Política

Troca-troca entre Santo André
e São Bernardo nas eleições?

DANIEL LIMA - 15/02/2023

O ponto de interrogação na manchetíssima de hoje, aí em cima, é indispensável. Se o retirasse em favor da ditadura editorial, que delimita espaço ao título, acho que o enunciado perderia força.  

Mas, se o leitor entender que deve tirar o ponto de interrogação, que o tire. Essa decisão pode ser tomada após a leitura desta análise. Ou não. Quem fizer agora poderá se arrepender depois.  

Tradução? Tudo pode acontecer em São Bernardo nas eleições do ano que vem. Ou, também, nada acontecer. 

CAMPO À ESPECULAÇÃO  

Sempre gosto de fazer a ressalva de que, diferentemente do que exige a Economia, repleta de charlatanismo entre protagonistas e coadjuvantes, a política concede espaço à especulação.  

Mais que concede, a política exige espaço à especulação. É claro que dentro de uma lógica factível. Especular por especular é enganação. A flexibilidade faz parte do jogo. Não fosse isso, o noticiário e as avaliações seriam um saco.  

A situação consta como uma das versões viáveis na disputa pelas prefeituras de Santo André e São Bernardo em outubro do ano que vem: uma coisa pode estar ligada à outra e as duas coisas ligadas a cada coisa. Entenderam? 

Dando como certo que não haveria adversário para valer ao concorrente à Prefeitura de Santo André indicado pelo grupo do prefeito Paulinho Serra, os tucanos locais poderão contribuir para aumentar o poder de fogo dos petistas de São Bernardo na disputa pelo Paço. Ali, provavelmente o candidato situacionista será o ex-vice-prefeito e atual deputado federal Marcelo Lima. 

REFORÇO TOTAL  

O que seria aumentar o poder de fogo? Ora, é aumentar o poder de fogo, sobretudo na cooperação de interessados em engrossar recursos financeiros e massa crítica para a campanha do petista que vai concorrer em São Bernardo. 

E quem seria o petista a concorrer à Prefeitura de São Bernardo?  

O sonho de consumo dos petistas de São Bernardo é o ministro do Trabalho Luiz Marinho, que ocupou a principal cadeira do Paço Municipal durante oito anos.  

Parte desses dois mandatos foram amaldiçoados por Dilma Rousseff e estripulias fiscais. Marinho se trumbicou com Dilma e suas maluquices. Muitas obras não saíram do papel ou não foram concluídas.  

QUADRO NACIONAL  

Para quem administra uma prefeitura seguindo o receituário convencional, obras são obras e o resto é o resto. Principalmente obras que não dialogam entre si. Numa região metropolitana, isso é fatal.  

Se o quadro político-econômico no segundo semestre do ano que vem for um céu de brigadeiro no governo Lula da Silva, Marinho é o concorrente sem contestação. Como o foi em 2008, com Lula da Silva bombando nas paradas de sucesso de apoio popular. 

Se a situação nacional não estiver lá essas coisas, é provável que Luiz Fernando Teixeira, deputado estadual em terceiro mandato, seja lançado às feras da improbabilidade de sucesso.  

Se o PT estiver bombando em nível nacional e Luiz Marinho voltar a emergir como concorrente forte à Prefeitura, as relações de cooperação com os tucanos de Santo André poderão se alterar.   

MELHOR ESPERAR   

Ou seja: o PT só teria Paulinho Serra e sua turma como aliados caso haja horizonte próximo pouco seguro.   

Com uma situação menos confortável no ambiente nacional, contaminador do ambiente regional, Luiz Fernando Teixeira iria para a batalha, reforçado pelos cofres de colaboradores e da mídia instalada em Santo André. O volume de desprendimento, por dizer assim, dependeria em muitos de pesquisas internas.   

Quanto supostamente mais potencial de votos venha a ter, mais se investiriam na candidatura de Luiz Fernando Teixeira.   

A velocidade de apoio financeiro e político dependeria basicamente do vizinho e antagonista Orlando Morando, que, todos sabem, não poderá concorrer por já ter vencido dois mandatos seguidos.   

KASSAB DUPLO?   

Não se pode esquecer nessa equação toda que existe uma força política pendular que tanto pode ir para um lado, do grupo de Orlando Morando, quanto do outro, de Paulinho Serra e de Luiz Marinho.   

O nome e o sobrenome do chefe dessa equipe é Gilberto Kassab, secretário de governo de Tarcísio de Freitas e aliado federal de Lula da Silva.   

O PSD de Kassab é uma massa que se move de acordo com as circunstâncias sempre bem costuradas pelo ex-prefeito de São Paulo. Não fosse político, certamente Kassab seria um expert em dança do ventre. Ou alguém capaz de, Torres Gêmeas ainda de pé, uni-las em passos mágicos num cabo de aço,  como o fez aquele francês maluco.   

JOGO DUPLO   

Trabalha-se em Santo André com a perspectiva de um projeto de concorrente situacionista folgado e de concorrência fortalecida do grupo de Luiz Marinho em São Bernardo ante Orlando Morando.   

E como se daria o fortalecimento da candidatura petista em São Bernardo com o apoio do situacionismo de Santo André?   

Basta o PT chegar à conclusão de que seria perda de tempo e de dinheiro concorrer para valer em Santo André.  

Concorrer para valer em Santo André seria botar a tropa nas ruas e tentar repetir, de imediato, de largada, na corrida pelo Paço, algo como um potencial volumoso de 46% de votos obtidos por Lula da Silva nas últimas eleições contra Jair Bolsonaro. Teria Santo André algum petista com esse fôlego ou seria necessário tomar alguma peça do concorrente do Paço Municipal e dar uma guinada nas perspectivas?  

TROPA NAS RUAS  

Ou seja: o PT Federal de Luiz Marinho precisa ter certeza de que pode opor resistência a Paulinho Serra.  Como há dúvidas sobre isso, a alternativa de parceria dos petistas de São Bernardo e dos petistas federais com o Paço de Santo André estaria no raio de ação. Afrouxa-se aqui entre amigos e aperta-se ali para pegar um inimigo.   

Não se pode dizer de antemão que o PT supostamente viável eleitoralmente nas eleições do ano que vem em Santo André existe mesmo como potencial legado por Lula da Silva no ano passado.   

Mas também não se pode dizer de antemão que se trata de uma aventura sem pé nem cabeça de pragmatismo, por mais que o grupo do prefeito Paulinho Serra tenha chegado ao ponto monolítico nos últimos anos ao envolver sobretudo lideranças petistas de Santo André.  

ATAQUE TOTAL   

Tirar da Prefeitura de São Bernardo o máximo de agentes que comunguem com os ideais do prefeito Orlando Morando possivelmente será o motor de arranque a acertos entre petistas federais e de São Bernardo com tucanos de Santo André.  

Fosse na linguagem futebolística, quando um time fornece premiação para tentar derrotar um adversário que disputa um outro jogo, o que se pretenderia é exatamente isso. Tudo, lógico, dependerá de a viabilidade de candidatura petista forte em Santo André ganhar a etiqueta de inviabilidade. Nesse caso, a chamada mala branca vai entrar em campo em São Bernardo. E não seria um fato inusitado na política regional. Paulo Pinheiro ganhou a Prefeitura de São Caetano com muito dinheiro do PT.   

O PT pode afrouxar a disputa em Santo André mesmo, e em troca, repetindo, teria o reforço extra de Santo André em tudo que significa máquina de votos.   

ACORDO AMPLO  

É claro que esse acordão não estaria limitado às eleições municipais e tampouco esperaria pelas eleições municipais. Basta que dentro de um ano as coisas caminhem para o que aparentemente caminhariam (ou seja, o PT sem força em Santo André) para tucanos e petistas locais e federais mergulharem em acordos suplementares que reuniriam outros interesses.   

Sabe-se que o PT Federal não está disposto a entregar a rapadura em Santo André sem que Santo André se confirme mesmo um osso duro de roer nas eleições do ano que vem.   

Por mais que a prioridade seja vencer em São Bernardo de Orlando Morando, inimigo número um de forças midiáticas de Santo André, a matemática eleitoral recomenda que é melhor ter dois passarinhos nas mãos do que ter dois passarinhos voando.   

E se for o caso de ter apenas um passarinho voando, porque Luiz Marinho seria o passarinho nas mãos petistas, não se deve considerar a batalha em Santo André perdida sem medir todos os fatores, tanto positivos quanto negativos de um confronto mais acirrado com o indicado à sucessão por Paulinho Serra.   

TERCEIRO CENÁRIO   

Para completar, há uma terceira vertente de especulações que dão conta de que Marcelo Lima, o provável candidato escolhido pelos tucanos de Orlando Morando, não estaria tão distante assim do petismo local.   

Há determinadas afinidades entre Marcelo Lima e petistas com força para criar constrangimentos no embate com Luiz Marinho. Em grau muito inferior e quase desprezível o quadro seria outro e menos conflitivo se o candidato petista for Luiz Fernando Teixeira.   

Duvida-se que o concorrente petista em São Bernardo seja da linha trabalhista, no caso o deputado estadual e sindicalista Teonílio  Barba.   

Se Luiz Fernando não seria lá essas coisas para a missão de retirar o grupo de Orlando Morando do Paço Municipal, Barba não faria cócegas, mesmo sendo da linhagem de Lula da Silva. O que separa um do outro é um oceano biográfico.  



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