Política

Pesquisa malcheirosa como
fralda geriátrica ou infantil

DANIEL LIMA - 01/03/2023

A pesquisa que o Instituto Paraná publicou com destaque de manchetíssima de primeira página na edição de hoje do Diário do Grande ABC tem parentesco olfativo com o produto líquido e bruto que encharca fralda geriátrica. Fralda infantil também serve.   

Aliás, tanto faz. O cheiro é mesmo forte.  Tão forte que o melhor é atirar a pesquisa onde você jogaria a fralda geriátrica ou a fralda infantil.   

O leitor vai entender mais adiante que não estou desrespeitando nem ofendendo o Instituto Paraná. Só estou expondo um ponto de vista consolidado com linguagem de fácil compreensão e, também, similaridade.   

Quem construiu as provas que remetem à peça de descarte orgânico é o próprio Instituto Paraná.

PONTE AO FUTURO   

Há determinadas situações que, por parecerem tão ofensivas à sociedade, não merecem outro tratamento senão reação metafórica mais aguda. Os mais radicais partiriam para outro tipo de desclassificação, sem levar em conta qualquer metáfora.   

A pesquisa, mais que apressada, se refere à disputa pela Prefeitura de São Bernardo em outubro do ano que vem.   

Esse apressamento inexplicável, exceto por eventual interesse em se construírem pontes a um determinado candidato, não tem consistência elucidativa, por assim dizer, sobre o que esperar daqui a 19 meses. Ainda mais que mal saímos de disputas eleitorais de águas ainda em decantação.   

Mas isso é de menos. Pode até ser contestado, embora se duvide que qualquer argumento convença. 

ESQUECERAM MARINHO   

O que é incontestável, porque se trata de atestado de negligência, burrice, estupidez ou algo que o valha, é o potencialmente favorito candidato à sucessão do prefeito Orlando Morando não constar da lista prévia preparada e levada aos entrevistados.   

Estou me referindo ao ministro do Trabalho Luiz Marinho. O petista não é um candidato qualquer à Prefeitura de São Bernardo. Só o fato de ser ministro já seria relevante, claro.   

Mas Marinho é muito mais que isso: foi prefeito de São Bernardo durante oito anos. Reelegeu-se em primeiro turno. É naturalmente destinatário de memória eleitoral que deve ser respeitada.  

Até porque, como candidato a governador do Estado em 2018 e a deputado federal recentemente, foi muito bem votado no mais emblemático reduto eleitoral nacional do PT.  

Luiz Marinho é tão poderoso em São Bernardo que consegue boas votações mesmo num período em que o prefeito tucano Orlando Morando dá de braçadas. Aliás, sobre Morando, escreveremos mais abaixo.   

PALMEIRAS FORA   

Excluir Luiz Marinho de pesquisa eleitoral ao comando da Prefeitura de São Bernardo tem significado semelhante a eliminar o Palmeiras de pesquisa sobre os maiores favoritos ao título do Campeonato Brasileiro deste ano.  

Só isso (ou tudo isso) já descredencia metodologicamente a pesquisa do Instituto Paraná.  

É nesse ponto que entra em campo a fralda geriátrica e a fralda infantil, um ou outra ou as duas para aumentar ainda mais o cheiro malcheiroso que poucos gostam de sentir.   

Sem Luiz Marinho e sem que a movimentação das supostas peças de candidatos esteja realmente desenhada com certa viabilidade, quem chegou em primeiro lugar na pesquisa do Instituto Paraná foi o eterno deputado (estadual e federal) Alex Manente.    

Vou explicar como é pouco confiável o destaque dado a Alex Manente (mesmo considerando antecipadamente que a pesquisa é um descarte sem a presença de Luiz Marinho) como principal concorrente ao Paço Municipal.  

SALTO QUÂNTICO   

Segundo o Instituto Paraná, Manente tem 33,1% dos votos estimulados. É seguido de longe pelo recém-eleito também deputado federal Marcelo Lima. Seguem na classificação geral dos nomeados pelo Instituto Paraná: vereador Julinho Fuzari (9,8%), deputado estadual petista Luiz Fernando Teixeira (8,2%), o ex-vereador Rafael Demarchi (4,8%) e o secretário de Saúde Geraldo Reple Sobrinho (1,9%).    

Não saberiam em quem votar 8,5% dos eleitores entrevistados, enquanto outros 16,9% não votariam em nenhum dos relacionados.   

Como o material jornalístico do Diário do Grande ABC não reproduz a metodologia aplicada ao voto estimulado, fico na dúvida se não tivemos o caso de vício de Alex Manente constar da primeira fila na ordem alfabética, em substituição à convencional cartela esférica salomônica.   

Mas isso é de menos. O que interessa mesmo é que tanto no caso de Alex Manente como dos demais (a comprovar que a pesquisa é intempestiva), o grau de vulnerabilidade é elevadíssimo.   

MUITO RISCO   

Grau de vulnerabilidade elevadíssimo significa dizer que as escolhas de agora poderão ser descartáveis mais adiante.  

Como isso pode ocorrer? Simples: a transposição do voto espontâneo (quando o entrevistado diz em quem vai votar sem consultar lista alguma, seja esférica, alfabética ou não) para o voto estimulado é uma corrida de barreiras. Tudo pode acontecer.  

E o que pode acontecer no caso da pesquisa do Instituto Paraná? Basta comparar a sondagem resultante da pesquisa espontânea e os números da pesquisa estimulada.   

Quanto maior o percentual de votos espontâneos, mais se configura a certeza de peso relativo do voto estimulado como caminho aberto à confirmação nas urnas. Quanto menor o percentual de votos espontâneos, menos probabilidade de sedimentação do voto estimulado.   

No caso da pesquisa do Instituto Paraná, essas premissas cientificamente comprovadas vão para o beleleu.   

O grau de vulnerabilidade dos votos contabilizados em favor de Alex Manente é enorme, tanto quanto dos demais supostos candidatos.   

SUBINDO DEMAIS   

Alex Manente contou nos votos espontâneos com apenas 2,7% de apontamentos dos eleitores. Saltou para incríveis 33,1% quando os entrevistados receberam a cartela indexadora de voto estimulado.  

Agora, se preparem para uma bomba que confirma o odor da pesquisa do Instituto Paraná ao excluir Luiz Marinho da pesquisa: o petista contou com 2,2% dos votos espontâneos (contra os 2,7% de manente, portanto). Uma diferença mínima, que, semelhantemente sob efeitos estimulados, alcançaria números próximo de Alex Manente.   

Tirar Luiz Marinho da pesquisa é tirar o Palmeiras do Campeonato Brasileiro. Uma barbaridade que poderia ser resumida também como a entrega da rapadura de uma fraude metodológica imperdoável.  

ENCHENDO A BOLA   

Os demais concorrentes também tiveram relativamente grandes saltos numéricos quando saíram do estágio de voto espontâneo para voto estimulado. Ou seja: quanto maior o salto, maior o tombo de expectativas frustradas.   

Voltando um pouco à prematuridade temporal implícita da pesquisa do Instituto Paraná, os dados dos votos espontâneos provam vulnerabilidade ainda maior que a insustentabilidade dos números preliminares dos concorrentes.   

Os registros de votos espontâneos a todos os concorrentes são tão pífios, tão marginais relativamente ao conjunto dos eleitores, que só existe mesmo uma explicação lógica: a pesquisa está completamente fora do tempo da ciência propriamente dita.  

Por quê, afinal, se dá tanta inquietação? Desconfia-se fortemente de oportunismo político com mensagem longe de ser cifrada: pretende-se encher a bola do deputado federal Alex Manente, colocando-o como concorrente forte ou como concorrente a ser considerado pelos favoritos, no caso o provável indicado por Orlando Morando, Marcelo Lima, e Luiz Marinho, caso confirme candidatura.  

DOIS RECADOS   

Por fim, a pesquisa do Instituto Paraná deixou dois recados que, agora sim, parecem consistentes.  

Primeiro, o prestígio do prefeito Orlando Morando é extraordinário, com 72% de aprovação dos eleitores de uma cidade dividida entre conservadores e regressistas, ou direita versus esquerda, e conhecida como berço do Partido dos Trabalhadores.   

Não há na região território mais combativo no campo político-eleitoral do que São Bernardo. Esteja o PT em alta ou em baixa, o PT é PT sempre. Diadema é mais avermelhada, mas não conta com oposição à altura de São Bernardo.   

Segundo, tudo indica que o apoio de Orlando Morando no ano que vem pode fazer a diferença eleitoral em favor do candidato do Paço, mesmo com Luiz Marinho numa eventual disputa.   

APOIO SUBLIMINAR?   

A única explicação que poderia dar algum respaldo ao crescimento de votos direcionados a Alex Manente entre os apontamentos espontâneos e os apontamentos estimulados é uma eventual interpretação de parte do eleitorado de que o candidato do Cidadania eternamente concorrente-auxiliar à Prefeitura de São Bernardo teria o apoio do prefeito Orlando Morando.  

Como isso é praticamente impossível, eventual fortalecimento da candidatura de Alex Manente virará pó na medida em que o eleitorado descobrir a verdade do cenário plausível no horizonte eleitoral: será Marcelo Lima ou outro candidato do Paço o concorrente que tentará fazer frente a Luiz Marinho.   

O mesmo Luiz Marinho que só não seria candidato em São Bernardo se o PT estiver em maus lençóis no plano federal. Aí o reserva Luiz Fernando Teixeira seria lançado apenas para marcar presença petista. 

Para completar, não custa lembrar os números eleitorais do ano passado em São Bernardo, quando Marinho, Manente e Marcelo concorreram aos cargos de deputados federais. Manente obteve 64.870 votos, Luiz Marinho 63.751 e Marcelo Lima 55.119 votos. Os dados não servem como referência para o futuro, porque são disputas diferentes. E principalmente porque Orlando Morando, prefeito, não concorreu.   



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