Política

Paulinho numa sinuca de bico;
Morando nadando de braçadas

DANIEL LIMA - 25/05/2023

O prefeito Paulinho Serra, de Santo André, é muito ruim de taco político eleitoral quando estão em perspectiva as eleições municipais do ano que vem. Diferentemente dele, Orlando Morando, prefeito de São Bernardo, é espécie de Carne Frita, o Pelé do mesmo jogo metafórico em que o taco só espirra para os amadores e a bola sete é frequentadora assídua de caçapas. 

Tudo é possível em política, mas observando o que se delineia para os próximos tempos, tem-se certeza de que Paulinho Serra fez escolhas erradas e Orlando Morando acertou na mosca. Esse é o cenário atual.  

O que se lamenta em nome de uma regionalidade que sempre poderia beneficiar-se caso os dois prefeitos corressem na mesma raia é que o Grande ABC sofre com esses desencontros.  

AMBIENTES DIFERENTES  

Paulinho Serra precisa fazer o sucessor e tudo indica, por enquanto, que o fará, embora não exista mais a perspectiva de que o faria com as facilidades de até outro dia. 

Orlando Morando pode fazer o sucessor, mas a empreitada é mais problemática. Há um adversário histórico a ser combatido, no caso o PT do sindicalismo e do presidente Lula da Silva. 

Não fosse o fato de Santo André e São Bernardo serem vizinhos muito menos semelhantes do que se imagina nos produtos que colocam na prateleira eleitoral, Orlando Morando faria o sucessor com os pés nas costas, porque é disparado o melhor prefeito da região. 

Se eleitoralmente São Bernardo fosse Santo André e se Santo André fosse São Bernardo, a projeção seria completamente diferente. Paulinho Serra já estaria derrotado e Orlando Morando consagrado.  

MENOS COMPLICAÇÕES  

Acontece, entretanto, todavia e, contudo, que Santo André é um mar de rosas eleitoral em confronto com São Bernardo.  

O PT de Santo André de viés menos sindical mergulhou como força municipal numa crise sem tamanho desde a morte de Celso Daniel. E agora, embalado pela vitória de Lula da Silva, é um partido em reconstrução. 

Sigam o meu raciocínio lógico e vocês vão entender aonde pretendo chegar. Tem gente que não vai gostar porque prefere jornalismo de relações públicas.   

Teoricamente, ante a exposição que expus, é muito mais fácil Paulinho Serra fazer o sucessor que bem entender do que Orlando Morando fazer o sucessor que espera fazer.  

Chega a ser paradoxal atribuir ao melhor prefeito o risco de uma derrota e a um prefeito varejista a vitória quase certa.  

Hão de convir os leitores e eleitores que estou indo na toada teórica certa. Mas o problema é que essa toada não terminou ainda. 

Vamos então aos contrapontos que colocariam Paulinho Serra em dificuldades.  

Damos um salto em direção ao quadro estadual, que afetará o ambiente eleitoral regional.  

DESCONFIANÇA 

Paulinho Serra é visto com desconfiança por forças do Palácio dos Bandeirantes. Não se enganem com o tratamento diplomático do governador Tarcísio de Freitas durante a solenidade de novos ajustes de suposta competitividade da Avenida dos Estados.  

O bolsonarista de temperamento mais afável e educado encheu a bola do prefeito de Santo André como o faz com tantos prefeitos. É do estilo do governador. Um cavalheiro.  

Tarcísio de Freitas, do Republicanos, tem dois fortes aliados na governabilidade do Estado mais rico do País -- o PL de Valdemar Costa Neto e o PSD do secretário de governo Gilberto Kassab. Nenhum deles morre de amores por Paulinho Serra depois que Paulinho Serra fez o que fez, de bandear-se para o PSDB do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.  

CARGO NACIONAL  

Os conselheiros de Paulinho Serra o levaram a um mato de imprevidências sem o cachorro da cautela. Apostaram no nome errado e no partido errado. Nem Eduardo Leite tem força para virar uma terceira via improvável nem o PSDB seria capaz de reoxigenar-se após a asfixia eleitoral.  

Paulinho Serra é tesoureiro nacional do PSDB moribundo no Estado de São Paulo e praticamente em todo o Brasil. O espólio do então governador João Doria virou bagaço. Os prefeitos tucanos no Estado estão em fuga. Querem sobreviver à catástrofe que os sismólogos de Paulinho Serra não captaram.  

Paulinho Serra fez uma leitura equivocada do futuro que chegou. Entendeu os sinais com embriaguez de poder. Tesoureiro nacional de uma agremiação de terceira linha em que se transforma a passos acelerados o PSDB é quase nada na escala de valores políticos.   

CUSTO DEVASTADOR  

Pior que quase nada, é muito prejuízo porque o custo-benefício é tremendamente devastador. Os adversários discretos ou raivosos que Paulinho Serra colecionou ao bandear-se para o time do governador gaúcho pesam mais que eventuais e pouco sustentáveis vantagens de constar da cúpula partidária.  

Paulinho Serra está para os tucanos que restaram sob o comando de um governador sem suporte político no Estado de São Paulo como um capitão de navio que aderna.   

Mais que isso, e agora entra em campo o ambiente político-eleitoral local: Paulinho Serra conta há seis anos com o apoio de petistas graduados de Santo André, agregados no Paço Municipal em acordo que remonta a vitória nas eleições de 2016.  

Uma vitória de compadres. Paulinho Serra derrotou o petista Carlos Grana num segundo turno de traições monumentais dos petistas que durante quatro anos ocuparam o Paço Municipal. Paulinho Serra inclusive atuou como secretário municipal de Carlos Grana. 

JUNTOS E MISTURADOS  

Quem viu Paulinho Serra cercado de deputados petistas esta semana num encontro em Brasília com o vice-presidente da República e ministro de Desenvolvimento Econômico Geraldo Alckmin sabe que não se tratou de fake news. Notícia falsa é tentar dizer que eles não se encontraram.  

O que poderia se circunscrever em forma de análise exclusivamente como uma operação de governo, de administração preocupada com o futuro de Santo André, ganhou a justa conotação de embrenhamento político-partidário. O passado entre tucanos e petistas em Santo André corrobora aquele flagrante.  

Já no caso do prefeito Orlando Morando, uma semana antes num evento em que confraternizou com o mesmo Geraldo Alckmin, a situação era completamente diferente. Morando estava em São Bernardo como prefeito e o evento marcava uma posição de três montadoras de veículos da cidade diante de um ex-governador e hoje ministro. A pauta da reindustrialização do País é palavra-de-ordem ao futuro da região.   

MUDANDO DE PARTIDO?  

Mais que isso: a possibilidade de Orlando Morando, político de centro-direita desde sempre, vestir a camisa avermelhada do PSB, partido de Geraldo Alckmin, aliado dos vermelhos do PT, é praticamente nula. Sobretudo – e aí vai uma informação relevante – porque está em posição privilegiada a ponto de analisar com máxima atenção a eventual mudança partidária diante do esfarelamento contínuo da representação tucana no Estado.  

Do jeito que a banda de desmobilização do PSDB está tocando, talvez só restem alguns teimosos e resilientes que optariam por algo fúnebre como fundo musical.  

Posto tudo isso, ainda não terminou o antagonismo situacional envolvendo Orlando Morando e Paulinho Serra.  

Uma pergunta que ganha conotação de desafio é tentar saber como se darão os próximos tempos entre os tucanos de Paulinho Serra e os petistas de Santo André que seguem unidos? Há duas questões pertinentes e intrigantes. 

DOIS CAMINHOS  

Primeiro, a possibilidade de o PT de Carlos Grana vir forte para a disputa do Paço Municipal aumenta na medida em que os petistas não abririam mão de um estoque de 600 mil votos.  

Se for confirmada uma candidatura petista para valer em Santo André, o amasiamento com os tucanos, consequentemente, entraria em erupção. Não restaria saída ao grupo multifacetado de Paulinho Serra senão correr do prejuízo. Buscaria apoio do governador do Estado e dos grandes partidos que o apoiam.  

Enquanto isso, já com alicerces sólidos no governo do Estado e suas ramificações, Orlando Morando nadaria de braçadas nas águas eleitorais para fortalecer a artilharia contra o PT em São Bernardo.  

Embora alguns analfabetos políticos insistam em comparar disputas eleitorais municipais em São Bernardo com Santo André, não custa repetir que o jogo é muito mais competitivo onde o PT surgiu para o mundo.  

APOIO DE QUEM?  

O candidato do prefeito Paulinho Serra será mais favorito em outubro do ano que vem na medida em que alcançar o que parece inalcançável: contar com o apoio discreto de petistas agrupados no Paço Municipal, não despertar a ira da massa petista que vai às urnas provavelmente com um concorrente próprio e, também, chamar o presidente Lula da Silva ou o governador como reforço de campanha.  

Parece que essa equação não fecha se for considerada a baixa qualidade de acomodação de todos os agentes.  

No caso de Orlando Morando não existe labirinto algum para fortalecer o candidato do Paço Municipal no ano que vem. O presidente Lula da Silva será visto e reconhecido como adversário a ser batido por trás da candidatura petista a ser escolhida. O candidato do Paço Municipal vai contar com o apoio do governador Tarcísio de Freitas. 

LULA VERSUS TARCÍSIO  

O que se pergunta é o seguinte: quem nesse momento político, administrativo e econômico tem muito mais prestígio eleitoral no Grande ABC e particularmente em São Bernardo – Lula da Silva ou Tarcísio de Freitas? 

Quem responder Lula da Silva requer tratamento psiquiátrico.  

O futuro que vai chegar e que desembocará nas eleições do ano que vem poderá alargar ou não o eleitorado à direita ou à esquerda em São Bernardo? Tudo indica pelo andar da carruagem que a centro-direita vai se fortalecer.  

Já no caso de Santo André, a mistureba tucana proporcionada por Paulinho Serra e seu grupo de suporte tende a virar uma cascata de complicações caso o PT decida acabar com a brincadeira de um governo de coalizão discreta e partir a uma disputa para valer.  

Paulinho Serra vai precisar se socorrer do governo do Estado e provavelmente abrir mão do controle da indicação do concorrente do Paço Municipal.  

Paulinho Serra transmite a sensação de que está num barco furado enquanto Orlando Morando nada de braçadas. Os próximos tempos vão clarear a ambiente. 



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