Política

Entenda como Santo André
integra lista de Partido Único

DANIEL LIMA - 24/11/2022

Santo André é um dos municípios do Grande ABC que se entregou ao regime de Partido Único. Juntou-se a São Caetano e a Diadema. Partido Único é o Partido da Situação. A condição essencial para que seja Partido da Situação, ou Partido Único, é a longevidade do grupo ou dos grupos que controlam um Município.  

Em Santo André de Partido Único tudo começou com a eleição de Aidan Ravin em 2008, derrotando o petista Vanderlei Siraque. Já chegou, portanto, há 14 anos de hegemonia de quem está no poder. Em São Caetano e em Diadema o período é muito mais prolongado.  

Contar com Administração Municipal de Partido Único, de Partido da Situação, não é necessariamente nocivo.  

Entretanto, o potencial de carga tóxica que abala o capital social é imenso.  

MUITO AQUÉM  

Uma sociedade entregue ao Partido da Situação é uma sociedade aquém das potencialidades de cada um dos habitantes.  

Partido da Situação pressupõe arbítrio, desdém, negligência. O contrário é menos provável.  

Se individualmente o ser humano é egoísta, em grupo articulado e com a certeza de que será eterno, nem se fale. Regimes autoritários estão aí e na história como provas provadas.    

O Partido da Situação vigente em Santo André está em fase de aperfeiçoamento e controle total. 

PALPITE INFELIZ  

Seria um palpite infeliz se no começo do século alguém reunisse coragem de projetá-lo. Seria chamado de lunático.  

Santo André efervescia. Até um candidato alienígena, Celso Russomano, foi requisitado para rivalizar com Celso Daniel. A ordem do contraditório era letra ativa.   

O PT de Celso Daniel estava vivíssimo. Ocupava o Paço Municipal e contava com oposição conservadora aguerrida.  

Quando Celso Daniel morreu, tudo começou a desmoronar. O PT explodiu antes mesmo de virar governo federal de Mensalão e Petrolão.  

GRANA TAMBÉM  

Não adianta argumentar que no período de 2012 a 2016 o PT voltou a ocupar a Prefeitura com Carlos Grana. O ex-sindicalista foi abduzido pelas forças de uma oposição que já estava infiltrada no PT de Santo André. Uma oposição que está na gênese do Partido da Situação.  

As duas eleições de Paulinho Serra (ex-secretário da gestão de Grana) e as próximas que virão vão dar ao projeto o absolutismo controlador típico de São Caetano e de Diadema.  

Ainda se justifica ou se explica o Partido da Situação em São Caetano e em Diadema. São endereços antípodas quando confrontados entre si, mas conexos internamente. 

DIFERENTES IGUAIS  

A conservadora São Caetano, construída por imigrantes de viés empreendedor, tem sociologia própria de preservação dos valores conquistados ao longo de décadas e uma qualidade de vida que se reflete num IDH invejável. 

Diadema é fruto de migração interna, sobretudo de Minas Gerais e do Nordeste. Tem morfologia social própria, moldada pelo PT desde 1982, quando Gilson Menezes foi eleito o primeiro prefeito do partido no Brasil. O operariado de Diadema é latente. A proporção de trabalhadores industriais está muito acima do que se registra em São Caetano, cidade de serviços.  

Santo André é uma mistura social de Diadema e São Caetano. É um meio termo. Tem classe média menos densa relativamente que São Caetano, mas muito superior a Diadema.  

Os pobres e miseráveis de Santo André são um contingente relativamente bem maior que os pobres e miseráveis de São Caetano, mas inferior aos pobres e miseráveis de Diadema. 

PERFIL IMPROVÁVEL  

Trocando em miúdos, Santo André teria tudo para jamais trafegar pelo Partido Único, o Partido da Situação. Como São Bernardo não trafega.  

A mesma São Bernardo muito semelhante a Santo André nos estratos socioeconômicos. A diferença maior é cultural. 

Santo André é mais conservadora que São Bernardo porque a influência sindicalista não foi proporcionalmente semelhante. Prova provada é que um Celso Daniel de classe média tradicional virou prefeito. O PT jamais teve algo parecido em São Bernardo.  

ENGENHARIA DE PODER  

O ingresso de Santo André no Clube do Partido da Situação, amplo e irrestrito nos municípios brasileiros, é uma obra prima da engenharia nutrida pela esperteza tática e estratégica de quem faz do Poder Público uma cidadela hostil a opositores como também fértil à leniência de uma sociedade servil. 

Há uma década e meia Santo André é controlada politicamente, com desdobramentos administrativos evidentes, pelo mesmo grupo de apoiadores do prefeito de plantão.  

E cada vez mais amealha espaços. A oposição foi dizimada por conta de escândalos nacionais petistas. E também cooptada por causa dos destroços a que foi reduzida.  

MORTO-VIVO  

A oposição em Santo André foi tão aniquilada que ainda não se deu conta de que não está morta como parece.  Lula da Silva obteve 48% votos nas últimas eleições na cidade. Os petistas oportunistas que estão na gestão de Paulinho Serra são petistas da boca para fora entre eles, apenas entre eles.  

O PT de Santo André está morto e enterrado como instituição partidária com capacidade de reagir, mas tem potencial de recuperação imenso quando contraposto ao ambiente nacional. Ainda mais se Lula da Silva subir a rampa.  

Esse potencial, entretanto, é abstrato. Não resiste às benesses do Partido da Situação. Custa muito caro organizar-se para opor resistência.  

MESMOS DE SEMPRE  

O grande erro do Partido Único de Santo André, um conglomerado de amantes de muitas cores, inclusive vermelhas petistas, é subestimar excessivamente a vantagem de que dispõe como fonte potencial de transformações econômicas e sociais.  

O Partido Único de Santo André, como é comum em todos os partidos únicos municipais, estaduais e federais, faz escolhas em que prevalecem o compadrio e variantes. Meritocracia é artigo raro.  

A cúpula de governança e governabilidade é integrada pelos mesmos de sempre. São avessos a transformações. Muitos são conhecidos. Outros agem nos bastidores. São invisíveis. Exceto em endereços de gastronomia. 

PORTAL DE COMODISMO  

Não é exagero, portanto, dizer que Partido Único é um imenso portal ao comodismo, ao protecionismo e a tudo que deriva de improdutividades.  

O exemplo maior de Partido da Situação mais recentemente aplicado está nos 14 anos do PT em Brasília. E um outro, as quase três décadas dos tucanos em São Paulo.  

Petistas e tucanos praticaram o tempo todo, como resultado do Caso Celso Daniel, um jogo de combinações, conhecido na literatura política como Teatro das Tesouras.  

Geraldo Alckmin e Lula da Silva, agora unidos no governo federal, é a síntese de Partido Único em São Paulo e na gestão do PT em Brasília.  As brigas eram fingimentos. Ou continham alguma porção de beligerância calculada. E sempre contaram com o suporte logístico da Velha Imprensa. Um teatro de péssimo gosto e resultados danosos.  

CONTROLANDO TUDO  

A gravidade implícita no caso do Partido Único em Santo André é que não existe no horizonte próximo nada que combaterá os males que o regime impõe e que são largamente, em qualquer endereço municipal, sempre maiores que os benefícios.  

Os controladores do Paço Municipal também controlam outros endereços. Nada diferente, portanto, de tantos outros entes da Federação.  

Aqueles que mesmo de forma colaborativa, desprendida, ousam apontar inconformidades, acabam perseguidos, quando não demonizados. Inúteis alinhados ao Partido da Situação são glorificados, mesmo que gatunos e medíocres. 

Empresários mal-afamados e comprovadamente corruptos são incensados no pódio da competência de origem mais que duvidosa, porque delituosa.  

A gestão de Paulinho Serra à frente do Partido Único de Santo André deve merecer o escrutínio sereno, sensato e aguerrido, além de lúcido.  

MOEDA VERDE  

Entre outras razões, devem pesar nessa equação o espirito colaborativo. Paulinho Serra é um jovem provavelmente deslumbrado com o cargo a ponto de não se dar conta inteiramente de algumas figuras que lhe dão sustentação.  

O que distancia Paulinho Serra dos antecessores que se deixaram levar pelo Partido Único é que os desastres gerenciais deixaram lições catastróficas em termos eleitorais.  

Já com Paulinho Serra prevalece estratégia consolidada de sucesso, reforçada inclusive pela própria mulher e o Programa Moeda Verde, achado que pode estar para o futuro político da agora deputada estadual como o Bolsa Família na consolidação de Lula da Silva junto aos desvalidos.  

Isso mesmo: o Moeda Forte Serra é o Bolsa Família de Carolina Serra.  

Como matéria-prima de pobreza e exclusão social viraram uma indústria em Santo André e na região, basta a Carolina Serra apurar o projeto, incrementando algumas medidas que já demoraram, e então teremos, no futuro, o casal Serra se revezando no Paço Municipal. 

O Partido Único estaria, portanto, mais rigorosamente administrado do que em qualquer endereço municipal, incluindo-se São Caetano e Diadema.



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