O Diário do Grande ABC publicou domingo uma expansão do que publiquei anteriormente, mas agora volto a campo para esticar um pouco mais os resultados da última pesquisa do Instituto Paraná sobre aprovação e reprovação do presidente Lula da Silva e do governador Tarcísio de Freitas.
O Republicano ganha de goleada do petista sem que isso possa ser rotulado de surpreendente. É mesmo um massacre, mas um massacre temporário ou um massacre longevo, esticado até as eleições municipais do ano que vem?
A fadiga de material de Lula da Silva e do PT combinada com a maior exposição e cobrança do governo federal, em contraposição ao elevado prestígio do apenas recentemente convertido em político Tarcísio de Freitas só não configuraria um cenário inquietante diante de fanatismo anestesiante.
Antes de mostrar os números gerais dos 10 grandes municípios pesquisados pelo Instituto Paraná e colocados em forma de matéria bruta no Diário do Grande ABC de domingo, lembro que em maio último escrevi análise dando conta do quanto Tarcísio de Freitas (e também Jair Bolsonaro) cresceram acima dos então candidatos petistas Fernando Haddad e Lula da Silva no Estado de São Paulo durante o terceiro turno.
TERCEIRO TURNO É ISSO
O que chamei de terceiro turno? Bolsonaro e Tarcísio de Freitas ficaram com maior soma de votos registrados no segundo turno, quando os demais candidatos aos dois cargos foram barrados do baile. Os eleitores de outros candidatos tanto para a presidência da República como para o governo do Estado preferiram em maior escala optar pelos dois conservadores.
Essa extensão maior de votos mostra claramente que o eleitorado paulista é mais suscetível ao voto conservador do que ao voto progressista.
Sinto urticária quando me refiro à esquerda que conheço como algo progressista. Pode o ser no campo social, mas no econômico as provas são abundantes de que se trata de regressistas inflexíveis, estatistas por natureza e esperteza. Mas vamos deixar isso para lá porque cada um dos seus problemas e virtudes.
NOVES FORA, VOTOS
O que interessa mesmo é a confirmação de que os votos do terceiro turno para o governo do Estado e para a presidência da República nas últimas eleições convergiram em maiores proporções tanto para Jair Bolsonaro quanto para Tarcísio de Freitas.
Terceiro turno é uma expressão que utilizei para diferenciar o total de votos dos quatro candidatos ao fim do primeiro turno e ao fim do segundo turno regulamentares.
Voltando à pesquisa do Instituto Paraná, escrevi na edição de 22 de setembro último que a aprovação de Tarcísio de Freitas era maior que a de Lula da Silva, tanto quanto era inferior a rejeição comparada ao mesmo Lula da Silva. Tradução?
Até prova em contrário, que somente o tempo poderá contrapor-se, o peso eleitoral de Tarcísio de Freitas nas disputas municipais do ano que vem será maior que o de Lula da Silva. A influência de Tarcísio de Freitas fará mais diferença à sensibilização do eleitorado do que do petista presidente. Ter Tarcísio no palanque é muito mais interessante do que ter Lula da Silva.
Na edição de domingo o Diário pegou carona no meu trabalho e fez um levantamento numérico dos resultados das pesquisas do Instituto Paraná envolvendo não só dois municípios da região (Santo André e São Bernardo) como também de São Paulo, Sorocaba, Ribeirão Preto, Campinas, Guarulhos, Osasco, Santos e São José dos Campos.
Os resultados foram apresentados individualmente tanto ao apurar o critério de aprovação de Lula da Silva e de Tarcísio de Freitas quanto de reprovação.
SOMANDO E DIMINUINDO
O que fiz então para completar o serviço, embora confesse que o que fiz não significa mais que uma curiosidade numérica que pode sim ser encaminhada a uma análise um pouco mais ousada, da qual lanço mão. Que análise?
Que a configuração do voto de terceiro turno nas últimas eleições presidenciais e para o governo do Estado no ABC Paulista é semelhante naqueles municípios. Já observara isso naquele maio em que me debrucei sobre os dados na região.
Bem, agora vamos aos números da pesquisa do Instituto Paraná. Quando se somam as aprovações e as reprovações do eleitorado a Tarcísio de Freitas e se faz a mesma operação tendo Lula da Silva como alvo, os dados são contrastantes, a confirmar a vantagem do Republicano.
DEU TARCÍSIO
Enquanto na soma dos 10 municípios Tarcísio de Freitas chegou a 668,10% de aprovação, Lula da Silva não passou de 500,50%. Uma vantagem e tanto.
Mas é no quesito reprovação que se estabelece estratosférica vantagem de Tarcísio de Freitas, que chegou a 251,00% pontos, ante 455,60% de Lula da Silva. O saldo final de Tarcísio de Freitas chegou a 417,10 pontos, quase 10 vezes mais que o acumulado por Lula da Silva, de apenas 44,90 pontos.
Quem quiser traduzir tudo isso em termos de pontuação individual, o resultado é que Tarcísio de Freitas foi aprovado nos 10 municípios com a média de 66,81%, enquanto Lula da Silva não passou de 50,05%. Já em termos de reprovação, Tarcísio de Freitas ficou com a média de 25,10%, enquanto Lula da Silva trafegou em alta velocidade de 45,50%.
O saldo final, descontando-se a reprovação, aponta Tarcísio de Freitas com a média geral de aprovação líquida de 41,71 pontos em cada Município, enquanto Lula da Silva não passou de 4,49 pontos. Sem erro de digitação.
Quanto ao conceito de terceiro turno que resvalei acima, reproduzo alguns trechos do que analise em 31 de maio último:
Terceiro turno revela força
abrangente do tarcisismo
DANIEL LIMA - 31/05/2023
Dando continuidade ao que analisei ontem, ou seja, que o tarcisismo é uma nova força política paulista com amplas possibilidades de expandir-se nacionalmente por conta do perfil da liderança diferenciada do disseminador, vou revelar hoje os resultados dos três turnos das eleições do ano passado. Três turnos eleitorais?
Exatamente isso: três turnos eleitorais. Os dois primeiros são de conhecimento geral e consagrado, com dados públicos fartamente divulgados.
O terceiro turno foi desprezado, mas revela exatamente o que serve como combustível ao convencimento ou à constatação de que o governador Tarcísio de Freitas flutua numa esfera eleitoral além do presidente Lula da Silva e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
TERCEIRO TURNO
Nada surpreendente, convenhamos, para quem tem um capital eleitoral extra, medido de forma reversa, ou seja, o nível de rejeição do eleitorado que é elevado nos casos de Lula da Silva e de Jair Bolsonaro.
O terceiro turno não é um conceito abstrato, essas coisas que jornalistas ou alquimistas, quando não políticos de carreira esgrimem para driblar o distinto público.
Aliás, pensando bem, assim como tarcisismo é um verbete inexplorável na política partidária porque ninguém se deu conta de que existe no território paulista, terceiro turno, para valer mesmo, provavelmente jamais foi observado após o término de uma disputa eleitoral. O imediatismo analítico impera.
CONTRATO PROVISÓRIO
Terceiro turno é um contrato provisório ou não com o futuro mais próximo. O capital eleitoral de um finalista não é descartável. Muito menos deixa de ser um ativo mensurável e um ativo também potencial.
É isso: o terceiro turno apurado nas urnas é uma extensa avenida de observações que precisam ser feitas por quem tem interesse em tentar desvendar o futuro imediato das próximas urnas. E as próximas urnas estão chegando.
A data marcada é outubro do ano que vem, quando a disputa pelas prefeituras vai adubar o terreno do que vem dois anos depois -- uma nova disputa presidencial e também ao governo de Estado.
Para facilitar o entendimento, vou aos resultados dos três turnos da disputa pelo governo do Estado no ano passado no Grande ABC.
VOTO ENTRE OS DOIS
No primeiro turno, com todos os concorrentes, inclusive a terceira via do governador de então, Rodrigo Garcia, o petista Fernando Haddad, hoje ministro da Fazenda do governo Lula da Silva, venceu com o total de 55,76% dos votos válidos ante 44,24% de Tarcísio de Freitas.
Esse placar precisa de ajuste explicativo: os percentuais de votos válidos que diferenciam Haddad de Tarcísio estão circunscritos ao total dos votos que ambos receberam. Os votos dos demais concorrentes foram descartados.
No segundo turno, quando apenas os dois finalistas se enfrentaram, Haddad chegou na dianteira com 52,21% ante 47,79% de Tarcísio de Freitas. Nota-se, portanto, que houve recuo percentual do petista e avanço do representante do Republicanos.
Afinal, o que vem a ser o terceiro turno como prova da elasticidade de votos materializados e também potenciais ao futuro do tarcisismo?
MEDINDO AS DIFERENÇAS
O terceiro turno é a diferença numérica (e percentual) de votos entre os dois finalistas quando se tem como base de comparação única e exclusivamente a votação registrada no primeiro turno.
Se você ainda não entendeu, vou tentar simplificar. Pegue o total de votos (e o percentual de votos) de Fernando Haddad no primeiro turno e no segundo turno e faça o mesmo com Tarcísio de Freitas. Esqueça os demais candidatos do primeiro turno para que a comparação seja ajustável à premissa exposta.
Vou dar um exemplo considerando o caso do eleitorado de Santo André. No primeiro turno, em termos de votos válidos, Fernando Haddad chegou levemente à frente de Tarcísio de Freitas. Foram 155.087 votos (38,90% do eleitorado), enquanto Tarcísio de Freitas registrou 149.338 (37,46%). Somando-se os percentuais dos dois concorrentes, eles totalizaram 76,36% dos votos válidos em Santo André. Ou seja: 23,64% dos eleitores decidiram-se por outros concorrentes. Especialmente por Rodrigo Garcia. Em termos de votos válidos apenas entre os dois finalistas, o primeiro turno apontou 304.425 votos. Haddad ficou com 50,94% e Tarcísio de Freitas com 49,06%. Esses, portanto, são os dados do primeiro turno.
VIRANDO O JOGO
No segundo turno, quando evidentemente apenas competiram os dois finalistas, Tarcísio de Freitas virou o jogo com o total de 212.854 votos (51,59%) ante 199.768 (48,41%) de Haddad. Agora vamos chegar ao terceiro turno, que é nada mais nada menos que o excedente de votos registrado pelos dois candidatos finalistas no segundo turno em relação ao que obtiveram no primeiro turno, quando, repito, havia caudaloso número de disputantes. Esse excedente de votos em favor de Fernando Haddad chegou a 44.681 eleitores, enquanto adicionais 63.516 vestiram a camisa de Tarcísio de Freitas. Uma diferença favorável ao governador vencedor de 18.835 votos. O placar em Santo André do terceiro turno foi percentualmente muito favorável a Tarcísio de Freitas no estrito território do terceiro turno: do total de 108.197 votos excedentes, Tarcísio de Freitas ficou com 58,70%, ante 41,30% destinados a Haddad.
No caso do Grande ABC, o fenômeno do tarcisismo dominador no terceiro turno foi geral e irrestrito. Nenhum dos sete municípios da região colecionou dados acentuadamente diferentes de Santo André. Todos os terceiros turnos na região foram vencidos por Tarcísio de Freitas. Inclusive nos municípios nos quais o agora governador perdeu no segundo turno, casos de Rio Grande da Serra, Mauá, São Bernardo e Diadema.
No caso de São Caetano, o placar do primeiro turno registrou vitória de Tarcísio de Freitas por 44,27% a 28,43%, no segundo turno por 60,11% a 39,89% e no terceiro turno por 58,16% a 41,84%. No caso de São Bernardo, o placar do primeiro turno registrou vitória de Fernando Haddad por 44,82% a 32,14%, o segundo turno registrou 53,81% a 46,19% também para o petista e o terceiro turno marcou vitória de Tarcísio de Freitas por 58,83% a 41,17%.
ATÉ EM DIADEMA
Até em Diadema, o Município mais avermelhado do Grande ABC, o terceiro turno foi dominado por Tarcísio de Freitas. No primeiro turno, Fernando Haddad venceu por 54,05% a 28,47%, no segundo turno venceu por 60,56% a 39,44% e no terceiro turno deu Tarcísio de Freitas por 57,25% a 42,75%. Em Mauá, também avermelhada, mas nem tanto, no primeiro turno Fernando Haddad derrotou Tarcísio de Freitas por 45,82% a 34,53% dos votos. No segundo, o petista manteve a dianteira com 53,35% a 46,65%. Mas no terceiro turno, deu Tarcísio de Freitas: 57,60% a 42,40%. Um resultado praticamente igual ao de Diadema.
Em Ribeirão Pires, Tarcísio de Freitas foi derrotado no primeiro turno por 38,46% a 36,21%, virou o jogo no segundo turno por 50,73% a 49,27% e foi muito melhor no terceiro turno com 57,22% a 42,78%. Completando o universo dos três turnos do Grande ABC, em Rio Grande da Serra o petista Fernando Haddad ganhou os dois primeiros turnos: impôs o placar de 44,96% a 29,52% no primeiro turno e, no segundo, venceu por 55,96% a 44,04%. E perdeu no terceiro por 54,77% a 45,23%.
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