Política

PT morto em Santo André?
PT vai reagir, garante o PT

DANIEL LIMA - 23/01/2023

O Partido dos Trabalhadores está morto e enterrado em Santo André. Nas últimas eleições municipais foi um fiasco. Obteve apenas 7,5% dos votos válidos.  

Na disputa federal, houve reação esperada, com Lula da Silva chegando a apenas quatro pontos percentuais de Jair Bolsonaro no segundo turno – 52,13% a 47,87%. 

Um alento e tanto. O PT desfalecido em 2020  decidiu pegar carona no PT ressuscitado em 2022 e ressuscitar o PT nas eleições para a Prefeitura no ano que vem.  Até que ponto uma coisa tem a ver com outra coisa como retroalimentadora de votos? 

Essa é a premissa com a qual já trabalham petistas locais e federais.  

Atribuiu-se a Luiz Marinho, ministro do Trabalho, duas vezes prefeito de São Bernardo e potencial candidato a trimunicipal, uma missão ousada. Ou seja: a articulação, ou a coordenação, do projeto de levar os eleitores petistas de Santo André a prestigiarem o candidato petista de Santo André. 

600 MIL VOTOS  

Possivelmente a cúpula nacional do PT mais ligada à política do Grande ABC e os petistas de Santo André vão refutar as informações que dão conta de que o PT não morreu na terra de Celso Daniel. E que a disputa municipal do ano que vem não seria o que tem tudo para ser, uma medida de até que ponto o PT pode recuperar-se no segundo maior colégio eleitoral da região – quase 600 mil votos.  

Celso Daniel é o maior nome regional do PT no Grande ABC por motivos mais que conhecidos. E é Celso Daniel que inspira um dos perfiz que o PT estuda para definir o candidato que quer ver em Santo André. Mas não falta quem prefira um protagonista de linhagem trabalhista.  

CELSO DANIEL  

Ter alguém que lembre Celso Daniel no sentido social da expressão, para obter o apoio da classe média, é um dos desenho na plataforma de estudos dos petistas que querem o PT em Santo André depois de oito anos de dois mandatos a se completarem do tucano Paulinho Serra. 

Mas não está mesmo fora de cogitação um petista mais alinhado ao espectro sindicalista, que lembre João Avamileno, ex-vice-prefeito de Celso Daniel e eleito prefeito após completar o mandato-tampão do titular assassinado em janeiro de 2002.  

Sabe-se que será feito ou está em andamento um mapeamento completo de possíveis nomes que passariam pelo filtro do petista que os petistas querem ver no Paço de Santo André a partir de janeiro de 2005.  

Um candidato mais ligado às classes trabalhadoras não é aparentemente de agrado da cúpula petista.  

COISAS DIFERENTES  

Não falta quem lembre que Santo André não é São Bernardo e outros redutos regionais de um PT da classe trabalhadora.  

Santo André de Celso Daniel sempre foi um PT que dialogava com os trabalhadores, mas era bem entranhado na classe média conservadora, de onde emergiu Celso Daniel, filho de um político conservados dos anos 1950-1960.  

Entretanto, o PT aprendeu que não se deve desprezar ou subestimar a força trabalhadora. Não à toa Celso Daniel colocou dois sindicalistas, José Cicote e João Avamileno, como companheiros de chapa em momentos distintos. 

Ainda há dificuldades internas no partido à definição de uma candidatura que seja forte o suficiente para tentar impedir o terceiro mandato consecutivo do grupo do prefeito Paulinho Serra.

LULA FORTALECE 

O quadro nacional, com Lula da Silva na presidência, poderá contribuir muito para isso. Se Lula houvesse sido derrotado, o PT permaneceria desfalecido em Santo André. Desfalecido como instituição, porque não faltam representantes do partido no governo de Paulinho Serra. 

Seriam petistas prontos para saltar do barco do tucano caso vissem com os próprios olhos e sentissem com os próprios corações a probabilidade de o PT tornar-se competitivo. Algo que muitos consideram improvável numa Santo André de Paulinho Serra bem avaliado pelo eleitorado, mesmo sem conseguir dar um basta no esvaziamento econômico que vem do passado e se cristaliza num presente de encalacramento logístico caótico.  

PERFIL PREFERIDO  

Há maiores possibilidades de prevalecer o perfil de classe média que tenha a companhia de um representante da classe trabalhadora como candidato do PT à Prefeitura de Santo André. 

Sabe-se que três nomes com essa característica-chave estão sendo cuidadosamente observados. E não se trataria apenas de petistas. 

Os petistas que estão debruçados nos mapas eleitorais dos distritos de Santo André são petistas que entendem do riscado e sabem que onde há fertilidade de votos favoráveis a Lula da Silva há ramificações potenciais a favor do candidato a sair dos filtros já em ação.  

Não existe apenas um único e exclusivo plano do PT em Santo André, ou seja, de uma candidatura irreversivelmente do partido, mas a possibilidade de abdicar de uma disputa é de baixa probabilidade.  

Apesar do vexame na última disputa eleitoral municipal, em 2020, com a professora Bete Siraque, há fundamentos que indicam uma reviravolta quanto ao potencial de competitividade da agremiação. 

ESTOQUE DE VOTOS  

Lula da Silva é o principal. A memória de Celso Daniel também. O afogamento dos escândalos do Mensalão e do Petrolão, que atingiram duramente o partido, é considerado um ponto menos importante entre ganhos e danos.  

Independentemente de relativizações entre uma disputa municipal e uma disputa federal, os petistas constroem e alimentam a teoria de que não há diferenças que desaconselhariam tomar os números de Lula da Silva como mera ilusão quando transpostos ao potencial de votos a um candidato à Prefeitura. 

A tradução disso é que os petistas consideram o estoque de votos do PT em Santo André  materialidade quantitativa e relativa praticamente intocável, seja qual for a eleição que dispute. 

MAIS QUE LULISMO  

Ou seja: há avaliação preliminar sujeita a novas observações que remetem à interpretação de que votos petistas não são votos lulistas apenas, mas mesmo quando não-lulistas acabam sendo votos petistas em grandes proporções sempre que um candidato do partido se lance a uma disputa municipal.  

Argumentam, essas lideranças petistas,  que a disputa pela Prefeitura em 2020 foi uma exceção ditada pelo contexto de execração do partido por causa de escândalos administrativo e os rescaldos do impeachment de Dilma Rousseff, além do passivo de prisão de Lula da Silva a bordo do Petrolão. Sem contar que a pandemia provocou restrições na mobilidade social, uma das forças petistas como forma de convencimento do eleitorado.  

A eleição de Lula da Silva teria exorcizado tudo isso e recolado o PT como partido competitivo no Município. Como o foi nos demais municípios da região onde tem tradição trabalhista.  

ACERTAR O ALVO  

Resumo da ópera quanto a uma candidatura petista para valer em Santo André: a questão seria apenas acertar o alvo de um candidato que corporifique os pressupostos do partido e que também seja visto com bons olhos por conservadores menos radicais. 

O receituário já estaria, portanto, esquadrinhado e garantido como escopo de uma volta por cima em Santo André.  

O que resta é o principal: quem vai dar o encaixe pretendido a uma ainda teoria de recuperação que precisa de materialidade pragmática? 

Montar esse quebra-cabeça de qualidades alinhadas a um perfil que pode inclusive ser encontrado fora das quatro linhas do próprio partido passou a ser uma obsessão de petistas fora do circuito de Santo André.  

Sabe-se que a decisão a ser tomada caso o plano não se esvaia por conta de negociações mais amplas se dará com extremo cuidado para não gerar ruídos internos.  

FORÇAS EXTERNAS  

Haverá pressões de grupos já instalados do PT em Santo André, mas a margem de negociação é escassa. Quem apanhou tanto nas últimas eleições municipais e não oferece nada no cardápio tem pouco a exigir. A definição, portanto, poderá vir de fora para dentro da agremiação. Luiz Marinho estaria com a incumbência de costurar as entranhas do partido em Santo André com habilidade suficiente para que as ações não sejam interpretadas como invasão de domicílio eleitoral.  

O PT sonha com a possibilidade de, nas próximas eleições, voltar a contar com pelo menos cinco das sete prefeituras da região. Como nas eleições de 2002.  

Recuperar a cidadela de Santo André seria uma obra extraordinária depois da goleada de 2020. O PT de Santo André é visto pelo PT Federal como um time grande que se descuidou num determinado momento e foi rebaixado. Nada que o impediria de voltar a brilhar. Desde 1990, o PT de Celso Daniel, João Avamileno e Carlos Grana dirigiu a Prefeitura de Santo André durante 20 anos. Newton Brandão, Aidan Ravin e Paulinho Serra completariam, em 2024, o total de 14 temporadas.  

EMPATE DESDE 1983 

A conta ainda terminou: se forem somados os seis anos do mandato do conservador Newton Brandão entre 1983 e 1988, a disputa fica igual, ou seja, 20 anos para cada grupo.  

A direção do PT faz esses cálculos com uma dupla certeza: não se desmancha um time vitorioso nem se escala qualquer um para manter a tradição de sucesso numa cidade conservadora. Tão conservadora que os seis anos do segundo e do terceiro mandato de Celso Daniel devem ser contabilizados com fortes traços de mitigação do domínio petista.  

É verdade que eram outros tempos, sem a polarização esquerda versus direita de agora, mas em ambientes municipalistas, até prova em contrário, pesa mais o nome do que as cores, sabores e odores. 



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