Os resultados da pesquisa eleitoral que o Instituto Paraná exibe hoje nas páginas do Diário do Grande ABC a pedido do Diário do Grande ABC são o retrato perfeito de uma Administração Municipal desancorada de personalidade, ou, para ser generoso, múltipla em personalidade. Isso quer dizer que não se deve confiar em personalidade múltipla? Claro!
O balaio de gatos dos números de supostos concorrentes leva a muitas especulações e dúvidas. Temos uma expansão perfeita de um governo municipal que terceirizou o comando do Paço Municipal a grupos de interesse.
Paulinho Serra manda apenas um pouco no conjunto da obra. Mandou muito pouco para quem conhece a engrenagem da maquinaria de poder em Santo André. Quem não enxerga, acha que Paulinho Serra é um prefeitão de poder.
Por isso o Paço de Santo André ainda não tem candidato. Há muita divisão interna e externa. A situação (de supostamente não ter candidato definido) é semelhante ao que ocorre em São Bernardo do prefeito Orlando Morando. A diferença (e que baita diferença!) é que Orlando Morando não loteou a Administração. Tem personalidade para mandar. Paulinho Serra tem perfil de quem prefere submeter-se a terceiros que lá o instalaram, depois de mergulhar nas águas do PT que se exauriu em termos municipais com os estragos de Dilma Rousseff.
REGRAS DO JOGO
Não entendam a distinção como um ataque ao prefeito de Santo André, até porque não é a primeira nem será a última vez que vou relacionar o tucano a tudo que significa compartilhamento de poder conforme a vontade daqueles que o cercam, quando não o tutelam.
Se fosse traduzir de forma metafórica o que é gestão de Paulinho Serra, a compararia a um condomínio em constante ebulição. Os mais assíduos frequentadores de reuniões são ossos duros de roer. Eles estabelecem as regras.
No caso de Orlando Morando, a hierarquia prevalece sem que se comprometa o conjunto da obra.
Por isso Orlando Morando pode se dar ao luxo de postergar quem será seu candidato à Prefeitura. Paulinho Serra também prefere esperar porque aqueles que o cercam o levam a essa decisão, enquanto acertam os ponteiros que mais lhes convierem.
CAOS E SUCESSO
Mas o paradoxo se estabelece. Mesmo capenga em termos de articulação, porque cedeu além da conta o direito de comandar Santo André, dificilmente Paulinho Serra deixará de fazer o sucessor. O emaranhado de interesses é um caos administrativo de uma gestão varejista, mas é produtivo diante da inexistência de oposição de verdade.
O PT não passaria de uma brisa porque estaria de fato fazendo um jogo de cena para se compor com o candidato do Paço. Até prova em contrário é um jogo combinado, como o foi nas eleições de 2020.
Já Orlando Morando, prefeito muito mais qualificado que o vizinho de Santo André, corre sim o risco de ficar sem sucessor. O PT de São Bernardo não é apenas mais forte que o PT de Santo André como também está com sangue nos olhos. Tanto que deve se compor com o sempre linha-auxiliar de terceiros, o deputado Alex Manente.
O PT Federal que tem o presidente e o ministro Luiz Marinho, entre outros, olha para São Bernardo como a batalha da ponte. Vou tratar de mudanças no cenário em São Bernardo nos próximos dias.
Encerro por aqui esse confronto proposital e pedagogicamente provocativo entre São Bernardo e Santo André e vou finalmente à pesquisa do Instituto Paraná.
SEM MUDANÇAS
O Instituto Paraná produziu dois cenários da sondagem que exagera na margem de erro de 3,7 pontos percentuais que, como já escrevi, é uma válvula a interpretações variadas.
Deixando isso de lado, candidaturas do PT lideram os dois blocos excludentes colocados aos entrevistados. No primeiro, Carlos Grana, ex-prefeito, soma 19,5% das intenções. No segundo, a também petista Bete Siraque soma 23,5%.
Os demais concorrentes listados, menos o psolista Ricardo Alvarez, estão ligados ao Paço Municipal. Luiz Zacarias, vice-prefeito, tem 15,2% e 15,9% nos dois cenários. Almir Cicote chega a 12,4% no primeiro e a 13,4% no segundo. Pedrinho Botaro, com 10,6%, é defenestrado no segundo. Coronel Edson Sardano, que perde numericamente para Pedrinho Botaro no primeiro cenário, com 6,8% dos votos, é mantido no segundo e registra 7,5%. Alvarez faz 4,9% no primeiro e é alijado do segundo. Essa eliminação explicaria o avanço da candidata petista Bete Siraque em relação a Carlos Grana.
VOTOS VULNERÁVEIS
O que essa parafernália numérica revela? Pouca coisa, além do que se desconfia. Primeiro, um terço dos entrevistados não têm candidato ou rejeita os apresentados na cartela do entrevistador. Estou sabendo agora ano início da tarde quantos dos eleitores abordados não souberam responder em quem votariam espontaneamente. O contingente chega a 69,1%, resultado idêntico ao do resultado da pesquisa em São Bernardo. Uma prova provada do apressamento da consulta eleitoral.
Mais que isso: como praticamente 70% dos eleitores revelaram inicialmente que não saberiam em quem votar, o restante da pesquisa, em grau elevado, coloca os concorrentes num ambiente preferencial de fragilidade.
Muitos votos estimulados, partindo-se de uma base tão massiva de votos descartáveis, ou seja, de votos não declaradamente ditos na primeira intervenção do entrevistador, são votos vulneráveis sim.
APENAS UM TESTE
Tenho cá comigo, conhecendo as artimanhas do poder, que a pesquisa do Instituto Paraná, orientada pelos contratantes, é espécie de teste-driver para aperfeiçoar A definição de quem vai ser o próximo prefeito de Santo André, saído que sairá do casulo do Paço Municipal. Possivelmente essa rodada de pesquisa não teria nenhum dos nomes para concorrer com os dois petistas supostamente mais competitivos de Santo André.
Alguns dos nomes relacionados ao Paço poderiam ser substituídos sem prejuízo metodológico. Mais que isso: agregariam valor metodológico. Há concorrentes sufocados, com memória eleitoral mais consistente que os linhas-auxiliares do Paço. Caso de Ailton Lima, por exemplo.
E aí volto aos primeiros trechos desta análise: o grupo consorciado de poder que administra Santo André e que tem em Paulinho Serra uma imagem de liderança que se desfaz nos bastidores está em conflito. Há outros nomes em pauta.
O vereador Eduardo Leite, ex-petista, que flerta bem com o grupo do Paço, é um deles. E, curiosamente, também não teve o nome levado à disputa na pesquisa. Teria sido guardado num esquema de marketing para surgir como grande novidade. Fernando Marangoni, deputado federal de 25 mil votos em Santo André, também foi jogado às traças. O
O cenário político-eleitoral em Santo André é aparentemente complexo, porque não teria um nome garantido como favorito, mas isso é enganoso demais.
MANDACHUVAS
O cenário eleitoral de Santo André tem um grupo favoritíssimo e é desse grupo de mandachuvas que vai sair o candidato que será uma extensão de Paulinho Serra e de tudo que se passa no Paço.
Temos um Paço de extraordinário atraso econômico e de vanguardismo na arte de produzir votos. O problema é que democracia não se faz apenas com votos. Aliás, a vertente votos muitas vezes esconde malabarismo imperialistas. É o caso de Santo André de Paulinho Putin Serra.
Se quiserem traduzir o que estou escrevendo em algo afirmativo de que uma pesquisa como essa não passa de jogo de cena, acho que o leitor e o eleitor não estariam enganados. Repetindo: o Paço de Santo André não tem candidato definido porque é uma barafunda de interesses, mas o Paço de Santo André tem novo prefeito que vai sair dessa encrenca de nomes visíveis e invisíveis.
A previsibilidade de sucesso eleitoral do Paço passa pela imprevisibilidade da identidade do candidato que será objeto de consenso intrigante.
Ainda tenho mais o que escrever sobre a pesquisa do Instituto Paraná em Santo André e a da semana passada em São Bernardo. Há outros aspectos que precisam ser inspecionados sempre sob a ótica de dedução, especulação e convicção, porque essas são algumas das vísceras da política.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)