Administração Pública

Aidan libertado?

DANIEL LIMA - 30/03/2009

Provavelmente nesta semana estará congelada a célula-tronco da barbeiragem de captação de recursos de campanha eleitoral não declarados que colocou a saia justa do desconforto legal no prefeito Aidan Ravin. Com isso, o mico da vez ficaria de posse da bancada petista do Legislativo de Santo André, que, apressada, encaminhou ao Ministério Público Eleitoral uma denúncia fragmentada e de fragilidade espantosa.


Para quem torce pela governabilidade de Santo André e não quer se meter em filigranas legais de financiamento eleitoral, a solução em fase de finalização é a melhor notícia possível.


Há pouquíssimas possibilidades de reviravolta no placar. Principalmente se os governistas não se assanharem demais. Se perderem a compostura, se abusarem do senso crítico e se cantarolarem o feito com decibéis de imodéstia acima dos limites da ponderação, tudo pode dar com burros n’água.


A crise no Paço Municipal não é obra de ficção e, embora a origem não seja lá o fim do mundo, porque não há candidato vencedor (e perdedor também) que não tenha caixa dois, caixa três e outros caixas na arregimentação de recursos financeiros, poucos vacilam tanto nos acordos como Aidan Ravin vacilou.


Os erros só se explicam porque nem mesmo Aidan Ravin acreditava na vitória, por mais que pesquisas qualitativas dissessem que havia em Santo André de 12 anos petistas consecutivos um desejo enorme de mudança.


Uma conclusão que não escapa da situação em que se meteu o prefeito de Santo André parece cristalina: a administração que sucede o PT amadureceu rapidamente nos primeiros três meses de mandato, entre outros motivos porque a sobrevivência estava em jogo. Aidan Ravin apanhou mais do que imaginava mas agora parece estar de braços dados com soldados da consagradora vitória.


Auxiliado por um batalhão de agentes políticos que num primeiro instante o deixaram à deriva e depois perceberam que cometiam haraquiri coletivo, Aidan Ravin não quer passar para a história da política do Grande ABC como cavalgadura que atirou ao lixo o capital eleitoral maciçamente amealhado em três semanas.


Aidan Ravin não quer ser visto como parturiente político que, sem reação, observa o rebento eleitoral escapar-lhe pelo ventre, raptado por adversário disfarçado de prestativa enfermeira.


Aidan Ravin não aceitou a idéia de que gestação que pressupõe o máximo de nove meses se confundisse com gestão, de pelo menos quatro anos.


Há quem veja que no desenrolar desse caso, acompanhado em detalhes neste espaço, verificou-se paradoxalmente o que se chama de freio de arrumação da governabilidade de Aidan Ravin. O prefeito recém-eleito só teria encontrado o rumo depois de passar pelas dores do parto do sequestro da agenda imposta por ex-aliados que se sentiram traídos com o não-atendimento de contrapartidas de colaboração eleitoral numa situação da disputa em que Aidan Ravin não conseguia nem mesmo chegar a sinônimo de zebra, tal a impossibilidade teórica de ir para o segundo turno, então mais para Raimundo Salles, se segundo turno houvesse.


A paralisia da administração Aidan Ravin nestes primeiros meses teria, portanto, possibilitado a produtividade de um checape geral da nata do grupo de recursos humanos que participou ativamente da vitória eleitoral.


Agora a aproximação com ex-aliados coroaria o reenquadramento de propostas que pretendem dar nova versão de gerenciamento público a Santo André. Tomara que a bobagem dos gramados que substituem as palmeiras imperiais de Celso Daniel no cenário urbanístico não prospere.


Nesta semana o prefeito Aidan Ravin deverá empanturrar-se de satisfação porque tudo se encaminha de verdade para a pacificação. Ele não admite de forma alguma que a situação o tenha levado à taquicardia gerencial. Seus auxiliares preferem o trocadilho de que tudo não passou de relatos para a documentação de especialistas em taquigrafia.


Mesmo as consequências da repercussão das dificuldades sobressalentes por conta da ameaça de crise de governabilidade não são interpretadas como spread gerencial do qual teriam se aproveitado forças aliadas não tão fanáticas assim às cores petebistas. Juram os assessores de pés juntos que nada saiu dos trilhos.


Devagar, devagar, mesmo sob o fogo cruzado da ameaça de ex-aliados, a administração Aidan Ravin deu, a bem da verdade, demonstrações de que se sentia o peso da inanição técnica, reagia ao respirar livre de aparelhos quando se colocava em xeque a capacidade de capturar parte da opinião pública.


Tanto é verdade que a divulgação de que o governo do Estado, aliado de Aidan Ravin, vai garantir um Poupatempo da Saúde em Santo André, desviou parcialmente o foco do incêndio pós-eleitoral. Mas a jogada de mestre mesmo, devem concordar as próprias vítimas dos petebistas e aliados em Santo André, foi a manobra mais que encomendada para suposta imersão de auditoria nas mais de quatro centenas de contratos da administração petista de João Avamileno. Como é mais que provável que poucas administrações públicas resistiriam à investigação de pelo em casca de ovo contratada à empresa de aliado do governo do Estado, os petistas de Santo André já estão de orelha em pé com o desgaste que as manchetes produzirão.


Nestas alturas do campeonato, a administração Aidan Ravin consegue dar um nó nos petistas. Esse é o preço da negligência e da simplificação adotadas durante todo o processo de ameaças retaliatórias de ex-aliados. O PT não percebeu que o material explosivo não era um ponto qualquer de desvio estatístico, mas uma linha de montagem sofisticada. O PT de Santo André sofre de glaucoma avaliativo explicitado na ação protocolada no Ministério Público Eleitoral e agora caminha às cegas e manquitola. Corre o risco de escorregar na casca de banana da engenharia de contragolpes táticos de Aidan Ravin.


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