Administração Pública

Saúde politizada

DANIEL LIMA - 02/04/2009

Os quase dois milhões de votos disponíveis no Grande ABC são um naco precioso às eleições do ano que vem para o governo do Estado e para a presidência da República. Para os tucanos, quanto mais neutralizar a força do PT na manjedoura onde foi concebido, melhor. Para o PT, quanto mais saltar na frente do PSDB, mais interessante é. Por isso, o setor de saúde pública é um convite a manobras.


A visita do governador José Serra na última terça-feira foi emblemática. Houve de tudo em matéria de tentativa de demarcação de terreno. Ele chutou o pau da barraca do prefeito petista Oswaldo Dias, de Mauá. Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, mesmo diplomático, não deixou de cutucar o governador. Sobrou até para o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior, na condição de presidente do Consórcio Intermunicipal, que prefiro chamar de Clube dos Prefeitos. O secretário estadual de saúde e o congênere de São Bernardo saíram no tapa informativo.


A inauguração da primeira clínica pública para dependentes de álcool e drogas no Brasil, em São Bernardo, foi um assombro como sangramento da diplomacia entre o governador do Estado, tucano, e o prefeito de São Bernardo, petista. Luiz Marinho disse com o jeito simplório de sempre que só foi ao evento, ao qual o convidaram um dia antes, por respeito ao governador.


O secretário de saúde de São Bernardo, Artur Chioro, foi mais incisivo. Denunciou que a clínica em questão nem de leve foi mencionada em reunião do colegiado de gestão regional. “Então, não tenho muito a dizer, porque não sei qual é a proposta, muito menos como se integrará com o Sistema Municipal de Saúde”, disse ao jornal ABCD Maior em resposta ao discurso do governador Serra, que destacou o deslocamento do processo de triagem para seleção dos pacientes à Prefeitura. Seria algo como escalar um árbitro para apitar um clássico de futebol sem comunicar o local e o horário da disputa.


O secretário estadual da Saúde, Luiz Barradas Barata, tentou consertar o inconsertável. Disse que coube ao Caps (Centro de Atenção Psicossocial) da Prefeitura as informações sobre a unidade. “Não notificamos o prefeito da cidade, planejamos uma parceria com os Caps, que irão centralizar o trabalho” — disse o secretário estadual em entrevista transcrita no jornal ABCD Maior. O secretário municipal reagiu: “Essa é uma situação surreal. Sou o secretário de Saúde do Município e não fui informado. Não houve aviso formal ou informal. Falei com a coordenação do Caps pessoalmente, nada foi avisado; ficamos de mãos atadas nesse caso” — afirmou.


O nível diplomático baixou mesmo quando o governador, visivelmente irritado com a novela do Hospital Radamés Nardini, em Mauá, foi indagado sobre a presença de baratas na UTI. José Serra foi contundente: É um hospital do Município. O prefeito deveria ir lá, pegar um chinelo e matar as baratas”. O governador foi mais fundo ao acusar o PT de Oswaldo Dias de utilizar o problema para transferir responsabilidade.


O constrangimento atingiu em cheio o prefeito José Auricchio, presidente do Consórcio que, três dias antes da surpreendente visita de José Serra, anunciou disposição de conseguir saída para os problemas do Hospital Nardini. Uma audiência com o governador foi anunciada por Auricchio que antecipou estar munido de dois fortes argumentos — segundo relato do Diário do Grande ABC — para convencer o chefe de governo estadual: a breve chegada do Trecho Sul do Rodoanel em Mauá exigirá unidade hospitalar para atendimentos de emergências e o Pólo Petroquímico também necessitaria de referência forte em saúde.


Dispensável dizer que o caráter municipalista do Hospital Nardini, atribuído pelo governador do Estado, foi lançado ladeira abaixo por José Auricchio Júnior, petebista aliado de José Serra. Como se já não fosse suficiente a morfologia urbana da Região Metropolitana de São Paulo para asfixiar o conceito de municipalismo. E, particularmente, o Município chamado Grande ABC, que só se divide em sete pedaços, sete prefeitos e mais de 100 cadeiras legislativas porque os emancipacionistas da metade do século passado imaginavam que estavam assegurando grande herança para as gerações futuras, ou então estavam pensando em dividir o bolo.


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