Administração Pública

Aidan amestrado

DANIEL LIMA - 13/03/2009

Os contratempos eleitorais do candidato Aidan Ravin o tornaram um prefeito amestrado. Ainda há certa dúvida quanto às intenções da cavalaria de ex-aliados em direção ao Paço Municipal. Indicações sólidas dão como certo o amadurecimento de tratativas de bastidores que dificilmente deixariam de desembocar em acordo. Traduzindo para linguagem esterilizada de politiquês: as partes estão se acertando para ajustamentos providenciais. Tudo poderá terminar em pizza. Salvo, evidentemente, alguma bobagem de relacionamento muito difícil de ocorrer entre pessoas que visam interesse mútuo, mas não comum à sociedade. Há certeza e garantia de que, depois do susto de cisão irreversível, o prefeito petebista está adestradíssimo para praticar o que os mais hipócritas chamam de jogo de cintura inerente da política. Já os mais cortantes preferem dar a dimensão de derrubada da Bastilha às iniciativas que culminariam com a pacificação.


O jogo ainda não chegou ao final, evidentemente. Há movimentação de peças só imperceptível para quem não aprendeu a decifrar as entrelinhas dos jornais impressos e virtuais. A falta de apetite dos petistas que de fato poderiam colocar Vanderlei Siraque no poder alguns meses depois da surpreendente derrota e a impossibilidade de Raimundo Salles obter qualquer vantagem judicial pós-eleitoral, porque não foi para o segundo turno, bem como o desfazimento do nariz arrebitado demais de Aidan Ravin e de alguns de seus mais próximos assessores, colocaram praticamente um ponto final técnico na questão.


Isso não significa, entretanto, que Aidan Ravin tenha resolvido ou está para resolver todos os problemas. A governabilidade que imagina estar em fase final de recuperação poderá ser efêmera e, mais que isso, possivelmente jamais terá o potencial de brilho que se apregoava ao assumir o cargo. Principalmente se o petebista tiver ataques de estrelismo. Ou então se os muitos aliados de última hora, esfomeados repartidores do butim municipal, lhe passarem a perna diante de qualquer contrariedade mais aguda.


Que fique bem claro que nada ainda garante que Aidan Ravin tenha se livrado do pepino que cultivou durante a campanha eleitoral. Por mais que os encaminhamentos direcionem-se para armistício duradouro ou não, repito, à última hora é sempre possível que alguém lhe trance as pernas. Trançar as pernas é apenas uma metáfora. De fato, Aidan Ravin exibe aquela posição nada nobre de quem está apanhando o sabonete da governabilidade a qualquer custo — principalmente a qualquer custo. A especialidade do Paço Municipal nos próximos tempos poderá ser um festival de vaselinagem.


A prometida temporada de pauleira administrativa esfacelou-se com a propagação intensa de desvios do financiamento da campanha que — repito em relação a outros artigos — é um dos fatos mais rotineiros do mundo político nacional e internacional. A diferença é que poucos se deixam documentar com tamanha facilidade por apoiadores traídos.


O prefeito de Santo André que prometeu fazer uma gestão restauradora sabe que está comprometido demais com vários grupos que foram ao ataque ao perceberem o grau de isolamento em que ficou depois dos primeiros rumores de iminência de um escândalo eleitoral. Gostem ou não os puristas da democracia esse de fato é o preço que se paga quando se coloca no poder um candidato com as características de Aidan Ravin — e não vai nisso necessariamente nenhum juízo de valor pessoal. O complicador de Aidan Ravin é que não tem massa crítica para implementar um governo que rivalizasse com aquilo no qual o PT é extravagantemente fértil, ou seja, a densidade de representação social. O erro do prefeito de Santo André foi deixar-se embalar pela certeza de que a vitória o credenciou a tornar-se maior que o partido que o antecedeu durante 12 anos seguidos. E que, também, os aliados que agora tenta recuperar seriam descartáveis.


A piada que mais corre no Paço Municipal envolve o nome de um dos ex-aliados que se revoltaram com a recusa de Aidan Ravin de cumprir compromissos de campanha. Dizem que basta alguém falar em nome desse ex-correligionário que uma das centenas de vagas de comissionados será imediatamente preenchida. Mas tudo isso não passa mesmo de varejismo, porque o grosso da administração municipal é mais em cima. O gabinete do chefe de Executivo de Santo André foi tomado por retardatários, petebistas desde criancinhas.


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