O prefeito Paulinho Serra está pagando o preço da multilateralidade partidária que no fundo não passa de pragmatismo político que também por outro lado são parentes próximos do desencaixe de procedimentos cautelares para fugir de enrascadas futuras que sempre viram presente.
O leitor está com dificuldade de entender o enunciado acima? Então vou traduzir em termos bem populares com o uso de uma analogia.
Já ouviram falar que cachorro de muitos donos acaba morrendo de fome? Pois é isso mais ou menos a situação do prefeito de Santo André.
Paulinho Serra se deixou engabelar por tantas agentes políticos de diferentes distintivos e na medida em que as eleições municipais do ano se aproximam, mais está sitiado por dúvidas e idiossincrasias.
DOIS MUNDOS
Não se sabe ao certo se Paulinho Serra tem autocrítica suficiente para entender que a governança do Paço Municipal dependeu o tempo todo do consórcio de agentes políticos e empresariais, entre outros, para tocar a vida de prefeito desde janeiro de 2017.
Ou seria o mundo de Paulinho Serra um mundo paralelo sobre o qual imaginaria ter total liderança e que, portanto, não dependia da ração de interesses não contrariados do entorno explosivo?
Não venham os maledicentes a sugerir que estou desrespeitando o prefeito por conta da analogia. Já está reiterado que se trata mesmo de analogia, nada mais que uma historinha rápida para entendimento geral e irrestrito.
Quem me conhece a observa o perfil de meu celular no WhatsApp sabe que tenho pelos cães uma paixão tão intensa e prolongada, quando não endoidecida, que não há na face desse mundo ser humano nenhum sob observação deste jornalista, não da pessoa física, que mereça mais desvelo.
TEMPO DE DEFINIÇÕES
Vou me embrenhar hoje para reiterar o que escrevi outro dia sobre o fato de Paulinho Serra estar numa sinuca de bico.
Pretendo dar conta do recado estabelecendo bases macropolíticas. Deixo de lado o que está pegando fogo, ou seja, a escolha do candidato que representaria a força política que embala o prefeito e, também, o comportamento rebelde ou submisso do PT de Santo André, um puxadinho do Paço Municipal.
Os dias vão se passar até que chegará o dia e também a noite que colocariam Paulinho Serra entre a cruz de manter-se unido ao PT como nos últimos 10 anos ou romper com os aliados de ocasião e de poder e jogar-se nas águas aparentemente mais promissores do governador Tarcísio de Freitas.
Traduzindo? Paulinho Serra e seu grupo vão ter de definir-se pela continuidade do consórcio tucano-petista. É isso ou abrirão mão da década de ajuntamento com o petismo e se dedicarem ao conglomerado que terá o governador do Estado como carro-chefe até prova em contrário de alto prestígio e viabilidade cada vez mais intensa a concorrer para comandar o País.
FATOR TARCÍSIO
Se a disputa municipal fosse nesta semana, hão de convir os leitores que o peso de Tarcísio de Freitas encaixotaria tanto Lula da Silva quanto Jair Bolsonaro num compartimento secundário. Tarcísio é antípoda ideológico de Lula da Silva e fiel escudeiro do eleitorado mais radical do ex-presidente, além de expandir a territórios ideológicos menos conflitivos.
Se continuar com o PT como aliado recheadíssimo de representantes do governo federal na estrutura da Prefeitura, Paulinho Serra terá de ceder à necessidade de escolha de um candidato afinado com o partido de Lula da Silva.
E faria de tudo, como tem feito até agora, para levar os leitores no bico. Muita gente que vota acreditando piamente nas urnas eletrônicas ou que acha que as urnas eletrônicas são uma farsa tecnológica imagina que votar no tucano de Santo André é votar contra o PT.
FATOR PT
Por outro lado, contudo e todavia, se Paulinho Serra acabar desistindo do PT, porque o PT seria tóxico, e aliar-se ao governador do Estado, muito mais promissor à sucessão presidencial, principalmente se Jair Bolsonaro for cassado, então se dará um cavalo de pau de consequências ainda inimaginadas.
O rompimento de Paulinho Serra com a cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores seria um trauma eleitoral porque no âmbito municipal desde muito tempo está tudo sob controle.
Os principais caciques petistas de Santo André estão muito bem agasalhados pelo Paço Municipal e, para não perderem a boquinha que já dura muito tempo, estão demonizando a candidatura do ex-prefeito petista, Carlos Grana, desmerecendo-o como concorrente competitivo.
FESTA JUNINA
Talvez um dos mecanismos que possam tirar dúvidas sobre o que se avizinha -- e que ganharia corpo -- seria a presença ou a ausência do governador Tarcísio de Freitas em eventos programados para Santo André. Das três últimas programações, faltou a duas. A mais recente, no final de semana, seria mais ou menos um teste extravagante.
O governador teria confirmado presença numa festa junina. É a avacalhação do poder tanto o convite quando a confirmação, depois rejeitada.
Acredita-se que na medida em que o governador tomar conhecimento do que se passa há muito tempo no Paço de Santo André, mais se tornaria arredio às investidas da trupe supostamente liderado por um tucano agora anunciado como presidente da agremiação no Estado de São Paulo. Um síndico de massa falida.
Quem entende um pouquinho de eleições reconhece que a força gravitacional de Tarcísio de Freitas é descomunal nesta altura do campeonato e que a tendência de se tornar ainda mais indutiva ao voto é o que mais se observa no horizonte de diagnósticos sensatos.
MOMENTO DELICADO
A situação é mesmo delicada para Paulinho Serra que supostamente manteria a camisa de força de fidelidade partidária ao PSDB, partido do qual é tesoureiro nacional.
Paulinho Serra faz parte de uma nau que afunda a olhos vistos. As prefeituras paulistas ainda tucanas estão trocando de bandeira sob o peso de pressões de adensamento de Valdemar Costa Neto (PL), Gilberto Kassab (PSDB) e também do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Qualquer imagem catastrófica sobre o PSDB em São Paulo, Estado em que governou durante três décadas de calamidades econômicas, mas de responsabilidade fiscal louvável, será avaliada como comedida.
É nessa embarcação furada e tomada de piratas que está alojado Paulinho Serra. Ele fez escolhas malsucedidas e se tornou presa fácil à controladoria de terceiros.
ENFRENTAMENTO
Se romper o amasiamento com o PT (lembre-se que Paulinho Serra foi secretário de Mobilidade Urbana do prefeito Carlos Grana, seu antecessor liquidado pelo governo de Dilma Rousseff, como quase todos os prefeitos petistas de então) está mais que contratado um enfrentamento custoso.
O presidente Lula da Silva deverá interferir nessa equação toda porque é amigo pessoal de Luiz Marinho, ministro do Trabalho que, por sua vez, tem Carlos Grana como amigo muito próximo. Tanto que Grana se juntou a Luiz Marinho em várias tarefas, especialmente com vistas à regulamentação de aplicativos de transporte e alimentação.
O que vai pesar para valer na decisão que deverá ser tomada pelo prefeito de Santo André e seu grupo de apoio (seria melhor dizer a ser tomada pelo grupo que controla a Prefeitura de Santo André) será o ambiente político-eleitoral que vai chegar.
E vai chegar porque eleição é isso mesmo, um acerto de contas com ativos e passivos na gestão de interesses continuados.
PRÓXIMOS TEMPOS
Se Lula da Silva fortalecer-se além do um terço do eleitorado fixo que detém, Paulinho Serra provavelmente não jogaria contra o próprio patrimônio de parceiros até prova em contrário fiéis.
Entretanto, se o prestigio de Tarcísio de Freitas continuar ascendente enquanto o prestigio de Lula da Silva patina, o prefeito de Santo André vai ter de se definir com serenidade e objetividade.
Paulinho Serra detesta que o lembrem da enrascada em que se meteu ao sujeitar-se a uma colcha de retalhos de interesses difusos de alguns e certeiros de outros.
A condicionante para virar prefeito está na raiz de tudo isso. Paulinho Serra passou a perna no então prefeito Carlos Grana. Há um caldo de cultura de revanchismo no ambiente político de Santo André. Tudo pode explodir no ano que vem.
Mas jamais se pode ignorar que os petistas bem colocados na Prefeitura de Santo André não querem perder a boquinha. E estão se dando muito bem nas respectivas funções. Sem pudores aos horrores éticos que os petistas virginais tanto condenam.
TERCEIRA OPÇÃO
Uma terceira opção a Paulinho Serra, que o retiraria do pesadelo da bifurcação em que se meteu, não está descartada, mas não parece provável.
A escalação em Santo André de um petista somente por formalidade, para não passar recibo de partido-fujão, exigiria a desistência de Carlos Grana. Não parece a mais viável depois que uma pesquisa do Instituto Paraná constatou que o ex-prefeito é o mais forte concorrente.
Restaria como última tentava de aproximação decisiva um acordo para poupar recursos de campanha em Santo André e investir pesado em São Bernardo, para a eliminação de partidários de Orlando Morando da Prefeitura.
A manobra poderia tornar o apoio do governador do Estado ao indicado por Orlando Morando (que também, como Paulinho Serra, não pode concorrer) mais expressiva do que já se projeta.
Há uma interpretação estratégica que dá conta de que vencer o petismo em São Bernardo, pela simbologia do resultado, é fertilizar a campanha eleitoral num reduto regional que nas últimas disputas marcou a vitória petista na contagem geral dos sete municípios. Uma diferença estreitíssima, mas uma diferença, com quatro vitórias de Lula da Silva e três de Bolsonaro.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)