Política

Região não merece mesmo
representante no governo

DANIEL LIMA - 23/11/2022

Estava prontíssimo, engatilhadíssimo, para escrever sobre outra coisa (o encaminhamento político-administrativo de Santo André ao mesmo destino de São Caetano e de Diadema), quando uma mensagem no WhatsApp de um leitor assíduo e amigo de longa data me chamou a atenção. 

Recebi a reprodução da manchete de página do Diário do Grande ABC de hoje. A matéria dá conta da inexistência de representação individual da região na equipe de transição do governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Dos 105 nomes revelados, nadinha de nada da região na parada. Nada mais lógico.  Parabéns ao novo governador.  

Avido leitor que sou, desses que consomem todo o tempo de vida louco para entender o mundo em que vive, havia lido a reportagem no Diário do Grande ABC, produzida pelo Estadão Conteúdo, e não dei o suposto devido valor.  

NÓS DE NÓS  

Considerei a informação tão óbvia e ululante que passei batido sobre implicações que estão na origem do suposto fracasso embutido na manchete.  

Mudei de ideia porque as redes sociais de que participo são de alguma forma um dos termômetros que, se não condicionam, orientam minha agenda diária. 

Tem mesmo muito significado o que estamos vendo, mas, ao contrário do leitor amigo, que atribui ao carioquismo do novo governador suposto descaso com o Grande ABC, inverto os papéis de vilania. Os culpados somos nós que não desatamos os nós.  

O que quero dizer com isso é que o Grande ABC é tão inexpressivo como modelo de qualquer coisa que possa chamar a atenção a políticas reformistas que se pretendem no Palácio dos Bandeirantes, que, ao invés de lamentar a ausência, devemos festejar a ausência. Pelo menos não passaremos vexame. O passado nos condena.  

FRUSTRAÇÃO ANTIGA  

Ou alguém já se esqueceu que ao longo da jornada de três décadas dos tucanos no governo do Estado tivemos em larga maioria vários representantes locais selecionados sem critério algum, com meritocracia suspeita, apenas por conta de jogos partidários, e nenhum deles, absolutamente nenhum deles, interferiu na busca por um modelo de transformações de que tanto carecemos? 

O Grande ABC não precisa de individualidade qualquer ou muito bem selecionada para se fazer presente no governo de Tarcísio de Freitas como alavanca a transformações. A interlocução é outra.  

REFORMISTAS JÁ  

O Grande ABC precisa de um grupo de reformistas que se unam e que leve ao governador do Estado um projeto factível, produtivo, imediato. Um projeto tão abrangente quanto transformador.  

E esse projeto em forma de ideia eu tenho e ainda outro dia disse que tinha e que esperava que alguém pudesse ajudar a encaminhá-lo ao governador eleito.  

Mais uma vez afirmo que não vou revelar absolutamente nada sem que tenha a garantia de que a proposta chegará para valer à equipe do governador eleito.  

ABRAÇANDO A IDEIA  

Mais que isso: que se tenha uma audiência com Tarcísio de Freitas. Basta isso para desdobrar-se outra certeza: o ex-ministro do governo Jair Bolsonaro vai abraçar a ideia com sofreguidão, porque tem tudo a ver com a cara técnica dele.  

E tem mais: a proposta conta com a vantagem adicional de que terá efeitos benéficos no campo político-eleitoral. Muito mais do que político de carreira seria capaz de formular. Políticos de carreira sabem de tudo, menos de economia.  

Aliás, políticos de carreira são como acadêmicos formatados no quadradismo de proteção e fortalecimento do elefantismo do Estado Todo Poderoso. A sociedade que se dane.  

SEM LAMENTO  

Provavelmente porque foi produzida quase integralmente pelo Estadão Conteúdo, com breve emenda da redação ao situar a ausência de representante do Grande ABC, o Diário do Grande ABC publicou a reportagem sem lamentações, exceto na manchete indutiva à orfandade.  

Uma das especialidades do Diário do Grande ABC é localizar gente da região que supostamente faz sucesso mundo afora. É uma política muitas vezes forçada e provinciana de valorização individual que não combina com o tratamento a quem reside e tem atividades na região, exceto algumas incursões seletivas.   

Conheço pelo menos uma dezena de personagens do Grande ABC que poderiam integrar o grupo que levaria ao governador do Estado a proposta que tanto mantenho em segredo. 

São profissionais sem ligações diretas com qualquer administração municipal da região. Não se trata de preconceito, mas de conceito consolidado.  

QUESTÃO AMPLA  

Qualquer nome dessa lista poderia supostamente ser representante do Grande ABC no novo governo do Estado, mas o resultado final seria a repetição dos anteriores: fracassaria redondamente. E fracassaria porque sem institucionalidade regional a lhe dar cobertura, tudo se dissolve.  

O único antídoto possivelmente à mão para combater à fragilidade institucional do Grande ABC é o próprio governador do Estado que assumirá em janeiro despertar para a importância de valorizar o grupo de agentes da região desagarrados dos paços municipais e do esfarrapado, contaminado, quixotesco, Clube dos Prefeitos.  

As relações políticas das autoridades públicas do Grande ABC com o governador eleito ainda são uma incógnita. Há uma certeza aparentemente inabalável de que Orlando Morando, prefeito de São Bernardo e que se expôs publicamente em defesa do então aliado do PSDB no segundo turno paulista, esteja entre os principais aliados. Os demais prefeitos de coloração azulada, tucana, pouco se apresentaram para o batente contra o petista Fernando Haddad. Principalmente Paulinho Serra.  

PAUTAS FRUSTRADAS  

Torço para que Tarcísio de Freitas, técnico consagrado, entenda que o jogo administrativo no comando de um Estado tão importante como São Paulo não deve estar restrito aos agentes públicos, prefeitos e deputados. Há na sociedade do Grande ABC, apesar dos pesares, gente qualificada para uma interlocução fértil de ideias, projetos e ações.  

O Grande ABC é uma coleção de pautas frustradas que precisariam de revisão do novo governador. Nem tudo que parece ouro é ouro de fato. Há muito se vendem ilusões empacotadas como soluções. O traçado do BRT, que alguns triunfalistas chamam até hoje de metrô, precisaria ser revisto. Mais que isso: o BRT precisa ser reavaliado como produto de cunho público para soluções públicas porque uma coisa vinculada à outra sem que se olhe o entorno é uma coisa incompleta.  

Como tenho por profissão matar a cobra de incursões prospectivas e mostrar o pau de políticas editoriais conectadas ao futuro do Grande ABC, reproduzo na sequência um texto que já completou 19 anos. Trata de um dos vários representantes do Grande ABC no governo do Estado, Fernando Leça. O futuro que se descortinava jamais chegou, exceto em forma de frustração.  

Por essas e por outras o governador Tarcísio de Freitas nos poupou de novo vexame e proselitismo político. Que esteja preparado para ouvir quem tem compromisso social e não quer outra coisa senão colaborar. Sem papo furado.  

 

Leça é o embaixador de via

dupla entre região e Estado  

 DANIEL LIMA - 19/05/2003 

 

Secretário particular do governador Geraldo Alckmin, Fernando Leça passa a ter funções múltiplas: além de interlocutor oficial do Palácio dos Bandeirantes na Câmara Regional do Grande ABC é o pacificador de relações que só não foram tormentosas porque descambaram para o desinteresse.   

Entidade que trafega entre o ficcional e o patético, com expressivo passivo de acordos em vez de realizações, a Câmara Regional poderá ganhar fôlego se o são-bernardense Fernando Leça conseguir tornar-se de fato o embaixador que se espera. Sua missão é eliminar ou pelo menos encurtar a distância que separa o governo do Estado e seus secretários e os governos municipais da região.   

Diretamente relacionado com o governador, portanto sem intermediários na sensibilização do comandante do Estado, Fernando Leça tem aparentes respeitabilidade e influência para convencer o secretariado estadual de que a Câmara Regional incentivada não é uma casca de banana a ser evitada a todo custo, sob pena de cometerem escorregões irrecuperáveis.   

Pelo contrário: a ação de Leça poderia resgatar os primeiros tempos da Câmara apoiada com estardalhaço pelo então governador Mário Covas.    

A tarefa de Fernando Leça é fazer crer os secretários e escalões menores da máquina estadual que o Grande ABC fortemente vermelho, dominado por cinco prefeituras petistas, é território político-eleitoral a ser prospectado sim, porque pode gerar frutos generosos numa eventual virada da biruta do apoio ao presidente da República, egresso dessa mesma geografia.   

As relações entre prefeitos e deputados petistas e o governo Geraldo Alckmin chegaram aos limites do estresse, segundo revelam fontes insuspeitas do Palácio dos Bandeirantes, especialmente porque não havia um encaminhador de soluções de alta patente e com conhecimento cultural das nuances políticas do Grande ABC.   

TUDO SERÁ DIFERENTE?   

O encontro que repaginou as relações institucionais entre Alckmin e os prefeitos locais, notadamente os petistas, recentemente no Palácio dos Bandeirantes, passou pela pacificação explícita que Fernando Leça representa.   

A garantia de que tudo será diferente estaria na presença permanente da intermediação bilateral de Fernando Leça como embaixador do Palácio dos Bandeirantes no Grande ABC e do Grande ABC no Palácio dos Bandeirantes.   

Espera-se que a restauração do monumento de imobilidade institucional da Câmara Regional provoque o milagre de investimentos cirúrgicos à recomposição econômica e social dos sete municípios da região.   

Aliás, o contragolpe ao estado catatônico precisa ter o poder miraculoso de tornar esse mesmo monumento algo vivo, desperto, reoxigenado, pronto para o enfrentamento das dificuldades que se explicam, entre outros motivos sólidos, pela distância que separa o Grande ABC de impostos arrecadados e impostos devolvidos em forma de investimentos públicos.   

O encontro que Fernando Leça manterá na tarde desta segunda-feira com a coordenação executiva da Câmara Regional, na sede do Consórcio de Prefeitos, poderá ser o termômetro dos avanços das relações entre o governo peessedebista de um fortíssimo concorrente ao governo Federal e um grupo de prefeitos petistas vinculadíssimo ao governo federal de plantão.   

A prática do toma-lá-dá-cá insinuada pelo noticiário mostra que prevalece o bom senso. Da mesma forma que Geraldo Alckmin precisa dos prefeitos petistas da região para estreitar laços públicos com o governo Lula da Silva, os prefeitos petistas da região esperam de Geraldo Alckmin recursos financeiros geralmente destinados a outras geoeconomias do Estado. E nessa equação, Fernando Leça se tornou ponto de equilíbrio.   

Talento para costurar acordos não lhe falta. Leça é dessas figuras públicas que transbordam discrição e simpatia. Tem nervos absolutamente sob controle. Dá a impressão de que, por mais que o terreno seja minado, sabe exatamente onde vai pisar sem causar estragos.    

A pauta da reunião que Fernando Leça manterá hoje à tarde com a coordenação executiva da Câmara Regional é razoavelmente interessante para o futuro da região.   

Os novos acordos que se delineiam envolvem a viabilização do chamado Ferroanel Sul,  planejamento e execução do trecho Sul do Rodoanel, a definição do Plano Regional de Turismo com algumas ações de curto e médio prazo, a inclusão do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal para implementar programas de financiamento às micro e pequenas empresas, a elevação do teto do Sistema Único de Saúde para o Estado de São Paulo e a criação de um banco de dados de políticas públicas e privadas voltadas a pessoas portadoras de deficiência na região.   

Para começar a remontagem de tratados antigos e esquecidos na gaveta de intrigas político-partidárias-eleitorais, nada mal. Mas há coletânea de acordos que precisam ser reavaliados e questões de amplo interesse ao Desenvolvimento Econômico Sustentado que ainda estão longe do alcance dos radares dos gestores públicos locais e estaduais.   

O Nosso Futuro é de Plástico é exemplo que, acreditem, deveria ser prioridade absoluta porque representa a maior possibilidade de o Grande ABC recuperar parte do viço industrial com a criação de empregos. Um casamento absolutamente impossível no setor automotivo já exaurido pela ação nefasta do governo FHC.  



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