Prefeito-tampão durante um ano inteiro, em 2021, o vereador Tite Campanella sabe que há uma encruzilhada na vida política que o desafiará até outubro do ano que vem, quando São Caetano elege o próximo prefeito.
Tite Campanella é a terceira via das eleições de 2024 em São Caetano. Até prova em contrário.
Qual será o destino de Tite Campanella, filho de Anacleto Campanella, emancipacionista cassado pelo Regime Militar, ex-prefeito, ex-deputado estadual e ex-deputado federal?
Contraditoriamente, Tite Campanella tem muito ativo político na cidade mais conservadora do Grande ABC. Nada, entretanto, que ultrapasse o conceito eleitoral de terceira via.
O que será de Tite Campanella senão submeter-se aos desafios de escolha do próprio Tite Campanella para que Tite Campanella deixe de ser terceira via eleitoral?
Tite Campanella não garantirá compulsoriamente o destino político mais brilhante que pretenderia, mas qualquer decisão que tome nos próximos tempos e que o influenciará no horizonte terá de ter como ponto de partida uma decisão que terá de tomar em pouco tempo. Ser terceira via tem seus percalços.
VÁRIAS ALTERNATIVAS
O destino pretendido e o objetivo desejado dependerão, como complementariedade, da aceitação dos russos, no caso os eleitores de São Caetano.
Ou seja: a escolha que fizer é um ponto de partida, mas não necessariamente a fita de chegada.
A terceira via cristalizada em 2021 quando virou prefeito interino é o valor e o custo da exposição pública. Lucros e perdas sintonizados contraditoriamente.
O Tite Campanella de terceira via pode ser uma de muitas coisas.
Tite pode ser prefeito situacionista de São Caetano. Tite pode ser vice-prefeito situacionista de São Caetano. Tite pode ser prefeito oposicionista de São Caetano. Tite pode ser vice-prefeito oposicionista de São Caetano. Tite pode reeleger-se vereador de São Caetano. Certamente Tite não será catalogado como político fora de combate.
ANO A FRENTE
Eis, resumidamente, o script de Tite Campanella para a próxima temporada eleitoral em São Caetano. Ainda há muito tempo para decidir, mas nenhuma decisão é a decisão de resultados desejados ou mais próximos disso se permanecer em forma de dúvida além do tempo indispensável à execução de qualquer plano.
O fantasma de terceira via deve açoitar Tite Campanella porque é um fantasma com o qual convive e do qual precisa se desvencilhar. Até porque, pode perder até o posto de terceira via.
Talvez Tite Campanella tenha o maior conjunto de opções em outubro do ano que vem no Grande ABC. Por isso terá de se definir.
É improvável que no calendário político de 2025 Tite Campanella não permaneça no mundo político de forma atuante. Seria protagonista ou figurante? Figurante é perder o posto de terceira via. Voltar a ser vereador com possibilidade zero de voltar a ser prefeito interino.
Repetir a carreira do pai que morreu aos 49 anos é impossível. Mas é possível esticar o legado do sobrenome na cidade socialmente mais homogênea do Grande ABC.
Tite Campanella tem o poder de fazer com que a segunda via vire primeira via ou a primeira via se consolidar como primeira via.
A pior das alternativas mesmo é Tite Campanella seguir vereador. Seria uma frustração. Afinal, ninguém que tenha o passado familiar de Tite Campanella e que teve a oportunidade de comandar São Caetano durante um ano durante o período mais sombrio do país, dominado pelo Coronavírus, desperdiçaria a oportunidade de avançar algumas casas no tabuleiro da vida.
HORA DE ARRISCAR
E a oportunidade está no traçado estratégico de ser prefeito ou vice-prefeito, um cenário de primeira via.
Estaria do lado do time do prefeito José Auricchio Júnior ou da oposição que tem um candidato natural, com memória eleitoral, o jovem Fabio Palacio, duas vezes seguida candidato a prefeito?
Fabio Palacio chegou próximo do vencedor José Auricchio na última disputa em São Caetano. Não foi pouca coisa. Auricchio ganhou pela quarta vez o cargo máximo do Município. Fabio Palacio é uma segunda via para os situacionistas e primeira via para os oposicionistas.
Tite Campanella terá de arriscar. Cauteloso, sabe que arriscar seria uma atitude pensada e repensada. Tem de decidir de que lado vai estar e em que situação atuará no embate eleitoral.
A maior dificuldade que torna Tite Campanella ainda mais pressionado é que muito dificilmente seria o candidato a prefeito do lado situacionista. Seria a primeira via ideal.
CAVALO DE TROIA
A médica Regina Maura Zetone, secretária de Saúde, já estaria posicionada e é considerada a favorita dos situacionistas a concorrer. É a primeira via segundo os situacionistas.
Regina Maura perdeu a disputa em 2012 para o também médico Paulo Pinheiro. Desta vez não terá no adversário um Cavalo de Troia. O PT Regional com muito dinheiro para gastar estava por trás de Paulo Pinheiro. Agora as prioridades do PT são outras e os dinheiros não tão abundantes assim.
Eliminando-se, portanto, a candidatura de Tite Campanella como prefeito situacionista, poderia definir-se como candidato situacionista a vice-prefeito. Seria um peso eleitoral fortíssimo para evitar possível surpresa. Seria, portanto, um Tite Campanella também de primeira via.
São Caetano tem turno único eleitoral. A soma de Regina Maura e Tite Campanella daria mais votos que um terço ou pouco mais que se comprovam necessários ao sucesso.
Por que, afinal, Tite Campanella optaria pelo vice de Regina Maura de uma administração que naturalmente sofre de fadiga de material, quando se sabe que pode se juntar a Fabio Palacio, a outra primeira via em potencial?
PARCERIA INTERESSANTE
A perspectiva lhe pareceria mais interessante. Principalmente se for candidato a prefeito e Palacio a vice. Mas aí vai depender de composição que levaria em conta uma prévia eleitoral de verdade, com pesquisa para aferir quem seria cabeça de chapa.
Esse é um terceiro degrau de dificuldades que poderia colocar Tite Campanella na retaguarda. Não é garantido, mas pelo andar da carruagem política em São Caetano, Tite Campanella poderia ficar em desvantagem no placar e, em cumprimento ao acordo, se instalaria como candidato a vice-prefeito de Fabio Palacio. Uma dupla do barulho. Tite Campanella, qualquer que seja o desfecho, estaria no time de primeira via dos opositores do Paço.
A soma das partes entre Fabio Palacio e Tite Campanella seria a maior parte do eleitorado de São Caetano, calculam muitos que não veem índices alarmantes de canibalização dos dois eleitorados.
Ou seja: não haveria soma zero. Mais que isso: haveria um potencial de aderência entre quem ainda não se decidiu em quem votar. Votos inertes que estão no passado. São Caetano tem um eleitorado em cima do muro muito elevado.
PONTOS E CONTRAPONTOS
Que vantagem Tite Campanella levaria, afinal, ao colocar-se como vice-prefeito de Fabio Palacio se supostamente teria o mesmo cargo caso se aliasse ao prefeito José Auricchio e formasse dupla com Regina Maura?
É nesse ponto que haveria um arranjo de poder diferenciado entre uma situação e outra. Ser vice-prefeito de Fabio Palacio não é a mesma coisa que ser vice-prefeito da candidata do prefeito José Auricchio.
A moeda do vice-prefeito de Fabio Palacio é mais valiosa que a moeda de vice-prefeito de Regina Maura. A primeira via de Fabio Palacio seria mais robusta que a primeira via de Regina Maura.
Ser vice-prefeito vitorioso na chapa de Regina Maura significaria que Tite Campanella compartilharia o Executivo com todo o grupo já instalado no Paço Municipal.
CAMINHÃO EM VIELA
A diagramação de mandos e comandos está desenhada há muito tempo. Não se mexeria demais na arquitetura dos poderes de governança. Tite conhece esse riscado.
A interinidade de prefeito durante 12 meses foi pedagógica. Mexer na estrutura de poder consolidado sem a correspondente autonomia é apenas sonhar acordado.
As manobras como prefeito interino sempre se pautaram por passos calculadíssimos. Havia poucos espaços disponíveis à ocupação.
O congestionamento num Poder Executivo instalado há tanto tempo exige reorganização estratégica que o cargo de vice-prefeito, por mais cuidadosamente que tenha sido negociado, não consegue superar. Tite Campanella vice-prefeito situacionista é um veículo pesado numa rua estreita. É uma primeira via com ressalvas profundas.
SEM AMARRAS
Já o vice-prefeito oposicionista Tite Campanella teria estabelecido um acordo prévio com o prefeito oposicionista Fabio Palacio. Livres de amarras do passado, prontos para definir um novo futuro administrativo, dividiriam o Executivo sem maiores embaraços. E com ampla autonomia. As limitações de vice-situacionista desapareceriam do radar do vice-oposicionista.
É claro que para Tite Campanella o melhor dos mundos é ser prefeito situacionista ou prefeito oposicionista, mas será preciso que leve em conta nos próximos tempos que a vida não é uma estrada dos sonhos. Os percalços prováveis exigem acautelamento, reflexões e ousadia. A primeira via ideal é complexa.
O ambiente político em São Caetano é particularíssimo. Predomina a cultura eleitoral local, desafiadora numa metrópole, espremida entre a Capital e o Grande ABC mais restritivo ao domínio dos conservadores.
São Caetano é municipalista ao extremo nos votos municipais. E segue rigorosamente o cardápio quando vai as urnas decidir por candidatos de outras esferas do poder.
ELEITORADO MELINDROSO
Qualquer movimento em falso dos concorrentes à Prefeitura de São Caetano tem um poder de fogo destruidor. Todo cuidado é pouco, portanto. Por isso a vestimenta político-eleitoral exige guarda-roupa especial. Sem espalhafatos, sem pirotecnia. O voto de São Caetano para prefeito de São Caetano é espécie de cristaleira.
A crítica em São Caetano tem conotação ameaçadoramente dualística. Precisa ser bem calibrada. A mensagem e o mensageiro não podem se exceder.
O eleitorado maduro de uma cidade que tem um quarto de população acima de 60 anos espalha ramificações aos demais moradores.
O movimento inercial de conservadorismo é uma obra secular, sustentada pela baixa taxa de natalidade e muito mais baixa, ainda, invasão de bárbaros, no caso de imigrantes.
PODER DE TRANSFERENCIA
A terra em São Caetano custa mais caro porque é escassa e é escassa porque quiseram assim os emancipacionistas de meados do século passado.
Tite Campanella e suas circunstâncias fazem parte da sociologia de São Caetano. Os escassos, mas suficientes 35% dos votos válidos que deram a quarta vitória a José Auricchio nas eleições de 2020 são um enigma à próxima disputa.
Qual seria o poder de transferência de prestígio do prefeito à candidata escolhida para concorrer em outubro? Teria agora o prefeito, com uma megaoperação de obras, iniciado uma recuperação do prestígio perdido nas gestões anteriores? E até que ponto o afastamento de um ano do cargo por decisão da Justiça Eleitoral interferiria nesse processo?
Ponderações não faltam no portal de condicionantes que marcarão a disputa em São Caetano na temporada do ano que vem. A perspectiva de que Fabio Palacio e Tite Campanella estariam juntos numa mesma chapa acionaram o botão de pânico eleitoral no grupo de José Auricchio.
Resta saber qual o tamanho da ambição e dos riscos que vão determinar a escolha de Tite Campanella.
TERCEIRA VIA
Como se observa, o filho de Anacleto Campanella é uma estranha e precária terceira via de São Caetano. Associada no País à derrota iminente, a terceira via de São Caetano corre por fora como toda terceira. Está numa escala de valores potenciais abaixo da candidatura do Paço Municipal e de Fabio Palacio.
Entretanto, numa São Caetano de turno único, como toda cidade de terceira via de turno único, o peso relativo na definição do vencedor é considerável.
O drama de Tite Campanella é que ainda não decidiu qual o destino que o faria deixar a terceira via precária em votos, mas rica em alternativas. Como vai se meter urnas?
Certo mesmo é que Tite Campanella é uma terceira via passageira que, como toda terceira via passageira, depende da primeira via e da segunda via. Quem será capaz de tirar o filho de Anacleto Campanella da penumbra política depois de um ano de brilho interino?
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)