O prefeito Paulinho Serra seria um boxeador fadado ao fracasso se fosse ao ringue sem a proteção de um aparato de assessores e conselheiros. Ou seja, se encarasse sozinho qualquer adversário qualificado.
Como oficialmente não se permite que um pugilista vá à luta guarnecido por um batalhão e, portanto, tem de enfrentar o adversário cara-a-cara, Paulinho Serra beijaria a lona rapidamente.
Na edição de hoje do Diário do Grande ABC o prefeito de Santo André passa recibo duplo.
Primeiro, responde à crítica dessa revista digital com um evento que reitera o Projeto Santo André 500 Anos. Como se sabe, a proposta de enxergar Santo André em 2053 como um paraíso urbano não passa de marketing sem bases no presente e, mais que isso, com os dois pés no poço profundo do passado recente.
TIRO NO PÉ
Paulinho Serra se atribuiu um desafio que não lhe competia, até porque não terá controle sobre os próximos 30 anos de Santo André. Os marqueteiros que inventaram o projeto foram além da conta. Brincaram de Deus. Projetos de curto ou até mesmo de médio prazo são necessários, mas não podem destilar cheiro futurista demais. Nem especialistas ousam projetar o mundo nos anos 2050. Quanto mais um Município dependente de tanta coisa fora de suas atribuições.
Segundo, Paulinho Serra dá um rabo-de-arraia no antecessor, Carlos Grana, petista que está de volta para concorrer à Prefeitura no ano que vem. No mínimo, Paulinho Serra foi ingrato com Carlos Grana, que facilitou sua caminhada rumo ao Paço Municipal.
Cada frase dita por Paulinho Serra ao Diário do Grande ABC é um convite à reflexão e também ao contraditório. Paulinho Serra é um homem público cercadíssimo de áulicos e tutores. Mais tutores que puxa-sacos, se querem saber.
FESTIVAL ECUMÊNICO
Paulinho Serra está à frente da Prefeitura de Santo André, mas, agora mais que nunca, com o segundo mandato na reta de chegada, pensa alto. Para tanto, faz concessões a grupos estranhos a Santo André. Além de ceder também a grupos entranhados em Santo André. Ou seja: Paulinho Serra é um festival ecumênico de pertencimentos mútuos.
Paulinho Serra age com a desenvoltura de quem se sente protegidíssimo. É o pugilista cercado de cuidados que não existem na prática da modalidade, na qual o mano a mano decide para valer.
No caso de Paulinho Serra, o mano a mano é o compromisso com a realidade que ele detesta encarar.
Por isso mesmo, quando Paulinho Serra precisa sair do raio de proteção e enfrentar os fatos, acaba confessando os crimes.
DOIS ERROS
O maior crime de Paulinho Serra é achar que é um gestor público competente no campo econômico e esperto no campo político.
Não é uma coisa nem outra. Só fala patetices sobre o Desenvolvimento Econômico de Santo André (168ª PIB per capita no Estado de São Paulo, entre outros déficits) e virou massa de barbeiragens na arena política.
Tanto virou massa de barbeiragens na arena política que a Folha de S. Paulo conta hoje brevemente o fracasso da articulação de Paulinho Serra para reunir prefeitos do PSDB em apoio a Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul.
O espólio tucano sob a guarda de Eduardo Leite tem Paulinho Serra como tesoureiro. Provavelmente ele vai contabilizar série de prejuízos insondáveis.
O comando nacional do partido entregue ao gaúcho tem-se provado fracasso generalizado no Estado de São Paulo. Sem os caciques paulistas, o PSDB não é nada. Os quase 30 anos de domínio tucano no Estado viraram passado. Agora quem dá as cartas de embates no Estado são os aliados do governador Tarcísio de Freitas, principalmente Gilberto Kassab, e o PT revivido nas últimas eleições.
TIRO CERTO
Não quero entrar em detalhes porque há determinados assuntos que não podem ser extrapolados além da particularidade de interlocuções, mas o prefeito Paulinho cometeria pecado capital se andasse a criticar este jornalista aos amigos mais chegados ou quem quer que seja.
Afinal, ele sabe o quanto me disse querer na Administração que assumiu em janeiro de 2017.
Num ponto de vista diria que Paulinho Serra demonstrou, com os três convites que me fez, o quanto se mantém distante de total e incurável incapacidade que lhe imputariam na área econômica.
Afinal, ter um jornalista que conhece o Grande ABC como poucas pessoas e que, entre outras coisas, não tem rabo preso com ninguém, seria uma grande jogada.
Outros prefeitos que passaram e estão no mercado jamais foram tão objetivos quanto Paulinho Serra nesse intento.
PLANEJAR E AGIR
Feito esse reparo que não pode ser tratado como autobajulação nem cabotinice, já que é realidade pura, volto ao que interessa.
E o que interessa é que Paulinho Serra dá sinais de descontrole emocional e administrativo, ou administrativo e emocional, na medida em que busca oferecer respostas a críticas mais que sensatas.
Primeiro, sobre o Projeto Santo André 500 anos, não há o que tentar superar com evasivas triunfalistas. Não existe futuro sem o planejamento do presente com base no passado destruidor de uma cidade que foi parcialmente liquidada em 40 anos de desindustrialização.
Hoje, menos de três de cada 100 moradores da cidade trabalha no setor industrial. E mais de um terço da População Economicamente Ativa trabalha em outros municípios.
RESPONSABILIDADE
Como mostramos ontem, as cinco principais cadeias produtivas industriais foram dinamitadas. Paulinho Serra tem parte ínfima de responsabilidade nesse quesito quanto se observa a questão sob o ponto de vista de participação histórica.
Mas o tamanho da encrenca e do passivo aumenta quando se verifica que já poderia ter intercedido após seis anos de dois mandatos. Preferiu o proselitismo.
Outro ponto que demonstra a efervescência emocional do prefeito Paulinho Serra está também na página do Diário do Grande ABC que trata da ênfase marquetológico do Projeto Santo André 500 Anos.
Paulinho Serra fez duras críticas à gestão de Carlos Grana, seu antecessor e do qual foi secretário de Mobilidade Urbana de notável tentativa de mudar a ciência ao procurar transformar concreto em plástico. Ou seja: em dar elasticidade às dimensões rígidas de ruas e avenidas para adaptar corredores de ônibus.
O que significa Paulinho Serra dando cacetadas nada sutis em Carlos Grana? Significa que o prefeito sinaliza que vai aumentar o volume e a acidez de críticas a Carlos Grana, algo que durante mais de seis anos de dois mandatos jamais o fez. Paulinho Serra rompeu um acordo de pacificação em Santo André. Que virou submissão dos eventuais opositores.
PESQUISA MORTAL
A primeira iniciativa de Paulinho Serra bater em Carlos Grana sem citar o nome do petista se deu numa entrevista ao Diário do Grande ABC, antes da publicação da pesquisa do Instituto Paraná.
Como se sabe, aquela pesquisa apontou Carlos Grana como líder de intenção de votos nas eleições do ano que vem no cenário menos improvável de concorrentes. Um cenário tão cortante que foi suprimido das páginas do Diário do Grande ABC.
Um ou dois dias antes da divulgação daquela pesquisa, mas provavelmente já conhecendo os resultados, Paulinho Serra, na entrevista ao Diário do Grande ABC, fez menções duras à gestão que o antecedeu. Deu-se a largada do que se espera um festival de ataques ao partido com o qual a Administração de Paulinho Serra se amasiou para que chegasse ao topo da cadeira do Paço Municipal nas eleições de 2016.
O que se sabe e não se tem a menor dúvida é que a reação de Paulinho Serra à pesquisa sonegada, mas que ganhou densidade junto aos eleitores é que os petistas ganharam ânimo. E já estão trabalhando intensamente para disputar pau a pau as eleições do ano que vem.
PETISMO ATIVO
Tanto é verdade que o diretório municipal decidiu liberar de qualquer punição o vereador Eduardo Leite, até outro dia engalfinhado com a cúpula partidária.
Eduardo Leite está liberado para integrar o PSB, espécie de irmão mais chegado do PT, sem correr o risco de perder a cadeira do Legislativo de Santo André. Com isso, abre-se um caminho de alinhamento das duas candidaturas à Prefeitura de Santo André.
Teríamos, portanto, um opositor a mais num cenário que antes da pesquisa estava centralizado em saber quem seria o escolhido do grupo de Paulinho Serra para dar continuidade à gestão do tucano.
Paulinho Serra está emparedado nesse momento. A compulsoriedade de um sucessor alinhado ao grupo do Paço Municipal ganha tons pálidos. Bater em Carlos Grana e no PT rompe um trato desigual. Paulinho Serra foi obrigado a incluir na Administração estranhos especialmente da Capital, movido pela ambição natural de político de dar um grande salto.
Parece que Paulinho Serra além de vulnerável à prática do pugilismo, também o seria numa pista de atletismo.
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