Política

Pesquisa eleitoral em Santo
André é peça de marketing

DANIEL LIMA - 12/04/2023

É uma arrematada, frágil, debilitada e sofrível peça de marketing rastaquera, a pesquisa do Instituto Paraná publicada na edição de hoje no Diário do Grande ABC. A disputa em outubro do ano que vem pela sucessão de Paulinho Serra é antecipada com tal precocidade que os dados se tornam insustentáveis a qualquer análise séria. Há uma profusão de equívocos.

Diante do que vi e li hoje nas páginas do Diário do Grande ABC, e do que  tenho visto e lido há muito tempo na Velha Imprensa em geral, cheguei à conclusão de que provavelmente esteja vivendo num mundo paralelo depois do tiro. 

Não é possível que a humanidade tenha emburrecido tanto. Fazem-se jogadas inacreditáveis. O caso da pesquisa em Santo André do Instituto Paraná é emblemático. Como o foram os dados das pesquisas do Instituto Paraná em São Bernardo e em São Caetano, recentemente.

TÍTULO INADEQUADO 

Para começo de conversa, o título da página interna da reportagem do Diário (que repete a primeira página) está completamente fora do esquadro metodológico da pesquisa. “Luiz Zacarias larga na frente pela Prefeitura de Santo André em 2024” é um equívoco. 

Se obedecido o critério da pesquisa, de 3,5 pontos percentuais de margem de erro, uma margem de erro absurdamente elevada, se prevalecer o que chamaria de ciência, Luiz Zacarias com 11,7% dos votos estimulados, poderia ter também 8,2% (não esqueça que 3,5 pontos percentuais é para cima e para baixo). 

Nesse caso, até Pedrinho Botaro, com 5%, poderia superar Zacarias. Afinal, 5% com margem de erro de 3,5 significam 8,5%. Mais que o Zacarias, que desceria para 8,2% aplicando-se o mesmo critério de margem de erro, agora para baixo.

O pressuposto é tão verdadeiro quanto desclassificatório à manchete do Diário. 

OITAVO COLOCADO 

E olhem que Pedrinho Botaro é numericamente apenas o oitavo colocado na classificação geral do voto estimulado. 

À frente dele, além de Zacarias, estão a Professora Beth Siraque (PT) com 9,7%, Eduardo Leite (9,5%), Almir Cicote (8,2%), Professor Minhoca (7%), Marcelo Chehade (6,3%), Fernando Marangoni (5,5%). Abaixo desses todos estão Edson Sardano (3,2%) e Ricardo Alvarez (2,3%).

Notem os leitores que há nada menos que 10 supostos concorrentes à Prefeitura de Santo André quando, de fato, considerando-se agrupamentos partidários e as reais possibilidades de candidatura, não sobrariam cinco. 

Entre os que sobrariam, um deles apenas cumpriria o regulamento porque, como representante do Paço Municipal, já está eleito. Além disso, exceto a petista Beth Siraque e o psolista Ricardo Alvarez, todos os demais estão ligados ao Paço Municipal, inclusive vários como secretários. 

O que isso significa? Significa que a pesquisa foi feita (com a apresentação dos nomes dos candidatos na modalidade estimulada) apenas como peça propagandista de vários concorrentes que querem mesmo valorizar o passe às próximas disputas eleitorais, inclusive para permanecerem nos poderes do Paço Municipal, seja o Executivo cada vez mais avassalador, seja o Legislativo sempre dócil. 

BOIS EXPLORATÓRIOS 

Quem chamar os candidatos agregados do Paço Municipal de bois de piranha comete um erro grave. Praticamente todos eles têm consciência de que estão numa disputa de faz-de-contas.  São bois exploratórios. O que lhes interessa mesmo é gozar das delicias do poder de uma gestão pública que não resistiria a determinados padrões republicanos, caso o Brasil fosse um País sério. 

A concessão do Semasa e a privatização dos cemitérios, entre outros casos, seriam compulsoriamente bons testes de estresse ético e moral. 

Há também um outro lado da moeda de interesses latentes do grupo que comanda o Paço Municipal de Santo André ao estimular a inclusão de tantos nomes na pesquisa do Instituto Paraná. 

OLHO NO FUTURO 

Pretende-se manter em cada um deles a chama da esperança de que poderia ser  ungido pelos mandachuvas. Isso significa que o único para valer mesmo chegará tão fragilizado entre os mandachuvas que não lhe restaria, em caso de vitória mais que provável nas urnas eletrônicas, dobrar-se candidamente aos mesmos mandachuvas. Essa é a lógica. Paulinho Serra vive essa situação em grau menos constrangedor. 

Os limites territoriais de um prefeito são o resultado das condições e dos contextos que se aplicam desde o nascedouro de uma candidatura. Conforme o ritual instrumentalizado por apoiadores de peso, gente que decide, tem-se no final da linha de comando as respectivas hierarquias internas, que não são as hierarquias oficiais.

TUDO COMBINADO 

A forçada de barra para criar um grupo de supostos concorrentes ao comando do Paço Municipal sob o controle do comando do Paço Municipal é tão flagrante e entregadora da rapadura de esperteza que há um ingrediente que precisa ser combinado com os russos.

Claro que você quer saber do que se trata. É o seguinte: até agora, como diz a pesquisa, nenhum dele conta com suporte popular. É claro que isso será resolvido, porque não existe oposição em Santo André (tanto é que privatizaram a morte ontem à noite) e a brincadeirinha de pesquisa eleitoral vai ser uma mão na roda para definir o assunto. 

Não custa lembrar que foi excluído da pesquisa do Instituto Paraná o homem que já teria as bençãos do Paço Municipal para ser oficialmente candidato da sucessão de Paulinho Serra. 

O invisível mandachuva Leandro Petrin, que não aparece no noticiário mas tem relevância impressionante no grupo de comando do Paço Municipal, está sendo guardado estrategicamente. Talvez não entre em campo porque o escolhido mais adiante  como substituto potencial se entregue ainda mais aos compromissos do grupo. 

QUASE NADA DE VOTOS 

É chocante verificar que tanto Luiz Zacarias quanto os demais candidatos listados para a Prefeitura de Santo André têm valores ínfimos na pesquisa do Instituto Paraná quando o entrevistado é instado a revelar em quem pretende votar em outubro do ano que vem. Querem ver o tamanho do buraco?

Imagine o leitor se realmente conta com lastro inicial como concorrente à Prefeitura alguém que, a cada 100 entrevistados, não chega a 1% de citação. Isso mesmo: um por cem. Um eleitor para cada 100 eleitores. 

Pois foi exatamente isso o que ocorreu com Luiz Zacarias. Apenas 0.9% dos eleitores entrevistados revelaram voto no atual vice-prefeito. Os demais concorrentes obtiveram menos ainda.  

VOTOS DIFERENTES 

O que significa voto espontâneo quando correlacionado ao voto estimulado, que é a segunda etapa do instituto de pesquisa para aferir o interesse do eleitorado? 

Significa que o voto espontâneo que vira voto estimulado é um voto sem convicção, sem apetrechamento de segurança. Todos os candidatos listados pelo Diário do Grande ABC viveram essa situação. 

Até prova em contrário, são detentores de votos frágeis. E mesmo assim, 11,1% do eleitorado pesquisado disseram, quando estimulados,  que não sabem em quem votar em outubro do ano que vem, enquanto outros 20,5% não votariam em nenhum deles. 

Então temos, portanto, um terço do eleitorado arredio aos nomes apresentados. Arredio diante da cartela com os nomes de todos os indicados à pesquisa. 

DESCONHECIMENTO GERAL 

Os votos estimulados precisam ser relativizados também em termos de expressão dos eleitores. Uma fatia não identificada apontou um dos nomes mais por obrigação, provavelmente para se desvencilhar do entrevistador. 

Só para que não haja dúvida quanto ao cambaleante índice de voto convicto ou algo semelhante: 66,1% dos eleitores entrevistados responderam que não sabem em quem votar enquanto que outros 8,8% afirmaram que não irão votar ou votarão em branco ou nulo. 

Ou seja: de cada 100 eleitores questionados sobre em que votar sem que se lhe apresentassem a cartela com os nomes dos escolhidos, nada menos que 74,9% disseram que não saberiam em quem votar ou escolheram as opções mais drásticas: não votariam em ninguém, votariam em branco ou anulariam o voto.

LUPA NO TEXTO 

Ora bolas: num rastreamento público em que somente 25,10% dos eleitores entrevistados manifestaram interesse nas eleições de outubro do ano que vem, está mais que na cara que a pesquisa é uma esculhambação temporal. 

Mais ainda, para agravar o quadro: dos 25,10% que manifestaram voto em algum candidato, 21,9% apontaram o prefeito Paulinho Serra, que não pode concorrer. Um eleitorado também alienado. 

Quero que o leitor mais impertinente coloque tudo o que escrevi acima sob suspeita. Mais que isso: que coloque em cada palavra, em cada frase, em cada avaliação, uma lupa de desconfiança sobre o que escrevo. Quero o contraditório. Só quem quer o contraditório tem o poder de convencimento. Ou de desmoralização pública. Façam isso comigo e com todos aqueles que fazem do jornalismo profissão ou outra coisa. 



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