A Entrevista Especial que publicamos ontem com o vereador e ex-secretário de Segurança Pública de Santo André, Coronel Edson Sardano, reúne condimentos que precisam de avaliação. E o fazemos hoje, passadas 24 horas desde que editamos aquele material. Não há mais risco, acredito, de interceder no juízo de valor do que foi respondido. Os leitores mais interessados já metabolizaram as perguntas e as respostas.
Como pretendo avaliar todos os entrevistados desta série especial e inédita que vamos publicar nesta temporada de Ano-35 de CapitalSocial, espero não ser vítima de acusações como suposto protetor do entrevistado em questão. Outros poderão obter eventuais observações positivas. E negativas também.
O que mais me satisfez nas respostas do Coronel Sardano foi a maturidade de não negar os problemas de Santo André. Mais que isso: diferentemente do prefeito Paulinho Serra, a quem Sardano faz elogios, o entrevistado não colocou Santo André numa masmorra inexpugnável a preocupações e a críticas. Mais que isso, fez uso da moeda de racionalidade para aumentar o cacife de sensatez. Não fez do triunfalismo inconsequente proteção de cristal.
VULNERABILIDADE CRIMINAL
Vou dar um exemplo prático seguindo o enredo de respostas: o Coronel Sardano não negou jamais a situação de vulnerabilidade criminal de Santo André apontada por mim com as ressalvas, também feitas anteriormente por mim, de que por fazer vizinhança com vários municípios, ou mais precisamente com a periferia de todos esses municípios, Santo André é por consequência escoadouro e criadouro de complicações.
Qual foi a resposta da Coronel Sardano? Uma resposta técnica, embasada em dados, em ações que buscam enfrentar o destino geoeconômico. Não usou de subterfúgio para refutar a ponderação jornalística. Não construiu um paraíso para negar um inferno de complicações. O Coronel Sardano foi técnico. E também se manteve distante do catastrofismo, como este jornalista também. Ou alguém tem dúvida de que ao apontar para a vizinhança tóxica eu estava contextualizando a criminalidade em Santo André fora de extremismos tanto de mitigação quanto de horrores?
Esse exemplo sobre as emboscadas da criminalidade orgânica e sistêmica que abate Santo André talvez seja a porção mais fina da personalidade de homem publico do Coronel Sardano. Um exemplo que, aliás, se espalhou a outras questões, inclusive da derrocada econômica de Santo André.
QUERO CRER QUERENDO
Quero crer querendo crer porque querer crer significa manter a chama da expectativa de que um dia Santo André tenha mais exemplares de gente pública que fuja da quase obrigatoriedade de vender fantasias que não se alinham ao conceito de verdade, quero crer querendo, repito, que, independentemente dos resultados das eleições em Santo André, o novo titular da Paço Municipal seja tomado pelo espírito de realismo contido, controlado e socialmente inquieto exposto pelo Coronel Sardano.
É exatamente sob esse ponto de vista que minhas relações profissionais, sempre profissionais, azedaram e deveriam mesmo azedar, com o prefeito Paulinho Serra.
Em dezembro de 2016, já eleito prefeito mas ainda não à frente da Prefeitura, assumida no janeiro seguinte, recomendei ao prefeito o que não foi necessário ao Coronel Sardano: trate Santo André na Economia com o senso de urgência, alarmista até, porque é disso que se trata. Não fui ouvido.
CHEGANDO AO DEBOCHE
Pior que não ser ouvido é ser ignorado. Pior que ser ignorado é ser desafiado. Pior que não ser ouvido, ignorado e desafiado é ser debochado. Sob a influência de maus conselheiros, Paulinho Serra aderiu à turma do “Vamos Santo André que Estamos com a Corda Toda”. Deu no que deu. O Viveiro Industrial que já não era lá essas coisas em diversidade de matrizes produtivas desde o começo deste século cavou novos buracos.
Enquanto isso, o prefeito Paulinho Serra segue vendendo números falsos, manipulados, oxigenados por áulicos que acreditam em Papai Noel em forma de mentir, mentir e mentir até que a mentira ganhe nexos de verdade entre os ignorantes. Sem contar a Secretaria de Efeitos Especiais que industrializa premiações suspeitas, quando não artificializadas.
PESO DA EXPERIÊNCIA
A maturidade e o comedimento do Coronel Sardano indicam conclusão compulsória: apesar de secretário de confiança do prefeito Paulinho Serra, e apesar de tudo que fez à frente da Segurança de Santo André, desqualificada em parte por opositores sem contextualizações, provavelmente o Coronel Sardano não frequentou com assiduidade as reuniões oficiais. Teriam de tê-lo convidado mais. Ele conteria a epidêmica compulsão ao triunfalismo do Paço Municipal.
Seria impossível imaginar que Paulinho Serra não teria captado as mensagens do Coronel Sardano e incorporado à juventude que detém a experiência de quem conta com uma carreira profissional de miliar e civil pautada pela disciplina e pelo compromisso social.
Não tenho, por enquanto e nem sei se terei um dia, candidato de estimação para chegar à Prefeitura de Santo André, mas agrego conceitos para torcer por todos aqueles que se aproximarem dos dispositivos de planejamento e ações de que a antiga capital econômica da região tanto prescinde.
ESPERANÇA E DESILUSÃO
Somente os recalcitrantes são incapazes de entender que, após o sucesso eleitoral em outubro de 2016, torci para Paulinho Serra ser o prefeito certo na hora certa, mas, diferentemente do Coronel Sardano, que o encheu de virtudes, Paulinho Serra não chegou ao nível desejado já ao fim do primeiro mandato, linha demarcatória final de minha expectativa positiva. O segundo mandato, prestes a se encerrar, foi apenas a confirmação do desalento do primeiro.
A corrida eleitoral em Santo André será uma briga de faca de indefinições no escuro entre outros motivos porque o apontamento inicial de nove candidatos saídos do ventre dos grupos que dão apoio ao prefeito Paulinho Serra se comprovou um dilúvio.
Tanto é verdade que, na Entrevista Especial, o Coronel Sardano preferiu tangenciar a questão, além de dizer que não se sentia candidato do Paço, independente que garante ser.
Outros candidatos mencionados também possivelmente não se sintam. Um desgaste desnecessário que abre flanco a dissensões deletérias que podem sim, embora o Coronel Sardano observe que não, afetar as relações futuras caso os governistas mantenham o Paço com vitória eleitoral.
FUTURO EM JOGO
O futuro de Santo André vai depender muito da próxima quadra eleitoral. Estou convicto de que um critério que os eleitores deveriam respeitar e incensar aponta para o grau de comprovada maturidade cívica e gerencial dos concorrentes.
Grau de maturidade quer dizer mais ou menos o seguinte e de forma resumida: que o titular do Paço não se dobre a interesses estranhos que de uma forma ou de outra interferem num plano de voo sólido que precisa ter como base de ações o inicio de um processo para valer da recuperação econômica.
É uma tarefa dificílima que não foi nocauteada por Paulinho Serra mesmo com a inapetência de Paulinho Serra na área, mas que criou uma crosta de novos oito anos de expectativas frustradas.
Explicando: mesmo que Paulinho Serra houvesse sido chamado à razão e entendesse que a pauta econômica deveria ser tratada como gabinete de crise permanente, os indicadores de Santo André não teriam se movido favoravelmente de forma acentuada. Seriam discretos, porque o jogo da competitividade econômica vai além de Santo André e também da regionalidade para valer. É preciso estender olhos e mentes em direção aos concorrentes, que são muito e muito mais bafejados pela maioria dos indicadores desenvolvimentistas de consultorias especializadas.
INTERDEPENDÊNCIA
O erro de Paulinho Serra foi não ter dado o pontapé inicial e, mais que isso, cair na lábia dos inúteis que o convenceram de que Economia não é assunto que rende votos em curto prazo.
Sobre esse ponto, lembro também que na Entrevista Especial o Coronel Sardano foi certeiro ao dizer que muitos dos vetores que decidem a sorte de um determinado Município na área econômica não dependem do mesmo Município, mas de um quadro macroeconômico também.
Também já me manifestei sobre isso, mas sempre ponderei e certamente o Coronel Sardano o faria se instado a fazê-lo, que muitos municípios enfrentam situações gerais semelhantes e mesmo assim respondem mais positivamente que Santo André e a região como um todo. É claro que, também nesse caso, há diferenças. Nada que o escrutínio permanente de um banco de dados que tenha competitividade como mantra não auxilie nos resultados.
Para completar, o projeto Entrevista Especial não teria começado tão favorável à perspectiva de que poderemos ter novidades a partir do ano que vem em Santo André, com espalhamento regional. Ouçam mais os experientes comprometidos com a sociedade civil desorganizada. Esqueçam quem ilude a distinta plateia com chavões repetitivos e irreais de que somos uma sociedade civil organizada.
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14/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (23)