Política

O que é o que é: sobra a um
e falta a outro? Entenda!

DANIEL LIMA - 16/01/2024

O que é o que é: abunda para Paulinho Serra e escasseia para Orlando Morando? O que é o que é: tem de sobra no Paço de Santo André e está em falta no Paço de São Bernardo? O que é o que: é complicado para Paulinho Serra e é controlável para Orlando Morando?  

Quer uma resposta reta e direta? No Paço de Santo André sobram complicações que, paradoxalmente, não deverão alterar o rumo prático das eleições municipais, com a vitória formal dos situacionistas. No Paço de São Bernardo, paradoxalmente, escasseiam complicações que poderão alterar o rumo prático das eleições municipais.  

A possibilidade de sucesso eleitoral do Paço em Santo André nesta data seria de algo próximo a 90% dos votos válidos. Com margem de erro de 10 pontos percentuais apenas para cima.  

A possibilidade de sucesso eleitoral do Paço Municipal em São Bernardo nesta data seria algo próximo a 55% dos votos válidos. Com margem de erro de sete pontos percentuais para cima e para baixo. Garantia metodológico do DataDaniel.  

VOTO E COMPETÊNCIA 

Vamos lá, vamos lá, vamos responder aos vários ângulos dessa charada? Afinal, já estamos em janeiro, as eleições de outubro estão chegando e os dois prefeitos das maiores cidades da região não podem se candidatar porque está esgotado o prazo regulamentar.  

Orlando Morando e Paulinho Serra são cartas fora do baralho, mas estão imersos no barulho. O primeiro por causa do embaralhamento decisório. O segundo por causa do exclusivismo decisório. O segundo é melhor administrador que o primeiro, mas não quer dizer que seja o mais efetivamente vitorioso.  

DEMOCRACIA E TIRANIA 

Paulinho Serra é um prefeito bom de voto, bom de marketing e ruim de governo. Orlando Morando é um prefeito igualmente bom de voto, não tão brilhante de marketing e detentor de objetividade de governo.  

Paulinho Serra é a festa o ano interno, há sete anos de carnavalização sem parar. Orlando Morando é menos propagandista, vive em habitat menos servil, ou nada servil. O PT não lhe dá folga. A Paulinho Serra o PT só dá reciprocidade. Generosa, por sinal.  

Do Paço de Santo André vai sair o próximo prefeito de Santo André porque Santo André é uma cidade em que o imperialismo político domina a sociedade numa, convenhamos, falta de vergonha na cara que não caberia em lugar algum do mundo que entenda o que é democracia. Mais que isso: o que é cidadania. Mais que isso: o que é comprometimento social. 

Do Paço de São Bernardo é possível mas não garantido que sairá o próximo prefeito de São Bernardo. São Bernardo é um reduto metade vermelho, metade outras cores, principalmente o amarelo da direita e do centro conservadores que antes vestiam a camisa azul tucana e agora meteram uma camisa amarela bolsonarista e tarcisista, mais este do que aquele, porque esse é o único contraponto ao governo federal que está aí e que tem muitas raízes em São Bernardo. 

Não é a primeira nem será a última vez que escrevo sobre as eleições programadas para outubro em São Bernardo, inclusive com o uso dessa mesma temática, ou seja, de uma cidade dividida como o Brasil é dividido.  

Tampouco é a primeira vez nem será a última que escrevo sobre as eleições em Santo André, onde prevalece o sonho de todos os ditadores do planeta e se ensaia no Brasil Varonil do consórcio entre Executivo e Judiciário e a gulodice do Legislativo: uma única versão dos fatos e das mentiras.  

MUNDOS DISTINTOS  

Trocando em miúdos: São Bernardo é espécie de retrato-falado do que seria um ensaio sobre a democracia que prezo, com direito a todos os defeitos, inclusive de ter um candidato sofrível ao posto máximo, no caso o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira. Somente se melhorar muito Luiz Fernando Teixeira receberá outro tratamento.  

E Santo André de prefeitos paralelos, quando não sobrepostos ao prefeito atual de direito, é uma esculhambação geral e covarde de perseguição aos dissidentes.  

A divisão político-eleitoral de São Bernardo não existe em Santo André. A antiga capital econômica da região, que perdeu o posto assim que chegaram as montadoras de veículos, conta com uma unidade do caos administrativo. Afinal, se vende a ilusão de que tem um prefeito eficiente, quando de fato Paulinho Serra não passa de um prefeito protegido, quase sequestrado, bom de varejo, bom de voto, mas nada além disso.  

SEM CONTROLE 

A queda continuada de Santo André em sete anos de Paulinho Serra no ranking do PIB per capita do Estado de São Paulo é apenas uma das provas provadas disso. Os escândalos abafados, e com provas abundantes, também. Se bobear (e esse é um assunto que tratarei em breve) terminará os oito anos de dois mandatos registrando desempenho fiscal abaixo do antecessor Carlos Grana, do PT, de quem foi secretário de Mobilidade Urbana e ao qual Paulinho Serra dirige críticas severas por causa do estado de calamidade nas contas públicas que encontrou em janeiro de 2017, quando tomou posse.  

Mas vamos ao que interessa hoje: Paulinho Serra convive na abundância mas sem controle de candidatos da situação à próxima eleição. Orlando Morando convive com a escassez sob controle de sucessor ainda não definido porque, diferentemente de Paulinho Serra, faltam nomes com prioridade de sustentação do Paço. Diferentemente, portanto, da proliferação do Paço de Santo André.  

A Paulinho Serra sobram opções à escolha do candidato oficial do Paço Municipal, mas a operação que resultou nesse quadro é uma armadilha, não uma engenharia bem orquestrada. Jogou-se o jogo eleitoral tendo o dado da sorte imaginando que sempre cairia numa mesma face. O destino resolveu pregar uma peça. Todos os chamados pré-candidatos se sentem prontos para suceder Paulinho Serra. Mas Paulinho Serra, com sonhos ambiciosos de participar da cena política estadual e nacional, tanto é que virou presidente provisório do PSDB no Estado, entregou-se a raposas mais que velhas da politica e de outros ambientes.  

Numa casa em que todos gritam para se arvorarem de razão, a razão vai sair escalpelada. E Paulinho Serra pagará um preço elevado. Não seria uma vitória de Pirro, mas também não seria uma Brastemp.  

VESTIÁRIO EM PÂNICO  

Já Orlando Morando, um político muito mais maduro que Paulinho Serra, e que não se submeteu ao torniquete de grupos esfomeados por dinheiro e poder, tem sob controle os cordéis da sucessão. Guarda no bolso do colete o nome preferido com a certeza de que ele, Morando, vai pesar muito no processo eleitoral.  

Paulinho Serra é, portanto, aquele treinador de futebol que não definiu o time durante a semana de preparação para uma decisão importante e agora, nos vestiários, árbitro entrando em campo, sente um ambiente de frustração geral, porque quem se imaginava titular não passaria de reserva. 

Orlando Morando é um treinador de cujas peças saberia exatamente o que fazer já que o time foi definido e treinado para tanto. Não há surpresa alguma a alimentar fraccionamentos.  

VOTOS SOCIOLÓGICOS  

Quem atribuir exclusivamente ou preponderantemente o resultado eleitoral de outubro à abundância ou à escassez como símbolo da estratégia dos vencedores incorrerá no risco da simplificação. A razão é evidente: Santo André e São Bernardo são (como já cansei de explicar) territórios sociológicos diferentes. O voto em São Bernardo não é o mesmo voto de Santo André. Há nuances históricas que justificam a diferenciação.  

Não bastasse a mais operária São Bernardo contar com um PT enraizadamente profundo, em Santo André o oposto é verdadeiro: o PT sem Celso Daniel desmilinguiu-se tanto que passou a ser uma linha auxiliar do tucanato de Paulinho Serra. Todos frequentam o mesmo ambiente. A Santo André de uma classe média mais pronunciadamente de empreendedores de pequeno porte não é igual a São Bernardo de classe média forjada nas fábricas.  

A falta de controle sobre a manada de potenciais candidatos que Paulinho Serra e seu grupo sempre propagaram está-se tornando uma tormenta. Há descontentamento, sobram fagulhas de idiossincrasias e ressentimentos emergem. Tanto é verdade que o deputado federal Fernando Marangoni, até outro dia apoiado por todo o Paço Municipal (e também pelo vizinho chamado Diário do Grande ABC) virou o demônio da vez, porque decidiu romper com o pacto fajuto de suposta igualdade de pesos para disputar a vaga de concorrente do Paço. Marangoni decidiu romper com o grupo e ameaça com candidatura própria. As retaliações já estão nas páginas do jornal que até outro dia o badalava.  

A temática eleitoral na região, e, particularmente, em Santo André e em São Bernardo, é um cardápio excelente. Afinal, não são apenas votos, camaradas! 



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