O Diário do Grande ABC e o Instituto Paraná promoveram mais uma rodada da corrida pela Prefeitura de São Bernardo, programada para outubro do ano que vem. Uma pesquisa especulativa, porque fora do tempo, que coloca três candidatos como supostos favoritos.
O que o Diário não viu ou melhor, viu e não deu importância porque enfiou a informação em poucos parágrafos protocolares, é que os candidatos de destaque são desprezadíssimos ou rejeitadíssimos pelo eleitorado. Eles somam mais desprezo ou rejeição que preferência, exceto um deles, mesmo assim por margem escassa.
Fiquei em dúvida se utilizava o termo “desprezo” ou “rejeição” na manchetíssima acima, referindo-me ao trio formado por Alex Manente, Marcelo Lima e Luiz Fernando Teixeira, os primeiros colocados. Preferi o primeiro porque provavelmente carregue subjetividade temporal. O segundo seria mais estrutural. Vou explicar.
Desprezo no caso das eleições em São Bernardo seria porque ainda há tanto tempo a separar a vida dos comuns dos mortais das urnas municipais. Provavelmente não teria sentido, exceto o que todo mundo sabe, sair por aí tendo de responder a um questionário eleitoral.
Rejeição seria algo mais sistêmico porque partiria do pressuposto de que o eleitorado de São Bernardo, em larga maioria, não quer nem saber desses concorrentes.
DESPREZO É MELHOR
Não parecerá justa essa definição exatamente porque negaria a primeira, de desprezo, ou seja, a segurança de dizer que não tem candidato ou não quer saber de candidato algum é que o tempo que distancia competição mesmo informal de votação real ainda é elástico demais.
Trocando em miúdos: preferi “desprezo” exatamente por ser temporal, uma espécie de espera para se chegar ao estágio de “rejeição”. O desprezado de hoje pode ser o voto de amanhã. Tudo vai depender do amadurecimento do processo eleitoral.
Vamos aos números que carregam um desafio mais importante que os votos resplandecidos na reportagem do Diário do Grande ABC.
O candidato Alex Manente soma 35,9% dos votos válidos da pesquisa ante desprezo de 26,8%. Marcelo Lima soma 22,1% dos votos válidos e 26,8% de desprezo. Luiz Fernando Teixeira soma 11,5% de votos válidos e 25,9% de desprezo.
Explicando: a composição opositora de votos válidos e de votos desprezados aos três candidatos é tão volumosa que não poderia jamais passar batida numa análise. Há dois déficits e um saldo raso a conectar as candidaturas lançadas e que podem não ser exatamente as que iriam às urnas. Disso tratarei um outro dia.
DESPREZO ACUMULADO?
Minha dúvida, fruto de escassez de informações da reportagem do Diário do Grande ABC, é se a o desprezo a cada candidato entre os três primeiros colocados tem como base o estoque de votos válidos da competição. Esse total de votos, retirando-se os 7,4% de quem não sabe ou não respondeu e os 15,3% de quem não escolheu nenhum candidato ou votaria em branco e nulo, poderia ser de 77,30% dos eleitores entrevistados.
Ou seja: de cada 100 entrevistas, 77,30% estariam enquadradas como votos válidos e, desse total, cada um dos três candidatos teria registrado os desprezos apontados acima.
Se for esse o caso metodológico, então teríamos o seguinte índice de desprezo, sempre comparando o total de votos válidos de cada um com o total de descarte temporário do eleitorado: Alex Manente 34,41%, Marcelo Lima 34,67% e Luiz Fernando Teixeira 33,50%.
Vê-se, portanto, em todos os casos do trio supostamente favorito, que mais de um terço do eleitorado pesquisado os descarta.
FORA DA RAIA
A lógica que compreendo como mais provável é que o estoque individual de desprezo do eleitorado de São Bernardo aos três candidatos supostamente favoritos seria uma especificidade da pesquisa do Instituto Paraná e, portanto, correria fora da raia do bloco de 22,70% que não votariam em nenhum dos candidatos, votaria em branco ou anularia o voto.
Se você se embaralhou com esse último parágrafo, explico: se correm em raias separadas o desprezo dos eleitores direcionado a um dos três candidatos e o desprezo geral do conjunto de entrevistados a todos os candidatos, então a situação é mesmo mais crítica e confirma a premissa do apressamento da pesquisa a 14 meses da disputa.
Esses números todos se referem ao cenário dois da pesquisa do Instituto Paraná, uma espécie de segundo turno da especulação já que no primeiro turno estariam também à disposição dos eleitores outros dois candidatos, Rafael Demarchi e Jefferson Magno.
Também é importante ressaltar (porque isso pode fazer muita diferença) a margem de erro da pesquisa que ouviu 719 eleitores de São Bernardo. São gigantescos os 3,70 pontos percentuais.
ESTICA E ENCOLHE
Alex Manente lidera com 38,70% dos votos válidos, mas, de acordo com a margem de erro, pode ter tanto 42,40% como 35,00%. A distância que o separa do segundo colocado, Marcelo Lima, que conta com 26,1% dos votos válidos, pode ser tanto estratosférica quanto restrita.
Na versão estratosférica, Manente alcança os 42,40% e Marcelo Lima, com rebaixamento de 3,70 pontos percentuais, cairia para 22,40%. Ou seja: seriam 20 pontos percentuais de vantagem de Manente. Na versão restrita, com subida de 32,70 pontos percentuais de Marcelo Lima e queda de 3,70 pontos percentuais de Alex Manente, o resultado seria 35,00% a 29,80%. Ou seja: pouco mais de cinco pontos percentuais.
O que isso significa de imediato? Que a manchete de página interna do Diário do Grande ABC desrespeita o condicionamento técnico do Instituto Paraná. O enunciado do Diário do Grande ABC é exatamente o seguinte: “Alex se consolida na liderança da corrida ao Paço de S. Bernardo”.
Alguém tem dúvidas de que, diante de tantas condicionalidades apontadas acima, é correto utilizar “consolida” para qualificar a liderança de Alex Manente?
MENOS, MENOS
A manchetíssima de primeira página do Diário do Grande ABC é menos ostensiva na imprecisão porque vai com o seguinte enunciado: “A um ano do início da campanha, Alex lidera corrida em S. Bernardo”.
Quem acha que tudo isso significa apenas um erro de interpretação, ou mesmo, e isso se admite, como um acerto jornalístico no sentido de que se deve saltar do muro metodológico quando as injuções não são assim tão expressivas, não sabe da missa um terço.
Na próxima edição da série “Carta Aberta ao Dono do Diário do Grande ABC”, mostraremos a preferência incontida, de copa e cozinha, do jornal pelo deputado que tem atuação medíocre no parlamento federal, como o foi no parlamento estadual.
É possível que a pesquisa do Instituto Paraná contenha um equívoco monumental porque teria omitido o candidato de Orlando Morando para a sucessão, que não seria necessariamente Marcelo Lima.
Orlando Morando faz segredo quanto ao indicado porque, entre outras razões, estaria certo de que goza de tanto prestígio de competência em São Bernardo a ponto de se dar ao luxo de apontar um sucessor e, com base em estudos sobre a influência de um sucesso de popularidade, incrementar qualquer candidatura que tenha passado pelo crivo de respeito dos contribuintes.
APROVAÇÃO EXCESSIVA?
Não está garantido que seja Marcelo Lima esse candidato, até porque Marcelo Lima está enrolado na Justiça Eleitoral. O médico Geraldo Reple, secretário de Saúde, aparece na lista dos mais prováveis. E ao que parece contaria, segundo pesquisas intramuros, entes os homens mais respeitados do governo de São Bernardo.
Trataremos disso no momento adequado. A supressão do nome de Gerado Reple na pesquisa do Instituto Paraná (inclusive no cenário um) seria uma tática para esvaziar a importância que ele já teria no mosaico eleitoral de São Bernardo.
Vou deixar a uma próxima abordagem o nível de aprovação do prefeito Orlando Morando, que estaria nas alturas. Vou esperar as próximas rodadas de pesquisas do Instituto Paraná para comparar o titular do Paço Municipal de São Bernardo, disparadamente o melhor prefeito da região nos últimos quase sete anos, com os demais pesquisados. Mesmo sendo o melhor, os números alcançados por Orlando Morando parecem lunáticos.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)