Me perguntaram outro dia, após publicar análise sobre prováveis cenários de disputas eleitorais do ano que vem em São Bernardo e em Santo André, por que o deputado federal Alex Manente não constava do texto. Vou responder agora.
Resumidamente, Manente virou legislador profissional. E a força matricial política que o embala é, paradoxalmente, a força matricial que o neutraliza: as disputas municipais.
A memória eleitoral dos votos em São Bernardo é um bem precioso para o deputado que já tentou e não conseguiu virar prefeito porque como candidato a prefeito sempre entrou numa jogada ou podre ou suicida.
Antes de entrar nos pormenores, vou situar o que acho ser o jovem Alex Manente como político: trata-se de um exemplar digno da mediocridade geral de representantes do Grande ABC tanto na Assembleia Legislativa quanto na Câmara Federal. Como o fora, também, na Câmara de Vereadores de São Bernardo.
LONGEVIDADE VAZIA
Alex é hexalegislador, depois de um mandato de vereador, dois de deputado estadual e agora três de deputado federal.
Como provavelmente é o mais longevo dos deputados já eleitos no Grande ABC para as duas casas (somente Vicentinho Paulo de Silva, do PT, lhe faz concorrência em longevidade e mediocridade estendida), Alex Manente é exatamente o que acabei de escrever antes de fechar o parêntese: um medíocre longevo.
Não levem a mal e não necessariamente se deixem contaminar pela semântica destrutiva de “mediocridade” com que contemplo Alex Manente e a maioria dos demais representantes da região nos legislativos estadual e federal.
Considerem a essência etimológica da palavra. Tanto Alex quanto a maioria dos demais jamais se converteram em moeda valiosa de votos em favor da região. E olhem que coloco nesta lista inclusive Celso Daniel, eleito após o primeiro mandato de prefeito entre 1989 e 1992.
APENAS MAIS UM
Traduzindo a equação: nenhum atual deputado de qualquer casa e ex-deputado das duas casas deve se sentir ofendido por considerá-los, em larga escala, medíocres.
A melhor maneira de entenderam que são medíocres (e repito a palavra propositadamente) é que sempre desprezaram o Grande ABC no sentido de construir propostas e cenários para o futuro além-mandato e além prestação de serviços de vereador, em forma de repasses de verbas e intermediações muitas vezes nada republicanas.
Equacionado o conceito de medíocre (comum entre representantes de outras regiões), vamos à lógica do paradoxo de Alex Manente.
Manente poderá até aparecer nas disputas pela Prefeitura de São Bernardo na próxima temporada. Como também pode ficar fora da disputa oficial mas trabalhar nos bastidores. Já serviu ao grupo de Orlando Morando e ao grupo de Luiz Marinho, antes de, como deputado estadual, servir a outros grupos de poder.
Tradução de tudo isso: Alex Manente dança conforme a música de interesse próprio, tendo a garantia de que conta com um naco do eleitorado insuficiente para o levar à principal cadeira do Executivo municipal, mas que é motor de arranque a jornadas de deputado estadual e federal.
Essa é a carreira de Alex Manente, uma carreira mais que explicativa em poucas palavras.
DE LÁ PARA CÁ
Alex Manente já concorreu individualmente e em seguida foi correia de transmissão de Luiz Marinho, já repetiu a dose de modo a aliar-se a Orlando Morando e também já tirou o time de campo (como na última disputa municipal) para não atrapalhar a reeleição em primeiro turno de Orlando Morando.
Alex Manente poderia ser chamado sem risco de Alex Manente Morando Marinho. Ou Alex Morando Marinho Manente. Ou Alex Marinho, Morando Manente. A ordem dos fatores não altera o produto final.
Alex Manente é, portanto, pau para toda a obra de engenharia de voto municipal desde que a engenharia de voto municipal lubrifique as engrenagens da carreira de deputado que repete a cada nova temporada.
Sei que sei que o leitor mais crítico quer saber as razões de colocar Alex Manente e a quase totalidade dos demais deputados estaduais e anteriores na configuração de mediocridade parlamentar.
Pois vou responder sem pestanejar: todos eles jamais pensaram como executivos potenciais que queriam ser e alguns até chegaram lá. São medíocres no sentido lato da palavra porque não são reformistas.
FALTA REFORMISMO
O que é pensar como executivo público? Ora, nada que não seja contar com um grupo bem nutrido e respeitado de agentes sociais e mesmo públicos e, mais que desenhar, partir para os finalmentes em busca de saídas econômica e sociais para o Grande ABC como um todo.
Pergunto ao leitor: você tem conhecimento de algum deputado do Grande ABC que algum dia resolveu estruturar algo como o que sugiro desde sempre para dar ao mandato federal também uma característica de mandato regional longe do tradicionalismo de repasse de migalhas de orçamentos públicos?
Alex Manente manda espalhar a todo o mundo que foi eleito o melhor deputado federal do País na temporada passada.
Procurem a ficha corrida do deputado federal Alex Manente e você encontrará uma PEC de prisão em segunda instância, egressa da força-tarefa da Operação Lava Jato que ele simplesmente clonou com o oportunismo típico de quem quer notoriedade e sabe que para chegar ao estágio de falsa notabilidade basta contar com a ignorância da sociedade.
FUTURO INCERTO
Ainda falta mais de um ano para a disputa eleitoral à Prefeitura de São Bernardo e o caminho a ser trilhado por Alex Manente tanto pode ser a desistência bem remunerada em votos para não atrapalhar o favorito da ocasião ou aliar-se ao potencial favorito, como candidato de linha auxiliar, e reforçar o mesmo potencial favorito num eventual segundo turno.
Viram que Alex Manente trabalha com três perspectivas diferentes que o levariam ao mesmo destino, já tradicional? Ganharia respaldo suficiente para a próxima eleição federal, porque além de contar com as vantagens naturais de quem já ocupa o cargo (o dinheiro que lubrifica as engrenagens do Congresso Nacional é fluvial) contaria com o reforço à direita ou à esquerda de quem chegar em primeiro em São Bernardo.
A verdade é que não se pode negar que Alex Manente é muito competente na arte da reeleição estampada no currículo de parlamentar jovem e vitorioso. Trata-se, de fato, de uma carreira admirável a todos que observarem os políticos em geral sob a ótica do pragmatismo.
MAIS TEMPO, PIOR
Já para quem gostaria de ver a classe política como uma porção transformadora da sociedade, Alex Manente está longe disso.
Mais que isso: age em sentido contrário, de perpetuação das inconformidades que tornam assembleias e congressos um dos endereços mais criticados pela sociedade em geral.
NO futuro, quando a sociedade organizada for de fato organizada, o currículo de deputados, prefeitos e tudo o mais que está na esfera publica deverá ser rigorosamente inventariado.
A longevidade de atuação possivelmente se tornará elemento-chave ao aprofundamento do nível de incompetência pública. Afinal, com tanto tempo para aprender e exercitar o ofício de representar os eleitores, o que temos ao longo da história democrática é um festival de gastança, de interesses, de compadrios, de desperdícios festejados pela Velha Imprensa ruim de pauta e de bom-senso.
FAKE NEWS
A movimentação de Alex Manente rumo à Prefeitura de São Bernardo pode ser observada sem risco no conteúdo do noticiário da mídia regional, sempre, na maioria dos endereços, servil e receptiva a reciprocidades nas relações com as esferas estadual e federal.
É um jogo jogado há tanto tempo mas há tanto tempo sem efeitos positivos ao conjunto da sociedade. Diferentemente disso: a tal “representação regional” não passa de fake news.
Não existe pecado implícito nas relações entre mídia e representantes públicos. Uma afinidade de agenda que contemple o conjunto ou mesmo partes relevantes da sociedade seria sempre bem-vinda. Políticos não são necessariamente pecaminosos nem a mídia analógica ou digital é necessariamente interesseira.
Enfileirem todos os nomes de deputados estaduais e deputados federais com domicílio no Grande ABC (até uma suposta deputada estadual que teve votação de vereadora na região consta da patética Bancada Regional desta temporada, vejam só!) e façam um exame rigoroso para avaliar se há exagero quanto à ineficiência geral e irrestrita.
Manente é apenas mais um, com a diferença de que ninguém soube trabalhar tanto a maquinaria de reeleição ao participar de disputas municipais.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)