O que se segue são 63 motivos para você votar num dos candidatos à presidência da República neste domingo, 30 de outubro, e também votar em branco.
Votar em branco é uma situação provisória, entre hoje e domingo. No fundo, é o voto não decidido dos indecisos.
Provavelmente até domingo muitos eleitores que desperdiçariam o voto, definiriam a estrada a seguir.
Preparei uma relação que contempla 21 cenários favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro, 21 cenários favoráveis a Lula da Silva e outros 21 de quem votaria em branco, ou ainda não se decidiu.
Não existe na lista abaixo novidade alguma para quem acompanha a disputa presidencial mais polarizada da história.
SEPARAÇÃO EVIDENTE
Há evidente separação fática e também subjetiva entre os eleitores que preferem um determinado caminho e eleitores que preferem um caminho completamente distinto.
Explicar um e outro é perda de tempo agora, porque estão explicitamente colocados a seguir.
Só existem dois enunciados que dispensam os demais, tornando-se, portanto, autônomos e inexoráveis.
Trata-se de um enunciado alinhado aos eleitores de Jair Bolsonaro e um associada a Lula da Silva. Um único enunciado, portanto, para cada um. Os demais seriam, portanto, dispensáveis.
Os leitores vão decifrar essas duas situações na medida em que seguirem nesta jornada. Os desatentos poderão imaginar que houve repetição em relação a um enunciado subsequente, mas a distinção é clara: considera-se apenas um enunciado.
Para não dizerem que faço suspense ou torno a equação muito complexa, revelo que a irredutibilidade de voto em Lula da Silva, num dos 21 pontos favoráveis ao ex-presidente, se prende à pandemia do Coronavírus.
E o ponto irreversível favorável a Jair Bolsonaro, também entre 21 cenários, localiza-se no passado do ex-presidente.
RAZÕES MÚLTIPLAS
Isto posto, mergulhem atenção na lista que se segue. Se você eventualmente ainda não sabe as razões que o levam a votar em determinado candidato, ou até mesmo avalia que votaria por uma ou algumas razões específicas, talvez se surpreende com a convergência da escolha, muito além de própria percepção pessoal.
Qualquer preferência por determinado candidato presidencial que fuja da bitola esquadrinhada abaixo faria parte de inconformidades.
Seria o que chamaria de conflito avaliativo, perceptivo e cognitivo. Afinal, os dois modelos desenhados seguem rigorosamente uma linha de coerência óbvia, embora nem sempre observada. Eventual distorção, por assim dizer, seria a constatação de que a escolha carregaria um caminhão de aleatoriedades, em colisão com a racionalidade e o conhecimento do ambiente da disputa.
JAIR, LULA E BRANCOS
1. Votaria em Lula da Silva, desconsiderando todas as demais alternativas abaixo, porque Jair Bolsonaro é o único e exclusivo responsável pela morte de familiares e amigos durante a pandemia.
2. Votaria em branco se entendesse que Bolsonaro fez todo o possível para amenizar os estragos do Coronavírus, mas faltou ao governo coordenação para dialogar com outras instâncias de governo.
3. Votaria em Lula da Silva porque Bolsonaro cometeu série de equívocos e abusos na condução do combate ao Coronavírus.
4. Votaria em branco se entendesse que os erros de Bolsonaro na gestão da pandemia foram compartilhados por prefeitos e governadores.
5. Votaria em branco se entendesse que o Supremo Tribunal Federal agiu indevidamente, quando não desastradamente, ao descentralizar o comando do combate ao vírus, dando amplos poderes a Estados e Municípios e esvaziando a coordenação geral da Presidência.
6. Votaria em Bolsonaro sem a menor dúvida, desconsiderando todas as demais alternativas, simplesmente porque não aceito ter um presidente da República ex-presidiário, ladrão, descondenado e mentiroso.
7. Votaria em branco por considerar que os escândalos de Lula da Silva não seriam diferentes dos escândalos de Bolsonaro, por mais que eventualmente pareçam distintos.
8. Votaria em Bolsonaro por considerar que os crimes cometidos pelo ex-presidente foram fartamente provados e confirmados, enquanto contra o atual presidente só foram denúncias que jamais se tornaram provas e sentenças judiciais.
9. Votaria em branco se entendesse que o Supremo Tribunal Federal não tem partido e que, portanto, a indicação e aprovação de seus membros obedece a um ritual de lisura e ética, além de farto conhecimento jurídico.
10. Votaria em Jair Bolsonaro se entendesse que o Supremo Tribunal Federal tem partido definido e que atuou o tempo todo durante o mandato presidencial para torpedear o ocupante do Palácio do Planalto.
11. Votaria em Lula da Silva se entendesse que jamais o PT fez qualquer interferência no Supremo Tribunal Federal, mantendo a legitimidade da Corte acima de qualquer suspeita.
12. Votaria em Jair Bolsonaro se entendesse que Lula da Silva jamais poderia ganhar elegibilidade, além de ter cometido crimes que deveriam mantê-lo encarcerado por muito mais tempo.
13. Votaria em Lula da Silva se entendesse que a Operação Lava Jato foi ação coordenada exclusivamente para criminalizar o PT e partidos aliados.
14. Votaria em branco se entendesse que a Operação Lava Jato foi eficiente ao revelar a podridão política, mas extrapolou o campo jurídico com métodos que agrediram o devido processo legal.
15. Votaria em Lula da Silva se entendesse que o tratamento ao meio ambiente, sobretudo na Amazonia, sofreu duros reveses nos últimos quatro anos.
16. Votaria em branco se entendesse que a Amazônia e outros biomas não ultrapassaram os limites de descaso durante o governo Jair Bolsonaro em relação aos antecessores igualmente descuidados.
17. Votaria em Jair Bolsonaro se tivesse certeza de que maltratos à Amazônia não passariam de narrativas de opositores.
18. Votaria em branco se considerasse que o desarmamento da população é uma aberração que provocará aumento da criminalidade.
19. Votaria em Jair Bolsonaro ao considerar que a política de desarmamento condicionado, mesmo com excessos aqui e ali, é indispensável a um País territorialmente tão imenso.
20. Votaria em branco se apesar de todos os pesares não conseguisse identificar na política de desarmamento segurança jurídico-operacional a salvo do arbítrio individual.
21. Votaria em Lula da Silva se compreendesse que não passam de fake news veiculações que ligam o ex-presidente ao afrouxamento de políticas de segurança pública.
22. Votaria em Jair Bolsonaro se me desse conta de que religião é parte importante à governabilidade.
23. Votaria em branco se entendesse que não se deve confundir Estado e Religião.
24. Votaria em Lula da Silva se considerasse peça de campanha difamatória a suposta aversão do ex-presidente à religião.
25. Votaria em Jair Bolsonaro se considerasse pautas identitárias e comportamentais ameaças à família tradicional.
26. Votaria em Lula da Silva se entendesse que políticas identitárias e comportamentais são porções essenciais à dinâmica social.
27. Votaria em Bolsonaro se avaliasse como correta a política de jogo pesado com a criminalidade.
28. Votaria em Lula da Silva se considerasse criminalidade como doença social que precisa ser tratada sem radicalismos punitivos.
29. Votaria em branco se entendesse que entre a dureza no tratamento e a contemporização aos criminosos, o melhor seria esperar.
30. Votaria em Bolsonaro se considerasse a redução da carga tributária fonte a grandes mudanças no País.
31. Votaria em Lula se avaliasse que o Estado precisa ser fortalecido inclusive com recarga tributária, tornando-se ainda maior.
32. Votaria em Bolsonaro se ele considerasse fora de qualquer possibilidade a taxação de riqueza por conta da possibilidade de evasão de investimentos.
33. Votaria em Lula da Silva por considerar que grandes fortunas familiares e grandes empresas precisam e devem pagar mais impostos.
34. Votaria em Jair Bolsonaro se considerasse fundamental continuar com o veto ao curral eleitoral do imposto sindical.
35. Votaria em Lula da Silva se tivesse no horizonte próximo o retorno do imposto sindical como suprimento democrático das relações entre capital e trabalho.
36. Votaria em Jair Bolsonaro se avaliasse como extremamente negativo o passado de atuação do PT Federal e do PT Municipal nos municípios do Grande ABC no campo econômico.
37. Votaria em Lula da Silva se entendesse que o PT fez grande revolução na economia do Grande ABC durante os 14 anos de Brasília e muito mais tempo a partir da eleição do prefeito de Diadema em 1982.
38. Votaria em Jair Bolsonaro se considerasse como saldo mais negativo do que positivo também no campo econômico o movimento sindical a partir das jornadas de Lula da Silva no Grande ABC.
39. Votaria em Lula da Silva caso considerasse a atuação sindical no Grande ABC um símbolo de democracia e de mobilidade social, além de construção de um perfil social sem preconceitos.
40. Votaria em branco se avaliasse o movimento sindical no Grande ABC como algo que nem foi positivo nem negativo, porque na soma dos fatores o resultado final foi irrisório para o conjunto da sociedade.
41. Votaria em Jair Bolsonaro se entendesse que, juntamente com Tarcísio de Freitas no Palácio dos Bandeirantes, o Grande ABC teria muito mais possibilidade de sair da desindustrialização que o impacta.
42. Votaria em Lula da Silva se considerasse que, juntamente com Fernando Haddad no Palácio dos Bandeirantes, as possibilidades de recuperação econômica do Grande ABC cresceriam absurdamente.
43. Votaria em branco se considerasse que o Grande ABC não sairá do marasmo econômico em que se encontra seja qual for o resultado para presidente da República e governador do Estado.
44. Votaria em Lula da Silva se entendesse que o Caso Celso Daniel é a maior fake news da história político-criminal do País.
45. Votaria em Jair Bolsonaro se não tivesse dúvida alguma de que o Caso Celso Daniel é uma obra criminosa do PT, a mando de Lula da Silva e de José Dirceu.
46. Votaria em branco se o assunto for o Caso Celso Daniel porque informações desconexas não me serviriam a juízo de valor peremptório.
47. Votaria em Lula da Silva se considerasse um sucesso de efetividade regional no campo econômico a criação da Universidade Federal do Grande ABC.
48. Votaria em Bolsonaro diante do constatado fracasso da Universidade Federal do Grande ABC, alheia às demandas locais, com consequente aceno a modificações que integrem a instituição ao ecossistema produtivo regional.
49. Votaria em branco diante da falta de horizonte da Universidade Federal do Grande ABC no sentido prático de deixar o autarquismo corporativo-curricular que a caracteriza sem ter a garantia de que Bolsonaro conseguiria fazer algo diferente, ou seja, de inserção na economia regional.
50. Votaria em Lula da Silva diante da garantia mais que provável que, por ter construído dezenas de universidades públicas em oito anos de dois mandatos, tem conhecimento e retaguarda suficientes para sustentar o modelo atual.
51. Votaria em branco se não houvesse nada que acenasse a políticas públicas que desconsiderassem a necessidade de disciplinar o uso e ocupação do solo de empreendimentos comerciais de tamanhos econômicos diferentes.
52. Votaria em branco se o mercado imobiliário não fosse uma das prioridades na busca por conciliar os efeitos criminosos de grandes conglomerados expropriadores da qualidade de vida humana com a manipulação do conceito de densidade ocupacional.
53. Votaria em Lula da Silva se ele, orientado por especialistas da área de saúde, decidir reforçar a atuação das entidades sociais, prometendo uma atuação mais rigorosa na fiscalização dos recursos.
54. Votaria em Jair Bolsonaro se observasse prioridade na definição de uma pauta tributária que, gradualmente, tornasse a distribuição de ICMS menos distorcida, levando-se em conta, entre vários vetores, a necessidade de conciliar população e Valor Adicionado. Lula da Silva jamais se importou com isso.
55. Votaria em Bolsonaro se houvesse a garantia de que o dinheiro reservado à saúde dos municípios não fosse levado enchente de corrupção abaixo – especialmente nas Organizações Sociais criadas exatamente para isso.
56. Votaria em branco diante da certeza de que o dinheiro público reservado à saúde continuará sendo um canal sedutor à corrupção sem freios.
57. Votaria em Bolsonaro diante da garantia de que cada vez mais empresas estatais deixarão de fazer parte do portfólio da gestão pública, num processo de privatização transparente.
58. Votaria em Lula da Silva com a garantia de que as estatais atuais não só seriam mantidas como algumas que foram privatizadas passariam por reestatização.
59. Votaria em Bolsonaro porque acreditaria que os veículos de comunicação conservadores, como a Jovem Pan, retratam com mais fidelidade o ambiente político e econômico do País e quebram o monopólio da chamada Velha Imprensa, despudoramente favorável aos socialistas.
60. Votaria em Lula da Silva porque acreditaria que a chamada Velha Imprensa é o respaldo ético no campo da comunicação diante do avanço de mídias conservadoras sem compromisso com a verdade dos fatos.
61. Voltaria em branco porque consideraria que tanto a mídia tradicional, a Velha Imprensa, como as alternativas à direita, lideradas pela Jovem Pan, entraram num beco opinativo sem conexão com os fatos.
62. Votaria em branco diante de qualquer tentativa de censura nas redes sociais, por entender que liberdade de expressão não tem condicionantes, exceto excessos passíveis ao devido processo legal.
63. Votaria em Lula da Silva diante de tudo que ele considerar como ofensivo à honra nas redes sociais, relativizando o conceito de liberdade de expressão.
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