O ano passado passou sem que absolutamente nada no campo Macroeconômico -- terceiro capítulo desta série -- se descortinasse à Economia da região tendo o governo federal como fonte inspiradora, financiadora ou qualquer coisa que o valha.
Os números do PIB da região, anunciados em dezembro mas ainda relativos ao governo de Jair Bolsonaro, precisamente de 2021, demonstraram recuperação esperada e compulsória. Nada que desperte confiança. O setor industrial evoluiu em relação a 2020 pela simples razão de que 2020 foi marcado pela chegada do Coronavírus e os estragos monumentais no País.
O que teoricamente seria a instituição principal a lidar com a retomada da Economia da região numa perspectiva de construção de iniciativas, não meramente de extensão do quadro nacional, ainda não encontrou o enquadramento desejado.
Isso quer dizer que o Desenvolvimento Econômico segue fora da agenda do Clube dos Prefeitos, ou Consórcio Intermunicipal dos Prefeitos.
JOGO DURO
Não se acredita na possibilidade de mudanças significativas que seriam impostas pela nova direção da entidade, chefiada no dia a dia pelo secretário-executivo Mario Reali, ex-prefeito de Diadema, e com um quadro de assessores igualmente relacionados com o PT. Sem contar, claro, com o prefeito Marcelo Oliveira, agora também prefeito dos prefeitos.
O fato histórico, por uma série de razões que se acumulam e geram cada vez mais calcificação, é que o Clube dos Prefeitos não tem vocação às atividades econômicas. Desde Celso Daniel, criador do organismo e maior incentivador à reconstrução da Economia regional, maltratada ao longo de décadas, a pauta econômica virou supérfluo.
A compulsória aplicação de um Planejamento Econômico Estratégico não gera luz nem comprometimento. O divisionismo interno da região, espécie de Arquipélago Cinza, interdita ou desestimula qualquer movimentação de pedras de transformações.
MUNICIPALISMO PERVERSO
O municipalismo originário de emancipação político-administrativa na metade do século passado é uma doença incurável nestes tempos em que a globalização já não é o mantra como outrora, mas acena para a composição de blocos regionais entre nações que sufocam qualquer esperneio em direção ao nacionalismo econômico insustentável.
Há muito a economia da região mereceria tratamento privilegiado do governo federal. Afinal, aqui se pagam muitos preços salgadíssimos da deterioração do ambiente nacional refletido na constante perda de viscosidade da mobilidade social.
O ABC Paulista perdeu massa transformadora. Cada vez mais há relativamente menos classe média convencional e classe rica. Estamos nos encaminhando a um igualitarismo socioeconômico que pode ser o paraíso dos estatistas dopados pela ideologia, mas se traduz, para valer, numa crônica de fracasso anunciado. Uma sociedade majoritariamente de pobres, miseráveis e classe média precária, outrora chamada de nova classe média, é uma sociedade em decomposição.
A ANÁLISE DE 2023
Um dos erros que pode ser fatal para a gestão de Lula da Silva nos próximos tempos e que afetaria demais o Grande ABC no campo econômico é imaginar que os anos dourados de commodities que abasteceram a China e o entorno asiático vão se repetir.
Mais que isso também: que será possível imaginar o setor automotivo multiplicador de investimentos e empregos na região, como o foram durante parte dos 14 anos de PT Federal.
Viveu-se espécie de sincronia do caos, porque foi justamente nesse período que o Grande ABC deste século registrou os melhores e piores indicadores quantitativos de produção e também os piores resultados na força de trabalho do setor.
Viver sob efeitos de loopings econômicos temporários é variável insustentável.
O Grande ABC de alguns anos fluviais de crescimento artificial sob a liderança nacional de Lula da Silva, especialmente no segundo mandato, não existe mesmo. O que veio depois, quando Dilma Rousseff pagou o pato, é o mais próximo da realidade.
Os efeitos deletérios da guerra entre Rússia e Ucrânia nem entram na contabilidade projetada para os próximos tempos, embora tenham muita influência na cadeia de produção mundial, da qual o Brasil faz parte sem tanta importância no território do Grande ABC.
Relevante mesmo é que a China está parcialmente nocauteada como fonte industrializadora de importações. A China não é mais a mesma.
O crescimento médio de dois dígitos nos últimos 40 anos virou passado.
No presente, que deve se prolongar por alguns pares de anos, o PIB médio já está contratado. E não ultrapassará largamente como antes níveis europeus e norte-americanos.
Neste ano, por exemplo, consultorias internacionais colocam nos registros da China não mais que 3,5% de crescimento do PIB.
O Coronavírus, natural da China, vai e volta para atormentar indicadores econômicos locais.
A ditadura chinesa já fez de tudo para mostrar ao mundo que sabe lidar com a pandemia. Os resultados reforçam constatações de que o Coronavírus é exímio driblador de expectativas, estudos e análises.
Os fanáticos por qualquer versão resolutiva cansam de errar.
O efeito-sanfona na economia chinesa provocado por medidas de contenção e distensão dos estragos do Coronavírus, deixa as autoridades políticas e sanitárias à flor da pele.
A produção industrial desabou e os investimento subsidiados no mercado imobiliário deram com os burros nágua. Grandes conglomerados abriram o bico. A indústria imobiliária representa 25% do PIB na China. A inadimplência financeira exigiu intervenções do Estado, o que elevou o déficit público.
Não se pode esquecer que o mercado imobiliário nos anos dourados de Lula da Silva também foi inflado com investimentos públicos muito além do equilíbrio entre oferta e demanda.
Mais tarde, os bancos privados, financiadores do setor, transformaram-se em grandes imobiliárias. Dezenas de milhares de imóveis voltaram aos financiadores.
A inadimplência atingiu números estratosféricos. Mas a contabilidade do PIB do período foi mantida. PIB é uma métrica que nem sempre detalha resultados práticos. O governo Dilma Rousseff pegou essa herança maldita.
Com menos recursos financeiros da China, em contraste, portanto, com os anos dourados de Lula da Silva (e os anos de terror com Dilma Rousseff) haverá pouco espaço para políticas protetivas a setores estratégicos do País.
E as montadoras de veículos, sempre na linha de proteção dos petistas, não terão fôlego suficiente para suportar artificialmente o estoque de empregos no Grande ABC, comprovadamente o mais custoso na planilha das empresas por conta da atuação histórica do movimento sindical.
Movido à indústria automotiva, com São Bernardo, Diadema e São Caetano mais diretamente sensíveis, o Grande ABC somará novos reveses nos próximos anos.
A queda do PIB Industrial da região tem insistido em apontar resultados negativos. Não há expectativa que resista à lógica de quebra gradual da manufatura.
A indústria de transformação do Grande ABC ainda ocupa 22% do PIB Geral e tudo indica que seguirá em declínio, aproximando-se cada vez mais da média nacional de apenas 10%.
Não se deve duvidar dessa trajetória quando se sabe que em 40 anos desceu vertiginosamente. Eram mais de 50% no começo dos anos 1970.
A queda não tem sido apenas frente a outros endereços que cresceram mais. Também é uma queda em produção absoluta, ou seja, quando se comparam os resultados locais com os resultados locais.
São Bernardo, Capital Econômica da região, é quem mais sofre com perdas relativas e absolutas. Ainda tem musculatura invejável, mas o esgotamento seguirá.
Não por outra razão, São Bernardo foi quem mais sofreu durante os 14 anos do PT Federal. São Bernardo é uma terra automotiva tangida pelo sindicalismo. Investimentos das empresas locais são sempre repensados. E a atração de novas empresas é um parto frustrado.
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