É muito enigmática, mas também divertida, por enquanto, a Operação Buzina do Chacrinha em Santo André. Você vai entender o que é isso num instante. Os calouros de todas as idades e perfiz não entendem que são calouros. E tampouco que vão ser buzinados na hora certa. Mesmo que a hora certa pareça incerta.
A Operação Buzina do Chacrinha envolve todos os políticos e mesmo personagens nem tão próximos do Paço Municipal de Santo André que já foram e ainda serão convidados a ocupar a chapa de candidato a vice-prefeito nas próximas eleições.
Eventual analogia com a candidatura ao cargo máximo à Prefeitura de Santo André não seria apropriada. A brincadeira só vale mesmo para o cargo de vice-prefeito.
Para prefeito também se faz muito suspense e muita especulação, mas a história é outra. O Paço Municipal não tem o controle de quem vai ocupar o principal gabinete do Paço Municipal. Talvez o enredo devesse ser remetido a Sherlock Holmes. Buzina do Chacrinha é outra companhia de espetáculos.
MUITA CRIATIVIDADE
Quem achar que a barafunda ao cargo de vice-prefeito em Santo André é um enredo comum na política, ou seja, como dizia o Velho Guerreiro, que nada se cria, tudo se copia, está equivocado. A criatividade impera à disputa eleitoral.
Pode chamar criatividade de malandragem no bom ou no mau sentido que não faz diferença. Para os espertos de plantão, ávidos por uma boquinha, há sempre gente mais esperta. É assim que funciona a Buzina do Chacrinha em Santo André.
Como as próximas eleições em Santo André serão uma repetição dos vencedores das últimas eleições, está-se distribuindo, para valer, o cargo de vice-prefeito.
Quem quer ser vice-prefeito de Santo André? -- trombetearia Chacrinha redivivo, trocando candidatos por bananas. Será que seria a mesma coisa?
Não chamem de bananas os candidatos ao teoricamente segundo cargo mais importante do Executivo Municipal. Mas que os farão de bananas, é só esperar. Um prêmio de consolação, verdade seja dita, já está garantido: a visibilidade para concorrer ao Legislativo. Ou seja: continuar a fazer parte do Poder.
CIDADANIA ESFARELADA
Antes que alguém imagine que estou queimando o filme e me precipitando, lembro que até as obras de Burle Marx do Paço Municipal sabem que as eleições em Santo André são um simulacro de democracia.
Quando a hegemonia político-administrativa se espalha para a arena eleitoral, a democracia já foi morta e enterrada. É o caso de Santo André, onde a cidadania morreu faz muito tempo. E mesmo quando viveu teve vida modesta e circunscrita. Em Santo André, por exemplo, se aumenta o IPTU muito acima da quebra de riqueza da população e todos se calam. Sem falar dos escândalos provados e comprovados. Todos engavetados. O Judiciário não aparece. Menos para quem denuncia, claro.
Morto e enterrado na cidade, o PT de Bete Siraque vai fingir-se competitivo. Sabe que não é. Basta perguntar ao presidente do Diretório Municipal do PT, Antônio Padre, em quem ele vai votar. Não será no PT. Antônio Padre é cabo eleitoral dos tucanos.
O Paço Municipal de Santo André conta com nicho de petistas graduadíssimos desde a derrota de Carlos Grana, então prefeito, para o tucano Paulinho Serra, então trapalhadíssimo secretário de Mobilidade Urbana da Administração do PT.
PAULINHO ALCKMIN
Quem acha que Geraldo Alckmin ao lado de Lula da Silva é um suposto fenômeno político aproximando também supostos inimigos não entende nada de política ou desconhece as travessuras partidárias em Santo André.
Paulinho Serra foi espécie de Geraldo Alckmin em Santo André. A diferença é que o grupo de Paulinho Serra, repleto de petistas de ocasião, passou a perna em Carlos Grana quando o PT naufragou com Dilma Rousseff. Tanto Paulinho Serra passou a perna que concorreu à Prefeitura contra Carlos Grana num contexto em que o PT foi praticamente exterminado das prefeituras paulistas. Ganhar do PT em 2016 foi uma grande moleza.
O cargo de vice-prefeito faz parte de uma negociação à parte da Administração de Paulinho Serra. É uma espécie de Série B da disputa. O cargo de vice-prefeito está sendo debatido e testado por grupos internos do Paço Municipal, com alguma pressão aqui e ali de grupos externos.
APENAS SÉRIE B
Diferentemente, portanto, da Série B da candidatura a vice-prefeito, a candidatura à sucessão de Paulinho Serra passará pelo crivo rigoroso de agentes políticos e econômicos locais e externos. Como se sabe, a Administração de Paulinho Serra é resultado de um conglomerado de interesses que têm o orçamento da cidade como objetivo a ser explorado e a Secretaria de Efeitos Especiais para encomendar prêmios que a patuleia borralheiresca adora.
Outros prefeitos de outras cidades não fogem muito desse figurino. O que os diferencia é que os grupos que controlam os cordéis de outras prefeituras são menos numerosos, menos antagônicos e menos gulosos, ou gulosos contidos. E não mandam e desmandam nas prefeituras, como se constata em Santo André.
Mas vamos ao que interessa. São muitos os anunciados candidatos a vice-prefeito na chapa do candidato a prefeito do Paço Municipal e controladores do Paço Municipal.
CUIDADO, FERREIRA!
O presidente do Legislativo, Carlos Ferreira, veterano de seis eleições, cinco das quais vitoriosas e uma como suplente que assumiu o cargo, é uma das bolas da vez. Mas Carlos Ferreira, como outros que já foram cotados, alguns dos quais ainda cotados, tem razões para se preocupar.
Nem todo Paço Municipal o tem em alta conta. Alguns o tem sim e o bancam. Inclusive nas salas daquele prédio próximo do Paço, onde se instala um suposto segundo prefeito de Santo André. As línguas mais ferinas dizem que se trata mesmo do prefeito de fato.
Mas isso agora não importa. O que interessa é a estratégia para fazer de vários supostos candidatos ideais o melhor mesmo a ocupar a chapa de vice-prefeito do prefeito a ser eleito com facilidade em outubro do ano que vem.
Com a aproximação entre as partes, instala-se o que de fato é uma falsa impressão de que os encaminhamentos darão frutos. Como há elasticidade de conceitos que jogam a ética a escanteio, mesmo um político veterano como Carlos Ferreira deveria se preparar a eventual traquinagem daqueles que o bajulam. Não faltam oponentes que o observam como simples joguete.
Encaixa-se nesse processo a metáfora de Buzina do Chacarinha. Para quem não sabe (e é difícil acreditar que ninguém saiba), o programa de auditório do maior comunicador da televisão brasileira de todos os tempos lançava ao palco candidatos de todos os tipos com fome de estrelato ou de um cachezinho.
PAÇO RESSENTIDO
Passar pela Buzina do Chacrinha poderia ser um passo ao sucesso sim, mas no fundo era tudo uma fantasia para a plateia e a audiência se divertirem. Os melhores calouros já estavam mais que descobertos e só ingressavam no palco para dar uma certa atmosfera de suspense de fonfom iminente.
Carlos Ferreira é um dos calouros da Buzina de Chacrinha preparada à Série B das eleições do grupo de Paulinho Serra. O presidente do Legislativo é um homem maleável, aparentemente não se deixa ludibriar, conta com conselhos de evangélicos que o visitam diariamente e, portanto, estaria certo de que teria tudo para formar a chapa vitoriosa do ano que vem.
Acontece porém, todavia e contudo que o Paço Municipal se divide em vários compartimentos especializados em definir o destino de cada potencial candidato não só ao cargo de prefeito mas também de vice-prefeito.
PROVA DE ATLETISMO
A promessa em forma de perspectiva oferecida a Carlos Ferreira é espécie de prova de atletismo com vários concorrentes.
De vez em quando, perde-se um ou outro competidor à vice prefeitura. Até o segundo trimestre do ano que vem, quando começa a afunilar a corrida eleitoral (corrida eleitoral é força de expressão), teremos sim o descarregamento geral.
Carlos Ferreira está na pista. Ou melhor: está no palco da Buzina do Chacrinha. Será que vai ouvir um barulho forte no ouvido? Algo como Chacrinha adorava incrementar diante de um plateia ávida por emoções.
Mesmo que Carlos Ferreira tenha desempenho satisfatório, ou seja, que não seja submetido à reprovação sonora pública, isso não significará muita coisa. O que ele pretende poderá morrer no meio de caminho, nos camarins, porque o Paço Municipal conta com divisões que não o querem como vice de chapa alguma.
E por que não o querem? Por que Carlos Ferreira teria contrariado o Paço Municipal ao atropelar o candidato de confiança indicado para presidir o Legislativo. O escolhido do Paço Municipal era outro, o Coronal Sardano, bem mais disposto, segundo avaliaram, a concertações que não criassem embaraços a determinadas decisões. Há quem argumente que Carlos Ferreira não chegou ao comando do Legislativo por acaso. Ele teria tido suporte escondido de gente que está na vizinhança de Paulinho Serra.
MAIS CHACRINHA
A engenharia política que cerca os candidatos a vice-prefeito em Santo André se espelha na equação que também move as pedras do ritual que determinaria o candidato à sucessão de Paulinho Serra. A ordem emanada do Paço Municipal também poderia ser rebocada de uma das frases de ouro atribuída ao mesmo Chacrinha – “Não vim para explicar, vim para confundir”.
Tanto num caso quanto no outro, que confluem à formação da chapa do Paço Municipal, o que interessa a quem mantém sob controle os cordéis do Executivo é fazer parecer a todos, inclusive aos próprios envolvidos diretamente, que há um ambiente democrático em que a meritocracia estabeleceria uma série de medidas que, cumpridas, determinaria o concorrente a prefeito e o concorrente a vice.
Ou seja: a engenharia que move as eleições no Paço Municipal tem como norte o ilusionismo circense de que se deve investir o máximo em fazer que tudo pareça indefinido às partes ambiciosas envolvidas. De fato e para valer, as peças já estariam carimbadas e envelopadas para seguirem às urnas eletrônicas.
E nesse ponto, de novo Chacrinha em campo, o que temos no fundo mesmo é que a frase que também consagrou o homem que divertiu o Brasil ganha uma nova versão e conceito em Santo André para as próximas eleições. Se Chacrinha cantarolava “um programa que acaba, quando termina”, no caso dos manuseios eleitorais em Santo André temos exatamente o oposto: “uma eleição que acaba quando se inicia”.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)