Política

Tite vai ocupar qual via
eleitoral em São Caetano?

DANIEL LIMA - 07/02/2024

Se alguém disser que o vereador pela terceira vez e prefeito interino por um ano Tite Campanella é a primeira via na disputa pela Prefeitura de São Caetano neste ano estará cometendo um grave erro – até que os números provem o contrário. Segunda via também não é. Então Campanella é terceira via? Talvez não seja nenhuma das alternativas. Há outras duas possíveis.

Recebi ontem no aplicativo WhatsApp uma gravação de tomada aérea de São Caetano em que Tite Campanella é a estrela solitária. Ele anunciou estar na liderança de uma pesquisa de um instituto pouco conhecido. Mais que os números o terem colocado em primeiro lugar, o que não é surpresa quando se trata de determinados institutos de pesquisa, o que interessou mesmo a mim foi a mensagem.

Que mensagem estaria embutida no recado de Tite Campanella aos moradores de São Caetano? Tanto pode ser o recado de que está no jogo de outubro como concorrente independente, como poderia estar também como vice da chapa do candidato do Paço Municipal ou disputaria a cabeça de uma chapa com Fabio Palacio, duas vezes concorrente à Prefeitura e com um capital eleitoral nada desprezível.

FORA DO BARALHO

Se o jogo parece embaralhado, o que exigiria mais didatismo do que estou escrevendo, a responsabilidade não é minha mesmo. A disputa em São Caetano é contraditoriamente uma equação tão simples quando complexa. E Tite Campanella é o peão em jogo, a multiplicar opções.

Sozinho ele não deve disputar porque sozinho lembraria uma andorinha perdida. Não teria cacife para uma campanha que poderia ser encardida. Portanto, a disputa a que se lançaria não tem fundamentação lógica. Contra ele existem a máquina da candidatura do Paço Municipal e a memória eleitoral, além do entusiasmo de Fabio Palacio.

Então, Tite Campanella precisa decidir a vida política nas eleições levando-se em conta, portanto, que é carta fora do baralho de probabilidades de, individualmente, ameaçar a candidatura escolhida pelo grupo do prefeito José Auricchio.

SEGUNDA POSIÇÃO

Restaria a Tite Campanella lutar pela vice na chapa mais que encaminhada à titularidade de Regina Maura Zetone, secretária de Saúde de São Caetano, ou disputar cabeça a cabeça a chapa que formaria com Fabio Palacio. Portanto, temos mais duas vias opcionais. Duas vias duplas com três vias individuais são cinco vias. Combinado?

Pelo andar da carruagem, ao que parece, no desenho do quadro, levando-se em conta todos os fatores e condicionantes, haveria muita dificuldade em Tite Campanella se encaixar na chapa de Regina Maura Zetone. José Auricchio e Tite Campanella já não têm afinidades de antes. Auricchio não teria aprovado os 12 meses de interinato de Campanella, enquanto esperava decisão do Tribunal Superior Eleitoral favorável à confirmação do quarto mandato.

Há idiossincrasias postas à mesa de avaliações. A aproximação de Tite Campanella com grupos externos a São Caetano, notadamente de Santo André, teria caído muito mal. Teria sido indigesto o prato. Chegou-se a falar em traição. As relações azedaram. Apenas não entornou o caldo de vez porque em São Caetano, como em Roma, há muita polidez e diplomacia nas articulações sociais que subjugam a política e nas articulações políticas que subjugam a sociedade. Dificilmente alguém puxa a faca.

O que Tite Campanella teria providenciado então com a gravação mencionada e a mensagem de suposto líder de pesquisa? São duas as alternativas.

UNIVERSO JOVEM

Primeiro, mostrar para o Palácio da Cerâmica que tem prestígio e que por ter prestígio precisa ser reavaliado como parceiro de Regina Maura. O problema é que está praticamente definido que o vice de Regina seria o reitor da Universidade Municipal de São Caetano, o jovem Leandro Prearo.

A participação de Prearo busca ingredientes que faltariam no coquetel eleitoral do prefeito José Auricchio para evitar surpresa. Atenderia ao desejo de dar maior densidade eleitoral à chapa diante da demanda do público mais jovem. São Caetano tem menos jovens que pessoas vividas e idosos, mas tudo que significa voto em São Caetano tem valor intrinsecamente importante. O eleitorado se espreme em 15 quilômetros quadrados e a juventude ligada à academia municipal espalharia votos além das salas de aula.

A opção por Leandro Prearo como candidato a vice na chapa de Regina Maura tem-se desenhado com certa transparência. Os eventos dos quais participa o prefeito José Auricchio contam quase que obrigatoriamente com a presença da dupla.

VIÉS ESPECULATIVO

Caso a medida persuasiva de Tite Campanella não tenha o respaldo que imagina -- e este é o segundo cenário -- talvez só lhe restaria mesmo compor-se com Fabio Palacio para formarem uma dupla cuja cadeira principal seria definida até o último segundo do prazo regulamentar.

É claro que tudo que escrevo sobre política partidária e eleições na região deve passar pelo corredor polonês de desconfiança e ceticismo. Sigam o meu conselho, porque é assim que tenho agido. As intempestividades da política me obrigam a ser contraditoriamente prospectivo e cauteloso. O resultado disso chama-se especulação.

Essa contradição precisa ser levada em conta porque não disponho de painel de dados empíricos confiáveis para, com base na preferência mesmo que ainda precária dos eleitores, emitir juízo de valor peremptório. Tudo está condicionado a percepções, intuições, conjugações temporais. Ou seja: a atmosfera dominada pela subjetividade é meu painel de controle. Alguns filtros completam o serviço.

Imagino hoje que o quadro é esse mesmo. Não teríamos terceira via individual relevante em São Caetano, mas variáveis da primeira e da segunda via ocupadas de antemão por Regina Maura e Fabio Palacio. O que poderia ocorrer no futuro seria a substituição de Palacio por Tite Campanella. Hoje, entretanto, não parece viável.

SUANDO A CAMISA

O fato é que a disputa eleitoral em São Caetano é a mais improvável ao surgimento de uma grande surpresa, vendo-se hoje o que é possível ver e esticando a análise até o ponto-futuro em que o juízo mental não seja contemplado com reações deletérias.

Tenho acompanhado atentamente as andanças da Administração de José Auricchio. É impressionante como a cada dia o tucano esmera-se em suar a camisa no preenchimento de uma agenda numerosa em todos os cantos da cidade. Aos desavisados, tem-se a impressão de que Auricchio é o candidato à reeleição, algo fora de cogitação. Caso pretenda um quinto mandato terá de esperar quatro anos a partir de janeiro do ano que vem.

Não sei até agora mas vou tentar desvendar o mistério da mensagem subliminar de que se utilizaria cada concorrente em São Caetano como mote definidor de campanha. Acho que existe uma sombra que pode ser afastada e virar um farol de luminosidade que contemplaria Regina Maura Zetone.

VOLTA POR CIMA?

Regina Maura foi sacrificada em 2012, quando concorreu como agora com o apoio do também prefeito José Auricchio. Regina Maura foi massacrada num subterrâneo de guerrilhas moralistas e machistas criadas para desgastar sua imagem numa sociedade conservadora como é São Caetano.

Como os tempos são outros e o identitarismo de gênero ganhou peças de uma carpintaria mais contemporânea, tudo indica que, reverso da moeda destruidora, ser mulher poderia tornar-se ingrediente adicional na corrida. Mas isso só poderia ser respondido em pesquisas eleitorais que abordassem a temática.

Certo é que se houver possibilidade, mesmo que subliminar, a mais desejável, aliás, o fator gênero poderia ser lançado na arena de votos. Não sei até que ponto isso será relevante, mas se o for, a magia dos marqueteiros vai ser posta à prova. Não se poderia exagerar na dose de um marketing feminista modernoso como também não se admitiria um marketing envergonhado, temeroso. Para ser assim é melhor que não seja colocado em prática.

SOMENTE UM TURNO

Lembrar sempre que só há um turno em jogo em São Caetano é elemento-chave a definições. De repente, o mesmo Tite Campanella sem força individual, sem uma vaga na candidatura situacionista e dividido com Fabio Palacio no que restaria do eleitorado, torna-se uma via auxiliar da via principal e dispute isoladamente apenas para facilitar a vitória de Regina Maura, subtraindo votos de Palacio. Tudo isso dependeria, também, do que diriam as pesquisas.

Tite Campanella é uma contradição ambulante, como se vê. Até prova em contrário não tem futuro nas urnas de São Caetano como candidato a retornar ao Palácio da Cerâmica agora como efetivo, mas colaboraria com o time mandante ou quem sabe também com o time visitante, no caso Fabio Palacio.

A composição com Fabio Palacio ainda permanece improvável por causa de questionamentos sobre a ocupação da cabeça da chapa. O vídeo gravado por Tite Campanella está com cara, braços e pernas de um atleta esperto que quer mesmo se manter no entorno ou bem próximo dos poderosos de plantão em São Caetano.

O risco que corre é supostamente descobrirem nas pesquisas eleitorais em São Caetano que não teria peso para assegurar uma das cinco vias possíveis. Essa perspectiva catastrófica para Tite Campanella não parece sustentável. Talvez no mesmo grau de uma candidatura isolada e vencedora. Como se vê, o filho do emancipacionista Anacleto Campanella está encalacrado. Daí a campanha eleitoral em forma de propagação do vídeo.