Se a soma das partes é a maioria relativa dos votos, que sentido teria a manutenção da individualidade se ao final da corrida tanto um quanto outro vão lamentar a derrota? Que matemática burra é essa?
Justamente por entender que é melhor não contrariar a matemática eleitoral especifica de São Caetano, costura-se o princípio que se aplica a qualquer iniciativa humana racional. Seria melhor compartilhar para chegar a um resultado de sucesso mutuamente satisfatório.
É isso que estaria movendo os candidatos Fabio Palacio e Tite Campanella a se aproximarem na disputa pela Prefeitura de São Caetano no ano que vem. Uma chapa Palacio-Tite ou Tite-Palacio está sendo gestada, mas ainda é pré-embrionária.
TURNO ÚNICO
São Caetano está entre a maioria dos municípios brasileiros em que a disputa eleitoral se dá e se encerra no primeiro turno, porque não consta da lista de no mínimo 200 mil eleitores – são 160 mil habitantes e 100 mil portadores de títulos eleitorais.
Sabe-se que a movimentação em torno do propósito de ajuntamento apenas começou e estaria sujeita a chuvas de infiltrados e trovoadas de beligerâncias incentivadas. Entretanto, há expectativa de que Palacio e Tite chegariam a um acordo. Eles estariam prontos para refutarem publicamente a estratégia. Haveria tempo de sobra para se acertarem.
O acordo se consumaria numa aferição técnica no momento adequado para definir quem seria o candidato eleitoralmente mais viável. Quem ficar atrás será companheiro da chapa.
ABSOLUTO E RELATIVO
É aí que entra em campo a soma relativa de votos, não necessariamente a soma absoluta de votos.
Há muita interpretação especulativa quanto à caracterização dos ocupantes da primeira, da segunda e de eventual terceira via em São Caetano às eleições do ano que vem. Não faltariam filtros e seletividades na definição da etiquetagem dos concorrentes.
Certo é que não seria exagero a qualificação preliminar de primeira e principal via a favor do candidato Fabio Palacio. Ele não faz parte da gestão do prefeito José Auricchio, mas tem o que provavelmente outros não teriam na mesma condição: memória eleitoral.
Fabio Palacio disputou duas eleições em São Caetano, viu o eleitorado crescer e agora partiria à terceira tentativa com estoque apreciável. Em 2020 ele chegou em segundo lugar, atrás do vencedor e eleito pela quarta vez José Auricchio Júnior. Palacio obteve 32,13% dos votos válidos ante 45,28% do prefeito.
MEMÓRIA INTANGÍVEL?
Memória eleitoral é algo aparentemente intangível, mas sempre aparece em forma de verbalização de voto nas pesquisas eleitorais e nas urnas eletrônicas.
Memória eleitoral não é um gol acidental, mas uma trama que vem de ensaios, de tentativas e erros. Vale tanto para cima quanto para baixo. Palacio conta com memória eleitoral ascendente.
O vereador Tite Campanella vem de um ano inteiro de prefeito-tampão, período no qual o eleito José Auricchio foi impedido de assumir o cargo por decisão da Justiça Eleitoral.
Tite Campanella tem o legado do pai emancipacionista e perseguido pelo Regime Militar. E o ano de 2021 inteiro de exposição como vereador que virou prefeito.
MEMÓRIA OCUPACIONAL
Não é uma memória eleitoral que o sustente teoricamente, porque jamais foi candidato como Fabio Palacio. Mas conta com memória ocupacional, como prefeito emergencial de 12 meses.
Como nenhum dos dois estaria relacionado com a máquina pública, ou seja, não são apontados como concorrentes em nome do grupo de José Auricchio, o que se supõe é que são adversários do candidato do Paço Municipal.
A concorrente oficial seria a secretária de Saúde Regina Maura Zetone, derrotada nas eleições de 2012. A queda custou a quebra de um ciclo de vitórias sucessivas do grupo de José Auricchio e do antecessor Luiz Tortorello. São 32 anos de governança com o intervalo de Paulo Pinheiro, eleito em 2012.
Regina Maura foi atropelada pelo médico Paulo Pinheiro e por forte esquema eleitoral que teve um invasor oculto, o PT de São Bernardo.
PEÇAS EXPOSTAS
Expor as peças da engrenagem eleitoral em São Caetano de forma didática é o primeiro e importante passo para entender o que poderá ocorrer nos próximos tempos.
Sem recorrer ao passado o futuro será mais enigmático ainda. Ainda mais num território tão especial como São Caetano, de eleitores conservadores e uma parcela elevadíssima de moradores da Terceira Idade -- o dobro da média regional e semelhante a países do Primeiro Mundo.
Levando-se em conta que os demais e prováveis candidatos só marcarão terreno dentro de uma equação em que quanto mais gente na disputa menos votos válidos serão necessários para eleger o novo prefeito, a corrida eleitoral em São Caetano ficaria restrita a três situações distintas.
Estabelecer o peso ponderado de cada candidatura é uma arte de guerra que será aplicada nos próximos tempos.
AÇÕES DISCRETAS
A velha máxima de políticos experientes assegura que a diferenciação entre um bom estrategista e um sonhador é saber a dosimetria eleitoral correta que determina dividir e ficar com a maior parte. Essa é a chave-mestra da disputa pela Prefeitura de São Caetano no ano que vem.
Assessores e consultores informais de Fábio Palacio e de Tite Campanella trabalham ainda discretamente. O objetivo é colocar os dois concorrentes no mesmo barco em algum momento específico para superar a candidatura escolhida por José Auricchio. Não se admite como ajuizada qualquer fórmula que leve à escolha de um dos dois como concorrente oficial do grupo do prefeito.
Para obter a maioria de votos relativos ou de votos absolutos no turno único qualquer um dos candidatos deve ser convencido de que as duas candidaturas precisariam ser unificadas. Fora isso, é entregar o resultado de bandeja ao representante oficial.
CABEÇA DA CHAPA
Há duas equações que precisariam ser ultrapassadas e não há ainda perspectivas significativamente robustas a garantir sucesso, mas, por outro lado, nada que indique inviabilidade no médio prazo.
É prioritário que Tite Campanella e Fábio Palácio façam um acordo tácito de que integrariam a mesma chapa, de prefeito e vice-prefeito, seguindo o roteiro de obediência ao resultado ao qual estariam submetidos. Tudo passa por uma pesquisa de extrema confiança metodológica e aplicativa.
Para quem conhece os dois concorrentes e observa a possibilidade de se aproximarem para valer, o caminho seria traçado nesses termos. Haveria consenso de que nada melhor que uma boa e confiável pesquisa.
O bom dessa experiência é que além de definir quem seria o cabeça de chapa, o resultado também apontaria o nível de soma líquida de votos, excluindo-se o risco de canibalismo. Até prova em contrário, Tite Campanella e Fabio Palacio não se anulariam numa única chapa. Mais que isso: teriam votos suficientes para festejar a vitória nas urnas.
REAÇÃO NATURAL
Há, entretanto, o outro lado da equação, que, de fato, são dois ângulos complementares e gêmeos: o grupo de José Auricchio poderia se sentir ameaçado de derrota com a junção de Palácio e Tite e, em resposta, partir para uma reação deliberadamente divisionista. Seriam plantados obstáculos ou mesmo agrados que implodiriam o movimento de atração mútua.
Como última escala de sobrevivência do projeto de permanecer no poder municipal, o grupo de Auricchio poderia compor com Fabio Palacio ou Tite Campanella. A vitória estaria garantida e a gestão seria mutuamente controlada, entre quem chegaria e quem já está.
Há, entretanto, um antídoto que ergueria uma cerca de proteção à suposta investida do grupo de José Auricchio. Tanto Tite Campanella quanto Fabio Palacio seriam advertidos sobre o risco de suposta aproximação do Paço Municipal ganhar a forma de emboscada cujo desenlace seria a submissão aos interesses dos situacionistas.
CANDIDATURA ADOTIVA?
O outro ponto que seria utilizado para demover tanto Fabio Palácio quanto Tite Campanella de ouvirem o que chamariam de canto da sereia de uma candidatura adotiva do Paço Municipal é que o compartilhamento com o grupo que está no poder praticamente esterilizaria os planos de uma administração com marca própria, de transformações para valer.
Tradução: seria muito mais interessante e produtivo politicamente tanto para Fabio Palacio quanto para Tite Campanella, independentemente de serem prefeito ou vice, trabalharem em torno de gestão genuinamente dos grupos que representam, em contraposição, portanto, ao que consideram fragilidades de pelo menos 15 anos de controle da máquina pública de São Caetano por José Auricchio.
Esperar que Fabio Palacio e Tite Campanella apareçam em algum momento próximo dispostos a falar sobre o futuro eleitoral que os espera em São Caetano tem tanto sentido prático quanto revelar a combinação do cofre da casa da Moeda.
FRÁGIL TERCEIRA VIA
Sabe-se que os dois grupamentos se organizam de olho nas urnas de outubro do ano que vem sem perder o foco na racionalidade matemática de que São Caetano não comporta uma terceira via.
Há quase uma unanimidade de que a terceira via não só se tornaria impotente na disputa como facilitaria a vitória do representante do Paço Municipal.
Mas que isso: representantes de Fabio Palácio e de Tite Campanella sabem que a matemática eleitoral em São Caetano é muito complexa.
Além de turno único, o potencial do candidato situacionista sempre está abaixo de 50% votos válidos. Os demais candidatos, que formam uma maioria absoluta e também relativa, se perdem como minoria nas urnas. O espalhamento de votos contempla natimortas terceiras, quartas, quintas e outras vias.
DADOS COMPROVAM
Essas parcelas secundárias entram na disputa para dividir e subtrair. Afinal, juntam a condição de minoria absoluta (o total de votos válidos inferior ao total dos votos dos dois primeiros colocados) à realidade de igualmente uma minoria relativa (o total do percentual de votos válidos inferior a cada um dos principais concorrentes). São competidores previamente derrotados.
Essa equação é o caminho da consagração do vencedor da disputa geralmente com menos que 50% dos votos. No caso da última disputa, os 45% de José Auricchio foram suficientes para comemorar o quarto mandato. Os 65% dos votos válidos dos demais concorrentes se tornaram maioria inócua.
O princípio de quem está na administração da Prefeitura de São Caetano não é necessariamente ter a maioria absoluta do eleitorado como prêmio máximo, mas essencialmente a maioria relativa do eleitorado a garantir o sucesso.
Parece que Fabio Palacio e Tite Campanella têm a assessorá-los gente que sabe fazer as contas e que entendem do riscado do enxadrismo eleitoral em São Caetano. Mas a obviedade explícita também é um prato cheio a artimanhas dissuasivas. Esperar que o Paço Municipal assistirá a tudo impavidamente é ingenuidade.
2016 EXPLICATIVO
Defensores da junção das candidaturas de Palacio e Tite chegaram à conclusão elementar: numa São Caetano em que a flexibilização do critério de maioria é tão elástica eleitoralmente, onde menos é mais e mais é menos, o raciocínio eleitoral encaminha-se à lógica de que não custaria nada antepor-se com combinação neutralizadora. E que combinação seria essa? A constatação de que o absolutamente menos somado com o relativamente menos sem qualquer risco de canibalismo significaria ganhos tanto em termos absolutos quanto relativos.
Simplificando tudo isso: como supostamente Regina Maura com 34,34% dos votos, Fabio Palacio com 30,71% e Tite com 20,66% consagrariam a indicada do prefeito José Auricchio, enquanto os demais concorrentes morreriam distante da praia?
Foi exatamente o que ocorreu na disputa municipal de 2016, quando José Auricchio voltou ao Paço Municipal. Ele somou 34,34% dos votos válidos, Paulo Pinheiro 30,71% e Fabio Palacio 20,66%. Os nomes foram trocados entre um exemplo e outro, mas os fatos numéricos são históricos.
A configuração inicial, em forma de projeção para outubro do ano que vem, é de que a soma dos votos válidos da chapa Fabio-Tite seria sempre maior que o total do candidato do Paço. Qualquer formulação diferente colocará a candidata do Paço no Paço.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)