Política

Como Tarcisismo superior a
Lulismo ajudaria Morando?

DANIEL LIMA - 13/09/2023

A nova rodada de pesquisa do Instituto Paraná em São Bernardo e em Santo André direcionou-se preferencialmente à disputa pela Prefeitura, mas o nível de aprovação e de reprovação ao governador do Estado e do presidente da República, compõe ferramentaria responsável pelo acerto de peças estratégicas. Tarcísio de Freitas tem mais peso nestas alturas do campeonato – o que só confirma o que já escrevemos, embora essa dianteira não seja garantidamente definitiva. 

A influência eleitoral de Tarcísio de Freitas, muito maior que a de Lula da Silva em Santo André, provavelmente será desperdiçado, quem sabe submergirá, por falta de uso ostensivo ou mesmo discreto. Seria uma barbeiragem e tanto do Paço Municipal. Vou escrever sobre isso outro dia. O grupo de Paulinho Serra talvez erre a mão ao fiar-se demais no PT como aliado envergonhado.  

Já em São Bernardo, onde Tarcísio de Freitas enfrenta mais dificuldades para superar a aprovação de Lula da Silva, tudo indica que será um reforço e tanto do candidato escolhido pelo prefeito Orlando Morando. 

SALDO ELEVADÍSSIMO  

Vamos aos comparativos? Em Santo André, a aprovação a Tarcísio de Freitas chega a 67,4% do eleitorado, segundo o Instituto Paraná. Menos de um terço (26,5%) o reprova. Há saldo significativo de 40,9 pontos percentuais. É muita gordura. Lula da Silva praticamente não tem gordura alguma. Está na margem de erro de 3,7 pontos percentuais o saldo de míseros 2,4 pontos percentuais: são 49,6% de aprovação e 47,2% de reprovação.  

Em São Bernardo, na pesquisa publicada há uma semana, a aprovação a Tarcísio de Freitas é semelhante à registrada em Santo André, com 65,9% ante 27,5% de reprovação. Tarcísio acumula saldo positivo de 38,4 pontos percentuais. Lula da Silva é aprovado por 56,6% e reprovado por 39,8%. O saldo de Lula é de 16,8 pontos percentuais.  

Traduzindo essas distâncias estabelecidas: Tarcísio é uma moto e Lula é um caminhão entre veículos num engarrafamento. A diferença que os separa em termos de aprovação é de 9,3 pontos percentual. Ou 14,11%. Isso significa que de cada 100 potenciais votos hoje em São Bernardo, Tarcísio de Freitas repassaria ao eventual aliado um bom naco de vantagem.   

Os resultados envolvendo Tarcísio de Freitas e Lula da Silva não surpreendem quem acompanha o que tenho escrito reiteradamente e que, modéstia às favas, acabou com a farra negacionista, quanto não abusivamente acrítica, de que o eleitorado e a sociedade como um todo de Santo André e de São Bernardo são quase irmãs gêmeas ou parentes próximas.  

CIDADES DIFERENTES  

O discurso de que um prefeito de Santo André é melhor que um prefeito de São Bernardo quando se leva entre outros pontos a aprovação do eleitorado, ou principalmente os números finais de votos registrados nas eleições, esse discurso é um discurso furado. Discurso de quem quer impor burrice à sociologia e a cultura distintas dos dois municípios.  

PODER E CANGOTE  

Ganhar eleição municipal em São Bernardo com o PT no poder ou o PT no cangote é muito diferente de vencer eleição municipal em Santo André com o PT no poder ou o PT no cangote. O PT no poder em Santo André sofre mais as durezas do prélio. O PT no cangote em Santo André é mais malemolente que o PT de São Bernardo.  

A classe operária de São Bernardo é proporcionalmente maior que a classe operária de Santo André. A classe média de São Bernardo é distinta em larga margem da classe média de Santo André. 

A classe operária de São Bernardo é proporcionalmente maior no conjunto do eleitorado porque há muito mais trabalhadores de indústrias. São hoje perto de 23% do total de trabalhadores registrados em todos os setores. Em Santo André, não passam de 13%. Em números absolutos, são mais de três vezes maiores em São Bernardo.  

Quanto aos integrantes da Classe Média Tradicional, estrato logo abaixo da Classe Rica, Santo André e São Bernardo praticamente se equivalem em proporcionalidade demográfica, mas a indústria fornece mais profissionais desse nível em São Bernardo do que Santo André.  

PERFIZ DISTINTOS  

Os operários e aposentados de fábricas em São Bernardo são em maior número que os operários e os aposentados de fábricas em Santo André. Santo André conta com maior densidade de proprietários de pequenos negócios e de atividades de serviços de origem não necessariamente industrial.  

O que provavelmente teremos nas eleições do ano que vem seria um desperdício. A maior proporcionalidade de votos agregados ao governador do Estado em Santo André poderá ser jogada no lixo.  

Explico: como o candidato do Paço Municipal provavelmente terá o suporte do PT Federal, o eleitorado mais conservador de Santo André ou será ludibriado pelo suposto conservadorismo do atual grupo que ocupa a Prefeitura, ou vai chutar tudo para longe. 

Já em São Bernardo, se houver mesmo o apoio explícito e quem sabe até participação efetiva do governador na campanha eleitoral em favor do candidato escolhido pelo grupo de Orlando Morando, os votos seriam importantíssimos para afastar o PT pela terceira vez seguida do controle do Paço Municipal. 

INFLUÊNCIA DOBRADA  

A influência de Lula da Silva em São Bernardo será um ponto relevante ao concorrente petista, mas seria insuficiente diante do suporte que a candidatura situacionista encontraria em Orlando Morando e no governador.  

Orlando e Tarcísio têm individualmente mais prestígio local do que o presidente da República. Se juntarem as peças possivelmente dariam solidez de fidelidade à aprovação ao atual titular do Paço Municipal e também ao governador do Estado.  

A vantagem que o candidato indicado por Orlando Morando teria nas eleições do ano que vem é que além do apoio do prefeito e do governador, deverá contar com quadro político-econômico de natural desgaste do governo federal. 

Há um ambiente nebuloso na macroeconomia que poderia contaminar os índices de aprovação do governo federal. O sucesso dos dois primeiros mandatos petistas em Brasília, com Lula da Silva, se deve à arrumação da casa no primeiro, deixada por Fernando Henrique Cardoso (com péssimos resultados à Economia da região) e às commodities asiáticas, principalmente chinesas. Agora o PT novamente de Lula não tem nem uma coisa nem outra. E uma situação fiscal que o arcabouço só poderia amenizar ao longo de muitos anos.  

MUITA TENSÃO  

O tensionamento no ambiente nacional tanto político quanto econômico no ano que vem não seria surpreendente. Afinal, o Brasil é um imenso estuário de crises. O que diferiria a situação do ano que vem de outras eleições é que cada vez mais se respira política federal. Os aparelhinhos portáteis que nos oferecem de tudo são implacáveis.  

Somente uma pesquisa isenta poderia definir o padrão de definição de voto para prefeito de cidades como São Bernardo, na periferia de uma Região Metropolitana dominada pela Capital. Mas estou cada vez mais convicto de que os concorrentes precisam ficar atentos em locais que se configuram desafiadores. Caso específico de São Bernardo. Nada específico de Santo André, onde a eleição será apenas formalidade. Exceto uma tempestade de surpresas. 

Não tenho convicção alguma sobre o grau de interferência do ambiente estadual e nacional numa disputa municipal. Mas o caso de São Bernardo é reconhecidamente diferente. A tradição do PT no poder local potencializada quando estendida ao poder federal torna a disputa mais elástica e flexível em termos de avaliações.  

NORDESTINIZAÇÃO  

Dizer como dizem alguns chamados especialistas que disputas municipais são uma coisa e disputas federais são outra coisa é bobagem. Fosse assim, as estripulias de Dilma Rousseff, demitida e propagadora da maior recessão da história nacional, não teria arrasado o PT no Estado de São Paulo, entre outros endereços. Sobraram poucos prefeitos avermelhados em 2016 e a tormenta teve seguimento quatro anos depois, embora menos contundente. 

Não bastassem esses fatores, ainda subsiste a diferença entre lulismo e petismo. Lula é muito maior que o PT nas periferias metropolitanas e nos pequenos e médios municípios interioranos do Nordeste.  

Não se pode esquecer que a região é composta de retalhos nordestinos na periferia. Não inventei a expressão ‘nordestinização econômica” de graça, ao me referir ao espalhamento disforme de pequenos negócios nos bairros.  

OUTRO MUNDO  

Um mapa do Bolsa Família na região apontará essa migração político-eleitoral, também influenciada por petistas que seguem com os pés firmes no Nordeste de verdade e contam com parentes na região. Há uma rede invisível de votos lulistas, principalmente lulistas, a unir nordestinos migrantes e nordestinos que permanecem naquelas terras.  

Nestas alturas do campeonato o governador do Estado se apresenta como um nome mais prestigiado que Lula da Silva em São Bernardo (e também em Santo André). Também Orlando Morando rompe todas as expectativas ao alçar um voo de aprovação muito além do razoável para quem sabe os humores do eleitorado metropolitano. 

É admissível, quando não provável, que se esteja vivendo um quadro eleitoral em São Bernardo distinto das disputas anteriores. Como bem lembrou outro dia o repórter Raphael Rocha, do Diário do Grande ABC, desde a redemocratização (redemocratização?) do Brasil, todos os candidatos reeleitos em São Bernardo não fizeram sucessores.  

É claro que não existe mandinga nesse desenlace. São fatores cíclicos que se somam ao descuido, quando não à negligência, de preparar o sucessor com zelo. Outras localidades apontam sucessores contínuos, ou seja, gente do mesmo grupo político. São situações muitas vezes específicas.  No caso de São Bernardo, não parei para um diagnóstico aprofundado. Quem sabe um dia faça isso. Certo mesmo é que os dois últimos fracassos de prefeitos que não fizeram sucessores tiveram motivos mais que emblemáticos.   

William Dib não fez de Orlando Morando sucessor porque o PT estava em estado de graça no governo federal com Lula da Silva em 2008 e Luiz Marinho ganhou popularidade como ministro de Estado.  

Já a derrota de Luiz Marinho que tentou fazer de Tarcísio Secoli extensão petista na Prefeitura, em 2016, Dilma Rousseff tratou de dinamitar. Os prefeitos que fracassaram anteriormente demandam mais pesquisas. Mas podem acreditar que motivos não faltariam. Política não é loteria nem frase feita. Política são circunstâncias.  

O que parece existir no futuro próximo eleitoral em São Bernardo é que um agregado de valores indicaria mais dificuldades do que sugerem os petistas para retomarem o domínio do Paço Municipal. Tratarei disso num texto específico nos próximos dias. Há nuances que valem a pena ser exploradas.  

Certo mesmo é que Tarcísio de Freitas é um fator diferenciado caso seja entronizado para valer na disputa em São Bernardo. O segundo turno da disputa ao governo do Estado mostrou, conforme revelei, crescimento exponencial do então candidato ante o petista Fernando Haddad. Os eleitores de centro saltaram no barco de Tarcísio. São o centro, a centro-direita e até mesmo parte da centro-esquerda que poderão reforçar a candidatura do Paço.  



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