Faço a pergunta da manchetíssima de hoje a mim mesmo e não consigo responder de forma consistente; por isso e por conta de ser educado, não faço a mesma pergunta aos eleitores e leitores.
Nada menos que 72,5% dos entrevistados do Instituto Paraná aprovam os dois mandatos de Orlando Morando à frente da Prefeitura de São Bernardo. Os números desta segunda rodada de pesquisas são semelhantes aos da primeira rodada, em primeiro de março último – 72%. A reprovação é de apenas 23,9%.
Explico em seguida por que menos de um quarto de reprovação é um segundo ponto do sucesso de Orlando Morando.
Acho que Orlando Morando tem aprovação em excesso, por mais que reconheça e ressalte que Orlando Morando é o melhor prefeito municipal da região há duas temporadas eleitorais.
Prefeito municipal diz respeito a prefeito de uma cidade. Prefeito regional diz respeito à regionalidade. Morando patina nessa segunda atividade. Como todos os demais patinaram desde que Celso Daniel virou história.
SEPARANDO VALORES
O que diferencia Orlando Morando e José Auricchio da nota baixa de prefeito regional dos demais prefeitos da região é que ambos não enganam o distinto público. Eles deixaram o Clube dos Prefeitos que raramente funcionou enquanto outros até a recente posse do prefeito de Mauá, Marcelo Oliveira, em fase de testes, sempre se utilizaram da entidade para vender ilusão.
Principalmente Paulinho Serra, que fez do Clube dos Prefeitos um catado político-partidário para se viabilizar como tesoureiro do PSDB Nacional. Paulinho Serra colocou na direção executiva do Clube dos Prefeitos e da Agência de Desenvolvimento Econômico gente que mal sabe distinguir fotos da Tecelagem Tognato (onde construíram e continuam a construir torres elevadíssimas de apartamentos e salas comerciais) da Chácara da Baronesa (que continua abandonada).
Como gente dessa estirpe de alienação regional saberia conduzir o destino econômico se outros, bem mais qualificados e dominadores do ambiente regional fracassaram principalmente por falta de institucionalidade?
TUDO É POSSÍVEL
Qualquer outro prefeito da região que venha a obter tanta aprovação dos eleitores (ou até um pouco mais porque tudo é possível) não me surpreenderia num eventual ranking de prestígio popular.
Afinal, todos ou quase todos têm uma vantagem considerável sobre Orlando Morando para lustrar mais os números, dando-lhes um retoque com o qual poderão alardear mais competência.
A explicação é que nenhum deles tem o PT enraizado como poderosa oposição, como é o caso de São Bernardo. Em Diadema o PT é majoritário há muito tempo, com intervalo para descanso durante o período tenebroso de Dilma Rousseff, que gerou a eleição do conservador Lauro Michels. Em Mauá é menos insinuante, mas também tem estrutura social forte.
E em Santo André? Ora, em Santo André o PT municipal, de disputa eleitoral, morreu há muito tempo. Desde, principalmente, o acordão com os tucanos do prefeito Paulinho Serra, antes disso secretário do petista Carlos Grana. Ou seja: o PT de Santo André é um saco de gatos de oportunistas.
A votação de Lula da Silva nas últimas eleições em Santo André, quando perdeu por quatro pontos percentuais para Jair Bolsonaro, tem aspectos específicos, que não podem ser confundidos com o petismo, mas trato disso num outro texto. Lulismo e petismo são porções diferentes em determinadas regiões.
SEM COMPARAÇÃO
Embora a mídia bajulativa do prefeito Paulinho Serra seja cega, surda e muda a determinados indicadores de bom-senso e inteligência, ter mais apoio popular que um prefeito que sofre a oposição dura do PT em São Bernardo é muito diferente de eventuais dados percentuais de sucesso municipal.
Estou me referindo objetivamente a qualquer tipo de comparação que se pretenda fazer, como já fizeram, para confrontar Paulinho Serra e Orlando Morando.
É um despautério tamanha proposição. Pior ainda é elucubrar em defesa de vantagem de Paulinho Serra. Minha nota para os seis anos e meio de gestão de Orlando Morando chega sem excessos a 7,5 numa escala de zero a 10. A de Paulinho Serra não reservo mais que uma nota três, com muito, mas muita generosidade.
O Ranking de Competitividade dos Municípios, de indicadores sólidos em quase todas as dimensões, deixou evidenciado o quanto Santo André come poeira ante São Caetano e São Bernardo nas áreas sociais, fiscais e econômicas. Não há manchete de jornal que resista às tecnicalidades dos fatos comprováveis.
VARIÁVEIS RELEVANTES
Mesmo com tudo isso acho que a aprovação de Orlando Morando é excessiva, sem que essa contraposição seja vista como contraditória, por força da nota média que atribui ao prefeito de São Bernardo.
O que ocorre é que ser reconhecidamente um sucesso de público, de crítica e de bilheteria é uma coisa que nem sempre ingressa no terreno da coerência. Trata-se de uma tripla avaliação muitas vezes confundida com populismo. O que não é o caso de Morando. Querem ver um exemplo?
É provável que por conta das especificidades da gestão de Paulinho Serra, a nota média de aprovação da população seja maior. O que difere a gestão de Paulinho Serra da gestão de Orlando Morando é que o primeiro não tem adversários minimamente atuantes. Mais que isso: conta com uma estrutura de proteção midiática e de entrega covarde de diversos ramais da sociedade como nenhum prefeito contou em Santo André ao longo da história.
ESTÁDO DE SÍTIO
Resumo da ópera sobre o que acontece em Santo André? Vivemos um Estado de Sítio de Cidadania. Santo André se tornou um endereço em que quadrilheiros éticos e embusteiros sociais tomaram conta do barraco e proporcionam ao prefeito de plantão uma proteção multiforme e irresistivelmente inabalável. O recente aumento do IPTU é um dos casos emblemáticos.
A aprovação de 72,8% do eleitorado conquistada por Orlando Morando não é uma façanha, mesmo com o aparato do adversário tradicional nascido do movimento sindical e que tem um apelo fortíssimo chamado Lula da Silva. É um reconhecimento popular que independeria da consulta do Instituto Paraná Pesquisas.
Apesar do ambiente beligerante de São Bernardo, Orlando Morando se beneficia da perda de viscosidade da política municipal nestes tempos em que aparelhinhos portáteis colocam consumidores e eleitores, contribuintes e inadimplentes, na cara do gol da política nacional, menos opressivamente dominadora em tempos analógicos.
Tudo isso poderia ter várias definições, mas prefiro hoje dizer que se trata da despolitização municipalista até determinado período do calendário eleitoral. Quando a reta de chegada se apresenta, o bicho começa a pegar porque os eleitores começam a se dar conta de que não podem negligenciar determinadas alternativas.
É nesse ponto que os retardatários podem ser presas fáceis de quem tem mais recursos financeiros para conquistar votos. Estão aí os deputados estaduais e federais que mais investiram nas campanhas para confirmar a teoria.
MAIS PREPARADO
A configuração de uma nota média de aprovação ao prefeito Orlando Morando inferior a que aparece na pesquisa do Instituto Paraná, portanto, não alteraria em nada uma análise sem paixões, observando-se atentamente o legado do tucano.
Somente em casos excepcionais nas grandes metrópoles e municípios brasileiros um gestor municipal registraria tamanho sucesso.
Orlando Morando extraiu o máximo possível do ambiente de periferia política de São Bernardo e região. Nada mais justo. Pela administração à frente de uma São Bernardo desafiadora, estaria credenciado a comandar endereços ainda mais reluzentes e expostos a mais holofotes e severidade crítica.
O que não é o caso do medíocre prefeito de Santo André, objeto de laboratório de experimentos que visam emburrecer a sociedade, mantendo-a mais que alienada -- absolutamente submissa.
Portanto, quando sair a nota de aprovação do prefeito de Santo André, não percam de vista. Paulinho Serra disputa um campeonato de terceira divisão de competitividade. Orlando Morando está na série principal.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)