Política

Vitória de Lula daria a Luiz
Marinho terceiro mandato?

DANIEL LIMA - 10/01/2023

A vitória de Lula da Silva pode significar um certificado público especial para o novamente ministro do Trabalho Luiz Marinho: a eleição como triprefeito de São Bernardo. A disputa será em menos de dois anos. Essa é a lógica político-eleitoral, mas nem sempre a lógica político-eleitoral prevalece. Há pedras de imponderabilidades no meio do caminho. 

É verdade que muita água de possíveis circunstâncias especiais ainda vão passar sob a ponte nem sempre segura de projeções. Por isso, o enunciado da manchetíssima aí em cima não é uma afirmativa. A condicionalidade do ponto de interrogação é uma trava de segurança analítica. 

Em 2008, quando se elegeu prefeito pela primeira vez em São Bernardo, egresso do governo federal,  onde fora ministro da Previdência  Social e do Trabalho, Luiz Marinho nadava de braçadas nos resultados do segundo mandato (de commodities fartas e de gastança que se confirmaria mais tarde) do governo Lula da Silva.    

VÁCUO LEGAL  

Tanto quanto agora, no caso em 2024, Luiz Marinho pegará o vácuo de um situacionista do Paço Municipal que não poderá concorrer à disputa, porque já esgotara o segundo mandato.  

Naquele caso, William Dib se elegeu prefeito no segundo mandato da chapa com Maurício Soares, a quem substituiu na condição de vice-prefeito ainda no mandato inicial por conta de, oficialmente, problemas de saúde do titular. Um Maurício Soares de raízes socialistas que ele mesmo destruiu gradualmente, condenando que condenou a inapetência do Estado em várias atividades.  

A propósito disso, foi histórica a entrevista da jornalista Malu Marcoccia fez com Maurício Soares para CapitalSocial, ainda revista de papel LivreMercado.  

REGRESSISTAS TEIMOSOS  

E imaginar que ainda hoje os regressistas chamados de progressistas venham com a mesma ladainha no governo federal. Tenham a santa paciência. E depois dizem alguns que sou bolsonarista. Sou liberal-socialista, estúpidos! 

Aliás, dia desses vou escrever a respeito disso. Hoje o foco é outro. Como se segue.  

Sempre é mais provável que um candidato bem cotado e de oposição se eleja prefeito quanto o prefeito de plantão está com os dias legalmente contados e precisa deixar o cargo.  

Luiz Marinho superou em 2008 um ainda pouco denso Orlando Morando, deputado estadual, candidato da situação boicotado por franjas da própria situação.  

MANENTE FORA  

Havia um terceiro vértice eleitoral naquela temporada, ocupado por Alex Manente. Uma terceira via que jamais virou vencedor e que decidiu se acomodar em Brasília, como deputado federal.  

Ser a terceira força eleitoral relativamente forte num Município é uma ponte para negociar o futuro político tendo o potencial eleitoral local insuficiente para vencer em casa, mas interessante como suporte a terceiros em determinadas disputas. Manente sabe utilizar esse expediente.  

Morando teve de esperar dois mandatos (nem participou da disputa que reelegeu Luiz Marinho) de Luiz Marinho até virar prefeito em dois mandatos, o segundo dos quais agora na reta de chegada.  

Ou seja: repete-se agora na vida eleitoral de Luiz Marinho praticamente o mesmo enredo de antes. As circunstâncias é que são outras.  

QUEM SERÁ?  

Só resta saber quem será o indicado de Orlando Morando para concorrer em outubro de 2024.  

Provavelmente será o vice-prefeito, deputado federal eleito ano passado, Marcelo Lima. 

Seria Marcelo Lima o Orlando Morando de William Dib e sua turma?  

Mesmo que não seja,  que Marcelo Lima conte para valer com a máquina bem azeitada que Orlando Morando imprimiu como fábrica de votos e prestígio em São Bernardo, a disputa tende a ser desequilibrada. Marinho tem mais memória eleitoral que o possível adversário indicado.  

ESTOQUE ETERNO  

Memória eleitoral é aquela coisa que também poderia ser chamada de estoque de confiança do eleitorado. Algo que aqueles que tem em quantidade relativamente influenciável sempre obtêm vantagens, mesmo sem concorrer ou concorrendo por concorrer.  

Em São Caetano, por exemplo, Luiz Tortorello é uma pequena indústria de votos eternos. Já em Santo André, o legado de Celso Daniel jamais foi repassado à altura. Até porque os irmãos nunca vestiram a mesma roupa do irmão mais famoso. Até porque o irmão mais novo utilizava uma combinação de indumentárias que fugia da direita de um e do radicalismo de esquerda do outro.  

CIDADELA ESPECIAL  

Fosse São Bernardo uma cidadela municipalista-eleitoral convencional como o que se tem praticamente em todos os demais endereços do Grande ABC, o que teríamos em 2024 seria compulsoriamente uma disputa eleitoral municipal. Não há redundância na frase.  

Acontece entretanto, todavia e contudo que São Bernardo petista de adoção sindical não é endereço exclusivamente municipalista numa disputa eleitoral quando entre os concorrentes ao posto de prefeito há um representante da estrela vermelha. Principalmente quando esse representante não é um representante qualquer.  

Luiz Marinho, oito anos de dois mandatos no passado, quando o sucesso administrativo que se consolidava foi atropelado pelas lambanças de Dilma Rousseff na esteira da dinheirama espalhada por Lula da Silva, Luiz Marinho, repito, é o franco favorito.  

Franco favorito, entretanto, não significa vitória garantia.   

CHICO E FRANCISCO  

O mesmo pau de eleição não-puramente municipalista que bate em Chico também bate em Francisco.  

O que quero dizer com isso é que São Bernardo eleitoral está sujeita a tremeliques nacionais quando quem está em Brasília é um petista também.  

O comportamento da gestão de Lula da Silva nestes tempos em que a Velha Imprensa de todos os lugares, tamanhos e plataformas sabe que perdeu muito espaço, não é algo categorizado como tiro certeiro em favor de seus parceiros de jornada numa  São Bernardo tão avermelhada quanto azulada, e agora amarelada. 

Dependendo do andar da carruagem de fogos de artifícios ou de fogo de arma letal, Luiz Marinho poderá ser submetido a um regime de desafios hoje descartado.   

BICHO VAI PEGAR? 

E se o bicho pegar no governo federal com desgaste ainda maior da imagem de Lula da Silva? Isso é perfeitamente possível. O Brasil descobriu que jogo político não é uma prática saudável com apenas um time disfarçado de dois, como era na maioria dos casos de aproximações com os tucanos.  

A nacionalização da disputa municipal em São Bernardo talvez seja o pior caminho a ser pavimentado por Luiz Marinho. Quem tem um mínimo de juízo sabe que, mesmo com a Velha Imprensa dando uma tremenda ajuda, vai ser difícil melhorar o ambiente político, administrativo, econômico e social de um País muito mal administrado desde a redemocratização.  

Temos um Estado que aumentou a carga tributária pós-Plano Real em 50% e oferece serviços públicos de péssima qualidade. Aumentar ainda mais os tributos nestes tempos de redes sociais seria uma loucura. Tanto é verdade que o presidente Lula da Silva mandou adiar por dois meses a recomposição de tributos sobre combustíveis.  

BARCO FURADO?  

Então, talvez esse seja um ponto que deve não só ser observado como monitorado. A disputa municipal em São Bernardo que provavelmente terá Luiz Marinho e Marcelo Lima na ponta da agulha da urna eletrônica (confiável?) já começou para valer.  

Mas tudo é possível até lá. Luiz Marinho não é bobo nem nada para entrar num barco furado.  

Que quero dizer com isso? Que se o ex-prefeito e atual ministro de Estado sentir o cheiro da pólvora de uma bola eleitoral dividida, ou seja, sem a segurança de que as urnas o referendariam, como em 2008 e 2012, está na cara que tiraria o time de campo e escalaria o reserva. 

RESERVA, RESERVA  

E quem é o reserva? Trata-se do deputado estadual Luiz Fernando Teixeira, que não goza do mesmo prestígio e muito menos da mesma empatia de Luiz Marinho.  

Luiz Fernando Teixeira está a postos para ser chamado. Não seria recomendável a exclusão de seu nome da lista imediata em caso de Luiz Marinho desistir.  

Nesse caso, a segurança de que o PT voltaria a dirigir a Prefeitura de São Bernardo provocaria estragos.  

O cenário já não seria o mesmo. O perfil de classe média, de executivo, por assim dizer, de Luiz Fernando Teixeira, não reproduz o eleitor-médio de Lula da Silva em São Bernardo. Marinho está muito mais próximo disso.  

Até porque é muito próximo nas relações com Lula da Silva. Esse tipo de confiança transferível não parece sensibilizar os petistas quando a referência de lealdade a Lula da Silva é Luiz Fernando Teixeira.  

FORÇA SINDICALISTA?  

Também passam pela eleição municipal-federal de São Bernardo, como massa de azeitamento das trincheiras, eventuais mudanças na legislação trabalhista e na legislação sindical.  

A volta de alguma coisa que negada hoje mas com cara, gestos, cheiro e tudo o mais de imposto sindical poderia aquecer as turbinas de financiamento das campanhas petistas em todo o Brasil.  

Portanto, diferentemente de todos os concorrentes municipais no Grande ABC, a batalha que se avizinha em São Bernardo ultrapassa os limites convencionais e ajuda a botar fogo na canjica do eleitorado.  

Resta saber qual seria a estratégia de Orlando Morando para fazer o sucessor.  

Se no passado Morando foi um dos poucos tucanos municipais que não negaram oposição ao petismo, contrastando com os negócios da cúpula partidária estadual, pergunta-se: o que faria nesse intervalo de tempo quando a ressurreição do PSDB seria mesmo um milagre caso a direita de vários matizes mas direita para valer não for abraçada no mínimo como contraface esperada pelo eleitorado?  

Aí poderia entrar em campo o governador Tarcísio de Freitas. Será que entraria? Esse é outro problema a ser discutido.  



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