Política

Miseráveis do Auxílio Brasil
avançam rumo a Bolsonaro

DANIEL LIMA - 21/10/2022

O que o PT tanto temia e por isso mesmo queria decidir a eleição no primeiro turno está se confirmando nos números da mais recente pesquisa do Datafolha da Folha de S. Paulo.  

Os miseráveis do Bolsa Família, programa do governo federal rebatizado de Auxílio Brasil,  estão se convertendo às bandas de Jair Bolsonaro. Nada que tire o favoritismo de Lula da Silva entre eles, claro, mas que pode, pela redução do estoque quase monopolista em outros tempos, provocar estragos gerais. 

Lula da Silva, o descobridor dos sete mares de pobreza do País, está preocupado com o vazamento de um nicho que representa 26% do eleitorado. Eles, os excluídos, estão espalhados principalmente no Nordeste em que Lula da Silva é rei, e também nas periferias das grandes metrópoles, onde o vermelho petista prevalece.  

As periferias metropolitanas são cordilheiras petistas. Experimente dar uma espiada, por exemplo, na Região Metropolitana de São Paulo de mais de 22 milhões de habitantes e onde estão 47% dos eleitores paulistas.  

E A VELOCIDADE?  

A dúvida nessa batalha que ainda tem mais de uma semana para ir às urnas é saber até que ponto a velocidade de transferência de votos para Jair Bolsonaro será densa para reduzir a vantagem cristalizada do ex-presidente da República. 

Assessores do presidente Jair Bolsonaro morreram de medo do encerramento da disputa no primeiro turno porque, consideravam, havia ainda muito a capitalizar eleitoralmente com o Renda Brasil, lançado supostamente tarde quando a fita de chegada eleitoral apontava dois de outubro. Trinta de outubro seria a salvação das urnas. 

Antes de descer a detalhes não custa acrescentar fortes dúvidas quanto à lisura metodológica do Datafolha e muito mais quanto à interpretação jornalística da Folha de S. Paulo. E isso vem de longe, como se sabe.  

CAUTELA REDOBRADA  

Já desfilei argumentos caudalosos sobre isso. A Folha do Datafolha e o Datafolha da Folha são irmãos corporativos recentemente agregados ao Consórcio de Imprensa, a Velha Imprensa. Trata-se de uma concentração de poderes midiáticos que procura compensar parte do que as redes sociais destroçaram com as diabólicas maquininhas portáteis.   

Não espere do Consórcio de Imprensa qualquer gesto de solidariedade à Jovem Pan pelo avanço da ditatura do Tribunal Superior Eleitoral. Mas isso é outra história.  

Os números do Datafolha da Folha dos miseráveis brasileiros na disputa do próximo dia 30 exigem cautela redobrada.  

Mas, por mais que que excluídos sociais com direito a voto sejam uma massa imprecisa no Datafolha da Folha, não custa nada especular.  

Os resultados são de consistência estatística menos satisfatória porque a pesquisa do Datafolha da Folha ouviu perto de três mil eleitores, com margem de erro de dois pontos percentuais.  

MARGEM TRAVESSA   

O problema que gera desconfiança é que os votos que seriam destinados a Lula da Silva e a Jair Bolsonaro entre os beneficiários do Auxílio Brasil correspondem a 26% do volume total.  

Ou seja: trata-se de um recorte específico de entrevistados, não do conjunto de quase três mil entrevistados.  

Se a margem de erro de dois pontos percentuais vale para quase três mil questionários, 26% recortados representam margem de erro muito maior.  

O Datafolha da Folha e a Folha do Datafolha dizem que, nesse caso, a margem de erro seria de quatro pontos percentuais. Se fosse, mas não é, porque é muito mais, já seria margem de erro excessiva.  

LOUCURA NUMÉRICA  

Com margem de erro de quatro pontos percentuais para cima e para baixo, quem tem 10% pode ter 14% contra 2% do adversário originalmente com 6% e quem originalmente tem 6% pode ter 10% contra 6% do adversário originalmente com 10%. Repararam na loucura numérica? Vamos deixar tudo isso de lado e acreditar no Datafolha da Folha.  

Vou reproduzir os principais trechos de duas matérias publicadas pela Folha do Datafolha. Verão os leitores o que se passou nos dois últimos meses com a movimentação das pedras dos eleitores que recebem o Auxílio Brasil, peça considerada decisiva à vitória neste segundo turno. 

a) Folha-Datafolha de 20 de agosto. Título: “Lula lidera entre quem recebe Auxílio Brasil, diz Datafolha”. Linha auxiliar: “No primeiro turno, petista tem 56% das intenções de voto dos beneficiários, enquanto Jair Bolsonaro tem 28%. Principais trechos da reportagem: 

 O ex-presidente Lula (PT) tem 56% das intenções de votos no primeiro turno entre pessoas que recebem o Auxílio Brasil ou moram com alguém que é beneficiário do programa, diz pesquisa Datafolha. O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem 28% entre esses eleitores. Os beneficiários do programa de distribuição de renda representam um em cada quatro brasileiros. Entre eleitores de famílias que não estão no programa, a diferença é menor: 44% e 34%, respectivamente, para Lula e Bolsonaro. O atual presidente tem avançado entre esses beneficiários. Marcou 20% na pesquisa do final de maio, 22% no fim de julho, 26% em julho e 28% neste último levantamento. Lula teve 59% em maio e junho, 53% em julho e agora 56%.  

b) Folha/Datafolha de hoje, 21 de outubro. Título: “Presidente atinge sua melhor avaliação entre público do Auxílio”. Principais trechos da reportagem: 

 O presidente Jair Bolsonaro (PL) alcançou numericamente os melhores patamares de intenção de votos e avaliação de governo entre pessoas que recebem o Auxílio Brasil ou moram com alguém que é beneficiário do programa, de acordo com a terceira rodada da pesquisa Datafolha feita após o primeiro turno das eleições. (...) A parcela dos entrevistados que afirmaram que irão votar no atual mandatário passou de 37% para 33% nos dois primeiros levantamentos e chegou agora a 40%. (...). Disseram que irão votar no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno 56% dos eleitores. (...). Entre pessoas que não recebem o benefício, as intenções de votos praticamente não se alteraram nessas três semanas e estão agora em 46% para o petista e 47% para Bolsonaro.  

De 28 para 16 

O que a Folha de S. Paulo não publicou, porque descuidada ou ignora determinadas filigranas das pesquisas do Datafolha, é que uma comparação que tenha a linha do tempo como elemento esclarecedor mais que justifica a preocupação do PT em encerrar a disputa no primeiro turno. 

Basta comparar os números de agosto do Datafolha da Folha de agosto com os números de agora do Datafolha da Folha. Em 20 de agosto, a vantagem de Lula da Silva entre os miseráveis do Auxílio Brasil era de 28 pontos percentuais. Lula contava com 56% dos votos, ante 28% de Bolsonaro. Agora, a diferença a 10 dias das eleições é de 16 pontos percentuais – 56% a 40%.   

PROVA PROVADA  

Agora, para terminar e comprovar que a inquietação petista tem muita razão de ser, nada melhor que mais uma vez usar o Datafolha da Folha e a Folha do Datafolha.  

c) Título: “Votação de Bolsonaro melhora em cidades que mais recebem Auxílio Brasil”, publicada na última terça-feira, dia 18, é elucidativa. Alguns trechos selecionados: 

 A votação do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas cidades que mais recebem o Auxílio Brasil melhorou no primeiro turno em relação a 2018, quando disputou a Presidência pela primeira vez. Entre o primeiro turno de 2018 e o de 2022, Bolsonaro obteve menos votos válidos – caiu de 46% para 43,2%. Mas, nas cidades onde, proporcionalmente, mais moradores recebem o benefício, o cenário é outro. O desempenho eleitoral do presidente melhorou na comparação entre as votações. Bolsonaro elevou em 3,6 pontos percentuais a votação nos municípios com mais de 25% da população contemplada pelo programa social. Nas 397 cidades que mais recebem a transferência de renda, a votação válida dele passou de 16,53% para 20,18%. (...) Ao todo, são 397 cidades onde mais de 25% da população recebe a transferência de renda, das quais 348 estão no Nordeste – segmento regional que historicamente tem preferência pelo PT. 



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