Calma que você não bebeu nada alcoólico. Você leu título semelhante nesta revista digital em março. Não se trata de matéria repetida. O título anterior “Qualquer um pode ser prefeito em Santo André” está defasado, impactado por recentes acontecimentos.
Agora é mesmo o que está aí: “Qualquer um pode perder a eleição em Santo André”. Esse qualquer um se refere especificamente ao título anterior. Trata-se de representante do Paço Municipal.
Como o jogo pode ter virado ou repensado ou reorganizado ou especulado tanto em tão pouco tempo? O jogo não necessariamente virou ou sofreu outra mutação, mas pode virar e sofrer tantas mutações. Política é assim.
Até outro dia o grupo do prefeito Paulinho Serra fazia as contas, levava tudo em conta e dava como certa a vitória em outubro do ano que vem. A dúvida era saber quem seria o escolhido para ser avalizado pela população. Algo quase compulsório diante da hegemonia improdutiva que temos em Santo André.
HEGEMONIA VAZIA
Estavam todos tão certos disso. Tanto que brincavam de candidatura oficial. Estimulam-se vários nomes. E se escondiam outros. Uma brincadeirinha de gato e rato, levando à arena somente gatos e ratos domesticados. Era preciso se divertir diante da ausência de oposição.
Santo André, como tenho reiterado, tornou-se mesmo terra de hegemonia político-administrativa improdutiva. Os senhores poderosos de plantão, mandachuvas e mandachuvinhas, estão pouco se lixando a terceiros.
Melhor dizendo: os terceiros incômodos são perseguidos, desclassificados, vilipendiados se ousarem agir democraticamente. Agir democraticamente significa opor-se aqui e ali, onde eventualmente for necessário e indispensável.
DOMÍNIO COMPLETO
O Paço Municipal destes tempos de domínio total tem o controle da bola, da torcida, da arquibancada, da maioria da imprensa e até da meteorologia. Os mandachuvas sabem o tipo de chuteira que utilizariam para formalizar a continuidade no Paço Municipal.
De repente, numa burrada sem tamanho, decidiram produzir uma pesquisa do Instituto Paraná. Os dados manteriam a tropa de supostos candidatos do Paço Municipal ligadíssimos na geração de um ambiente de competitividade interna em que cada um se sentiria parte do processo eleitoral decisivo.
Sabiam de antemão que teriam de mostrar serviço para pretenderem alguma coisa. A cenoura da candidatura oficial era o sonho de cada um.
Sabe-se porque tudo se sabe que aquela tropa que apareceu num dos cenários eleitorais do Instituto Paraná servia apenas e exclusivamente para esquentar o jogo entre eles mesmos.
GANHOS COLETIVOS
O candidato pretendido pelos tucanos e aliados em Santo André é um antigo petista, especializado em Legislação Eleitoral. Leandro Petrin está no banco de reservas de luxo. Só entraria em campo quando chegasse a hora de dar uma arrancada.
Entenda-se arrancada como a corrida no terço final do tempo do jogo. Rumo à consagração.
Considerando-se aquele cenário pré-eleitoral, de aquiescência total de adversários que nem adversários eram porque estavam mudos, calados e isolados, o desenho formulado pelo Paço Municipal tinha tudo para se consagrar nas urnas.
O que parecia uma Torre de Babel, com tantos concorrentes com a mesma camisa e muitos sonhos individuais, não passava de jogada de mestre. Quem quer que fosse o escolhido, todos ganhariam.
Os preteridos ganhariam e reforçariam imagens que garantiriam as benesses do poder.
PESOS RELATIVOS
O escolhido não seria mais importante que a menor das parcelas de poder do grupo seletivo que decide como administrar Santo André. A irmandade e o ecumenismo de poderes em Santo André é harmônica dentro da banda larga do que significa harmonia.
Quando o todo é maior que cada uma das partes, o resultado é que quem está no topo estratégico segue mandando e desmandando. E todos sabem quem está no topo da cadeia de poderes municipais em Santo André.
Quem apontar o prefeito Paulinho Serra vai ter de relativizar o que é topo da cadeia de poderes municipais.
A pesquisa do Instituto Paraná melou o plano. O cenário principal (omitido pelo Diário do Grande ABC porque o resultado contraria a expectativa do Paço Municipal), deu PT de Carlos Grana na cabeça.
SOMA PREOCUPANTE
Somada a intenção de votos no ex-prefeito e no candidato do Psol, vereador Ricardo Alvarez, a oposição conta com 20% de um total de 40% dos entrevistados que optaram por um dos nomes da lista de voto estimulado. Outros 60% não mencionaram nenhum concorrente ou descartaram todos os nomes.
Muita água de especulação, negociação, pressão e idiossincrasias vai rolar sob a ponte das eleições em Santo André até outubro do ano que vem.
Se em outros municípios do Grande ABC o calendário eleitoral ainda não merece aquecimento das peças, em Santo André de indefinições que se seguem ao marasmo pré-pesquisa, a movimentação é pertinente.
Alguns pontos precisam e devem ser avaliados com atenção.
O primeiro é que a turma do Paço Municipal que patrocinava uma versão engenhosa de falsa Torre de Babel agora pode ter de lidar com uma versão realisticamente de Torre de Batel. Despertaram-se ambições individuais que podem aflorar ações individuais.
COMO CENTAURO
O segundo é que o PT de Carlos Grana ou eventualmente de outro concorrente vai ter que enfrentar a Síndrome de Centauro. Se não der prioridade ao que o contexto estabelece, podem os petistas e aliados facilitarem a vitória dos tucanos e assemelhados.
Vamos à explicação sobre a Torre de Babel de verdade. O jogo encenado de que todos concorrerem preliminarmente em condições de igualdade de modo que, qualquer um que fosse escolhido, teria sempre a comemorar ganhos de solidificação de poderes no Paço Municipal, agora pode sofrer processo reverso.
Se não houver entre os muitos concorrentes a confiança de que o candidato do Paço Municipal, qualquer que seja, ganhará de fato a eleição do ano que vem, poderemos ter uma reversão de expectativas e sonhos que influenciariam o resultado das urnas.
DOIS AMBIENTES
Esses concorrentes estariam em situação idêntica a de um time de futebol que entra em campo certo que o resultado será uma barbada mas se descobre em maus lençóis porque o adversário veio reforçado e imporia mais resistência do que o imaginado inicialmente. Uma zebra à vista seria suficiente para arrefecer o ânimo de quem se sentir preterido.
Já no caso do candidato do PT, a Síndrome de Centauro se dá por conta de a metade superior, que inclui a cabeça, está voltada para Santo André, com as medidas de competitividade necessárias, e a parte inferior, de homem-cavalo, depende do ambiente nacional em larga escala.
O governo federal terá uma participação efetiva no ambiente municipal porque estamos tratando de PT, agremiação vista como prova de unidade e de coerência ideológica, ativos e passivos de acordo com as percepções do conjunto de leitores à direita e à esquerda.
Ainda é prematuro estabelecer algo como o nível básico de apoio do governo federal a Carlos Grana ou outro candidato do partido em Santo André.
SUPORTE FEDEERAL
Preliminarmente, a tarefa de superar a maquinaria do Paço Municipal exigirá a instalação de Santo André entre os municípios prioritários com o qual o PT e aliados pretendem contar como cidadela às eleições presidenciais de dois anos depois.
Sem o suporte federal a tarefa será mais árdua do que se imagina. O representante do Paço Municipal conta com toda a artilharia azeitada. É verdade que pretendia poupar munição, mas o Instituto Paraná atrapalhou os planos.
PESQUISA EMBLEMÁTICA
Como o tempo, inicialmente, é que vai determinar a velocidade dos arranjos eleitorais em Santo André, convém esperar os próximos passos. Cada peça explicitamente ou dissimuladamente mexida nesse tabuleiro vai provocar consequências.
O estrago pós-pesquisa favorece a candidatura de um petista como principal adversário de tucanos e aliados.
O cronograma do Paço Municipal no balanço de candidatura preferencial sofreu certo estresse. Talvez seja preciso antecipar a oficialidade do concorrente antes do tempo imaginado inicialmente.
Um poste pode ser eleito em pouco tempo, resultado da inercia eleitoral, mas quando a corrida ganha ares de competição, chegar à popularidade que se traduz em votos recomenda mais atenção. Sobretudo porque do outro lado estaria um concorrente com memória eleitoral, caso de Carlos Grana.
FATOR LULA DA SILVA
A derrota de Carlos Grana em 2016, quando tentou a reeleição, ainda não tem uma leitura adequada tanto entre os petistas como entre os mandachuvas do Paço Municipal.
Estão todos com os olhos postos num passado de contexto desfavorável ao PT em todo o Brasil, especialmente no Estado de São Paulo e ainda mais particularmente no Grande ABC, onde não sobreviveu um único petista nos paços municipais.
Lula da Silva, candidato a presidente, restaurou em larga escala essa hecatombe no ano passado.
Decifrar o que será o ambiente eleitoral em outubro do ano que vem é um grande desafio. Construir vários cenários e avaliar as consequências de cada um é missão para quem não quer ser surpreendido além da conta da aleatoriedade.
A resiliência do petismo lulista vai além da razoabilidade dos mais críticos. Sobretudo quando o petista lulista tem o controle do governo federal.
Sobre como poderia ser a influência em Santo André do governador Tarcísio de Freitas, é melhor esperar. Paulinho Serra e aliados ainda não podem ser considerados integrantes da estrutura de poder político do ex-ministro de Jair Bolsonaro.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)