Estou matutando faz um bom tempo e ainda não cheguei a uma conclusão autoconvencedora. O desafio é definir qual a manchetíssima que reproduziria o sentimento desta publicação como expectativa de um novo mandato de Lula da Silva na presidência da República.
Se Lula da Silva subir a rampa (a desconfiança de que não subiria é plausível diante do ambiente nacional contratado em regime de loucura total durante todo o processo eleitoral extraordinariamente imperfeito e unilateral) prepararia de imediato um texto-base que pressupostamente abriria veredas de perspectivas consistentes na relação do governo federal petista com o Grande ABC.
A experiência de 14 anos do Grande ABC do PT em Brasília (oito anos de Lula da Silva e seis complementares de Dilma Rousseff com as digitais desastrosas da gastança do ex-sindicalista) será o combustível natural do que pretendo escrever.
PERFIL EXCLUSIVO
Diferentemente de 2002 e de 2006, quando Lula da Silva foi eleito ao cargo, desta feita estou segurando as pontas de uma análise necessária que outras publicações da região jamais fizeram. O perfil dessas publicações, inclusive do Diário do Grande ABC, é tratar predominantemente do aqui e agora.
E quem trata do aqui e agora, somente do aqui e agora, não faz história compreensível. Tampouco quem pretende fazer história, mas só ouve um lado, o lado que interessa. Não é mesmo, Velha Imprensa?
Se nas duas disputas anteriores (e também do governo Dilma Rousseff) dediquei antes mesmo da posse um traçado de especulações, constatações, definições, fatos e o escambau, do que poderíamos esperar nos anos seguintes, desta feita me seguro.
SOBE OU NÃO SOBE?
Não sei sinceramente se Lula da Silva tomará posse. Os motivos, as especulações, as tergiversações, tudo que o leitor entender como justifica ou desculpa, razoabilidade típica de cidadania ou tentativa de golpe, dependendo do ponto de vista de gregos e troianos, tudo está em suspense. Nada mais lógico. Lula não tem estofo moral para ocupar a presidência.
Quem disser que não vivemos um quadro de suspense provavelmente tem acompanhado apenas um lado dos contendores.
Mas isso não interessa grandemente agora. Vou parar por um instante para verificar quantos textos produzi nos últimos meses para resgatar a série que dá conta dos 14 anos do PT no Grande ABC, após a primeira vitória de Lula da Silva.
Fiz um apanhado geral. E os dados são lamentáveis em vários aspectos.
Acabei de pesquisar no site: foram 13 edições. Mais que esclarecedoras. Irritantemente dramáticas.
PERÍODO SOFRÍVEL
Quando o Grande ABC dos 14 anos do PT em Brasília é resgatado como objeto de estudo que não leve em conta jamais as cores partidárias, porque se trata de mergulho em dados, em estatísticas, em fatos, o resultado é mesmo sofrível.
Não pretendo antecipar algumas questões que me levam de imediato a confirmar o que tento negar fazendo comigo mesmo um contraditório maluco, mas é inescapável que não há como fugir de uma manchetíssima desabonadora ao PT, em caso de Lula da Silva subir mesmo a rampa.
DUAS CAPAS
Em novembro de 2002 a revista LivreMercado, antecessora deste CapitalSocial, abriu a seguinte manchetíssima de Reportagem de Capa: LULACÁ, URGENTE!
Em novembro de 2006, a revista LivreMercado, antecessora deste CapitalSocial, abriu a seguinte manchetísima de Reportagem de Capa: LULACÁ, DECIDIDAMENTE?
E agora, supostamente em janeiro de 2023 (não pretendo me arriscar antes disso), qual a manchetíssima desta revista digital?
Repito que tenho me debruçado sobre esse ponto nevrálgico de edição.
CUIDADO RIGOROSO
Uma manchetíssima histórica como a de suposta nova gestão de Lula da Silva no governo federal precisa ser rigorosamente cuidada, porque se pretenderia definidora de uma expectativa editorial com efeitos coletivos.
A sociedade consumidora de informação nem sempre tem informação mastigada. E informação mastigada é como um mecânico que cuida do carro.
O risco que se corre no jornalismo profissional de hoje é que o mecânico de um carro velho sem agregado tecnológico jamais poderá cuidar de uma Ferrari de complexidades, como é o caso do Brasil e do mundo de hoje.
PASSADO E PRESENTE
Hoje, sem qualquer sombra de dúvida, independentemente do aspecto político de posse ou qualquer variável, a expectava é das piores.
E é das piores não só pelo próprio passado do PT de Brasília no Grande ABC e do Grande ABC em Brasília, mas também porque agora a situação macroeconômica é outra, muito aquém da que tínhamos no início do século. Só a desaceleração da economia (de commodities) chinesa, às voltas com variantes do Coronavírus geneticamente local, já é suficiente para estabelecer os rigores do prélio.
Além disso, Lula da Silva envelheceu, juntou-se a velhos e escabrosos caciques da política e dá sinais de desgaste cognitivo que o tornaria refém de uma confraria de oportunistas incentivados pela Velha Imprensa sedenta de recursos públicos negados pelo presidente atual.
Estou fazendo todo um malabarismo textual para não antecipar mais do que é impossível esquecer.
BRASIL EM CAMPO
Estamos numa sexta-feira. Escrevo a poucas horas de o Brasil decidir a sorte nas semifinais da Copa do Mundo. Uma Copa do Mundo em que a ideologia e problemáticas identitárias afloram a tal ponto que o rendimento individual e coletivo das equipes muitas vezes está condicionado a esquisitices casagrandistas e kfouristas.
Se nas duas situações anteriores que me desafiaram a sintetizar a expectativa de cada mandato de Lula da Silva tirei de letra, literalmente, os termos do título da Reportagem de Capa de LivreMercado, desta vez estou perdidíssimo.
Ainda não encontrei o golpe certeiro. E o golpe certeiro é uma porrada no amanhã previsto para Lula da Silva à frente do País quando contraposto à realidade do Grande ABC.
MAIS QUE UM MANDATO
Pioramos economicamente de tal maneira que não seria um novo mandato de Lula da Silva suficiente para desacelerar o desastre. O Grande ABC, todos sabem, e nisso o sindicalismo liderado por Lula da Silva tem participação incisiva, entre outros fatores, perdeu a musculatura econômica, ganhou flacidez social e se liquefaz a cada temporada porque regionalidade é uma excrescência filosófica e prática.
Ou seja: independentemente de Lula da Silva fracassar ou ir ao sucesso num suposto quinto mandato (alguém tem alguma dúvida de que os dois mandatos incompletos de Dilma Rousseff também foram governos de Lula da Silva?), o que estaria reservado ao Grande ABC seria mais uma suplementação de fracasso e prejuízo.
DESÂNIMO
Sei que o leitor quer saber por que faço essa projeção, mas como já disse, tenho de me conter senão a reportagem prometida perderia muito, mesmo que o conteúdo que virá ou poderia vir seja mais robusto.
Agora vamos esperar pela vitória de uma Seleção Brasileira que me preocupa sobremaneira porque há expressivo desequilíbrio entre juventude e experiência a ponto de ensejar preocupação redobrada em caso de estar em desvantagem no placar. Como o sistema defensivo é sólido, talvez a equipe não venha a passar por esse teste. É o que se espera.
De qualquer forma, o futuro da Seleção Brasileira, independentemente desta Copa do Mundo, sempre será regado pelo otimismo. Já o futuro do Grande ABC com Lula da Silva ou sem Lula da Silva, é um convite ao desânimo.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)