Todo prefeito que se preza, ou, principalmente, que preza os moradores, contribuintes ou não, deveria vir a público em entrevista sem contingenciamentos à Imprensa para dizer o que se passa em determinadas circunstâncias, porque determinadas circunstâncias fazem parte do calendário indigesto de gestão.
Paulinho Serra, prefeito de Santo André, jamais fez isso. Os demais prefeitos da região também não fazem isso. No Brasil, são raros os casos em que prefeitos fazem isso. E não fazem isso porque isso não interessa.
Até mesmo para partes parrudas da imprensa não vale a pena o prefeito se expor. A versão única e edulcorada prevalece como monopólio a valorizar. É assim que funciona nossa democracia relativa.
Se o presidente do Banco Central dá explicações públicas, se o Conselho Monetário Nacional também o faz, se os treinadores de futebol enfrentam batalhões de repórteres ao final de cada jogo, se o ministro da Economia também tem de se virar nos trinta diante da Imprensa, por que os prefeitos não o fazem. O Clube dos Prefeitos, então, é uma masmorra.
BARBEIRAGEM ANTIGA
Escrevo a propósito de informações de bastidores respaldadas por documentos que apontam situação de descontrole econômico-financeiro na Prefeitura de Santo André.
Haveria gigantesco buraco entre demanda de credores e disponibilidade de recursos. Se é gigantesco buraco, então o melhor seria dizer que se trata de cratera. Os precatórios estariam no centro das escaramuças. E supostos desvios alucinógenos durante a campanha eleitoral do ano passado seriam uma das frondosas razões.
É possível que a origem genética dos supostos problemas financeiros da Prefeitura de Santo André seja avocada como atenuante da situação atual, porque impactaria um dos legados nocivos da gestão de Celso Daniel.
Sim, Celso Daniel, brilhante como nenhum outro prefeito da região, deixou montanha de precatórios após barbeiragem de primeiro mandato de baixa eficiência. Isso é passado que os sucessores não conseguiram resolver. Mais que isso: agravaram a situação.
O que interessa no momento, à parte desajustes de caixa que o prefeito Paulinho Serra poderia esclarecer, é que temos um sistema de gestão deliberadamente avestruz.
O QUE SE PASSA?
A curiosidade pública em questões menos agradáveis jamais foi contemplada pelo prefeito de Santo André. Os demais seguem a trilha. É um vício cultural que precisaria ser eliminado. Extirpado mesmo, fosse este jornalista caudatário da linguagem beligerante do presidente da República.
A obscuridade de gestores públicos tem preço a ser cobrado e deve ser cobrado. Paulinho Serra bem que poderia inaugurar o placar de transparência e comprometimento com a sociedade ao dar um pontapé inicial numa nova fase de relacionamento comunicacional, sem aquela conversa fiada de versão oficial de informações. De matérias-chapas-brancas estamos cansados. Por isso as desprezo. De omissões deliberadas então, tenho horror.
O que se passa afinal com as finanças de Santo André nestes dias em que o Paço Municipal vive em tensão? Vamos lá, prefeito. Não perca a oportunidade. Marque uma entrevista coletiva de verdade com a mídia.
Vamos tratar somente disso. Com documentos. Tenho o suficiente para alguns esclarecimentos. Tenho a prova do crime de tribunal especializado de que não foi por falta de aviso de que a especulada situação financeira da Prefeitura estaria comprometida nestas alturas do campeonato.
O prefeito de Santo André precisa deixar a obscuridade de relações com a mídia quando se exigem luzes de esclarecimentos. Ou estaria o prefeito de Santo André mais preocupado com outras coisas, fora do território municipal?
Paulinho Serra, tesoureiro nacional do esquálido PSDB, um resto de toco, um toco sozinho no ambiente político nacional, é um Paulinho Serra que você pode ver na TV, como propagandista da agremiação.
Já Paulino Serra, prefeito de Santo André, não é visto nas horas mais conturbadas no Paço Municipal.
Há blindagem programada em torno do jovem que um dia imaginou ser Celso Daniel, mas se encaminha como mais um na fila do pão de mediocridade em que se transformou o comando de uma cidade destroçada nos últimos 40 anos.
Tão destroçada que, das cadeias produtivas, só restou a químico-petroquímico-pneumática. Paulinho Serra não tem nada com isso, mas em sete anos não fez nada para alterar o rumo econômico de forma minimamente sustentável. Não fosse os bônus da Doença Holandesa Petroquímica, estaria na roça de desilusões ainda maiores.
TV E PAÇO
Entre o Paulinho Serra que você vê na TV e o Paulinho Serra que você não vê no Paço Municipal existe um fosso de contrastes.
O Paulinho Serra da TV representa um sonho de carreirismo político-partidário legítimo. Ele quer que quer avançar no mercado de votos e de poder como tantos outros agentes públicos. Nada mais justo.
O Paulinho Serra que você não vê no Paço de Santo André é um prefeito que cultiva vazio imenso entre ambições extraterritoriais e modelo de gestão provinciana, descuidada, fantasiosa e, pelo andar da carruagem, com complicações à vista.
Não tenho fome de especulações envolvendo agentes públicos. Aprendi também que, por mais que disponha de provas, mexer com o vespeiro de gente protegidíssima por um sistema de compadrios em todas as esferas de poder sempre poderá representar dores de cabeça.
CÍRCULO PROTETIVO
O ABC Paulista e tantas outras regiões deste País em que se demonizam os erros do lavajatismo para incensarem delinquentes colhidos em flagrantes delitos não são de fato arenas para gente séria.
Há um círculo de ferro protetivo aos mandachuvas e mandachuvinhas. Eles tornaram-se arrogantes depois de tudo o que aconteceu no Brasil nos últimos anos. Dão a impressão de que podem tudo.
Nesse contexto de usos e costumes, enquadra-se o prefeito Paulinho Serra. O modelo de gestão que alardeia replicar em nível estadual e federal na propaganda obrigatória e nada gratuita que se vê na TV é o pior dos modelos que se pode desejar a um País envolto que está entre dois extremos.
O meio do caminho proposto por Paulinho Serra é um filme antigo, surrado. É uma bananeira que já deu cachos. É um fim de feira doutrinário. É um filme da algazarra de complacências, tolerâncias, ajuntamentos, impetuosidades entre o PSDB do passado e o PT desde sempre.
É uma moda fora de moda. Um conluio conhecido de todos e que gerou Jair Bolsonaro no ecossistema político nacional.
Há tantas questões que colocam a gestão de Paulino Serra numa bitola desagradável que nem vale a pena mencioná-las.
Mas não há como resistir. A mais recente dá sim conta de que as contas da Prefeitura já teriam passado por bloqueios e estão sendo administradas com tamanho zelo estratégico para impedir que novas intervenções externas rompam o fluxo de caixa.
FUNDAÇÃO ABAFADA
Chamar de boataria o burburinho infiltrado em todos os compartimentos da torre do Paço Municipal e de outros poderes do Centro Cívico de Santo André não parece ser a melhor defesa do prefeito Paulinho Serra.
Repito: o tucano deveria convocar uma entrevista coletiva e, ante questionamentos, retirar o carregamento de desconfiança que pesa sobre sua Administração.
Disse acima que não entro no jogo especulativo e quando supostamente faço especulação há sempre a segurança de dispositivos que serviriam fartamente à comprovação.
Um exemplo? Quando escrevi durante a pandemia do Coronavírus que havia desvios na gestão de recursos financeiros da Fundação do ABC, então sob influência de Paulinho Serra, o silêncio foi a resposta automática.
Mais que isso: criaram-se bois de piranha de informações diversionistas para afastar qualquer risco. Há documentação farta de auditoria externa contratada pela então presidente da Fundação do ABC, dissidente do grupo político de Paulinho Serra, que sustenta as denúncias mais tarde abafadas.
MUITO VAREJISMO
No caso específico desta análise, ou seja, a saúde financeira de Santo André em conflito com interesses de credores e do próprio funcionalismo público, que estaria sujeito a blecaute nos vencimentos, o que sugiro repetidamente a Paulinho Serra é transparência.
Não é necessariamente constrangedor um gestor público perder o ritmo de receitas e despesas em equilíbrio. Tudo pode acontecer sobretudo após os desbalanços orçamentários do Coronavírus. Sobremodo quando se sabe que prefeitos não têm as facilidades de criarem receitas emergenciais, embora no caso do vírus, o governo federal tenha repassado fortunas.
Não creio que Paulinho Serra tenha esse discernimento ético. Se há algo do qual parece não abrir mão é de manter-se convicto sobre o conceito de acertos que acertou e acertos mesmo quando tenha errado.
Na maioria das pautas varejistas, Paulino Serra é um bom prefeito. A dificuldade que Paulinho Serra jamais contornou e provavelmente não o fará em dois mandatos é entender que Santo André não é um espaço geoeconômico somente para o varejo administrativo. Aliás, o varejo administrativo é de menos.
CUIDADO, MORREIRA
Insisto em desconfiar de que Paulinho Serra não fará nada para explicar o que se passa com as contas de Santo André. A mídia que o bajula provavelmente tem conhecimento da situação, porque a situação ao que tudo indica seria insustentável, mas a mídia que o bajula não o colocará em posição de nocaute porque a mídia que o bajula apenas o inebria de elogios.
Paulinho Serra precisaria entender algo, já que tem ambições extraterritoriais. Por mais que a mídia diária impressa em geral seja um corredor imenso de contradições e adote como premissa, também, o apadrinhamento acrítico ou o apunhalamento persecutório, acabará correndo num espaço estadual ou nacional mais riscos a investigações e denúncias. Não teria como palco de ambições uma província iluminada. O buraco oposicionista é mais embaixo.
Em Santo André, não existe nem buraco nem oposicionismo. Em Santo André vigora a tirania político-partidária-empresarial. Uma anomalia ecumênica, que dispensa ideologias, exceto ganhar dinheiro. Todos que estão sob o guarda-chuva de um esquema de arromba não esquentam a cabeça. Podem fazer da Fundação do ABC e de tantos outros redutos o que bem entenderem.
Paulinho Serra poderia inaugurar o placar de rompimento da cerca de isolamento crítico entre agentes públicos e sociedade com transparência sobre a saúde financeira de Santo André. Não seria vergonha alguma. Franqueza, respeito, comprometimento social, eis alguns dos predicados dessa mensagem.
Total de 895 matérias | Página 1
19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)