Prestem atenção nos diálogos que se seguem nos corredores do Paço Municipal de Santo André. O que está em jogo é a sucessão do prefeito Paulinho Serra nas eleições desta temporada. O ambiente está fervendo. É uma espécie de Big Brother Político. Muitos dos nove supostos concorrentes já foram para o paredão. Dois deles brigam pela liderança da chapa. Um terceiro é dissidente, mas pode ser reagregado. Ouçam o que estou ouvindo. Ouçam mesmo.
“A Catequese mandou indicar esse daqui”.
“Mas o Paulinho quer esse daqui?
“A Catequese quer esse daqui e não abre mão desse daqui”.
“O Paulinho aceita que seja o esse daqui da Catequese, mas acha que o esse daqui tem de ser o companheiro de chapa”.
“O Cicote está apertando, porque ele está na lista dos nove”
“Lista dos nove? O Cicote, macaco velho, acreditou nisso?”
“O Zaca está avexado, porque também estava na lista dos nove”.
“O Zaca sabe que estar na lista dos nove foi uma promoção, um gesto de gratidão por ser um vice comportado”.
“Mas ele não entende assim. Acha que lista dos nove é o caminho para a lista dos dois, ou seja, de prefeito ou vice-prefeito”.
“Mas o Zaca precisa entender que vice ele já é e que as coisas mudam e ele poderá ser secretário na próxima”.
“Talvez ele não engula isso, como outros engoliram e voltaram ao cargo de vereador para se reelegerem e se cacifarem ao próximo secretariado”.
MUITO EM DISPUTA
Os diálogos são permanentes e se multiplicam nas salas e corredores. Há tentativa de disfarçar o que é indisfarçável. E o indisfarçável é definir a chapa situacionista que deverá emplacar o terceiro mandato do grupo do prefeito Paulinho Serra. Afinal, o que se pretende mesmo é que nada mude nos próximos tempos, mesmo que os próximos tempos transmitam a ideia de mudança. Ninguém desenha um marketing onírico de Santo André 500 Anos se os 500 anos não significarem, na prática, a manutenção extensa do grupo no poder.
Resta saber se essa filosofia, por assim dizer, terá a concordância tácita de quem vai representar o Paço Municipal nas eleições de outubro. A vitória já foi mais implacavelmente certa, mas agora há nuvens de preocupação que precisam ser neutralizadas. Chuvas e trovoadas provocadas por certa autossuficiência já se prenunciam. É melhor não brincar com a sorte. A Síndrome de Botafogo é uma espaço sobre a cabeça dos excessivamente eufóricos.
Há no horizonte algo nebuloso como uma disputa de segundo turno. Um segundo turno que há alguns meses jamais constava da projeção. Até que o vereador Eduardo Leite entrou na disputa. Dos nove potenciais ocupantes do Paço Municipal da lista do prefeito Paulinho Serra, Eduardo Leite é o único que aparentemente se escafedeu, partindo para uma candidatura independente pelo PSB de Geraldo Alckmin, vice-presidente do governo Lula da Silva.
UMA PEÇA-CHAVE
Eduardo Leite é mesmo a peça-chave da disputa porque há indicações de que estaria subindo nas cotações populares. Avaliar sua eventual candidatura como fator irrelevante é um risco. Tem gente que à falta de inteligência estratégica simplifica tudo e diz que determinada coisa é irrelevante. São analfabetos políticos, são analfabetos sociais.
Eduardo Leite poderia se somar ao PT de Bete Siraque e a outras candidaturas de menor porte e atrapalhar as contas do Paço Municipal que contabiliza mais que 50% dos votos no primeiro e, então, único turno.
Daí ao encaminhamento de quatro cenários nas planilhas do Paço Municipal para liquidar o jogo no primeiro turno, não necessariamente na ordem que se segue.
Primeira alternativa – Leandro Petrin e Gilvan Junior.
Segunda alternativa – Gilvan Junior e Leandro Petrin.
Terceira alternativa – Gilvan Junior e Eduardo Leite.
Quarta alternativa – Leandro Petrin e Eduardo Leite.
FORA DE COGITAÇÃO
Está fora de cogitação composição que coloque Eduardo Leite como candidato a prefeito na chapa situacionista. Entenda-se esse fora de cogitação como algo vulnerável às circunstâncias. É o que se apresenta hoje, mas em política até o impossível é possível, tudo pode acontecer.
O que se sabe é que os prestidigitadores eleitorais do Paço Municipal querem mesmo é um composição que se limite a definir quem será cabeça de chapa, se o advogado Leandro Petrin ou o secretário de Saúde Gilvan Junior.
Há semelhanças e diferenças a separá-los. Empatam no jogo da discrição, do comedimento. Parecem ter o ego político mais controlado do que o próprio prefeito, que é sucesso nas bilheteiras mas não de crítica independente.
Entre Leandro Petrin e Gilvan Junior há um fosso em forma de experiência e de articulação. Petrin é a cabeça pensante da Administração Paulinho Serra mesmo sem estar formalmente na Administração Paulinho Serra.
Leandro Petrin faz questão de parecer um elo a mais na corrente de sucesso eleitoral da gestão de Paulinho Serra. Ele constrói relações cooperativas. E se tem esmerado mais nos últimos tempos. Já é mais fluvial nos sorrisos a influenciadores mais diretos da Administração Paulinho Serra.
Leandro Petrin tem articulações vastas com partidos e políticos em imensos territórios do país. É o ativo de que desfruta graças ao prestígio de especialista em Direito Eleitoral, a UTI dos embaraçados. Já salvou muitos políticos enrolados. E muitos políticos enrolados que não o procuraram não se salvaram.
MULTITAREFAS
Leandro Petrin é discípulo, entre outros, de Tito Costa, ex-prefeito de São Bernardo, mestre em desembaralhamentos eleitorais recentemente falecido. Petrin prestou um tribuno público a Tito Costa em forma de artigo no Diário do Grande ABC.
Leandro Petrin é, portanto, uma preciosidade em termos de Administração Pública para quem sonha com uma gestão sem solavancos judiciais. Foi militante do PT na juventude, mas há muito se converteu ao que poderia ser resumido como um missionário ecumênico em defesa do Direito Eleitoral. Atribui-se a Petrin a tranquilidade do prefeito Paulinho Serra em lidar com contratempos de uma jornada de sete anos com alguns casos complexos.
Mas é um erro circunscrever as habilidades e conhecimentos de Leandro Petrin ao que diz a legislação eleitoral. Ele também sabe lidar com as situações típicas de gestões públicas que fazem a diferença no placar de aprovação dos eleitores. Não falta quem o considere mais eficiente a uma gestão pública do que Miriam Belchior, discretíssima assessora de governos petistas, e tantos outros profissionais do Estado que são mais efetivos do que muitos supõem.
Leandro Petrin reuniria apetrechos técnicos mais abrangentes. Faz leituras que ultrapassam o campo estatístico. A especialização em Direito Eleitoral abriu as portas a diferentes áreas públicas.
JUVENTUDE EM CAMPO
Gilvan Junior, 30 anos, é um novato que além de discreto demonstra talento enorme ao aprendizado. Já passou pelo Semasa e por vários setores da Administração Paulinho Serra. Chegou à Secretaria de Saúde com várias medidas. O Poupatempo da Saúde, no Shopping Atrium, abriu as portas ao atendimento mais próximo da Grande Vila Luzita, a área mais povoada de moradores e de eleitores de Santo André.
O que diferenciaria mais acentuadamente Leandro Petrin de Gilvan Junior é a maturidade política. A quilometragem de Petrin nos corredores dos poderes é expressivamente maior. Por isso seria o favorito. Mas há quem não queira Leandro Petrin no múltiplo agrupamento que dá suporte à Administração de Paulinho Serra justamente por causa das qualidades de Leandro Petrin. E se opta por Gilvan Junior porque seria interlocutor supostamente mais maleável a determinados compromissos.
ALTERNATIVA IMPROVÁVEL
O vereador Eduardo Leite, ex-petista, é a terceira opção do Paço Municipal. Entenda terceira opção como algo isolado das duas primeiras, ainda de ordem não definida. Tudo indica que concorrerá com partidos mais à esquerda. Mas como a decisão vai passar provavelmente por caciques políticos estaduais e federais, tudo pode acontecer. Até mesmo nada acontecer.
Na entrevista ao jornal Repórter Diário, na semana passada, o prefeito Paulinho Serra deu sinais de irritação evidente quando tratou de política estadual e nacional. Usou expressões relativamente duras quando se referiu à direita bolsonarista e à esquerda lulista. Colocou tanto um quanto outro como radicais. Paulinho Serra tomou uma terceira via que se comprovou insustentável eleitoralmente.
Paulinho Serra defendeu uma terceira via do eleitorado que fracassou nas últimas eleições. Disse até que o PSDB errou ao não participar das eleições presidenciais do ano passado. Talvez tenha se esquecido que os tucanos provavelmente sofreriam novo massacre nas urnas. Nas eleições presidenciais de 2018 o tucano Geraldo Alckmin não chegou a 5% dos votos. Seria o concorrente tucano em 2020 algo como Simone Tebet em 2020. Ou pior ainda.
SEGUNDO TURNO
Apesar do equívoco, o que deve ser analisado mesmo na declaração de Paulinho Serra seria a interdição de um potencial acordo de bastidores com o PT e partidos de esquerda na sucessão em Santo André. Daí à conclusão de que Eduardo Leite não seria bem-vindo a qualquer composição do Paço é um passo.
Se de fato isso for o desdobramento que se observaria nos próximos tempos, a Prefeitura de Santo André teria mesmo um concorrente ou um grupo de esquerda com um novo supostamente forte na disputa pelo Paço Municipal. Concorrente forte no caso deve ser rebatizado: seria um adversário para levar o jogo ao segundo turno onde tudo poderia acontecer diante de novas nuances no ambiente político.
A Síndrome de Botafogo ainda é vista como uma brincadeira de quem não tem o que fazer, mas o Paço de Santo André já conta com termômetros críticos que chamam a atenção para que se cuide melhor da plantação depois do erro crasso de nomear nove concorrentes supostamente alinhados.
Uma das defecções, do Coronel Sardano, causou estragos na classe média conservadora. O vice-prefeito Luiz Zacarias poderia significar uma faixa de deserdados desprestigiados. Há simbolismos que não podem ser usados e jogados fora sem gestos de respeito.
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