Prefeitos ocultos de Santo André disputam nos fervilhantes bastidores da Prefeitura de Santo André quem será o indicado para ocupar o cargo de prefeito condicionado de Santo André como sucessor do prefeito relativo Paulinho Serra. Se você não entendeu a equação, vou explicar.
Não é fácil à compreensão geral o embaralhamento proposital que articulei para tentar construir o cenário atual com vistas às eleições do ano que vem em Santo André.
Quem acompanha as análises que faço sistematicamente sobre a política regional sabe do que se trata, ou tem ideia razoavelmente compatível à metabolização das informações.
O fato é que o prefeito Paulinho Serra é integralmente prefeito de direito de Santo André mas é relativamente prefeito de Santo André quando se caminha no terreno movediço dos fatos. Ou seja: Paulinho Serra é prefeito de direito mas não é na mesma proporção prefeito de fato.
PODER CONDOMINIAL
O poder da Prefeitura é compartilhado com prefeitos ocultos, gente da política local e estadual, quando não federal, e gente doméstica, inclusive da mídia regional. Todos sabem de quem se trata.
O aparelhamento do Poder Executivo de Santo André por forças políticas e de alguma forma também por lobbies empresariais (do setor imobiliário, claro) não é um ensaio geral que terminaria em fracasso. É mesmo um case de sucesso porque concilia o conceito de sucesso e os objetivos alcançados. Que, como todos sabem ou deveriam saber, não é exatamente o rito esperado pela sociedade mais esclarecida, embora desunida. A sociedade servil é muito mais numerosa, ou porque é ignorante ou porque é muito esperta.
O que deverá decidir a próxima eleição em Santo André, de favas contadas em favor da situação, porque a situação impôs um plano bem executado de imperialismo da sociedade em todas as instâncias, o que vai decidir o apontamento do candidato condominial do Paço Municipal é a premissa de que o sucessor de Paulinho Serra tem de ser alguém que seja o espelho, a alma e os arroubos de Paulinho Serra.
IMPETO IMPRODUTIVO
Esse é o ponto crucial da disputa interna que deverá ser resolvido até o próximo aniversário de Santo André, em oito de abril do ano que vem. Até lá muita água de sabotagem, privilégios, inquietudes, safadezas, destrezas, miudezas e tudo o mais vai dominar o Paço Municipal.
Se essa turma toda contasse com o mesmo ímpeto para pensar Santo André de maneira responsável, sem parafernálias de marketing rastaquera, sem Secretaria de Efeitos Especiais para ludibriar a boa-fé dos eleitores e contribuintes, Santo André não estaria na pindaíba encontrada por Paulinho Serra e que provavelmente poderá se agravar quando encerrar o mandato.
Há previsão de que a gestão de Paulinho Serra superaria o desastre fiscal do antecessor Carlos Grana. A diferença entre um e outro é que Carlos Grana foi colhido pelo vendaval chamado Dilma Rousseff. Paulinho Serra, por outro lado, teve na pandemia do Coronavírus um grande reforço de caixa do governo federal -- como todos os prefeitos, aliás.
Está uma briga de foice no escuro de pretensões de empoderamento ainda maior de pesos relativos diferentes de prefeitos ocultos a imposição de um nome de acordo com o perfil dos interessados em seguir mandando.
RETRATO-FALADO
Caminha-se, como antecipei, para um retrato-falado de Paulinho Serra. O que seria o retrato falado de Paulinho Serra que, ao invés de ficar pendurado num compartimento qualquer do Paço Municipal, ocuparia mesmo a cadeira de Chefe de Executivo?
Quanto mais se aproximar de Paulinho Serra o concorrente dos prefeitos ocultos que se debaterem por seus favoritos, maiores as possibilidades de indicação. O que seria preciso ser para ser o que é Paulinho Serra? Vou listar rapidamente, sem nenhum planejamento editorial prévia, dadas as obviedades, 10 pontos centrais.
PRIMEIRO -- Capacidade imensa de interlocução com todos os agentes poderosos do Paço Municipal e fora do Paço Municipal. Ou seja: que, em face das circunstâncias que o levariam ao cargo, se vire nos trinta para se adaptar às demandas diversas, contraditórias, fantasiosas e marqueteiras.
SEGUNDO -- Que não leve a sério de forma alguma nada muito trabalhoso, que demore para ganhar maturação ou mesmo para oferecer resultados. Planejamento Estratégico Econômico, por exemplo, nem pensar. Dá muita dor de cabeça, porque precisaria abrir as portas do Paço para gente que não consta do esquema dos prefeitos ocultos e tudo o mais. É melhor promover novos meetings, como a meia dúzia em sete anos, e estamos conversados. Esses encontros, ditos empresariais, são uma vitrine de tapeação, mas ninguém se dá conta disso.
TERCEIRO -- Controle total, absoluto e geral dos vereadores. Uma meia dúzia de oposicionistas não faz verão. Melhor neutralizá-los como sempre se faz com minorias. Eles vão chiar muito, mas não vão mexer no placar final. Os aliados construirão a imagem de democrata. Um presidente do Legislativo submisso, como todos o são, e está resolvida a equação. O resto o orçamento garante.
QUARTO -- Nem pensar em fazer do Clube dos Prefeitos algo que não seja peça de marketing de regionalidade. O Consórcio de Prefeitos toma muito tempo e rende pouco. Quando se começa a esquentar a cadeira, eis que vem o sucessor. Além disso, fizeram do Clube dos Prefeitos uma parafernália temática tão dispersiva e desafiadora que não há espaço ao que interessa – a recuperação econômica da região. Até porque, convenhamos, cada prefeito quer mesmo assegurar o território que o elegeu.
QUINTO -- É indispensável que o prefeito condicionado se submeta às vontades da mídia mais poderosa. Qualquer passo em falso geraria ruídos desnecessários, os quais impactaria algumas porções do eleitorado. Olhar para São Caetano e São Bernardo é uma maneira sugestiva de os prefeitos ocultos sugerirem ao escolhido sucessor do prefeito relativo que a condição de prefeito sob condicionalidades não é questão de escolha, mas de obediência.
SEXTO -- Precisa-se estar aberto às interações com agentes políticos de todas as esferas, não importa a denominação e tampouco cores representativas. O que o sucessor precisa compreender é que o regime condominial vale para tudo e não se abre exceção no campo político externo. Há esferas de poderes contagiantes que sempre poderão ser acionadas diante de um contratempo mais grave aqui e ali.
SÉTIMO -- Os mercadores imobiliários são interlocutores preferenciais no ambiente doméstico. Eles podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso de tantas coisas de relação intestina com a configurações de receitas extraordinárias. Tratá-los com simpatia, carinho e desvelo não é uma sugestão que se coloque em dúvida. É uma ordem dos prefeitos ocultos. Paulinho Serra, prefeito relativo, também se tornará prefeito oculto quando terminar o mandato.
OITAVO -- A Secretaria de Efeitos Especiais não poderá ser desativada ou sequer reduzida no organograma secreto do Paço Municipal. Há potencial imenso de convencimento da sociedade acrítica que acredita até em Papai Noel. Nesse sentido, não faltam prefeitos ocultos que querem à frente do Paço um prefeito cuja mulher tenha perfil semelhante à da primeira-dama atual, eleita deputada estadual numa operação de extraordinário sucesso. Quanto mais o casal aparecer na fita, melhor para levar aos eleitores a ideia de que família unida jamais será vencida.
NONO – Do ponto de vista de Administração para efeitos publicitários, o escolhido pelos prefeitos ocultos do Paço Municipal terá de contar todos os dias e todas as horas com uma assessoria especializada em temáticas atuais, principalmente tecnológicas e de sustentabilidade ambiental, além de inquietação social. Esse tripé tem poderosos fluidos midiáticos a ponto de, mesmo embrionários ou de baixa resolutividade, transporta a ideia de modernidade, de atenção ao futuro, essas coisas que a pauta jornalística embala a cada novo dia.
DÉCIMO – Que o concorrente escolhido (concorrente é força de expressão, claro) não se meta a besta na tentativa de desprezar fidelidade aos prefeitos ocultos. O fator essencial que o colocaria na disputa (disputa?) obedece o significado etimológico do verbete “condicionado”. Esse é o vestibular para que o escolhido chegue ao patamar de “concorrente”, antecedente ao desenho de “prefeito relativo”. Tal qual como se dá com o obediente Paulinho Serra. Se não for uma cópia cuspida e escarrada do prefeito relativo de agora, não se sustentaria o rótulo e a essência de prefeito condicionado. No caso de desacordo, o prefeito relativo tornará a condição de relativo relativamente um contexto sujeito a retaliações letais.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)