partir de então, ficou de vez com o Estado de São Paulo e o PT com governo federal.
Mara Gabrilli se beneficiou do Caso Celso Daniel em 2018 quando João Doria passou a ser o mandachuva tucano e rompeu o lacre de relações diplomáticas com o PT.
Mara Gabrilli levou para a campanha eleitoral de horário gratuito um tema que jamais se fizera presente: o Caso Celso Daniel.
GANHANDO VOTOS
Mara Gabrilli fez da morte de Celso Daniel o estandarte da vitória na reta de chegada da disputa senatorial.
Fez do pai mártir das operações paralelas no setor de transporte em Santo André. Depois de Celso Daniel, ninguém teria sofrido tanto.
Conto essa história real mais uma vez porque a demanda nas redes sociais das quais faço parte me impõem.
Acho que aos poucos os eleitores da direita começam a entender o que se passou ao longo dos anos com o Caso Celso Daniel, do qual sempre duvidaram na versão deste jornalista. Versão é força de expressão, porque são constatações.
TUDO ÀS CLARAS
A aproximação às claras de tucanos e petistas neste segundo turno das eleições, não bastasse o peixe grande Alckmin como parceiro de chapa de Lula da Silva, torna tudo mais fácil à compreensão.
O Caso Celso Daniel em várias situações que ganharam narrativas fantasiosas é uma das maiores fake news da história do jornalismo brasileiro. Escrevi duas centenas de matérias sobre o assunto.
Sei o que passei até que as a luminosidade sufocasse as trevas especulativas.
Mara Gabrilli mente sobre o Caso Celso Daniel. Se não mente, sofisma sobre o Caso Celso Daniel. Se não sofisma, desconhece o Caso Celso Daniel. Se desconhece e se sofisma, Mara Gabrilli mente mesmo e para valer sobre o Caso Celso Daniel.
MARA MENTE
Mara Gabrilli mente ao relacionar o assassinato do prefeito à suposta chantagem de Ronan Maria Pinto. É uma delinquência ética que lhe valeu a vitória eleitoral.
Mara Gabrilli tem todas as razões do mundo para ficar em cima do muro, partindo-se do princípio do livre-arbítrio.
Só não pode saltar do muro da inverdade construída para justificar e alardear os incômodos que seu velho pai sofreu em Santo André quando ele, seu pai, e um grupo de amigos, também empresários do setor, perderam espaço para Ronan Maria Pinto.
O Caso Celso Daniel não é para amadores, nem para fanáticos, muito menos para oportunistas.
O PT ainda não pediu desculpas ao povo brasileiro por tudo o que aconteceu em Santo André. E tampouco prestou homenagem póstuma ao homem que salvou a pátria de Lula da Silva em 2002 e também durante muitos anos depois. Até morrer inocente, transformado que foi de “Sombra” a um espalhafatoso Holofote.
Total de 895 matérias | Página 1
19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)