Eduardo Leite é vereador em Santo André. E candidato à Prefeitura de Santo André. Seu homônimo gaúcho é governador do Rio Grande do Sul e presidente nacional do moribundo PSDB. É preciso fazer essa distinção ocupacional. Nomes iguais podem gerar confusão em todos os sentidos. Sentidos verticais, horizontais e transversais.
Eduardo Leite, ex-petista, hoje integrado ao PSB de Geraldo Alckmin, ministro de Desenvolvimento Econômico e de outras coisas do governo Lula da Silva, pode ser fortíssimo candidato à Prefeitura de Santo André.
Como cabeça de chapa ou vice da chapa que deverá ter um hermafrodita partidário, ou seja, alguém que flerte com o PSDB de Paulinho Serra e o próprio PT. O PT renunciou à disputa em Santo André. Deverá, em última instância, lançar alguém que só vai fazer figuração.
O PT quer a Prefeitura de São Bernardo como os tricolinos queriam a Copa do Brasil. O tamanho de uma conquista se reflete nas horas seguintes de uma conquista. Quanto mais foguetório e buzinaços, mais se exorciza o peso de fracassos anteriores. Os tricolinos foram à farra domingo passado.
UMA OBSESSÃO
E os petistas querem algo semelhante no ano que vem em São Bernardo. Também pudera: os dois mandatos de Luiz Marinho foram uma tragédia encomendada por Dilma Rousseff. Marinho foi dos céus ao inferno.
A Prefeitura de São Bernardo é uma obsessão que envolve muitos valores. Principalmente valores monetários e propagandísticos. O deputado estadual Luiz Fernando Teixeira não dá trégua ao prefeito Orlando Morando. Luiz Fernando Teixeira fala pelos cotovelos. Faz exatamente o que a mídia que lhe serve de palanque tanto gosta quando se trata de atacar inimigos em comum.
Por conta da prioridade de São Bernardo e do vácuo contínuo pós-Celso Daniel, o PT abre mão completamente de Santo André. Mas tem uma linha fina de sintonia com o vereador Eduardo Leite. O representante do PSB é um político afável, se expressa bem, tem imagem agradável e não parece redundante nas frases. É uma versão quase fiel do homônimo gaúcho.
TUDO É POSSVEL
Eduardo Leite saiu do PT de comum acordo com o diretório do PT de Santo André, no qual teve 30 anos de carreira. Tudo engendrado para que os petistas aboletados na Administração multipartidária de Paulinho Serra encontrassem a garantia de que vão ganhar as eleições do ano que vem. Para esses petistas o que menos importante é o PT, embora pratiquem o autoengano de que é o PT que está na Prefeitura de Santo André. O PT disfarçado de PSDB. Tudo é possível.
Já li o suficiente sobre Eduardo Leite para constatar que ele já adotou um mote à campanha como prefeito ou vice-prefeito, junto ou associado às forças que controlam o Paço Municipal.
Eduardo Leite é um candidato situacionista da gestão de Paulinho Serra. O slogan informal que já adotou prova isso. Não bastassem todas as outras provas. Como o caso de que é um vereador alinhado ao Paço Municipal. Uma linha auxiliar dos interesses do Paço Municipal. Tudo dentro dos legítimos valores da democracia que, todos sabem, comporta flexibilidades.
Reparem os leitores o que Eduardo Leite costuma afirmar a cada entrevista. O mote da campanha está ali, embora não seja explícito, porque a explicitude limita espaço de manobra futura.
Se Eduardo Leite vai ser candidato a prefeito ou a vice-prefeito, em chapa única agregada aos interesses do Paço ou se em chapa supostamente oposicionista, mas claramente auxiliar do Paço Municipal, tanto faz.
TROPEÇOS FISCAIS
O que interessa é que ele já definiu a frase central com que deverá sair às ruas e se pronunciar em debates e algo semelhante. Só não o faria se algum assessor de marketing o alertasse sobre os riscos de parecer tão próximo de uma Administração Municipal que faz água no campo fiscal.
Se as dívidas da Prefeitura com os fornecedores entrarem em rota de colisão com os interesses eleitorais dos fornecedores, Eduardo Leite vai ter de se virar e esquecer o que destila subliminarmente. E o que ele desfila subliminarmente? A frase à qual me refiro, claro.
Noves fora os contratempos financeiros do fluxo de caixa de uma Prefeitura que se perde na contabilidade, Eduardo Leite não precisará se preocupar em parecer adesista ao prefeito Paulinho Serra concorrendo a prefeito fora do conglomerado de partidos que apoiariam o candidato oficial do Paço Municipal.
Como alternativa principal ou auxiliar para estar no Paço Municipal a partir de janeiro de 2025, quer como prefeito, quer como vice-prefeito, Eduardo Leite não precisa mesmo colocar em dúvida se vale a pena utilizar a frase feita e calculadamente eleitoral para se comunicar com a população – salvo, como já escrevi acima, se a vaca fiscal for para o brejo do desgaste público. A frase adotada por Eduardo Leite tem duplo sentido político, por assim dizer.
OS DOIS SENTIDOS
O primeiro faz referência a um municipalismo que agrada aos municipalistas porque ser municipalista também é ser cidadão com responsabilidade, embora a responsabilidade do municipalista exclua o campo geográfico de uma regionalidade muito mais construtivista.
O segundo sentido da frase escolhida por Eduardo Leite pegaria carona no prestígio popular de um prefeito divinizado pela mídia chapa-branca, mas (e isso é perceptível apenas a quem tem informação consolidada) extremamente medíocre, ou seja, dentro de um espectro avaliativo que não passa da mesmice em geral dos administradores públicos.
Sei que os leitores querem saber qual é a frase que Eduardo Leite, o vereador que pode ser vice-prefeito ou prefeito de Santo André, tem adotado em todas as abordagens.
Peço tempo a todos porque é preciso muitas horas nessa calma. Isso mesmo, muitas horas nessa calma, porque muita calma nessas horas não me parece a máxima mais apropriada, embora seja a mais popular. Afinal, conter-se com equilíbrio não é uma reação de curta duração.
MEDINDO OS PASSOS
Estou medindo cada passo de Eduardo Leite na campanha rumo ao Paço de Santo André. No Diário do Grande ABC de hoje (o jornal tem dado, ao longo dos anos, muito espaço e atenção, numa prova provada de que há um alinhamento com os interesses de setores empresariais em torno da candidatura do ex-petista), há um destaque à visita do vereador ao vice-presidente Geraldo Alckmin em Brasília.
A reportagem é cor-de-rosa, como sempre é cor-de-rosa quando o Diário do Grande ABC vai além das fronteiras informativas de baixo valor agregado. O mal de reportagens cor-de-rosa é que por serem cor-de-rosa deixam de ser melhores quando os bons têm muito mais a expor do que uma prateleira pré-combinada.
Não conheço Eduardo Leite pessoalmente. Recentemente recebi uma mensagem sobre um encontro informal. Como ainda ando trôpego por conta do chumbo grosso, não pude ir adiante. Cada saída de casa é um esforço corporal que custa caro. Carrego espécie de 20 quilos nos ombros por conta de estragos no trapézio.
Vamos, finalmente, chegar à frase repetitivamente explorada por Eduardo Leite como sinalização ao Paço Municipal de que é um aliado do Paço Municipal.
Mais que uma frase-eleitoral é uma prova de fidelidade àqueles com os quais tratou da possibilidade de ser prefeito ou vice-prefeito situacionista. Leia o que Eduardo Leite disse ontem e que está na página do Diário do Grande ABC de hoje:
FRASE-SLOGAN
Meu compromisso e vontade de trabalhar por Santo André aumenta a cada dia. Por isso estou aqui em Brasília, debatendo a criação de empregos, a retomada do desenvolvimento regional e buscando investimentos para a construção de uma cidade cada vez melhor, disse o parlamentar que segue com agendas na Capital Federal até hoje – escreveu o jornal.
Captou a mensagem, caro leitor? “Uma cidade cada vez melhor” – é disso que se trata a perspectiva do candidato Eduardo Leite. Na mesma linha do prefeito Paulinho Serra. Ou seja: ignorando completamente a realidade histórica.
Santo André é uma cidade cada vez pior no sentido central, ou seja, de Desenvolvimento Econômico, força-motriz de todo o restante de uma sociedade. Quem vê 40% da População Economicamente Ativa se deslocando diariamente a outros municípios para sustentar a família, não pode estar morando numa cidade cada vez melhor.
Quando o metrô chegar, se chegar, já imaginaram o que será de Santo André. Uma cidade-fantasma durante todo o dia, porque a Capital vai ficar mais próxima. Os bandidos sociais continuarão a festejar.
Duvido que Eduardo Leite desconheça Santo André. E que, por conta disso, não tenha feito reflexões sobre o que o estaria esperando na próxima encruzilhada do destino se prefeito for eleito ou se, mesmo como vice, aproximar-se do centro de decisões de um Município que teima em ignorar o contraponto sintetizador da situação: de Viveiro Industrial a Viveiro Assistencial.
No meio do caminho esclarecedor está o maior índice de desindustrialização nacional nos últimos 50 anos. Talvez fosse melhor se Eduardo Leite utilizasse uma frase mais incisiva ao referir-se ao futuro de Santo André. Que tal: “novos desafios a superar”? Tanto ficaria bem com a turma do Paço Municipal como cairia nos braços da população que sabe das coisas.
Repetindo: “Novos desafios a superar” é eticamente apropriada a Santo André. Muito mais que “uma cidade a cada dia melhor.”
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)