Em nove de janeiro do ano passado publicamos uma análise que especulou no bom sentido do termo o que seria o terceiro mandato do presidente Lula da Silva e seus efeitos principalmente na região. O título (“Lulacá, tragicamente? É melhor se preparar”) não deixava dúvida quanto à desconfiança de que o futuro de novos quatro anos não se apresentava como perspectiva arrebatadora. Muito diferente disso. E o que temos ao final do primeiro ano?
É o que vamos apresentar nesta série de nove capítulos. A abordagem obedecerá rigorosamente a disposição temática que introduzimos naquele texto do ano passado, num total de oito quesitos.
Nem poderia ser diferente. Não se pode observar e muito menos analisar a influência ou o desprezo de uma gestão federal na região sem considerar variáveis que se completam. E é disso que se trata.
Não faltarão insumos interpretativos, respaldados de provas, para apertar a corda na garganta da avaliação do ano passado de que Lula da Silva correria sério risco de se cristalizar como uma continuidade do desastre chamado Dilma Rousseff. Claro que não no mesmo grau destrutivo, porque Dilma é insuperável. Afinal, não se perde 22% do PIB da região em apenas dois anos, entre janeiro de 2015 e dezembro de 2016.
MANIA DE GASTAR
Tudo indica que com Lula da Silva teremos dados positivos, mas convém desconfiar do que viria. Lula da Silva tem a mania de gastar hoje o que será pago no futuro próximo, como ocorreu com Dilma Rousseff que, à parte os pecados próprios de intervencionismo desmesurado do Estado, herdou uma bomba-relógio de um presidente populista que deixou o governo com 81% de aprovação.
Lula da Silva foi durante os dois mandatos como presidente algo semelhante ao que a direção do Cruzeiro de Belo Horizonte e o Corinthians de Andrés Sanches o foram ainda recentemente no futebol brasileiro: ganharam muitos títulos, mas cristalizaram tantas dívidas e uma sucessiva quebra de qualidade de gestão que o rebaixamento à Série B do time mineiro e a esqualidez do time paulista foram destinos compulsórios.
Por isso e por tantas outras razões, o melhor é não apostar demais nos números em geral que o governo Lula da Silva poderia apresentar. O PT da gastança e de preconceitos está sempre pronto para o abate.
O Banco Central segurou as pontas da taxa Selic e evitou que a inflação fora do rumo abortasse o crescimento do PIB muito além das previsões de especialistas. E o agronegócio, tão criticado pela esquerda, sustentou as exportações juntamente com minerais e, com isso, não só evitou que a inflação de alimentos desse um salto como também garantia a maior fatia relativa do crescimento do PIB.
Veja na sequência a primeira etapa da análise de janeiro do ano passado. Faltarão ainda oito capítulos.
ANÁLISE DE 2023
Não é porque é Lula da Silva a ocupar a Presidência da República que o futuro próximo do Grande ABC deverá ser trágico no sentido econômico (e social) de ser. Mas é principalmente porque Lula da Silva voltará a ocupar a Presidência da República que o futuro próximo do Grande ABC será compulsoriamente trágico.
A explicação é simples: o Grande ABC, com Lula da Silva ou sem Lula da Silva, precisa se reinventar.
E essa é uma tarefa a que os atuais mandachuvas e mandachuvinhas da região não respondem de maneira afirmativa. Tanto quanto dirigentes de várias instâncias sociais, econômicas e oficiais se comportaram no passado de mandachuvas e mandachuvinhas de então.
Para piorar a situação histórica que se prolongará por tempo indeterminado, a sociedade desorganizada é uma barata-tonta e desconfiada, submetida ao pior tipo de inseticida: a carência de identidade própria, acentuada nestes tempos de redes sociais e pauta político-ideológica além fronteiras.
Preparamos esta análise na abertura da 34ª temporada consecutiva do melhor jornalismo regional do País.
CapitalSocial, extensão da revista de papel LivreMercado, que circulou por 19 anos na região, é um ponto fora da curva na Imprensa regional. A doutrina de esmiuçar fatos é característica especial sem concorrência.
Por isso, não se poderia deixar correr solto o desempenho do PT Federal no Grande ABC.
Uma trajetória iniciada com a eleição de Lula da Silva em 2002. E que prosseguiu com Lula da Silva em 2006 e também com Dilma Rousseff nas duas eleições seguintes. Até que Dilma Rousseff foi apeada por incompetência na gestão fiscal. Entre outras mazelas.
Foram 14 anos de PT Federal que CapitalSocial acompanhou atentamente. E que prosseguirá nessa nova etapa.
Em 2002, Lula eleito pela primeira vez, CapitalSocial (então também Livre Mercado) sapecou o título LULACÁ, URGENTE! na Reportagem de Capa. Quatro anos depois, reeleito, voltou CapitalSocial-LivreMercado com LULACÁ, DECIDIDAMENTE?. Agora é a vez de “LULACÁ, TRAGICAMENTE?”.
Entre o primeiro mandato saudado por CapitalSocial-LivreMercado na esteira de oito anos de sofrimento regional com Fernando Henrique Cardoso em Brasília, e o tom dramático desta edição, existe profusão de dados e análises sobre o legado do PT Federal no Grande ABC. O saldo é extremamente negativo.
Mas não vamos tratar diretamente disso nesta edição especial. Deixaremos os números, principalmente os números, fora do foco principal. Trataremos, logo abaixo, de conceitos. Por isso dividimos essa análise em oito pontos:
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.
MACROECONOMIA.
MACROPOLÍTICA.
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO.
RELAÇÕES INSTITUCIONAIS.
REDES SOCIAIS.
MOVIMENTO SINDICAL
DERRETIMENTO SOCIAL.
Há variável interpretativa que precisa ser levada em conta quando se observa o título-chave desta análise.
LULACÁ, TRAGICAMENTE? não pode ser levado ao pé-da-letra convencional, embora também não possa ser descartado sob esse ângulo.
O diagnóstico que se segue deixa evidenciado que não há motivos para o Grande ABC acreditar que os 14 anos do PT Federal serão diferentes nos próximos quatro anos.
Mais que isso: tendem a ser piores do que já o foram e que determinaram varredura desta revista digital em inúmeros textos.
Talvez fosse adequado aos leitores menos suscetíveis ao realismo histórico que o título fosse outro, amenizando a projeção.
Que LULACÁ escolheria o leitor se antes de se definir pelo título deste trabalho contasse com os ingredientes que serão registrados na sequência?
Qualquer que fosse a escolha, seria inevitável que a semântica mais adocicada ganharia o corredor da morte interpretativo e se cristalizaria na configuração de uma tragédia sequencial.
Sim, o LULACÁ, TRAGICAMENTE? é uma série de horrores. O Grande ABC, outrora a Terra Prometida, mal se dá conta disso, ou, pior ainda, dá-se conta mas não reage, há pelo menos três décadas.
Coincidentemente, três décadas de curadoria crítica e independente de CapitalSocial.
Portanto, sem mais delongas, seguem breves avaliações do Grande ABC para os próximos anos de Lula da Silva, os quais se juntam aos 14 anos do PT Federal e também aos oito anos de Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República.
O Grande ABC sem eira nem beira é uma farsa de regionalidade. A soma das sete partes que o compõem são uma matemática de equívocos, preguiça e desperdícios desde que o aprofundamento da desindustrialização passou a desafiar a capacidade reativa de protagonistas e figurantes de uma confraria de fracassados institucionais.
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