Santo André precisa encontrar o rumo econômico perdido desde muito tempo e que só ganhou fôlego de esperança durante os dois mandatos seguidos de Celso Daniel, e mesmo assim com sobressaltos. Por isso, insistir na Botafogada do Paço Municipal no caso da sucessão municipal transcende o aspecto político-partidário. É, mais uma vez, o futuro de Santo André que está em jogo.
A queda de 34 posições no ranking do PIB per capita paulista nos primeiros cinco anos já contabilizados de Paulinho Serra é o resumo de uma ópera-bufa de massacre midiático flácido quando se percorre a realidade econômica e se abandona o marketing político-administrativo sufocante, instrumentalizado à unanimidade burra.
TUDO DOMINADO
Uma unanimidade feita de omissão e de entreguismo. Não escapa praticamente nenhuma organização privada, veteranas na arte de uma representatividade que não passa mesmo de representação. O capital social de Santo André, como de resto na região como um todo, é miragem. Todos estão embalados no mesmo saco de interesses que não respeitam, quando não agridem, as próximas gerações. Vivemos a Geração dos Patéticos, depois da Geração dos Perplexos e, anteriormente, da Geração dos Incrédulos.
Se alguém conseguir me convencer que Economia não é prioridade para qualquer Município e, mais que isso, a base de tudo em forma de mobilidade social há muito perdida, se alguém me convencer do contrário, vou achar que a sucessão administrativa em Santo André e nos demais municípios é apenas uma brincadeirazinha democrática, ou supostamente democrática.
Por isso que, entre outros recados àqueles que são pagos por terceiros para tentarem bater a carteira ética à base de maledicências, vou dizer o seguinte: tratem de aprender sobre Economia porque, enquanto permanecem na regiamente paga omissão ou endeusamento, os espertalhões deitam e rolam.
RUIM DE POLÍTICA
O resultado ainda parcial mas suficientemente esclarecedor do estágio de arrogância e imperialismo da gestão de Paulinho Serra está tipificado não só com o uso do neologismo futebolístico que se traduz em fracasso insuperável como, principalmente, pela exposição nua e crua do que temos nos mais de sete anos no Paço Municipal.
Paulinho Serra é bom de voto mas ruim de governo, como mostra a série de análises desta publicação. Mas, pior que ruim de governo, está se revelando péssimo de política. Ou alguém tem dúvidas sobre os estragos já contratados por conta das barbeiragens que culminaram numa ainda não inteiramente consumada revolta dos rejeitados?
Uma das vítimas do Caso dos Nove Preferidos é um dos dois previamente e únicos escolhidos, no caso o secretário de Saúde Gilvan Junior, que passa por momentos complicados.
REFORÇO DE FORA
Além de ver agregados da gestão de Paulinho Serra lhe virarem as costas, teria de conviver, caso perdure como candidato oficial, com dois adversários respeitáveis, os quais estavam fora do baralho de perspectivas até então: o vice-prefeito Luiz Zacarias, com potencial apoio de pesos-pesados da política estadual e nacional, o governador Tarcísio de Freitas e o ex-presidente Jair Bolsonaro – além, claro, de um PT possivelmente revigorado até mesmo com oportunidade de ressuscitamento municipal.
A máquina da Prefeitura de Santo André talvez não seja poderosa no suficiente, mesmo com empréstimos bancários de última hora, para esses enfrentamentos simultâneos. Dissidências podem levar a uma onda de afogamentos e atropelos.
Por isso que, enquanto se vislumbrava até outro dia uma disputa apenas protocolar que se encerraria no primeiro turno com enorme facilidade, uma goleada implacável, já se observa na linha do horizonte um segundo turno. Pior que isso: um segundo turno sem a presença do indicado da situação, do prefeito Paulinho Serra e os grupos que o apoiam.
Caso se configure ao fim da linha eleitoral, em outubro, a derrota de Gilvan Junior, teremos seguramente o resultado mais extravagante da história da política de Santo André e provavelmente da região. Nem mesmo a derrota no segundo turno de Vanderlei Siraque para Aidan Ravin em 2008 teria o mesmo impacto.
ATROPELAMENTO
Apenas para recordar: Siraque, do PT, ficou a menos de dois pontos percentuais da vitória no primeiro turno. E perdeu no segundo turno por seis pontos de diferença. Naquele outubro, Aidan Ravin contou com os votos de Raimundo Salles. Ambos, somados, obtiveram 40% dos votos válidos no primeiro turno. As três semanas que separaram os dois turnos permitiram reviravolta estonteante.
Convém contextualizar aquela disputa: não havia as redes sociais com a abundância de infiltramento de que se dispõe hoje e a centralidade da mídia impressa em forma de influência foi para o chapéu. A mídia está fragmentada e por mais que majoritariamente submetida a amestramento, não é mais a mesma coisa. Mas disso trataremos outro dia.
O caso atual é muito diferente a partir do marco inicial que começou naquele 29 de janeiro quando o Diário do Grande ABC publicou uma entrevista com Gilvan Junior. O secretário seguiu rigorosamente o combinado e deixou um recado implícito e outro explícito.
DOIS RECADOS
O recado explicito: diferentemente de vários dos demais do Grupo dos Nove Preferidos, não aceitaria como prêmio de consolação ou ferramenta de marketing disputar votos para vereador. O segundo, implícito: ao se atribuir vocação funcional ao Executivo, sugeria que a candidatura titular do Paço Municipal seria mesmo dele. O Grupo dos Nove Preferidos, portanto, era uma farsa, uma brincadeira de parque infantil, como se todos eles, os nove, ocupassem assentos numa roda-gigante previamente destinada a contemplar apenas um dos convidados. O segundo seria apenas um companheiro de chapa.
Somente os ingênuos do Grupo dos Nove, que de fato era Grupo dos Dois, não entenderam o recado de imediato. Mas o decifraram na sequência dos dias. E começaram a se movimentar. Tanto é que o sempre ponderado e experiente Coronel Sardano lançou candidatura nas ruas e o vice-prefeito Luiz Zacarias iniciou contatos com caciques políticos estaduais para buscar o que é indispensável em qualquer disputa: recursos do fundo partidário para enfrentar a máquina.
Faltou detalhar a explicação de que o Grupo dos Nove Preferidos de fato era o Grupo dos Dois Preferidos porque, além de Gilvan Junior, também está na disputa, mas aparentemente em segundo plano, um especialista em Direito Eleitoral, Leandro Petrin.
Ou seja: a chapa já estava montada e aprovada, supostamente, sem que se confirmasse o titular, embora se remetesse essa titularidade sempre ao secretário de Saúde, com exposição permanente no Diário do Grande ABC e nas atenções da assessoria de imprensa da Prefeitura –além das mídias digitais.
POLOS DISTINTOS
Leandro Petrin tem perfil diferente de Gilvan. É mais técnico, menos dócil ao consenso acrítico e outros badulaques político-administrativos. Em linhas gerais, é experiente para dizer não quando acha que deve dizer não sem, por conta disso, nocautear o interlocutor. Age com habilidade cortante. Não agrada a quem só espera reverência a qualquer tipo de demanda.
O Grupo dos Nove Preferidos, por natureza e safadeza uma enganação, se tornou a caixa de Pandora da Administração Paulinho Serra. Tudo que poderia gerar de idiossincrasias e insatisfação começou a se manifestar primeiramente nos bastidores, na calada dos corredores, e, em seguida, de forma mais detectável, por todos os lares e bares. E agora está insuportável. O autor dessa barbeiragem deve ser algum marqueteiro mequetrefe que, como todo marqueteiro, acredita-se Deus.
O raciocínio mais ajustado para diagnosticar a tempestade em que se transformou o Grupo dos Nove Preferidos é que todos, rigorosamente todos, se sentiram prefeitos em potencial. Até mesmo Marcelo Chehade, secretário de Esportes. Ele teve uma atuação perfeita na conquista de um título internacional para o esporte de Santo André, entregue na Itália. Um título que entrou para a galeria da Secretaria de Efeitos Especiais, provavelmente a mais ativa entre todas as secretarias.
MAIS CONSEQUENCIAS
Se todos, rigorosamente todos, foram colocados no mesmo patamar público, como foram colocados, e como nada aparentemente foi combinado como uma espécie de drible da vaca na credibilidade geral com a finalidade de valorizar o passe coletivo, o que se deu era mais que esperado: uma frustração sem limites e de consequências ainda não esgotadas.
O andar da carruagem é que vai definir até que ponto, concorrendo ou não para o cargo de vereador, eles se lançarão de fato à luta com o espírito de equipe necessário.
Pior do que serem todos colocados na raia de uma corrida em que supostamente se teria igualdade de oportunidade, é que intimamente eles se frustraram ainda mais com a preferência evidenciada na reportagem do Diário do Grande ABC pelo secretário Gilvan Junior.
Reportagem antecedida e sequenciada por cobertura insistente do Diário do Grande ABC às iniciativas do candidato apontado como concorrente à sucessão situacionista.
PREFERENCIA CONTESTADA
Não haveria, segundo avaliação de vários integrantes do Grupo dos Nove Preferidos, nada que pudesse sustentar a preferência por Gilvan Junior. O currículo do jovem limita-se à gestão de Paulinho Serra. Passou por várias secretarias e autarquia sempre na condição de protegido ou preferido. Retaliações à parte, preto no branco, Gilvan Junior não tem de fato nenhuma excepcionalidade técnica que o sustentaria como o melhor dos melhores do Grupo dos Nove Preferidos. Para a maioria desse grupamento, fossem divididos em três categorias por qualificações à serviço do posto de principal Executivo da Prefeitura, Gilvan Junior estaria no terceiro patamar.
Não foi e continua não sendo esse o entendimento dos mandachuvas que comandam o Paço de Santo André, tanto na torre específica do Executivo quanto na vizinhança influenciadora. Bateu-se o pé por Gilvan Junior mesmo diante de olhares tortos inclusive se financiadores de campanha.
A leitura dos oposicionistas no interior dos situacionistas é que Gilvan Junior é jovem o suficiente para esperar na fila de antiguidade e notoriedade, mesmo que em matéria de notabilidade haja escassez de talentos entre muitos dos pretendentes da lista dos nove.
MAIS MANDACHUVAS
Há um outro aspecto que também permeia contrariedade na escolha de Gilvan Junior. Trata-se do seguinte: determinados apoiadores do secretário de Saúde seriam em larga escala influenciadores que não participariam diretamente da gestão de Paulinho Serra, mas passariam a participar com Gilvan Junior prefeito e, com isso, os atuais sensibilizadores, perderiam espaço. Com os demais listados, essa sobreposição de valores nos corredores e gabinetes do Paço Municipal praticamente inexistiria.
BOTAFOGADA A CAMINHO
Está caminhando sim para uma Botafogada a campanha eleitoral dos situacionistas em Santo André. Com Zacarias apoiado para valer e com a possibilidade do petista Carlos Grana entrar no jogo também para valer, teríamos algo surreal diante do que até outro dia se configurava uma barbada: o jogo fica tão enrolado, mas tão enrolado, que não é estupidez imaginar o candidato do Paço fora do segundo turno.
Entendam que essa possibilidade não seria uma aberração por duas razões. Do lado de Luiz Zacarias, os recursos financeiros e o prestígio político dos mandachuvas do PL (e possível do Republicanos) introduziriam na disputa um fator de competitividade que jamais resistiria se o vice-prefeito agisse apenas voluntariamente, sem respaldo.
Do lado de Carlos Grana e de um PT competitivo, as periferias de Santo André, hoje sob o controle da Administração Paulinho Serra e com Gilvan Junior contemplado com uma secretária que o mantém intimamente ligado aos desvalidos, passariam a ter como alternativa o Bolsa Família petista. E não se deve colocar o PT fora da disputa se o PT entrar na disputa para valer porque o apelo do partido do presidente da República, que perdeu em Santo André por apenas quatro pontos percentuais para Jair Bolsonaro, seria ressonante.
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