Vamos devagar com o andor de conclusões precipitadas, porque o que escrevo na manchetíssima aí em cima é provisório, que poderá virar tão definito quanto descartável. Acredito mais no definitivo, mas quando se trata de política, até o passado vira interrogação.
O fato é que a imagem de Tarcísio de Freitas é melhor que a de Lula da Silva em três municípios já escrutinados na região. Isso significa, em linhas gerais, que Tarcísio é melhor que Lula da Silva como cabo eleitoral de luxo. O quanto isso representa nas disputas municipais é outra história.
Utilizo um conjunto de dados do Instituto Paraná para mover as peças dessa análise. Trata-se da rodada divulgada no Diário do Grande ABC em Santo André, São Bernardo e São Caetano. Foram colocadas em campo as possibilidades eleitorais de concorrentes ou supostos concorrentes às prefeituras no ano que vem. Cedo demais, como já escrevi, mas isso faz parte do jogo de interesses.
PREVISÃO E TEMPESTADE
O material municipal tem serventia estatística relativamente pobre, mas para efeitos de compreensão de oito meses do presidente Lula da Silva e do governador Tarcísio de Freitas, parede um estoque interessante.
A diferença entre a projeção de votos válidos aos candidatos às três prefeituras mais importantes da região e os dados relativos à aprovação e reprovação de Lula da Silva e Tarcísio de Freitas é que no primeiro caso se trata de previsão de chuva e no segundo de tempestade intensa.
Em São Bernardo e em Santo André, nada menos que 70% dos eleitores indagados sobre preferência de voto à prefeitura, não responderam de bate-pronto. Só o fizeram diante da pesquisa na versão estimulada. Nesse caso de fosso tão profundo, a vulnerabilidade do voto estimulado precisa ser verificada com juízo, porque é sim, em larga escala, vulnerável, ou seja, voto em algum grau sujeito a chuvas e tempestades de mudanças.
VULNERABILIDADE
Em São Caetano, a situação é ainda pior, desconsiderando-se a elevada margem de erro, que também é margem de manobra. Nada menos que 76% dos eleitores não tinham na ponta da memória espontânea nome algum ante a indagação do entrevistador.
Por essas e por outras, a tendência de levar mais a sério os dados envolvendo o presidente da República e o governador do Estado insinua-se mais apropriada.
Os resultados mostram algo que estou cansado de repetir. Mesmo diante de todas as evidências e provas, não faltam negacionistas na mídia regional a refutar. É gente a serviço de fantasias, que insiste em compactar no mesmo pacote de incongruências ingredientes do voto em municípios de morfologias sociais, econômicas e políticas distintas.
Há tanta distinção entre os resultados de “aprovação” e “reprovação” de Lula da Silva e Tarcísio de Freitas nos três municípios que é preciso ser muito obtuso para tentar enganar os leitores em geral.
Não se pode ir a um computador ou um microfone e deliberadamente mentir ou sofismar. O jornalismo ético desaconselha essas incursões. Ninguém tem obrigação de ser santo, mas reiteradamente pecador é demais.
SURRANDO LULA
Mas vamos ao que interessa: tanto em São Bernardo, como em Santo André e em São Caetano o governador Tarcísio de Freitas dá surras no presidente Lula da Silva. Não sei se virão dados de pesquisas em Diadema e Mauá. Nesses endereços mais populares no conjunto da obra de moradores, é possível que Lula da Silva se aproxime de Tarcísio. Ou seja: que o cabo eleitoral Tarcísio de Freitas não seja tão proeminente quanto Lula da Silva.
Não se tem em detalhes estatísticos o peso relativo de sensibilidade influenciadora do governador do Estado e do presidente da República numa disputa municipal, mas que participam do jogo podem ter certeza.
Principalmente nestes tempos em que o municipalismo do voto está cada vez mais suscetível à infiltração do ambiente político estadual e nacional, polarizado entre direita e esquerda nas maquinhas portáteis e divinamente diabólicas que os intolerantes execram.
PASSIVO E ATIVO
Não quero perder o foco dos números que vão confirmar o que na primeira de quatro análises que fiz sobre o confronto entre Lulismo e Tarcisismo já insinuava: o governador do Estado, menos desgastado num cargo menos exposto, levará vantagem. Exceto, claro, diante de grande catástrofe.
Não se pode desconsiderar também que o passivo político do governador é quase virginal, em contaste com a porta arrombadíssima de virgindade ética e moral do presidente da República.
O que temos em linha gerais nesse embate é que Tarcísio de Freitas não é uma noviça de respeitadíssima ordem religiosa ortodoxa, até porque o sofá da política na sala de interesses tem ocupação compulsória para que se alcance espaço na ordem institucional. Tarcísio de Freitas também não é uma garota de programa que roda a bolsinha numa esquina qualquer. Já Lula da Silva ultrapassou a linha de fundo de uma moça de família mais que bem-educada e comportada. Vamos ser condescendentes e dizer que Lula da Silva é uma rapariga mais esperta.
Não vejam machismo nos dois exemplos. Se utilizasse exemplos de gêneros que se multiplicam ao sabor de identitarismo, a repercussão poderia ser pior ainda. Ou estou enganado?
AOS NÚMEROS
Agora, aos números em São Caetano, Santo André e São Bernardo – rigorosamente nessa ordem.
Em São Caetano, a aprovação de Tarcísio de Freitas alcança 67,3%, ante reprovação de 27,2%. Lula da Silva é aprovado por 42,7% dos eleitores, enquanto é reprovado por 51,9%. Conclusão? Enquanto o saldo positivo de Tarcísio é de estratosférico 40,1 pontos percentuais, Lula da Silva carrega déficit de 9,2 pontos percentuais. Nenhuma surpresa, portanto. São Caetano é uma cidade impermeável ao vermelhismo.
Em Santo André, a aprovação do governo de Tarcísio de Freitas é de 67,4%, enquanto a reprovação é de 26,5%. Conclusão? 40,9 pontos percentuais de saldo. Semelhante ao resultado de Santo André. Já Lula da Silva carrega uma vantagem de 2,4 pontos percentuais, aprovado por 49,6% e reprovado por 47,2% dos eleitores entrevistados.
Completando o cerco, em São Bernardo, o saldo positivo de Lula da Silva é de 16,8 pontos percentuais (aprovação de 56,6% e reprovação de 39,8%), enquanto o saldo de Tarcísio de Freitas é de 38,4 pontos percentuais (aprovação de 65,9% e reprovação de 27,5%).
OUTRAS PRAÇAS
Quando pintarem (se pintarem) dados pré-eleitorais de Diadema e Mauá, o que teremos provavelmente, em termos desse embate de cachorros grandes será algo mais ou menos com esse roteiro: Diadema deverá ter saldo positivo de Lula da Silva maior que o de Tarcísio de Freitas, mas nada disparatoso, enquanto em Mauá o jogo ficará mais parelho, mas com leve vantagem de Lula da Silva. Não tenho convicção sobre Diadema e Mauá, deixo registrado.
Se Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra aparecerem nas fitas de rodadas eleitorais do Instituto Paraná, teremos vantagem de Tarcísio de Freitas em Ribeirão Pires e um jogo mais parelho em Rio Grande da Serra.
Já escrevi muito sobre o cromatismo político-eleitoral da região como metáfora definidora da preferência do eleitorado em cada Município e no conjunto da obra regional. Quem coloca os sete municípios no mesmo balaio de gatos de avaliações dos administradores municipais é ruim da cabeça ou doente ideológico.
DIGITAIS PRÓPRIAS
Essa conclusão está no cerne de qualquer avaliação feita em forma de estupidez correlacionada à competição de desempenho dos prefeitos com base em pesquisas eleitorais. Municípios da região ou de qualquer lugar do País têm digitais sociais e econômicas próprias, que influenciam os resultados de avaliação.
Mesmo num determinado Município, qualquer que seja o Município, não se pode atribuir eficiência ou fracasso de determinados prefeitos por conta de efeitos estatístico-eleitorais. O contexto jamais poderá ser desconsiderado.
Um exemplo? Celso Daniel foi reeleito prefeito de Santo André em 2000 com uma montanha de votos válidos concorrendo com um adversário forte chamado Celso Russomanno, então deputado federal importado para explorar nosso Complexo de Gata Borralheira. É diferente dos votos percentualmente equivalentes, mas um pouco abaixo, que Paulinho Serra recebeu em 2020 concorrendo contra o vento de um PT desmilinguido e beneficiado pela pandemia e pela máquina de mandante.
MEDIDAS COMPARATIVAS
A melhor medida comparativa entre prefeitos de municípios de qualquer geografia, mas principalmente de uma geografia específica como a nossa, é uma operação pente-fino em um variável de indicadores, conjugada com outros fatores.
Por exemplo: São Bernardo e São Caetano sofrem com o desencaixe do setor automotivo, Diadema perde fôlego com a área de autopeças e outras atividades de pequenas empresas, enquanto Santo André e Mauá seguem protegidos pelo Polo Petroquímico que industrializa um PIB mais fiscal que econômico.
Quem simplifica com ignorância direcionada as preferências político-eleitorais é pior que o ignorante por natureza.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)