Administração Pública

Diadema petista reproduz
cara do Brasil empobrecido

DANIEL LIMA - 10/02/2023

O Diário do Grande ABC sempre generoso publicou hoje um artigo de versão edulcorada do tetraprefeito José de Filippi Júnior sobre os 40 anos de PT em Diadema. Ainda outro dia produzi minissérie desse período petista na primeira cidade do Brasil a eleger um representante do partido que,  mais tarde,  faria cinco gestões no governo federal. 

Não sei se o tetraprefeito escreveu o texto ou se algum assessor o fez por ele. De qualquer forma, é dele.  

Não sei se foi ele que escreveu porque está internado já há alguns dias com complicações cardiovasculares. Talvez tenha redigido os louros de vitórias não especificadas antes de ser colhido pela internação.  

O que Filippi escreveu não passa pelo crivo crítico. Acompanho Diadema antes mesmo de o PT tornar-se vitorioso nas urnas em 1982, superando conservadores da família Michels.  

SOBE METALÚRGICO  

Saiu o que se chamaria de uma aristocracia e entraram os metalúrgicos, comandados pelo extremista de esquerda Gilson Menezes, espécie de Fidel Castro provinciano.   

Outro extremista, o médico José Augusto da Silva Ramos, também chegaria ao Paço Municipal pelo PT. Era tão ferozmente estatista quanto Gilson Menezes.  

A diferença de formação profissional não tinha a mesma correspondência comportamental. Eram ambos raivosos e indignados.  

Filippi venceu quatro eleições. Não pode ser chamado de extremista. É petista, conselheiro do presidente Lula da Silva e se der uma fraquejada ideologicamente acabaria nos braços dos tucanos mais exacerbados. 

FRACASSO DOCUMENTADO  

Filippi está para o PT assim como Alckmin para o PSDB nos tempos de compadrio entre os dois partidos, que se fingiam adversários.  

Quarenta anos depois, com intervalo sem maiores interferências na história do conservador Lauro Michels, entre 2013-2020, o fracasso geral de Diadema está na configuração de perfil socioeconômico assemelhado à média brasileira.  

Bastaria isso para não se acrescentar nada. Diadema é a expressão do Brasil de empobrecimento ao longo de décadas.  

O PIB do Consumo é integrado por indicadores da Consultoria IPC de Marcos Pazzini, o melhor referencial na praça nacional quando se pretende ter à mão a radiografia de determinada localidade. 

COMO MOSTRAR?  

Os dados são testemunhas documentais de que a Diadema pintada em cores esfuziantes pelo tetraprefeito Filippi está longe de ser a Diadema da realidade. Também não é uma barafunda administrativa e social retratada por Picasso em Guernica, claro. Ainda bem.  

Fosse de fato Diadema o que o tetraprefeito petista destila na página do Diário do Grande ABC, o presidente da República teria à mão com seus assessores sempre loucos por manchetes um cardápio espetacular.  

Bastaria a Lula da Silva convidar toda a mídia para mostrar o que de tão relevante e revolucionário foi feito daqueles 30 quilômetros quadrados encrustados ao Sul da Capital e na ponta do mapa do Grande ABC.  

CARA DO BRASIL  

São quase 500 mil pessoas distribuídas num território de densidade demográfica tão elevada que só perde para São Caetano no Estado de São Paulo.  

Escrevo sobre Diadema com a autoridade e a independência de quem esmerilhou a realidade de Diadema em 1986. A repetição é proposital.  

Estava na Agência Estado, que servia ao jornal Estadão e Jornal da Tarde, além de uma rede de centenas de publicações impressas. O material foi publicado ainda outro dia neste CapitalSocial e consta do acervo desta publicação. 

REVELANDO NÚMEROS  

Por que Diadema é a cara do Brasil, como explicito na manchetíssima de hoje? Ora, porque Diadema é a cara do Brasil, claro. 

O Brasil tem mais ricos que Diadema, tem uma classe média tradicional equivalente a Diadema, tem uma Classe C levemente inferior a Diadema e entre os pobres e miseráveis também há um bocadinho de mais brasileiros que moradores em Diadema.  

No cômputo geral, quando se toma o pulso do PIB de Consumo do Brasil e de Diadema, levando-se em conta o critério per capita, o jogo está empatadíssimo. O PIB do Consumo per capita do Brasil nesta temporada é de R$ 26.262,62 mil. O PIB do Consumo de Diadema nesta temporada é de R$ 26.830,36. O PIB per capita do Grande ABC nesta temporada é de R$ 34.799,78 mil.  

REGIÃO É MELHOR  

Quando a comparação envolve a média dos sete municípios do Grande ABC (inclusive com dados de Diadema) e a média dos mais de cinco mil municípios brasileiros, a situação é favorável à região como um todo.  

Temos, como região, mais ricos, mais classe média tradicional, menos Classe C e menos pobres e miseráveis que o Brasil. A cara do Grande ABC, portanto, não é cara do Brasil. Mas do jeito que está se empobrecendo, não se deve descartar que venha a ser futuro não tão distante. 

Vamos agora ao detalhamento comprovador de que existe muita semelhança entre os dados nacionais e os dados de Diadema no campo social e econômico, ou econômico e social, porque uma coisa e outra coisa são as mesmas coisas. 

Entre os ricos, Diadema conta com apenas 1,8% das famílias, enquanto a média nacional é de 2,5%. Em termos de consumo, os ricos brasileiros ficam com 14,1% dos valores disponíveis, enquanto os ricos de Diadema não passam de 11,8% do total de potencial a ser gasto.  

Ou seja: os ricos brasileiros são mais ricos que os ricos de Diadema. Em termos do Grande ABC, os ricos representam 16,0% do total de riquezas internas a consumir. Os ricos do Grande ABC são mais ricos que os ricos brasileiros e também muito mais ricos que os ricos de Diadema. 

CLASSE MÉDIA  

Entre os integrantes da Classe Média, Diadema conta com 20,7% das moradias, ante a média nacional de 20,8% e média regional de 27,0%. Os classes médias do Grande ABC são muito mais classes médias que os classes médias do Brasil e de Diadema. No bolo de consumo, enquanto a Classe Média de Diadema fica com 36,5% do total de moradias, no mapa nacional o total é de 38,8% e no Grande ABC como um todo chega a 42,90%.  

Como se observa, também nesse espetro socioeconômico o Grande ABC supera tanto a média nacional quanto de Diadema. 

CLASSE C  

Na Classe C, basicamente de trabalhadores, e que acadêmicos estúpidos e fanáticos colocaram nos anos Lula da Silva como “nova classe média”, Diadema conta com 53,5% das moradias, ante 48,0% do Brasil e 50,2% do Grande ABC como um todo. A região é, portanto, melhor que o Brasil e inferior a Diadema.  

Em termos de potencial de consumo propriamente dito, a média da Classe C  de Diadema é de 41,1% das moradias, ante 36,4% do Brasil e 34,7% do Grande ABC. Nesse caso, ter menos  Classe C é vantagem para o Grande ABC em relação à média nacional e à média de Diadema, já que entra em campo a compensação lógica de o Grande ABC contar com maiores fatias de Classe Rica e Classe Média.  

POBRES E MISERÁVEIS  

Completando o mapa de riqueza para consumo, tendo pobres e miseráveis como alvos, Diadema está em situação melhor que a média nacional, enquanto o Grande ABC como um todo está bem melhor que os dois.  

Diadema conta com 24,1% de moradias  ocupadas por excluídos socioeconômicos, enquanto o Brasil registra 28,8% e a média regional é de 19,0%. Em termos de consumo por faixa socioeconômica, os pobres e miseráveis de  Diadema contam com 10,6% de participação no bolo de consumo, praticamente empatados com os 10,7% da média nacional e muito acima da média do Grande ABC, de 6,4%.  Ou seja: o jogo dos excluídos está empatado quando o confronto é entre Diadema e o Brasil. 

Tenho materiais abundantes de outros indicadores que dão consistência à seguinte conclusão: o retrato da distribuição socioeconômica de Diadema, que é semelhante ao de Mauá, inferior aos dos demais municípios locais e só superior ao de Rio Grande da Serra, em termos regionais, é a prova do crime de que as gestões petistas cometeram mais erros que acertos ao longo de 40 anos. 

Só para simplificar, exponho alguns pontos sobre os quais já desfilei análises: 

1. A competição entre incluídos e excluídos foi estabelecida desde a primeira gestão petista, como reflexo do movimento sindical. A classe média foi praticamente expulsa do paraíso socialista que se pretendia construir. 

2. Os setores produtivos raramente contaram com o suporte em vários pontos da Prefeitura. O tetraprefeito Filippi foi o único a não depositar sobre os empresários aquele olhar discriminatório. Mas os estragos ideológicos já haviam se incrustrado no território. 

3. As magnificas ações culturais e mesmo sociais, ou assistencialistas, estão indo cada vez mais para o brejo do esboroamento, porque os recursos orçamentários são cada vez mais escassos e a demanda irrefreável. 

4. O quadro fiscal de Diadema é de colapso. Gasta-se muito porque muito se deu valor à suposta força indomável e providencial do Estado como condutor da sociedade. O sistema de Previdência Social próprio virou um bumerangue a exigir reiteradas injeções de recursos suplementares, além de aumento de contribuição dos funcionários públicos.   

5. Debelou-se a frondosa erva daninha da criminalidade mais explicita, que são os homicídios. Mas o fenômeno não é circunscrito a Diadema. Todo o Estado de São Paulo passou pelo mesmo efeito, sobretudo após o assassinato do prefeito Celso Daniel. Mas o ambiente de criminalidade implícita torna Diadema um centro de muitas preocupações. Criminalidade implícita não se materializa nas estatísticas, mas tem efeito devastador. Não convém descer a detalhes.   

6. A evasão industrial ao longo dos anos incendiou as perspectivas de crescimento orçamentário e de gastos públicos. Mesmo regiamente servida no campo logístico por Via Anchieta, Imigrantes e Rodoanel, Diadema é um horror em facilidade de transporte. Desde os anos iniciais do governo petista deu-se muita ênfase a planos que privilegiaram a ocupação residencial em detrimento de ocupação industrial. Diadema caiu no ranking do PIB dos Municípios Paulistas para uma posição desprezível, a 256ª colocação, pelo critério per capita. A desindustrialização de Diadema é alarmante.   

VERDADE IMACULADA 

Vou parando por aqui porque por aqui é preciso parar para não me tornar cansativo.  

Diadema é uma crônica anunciada de fracasso administrativo, como antecipei naquele 1986 ao preparar matéria histórica sobre a vitória de Gilson Menezes nas eleições de 1982.  

A verdade não pode ser subvertida em nome de diplomacia alguma. O artigo do prefeito Filippi é uma carta marcada para ludibriar os fatos. Com todo o respeito que o prefeito merece, sou obrigado a dizer que se trata de fake news que nenhum imperador do Supremo Tribunal Federal jamais detectará porque não entende do riscado, embora se meta no assunto.



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