A bancada petista de vereadores de Santo André soltou no campo aberto de complicações para o prefeito Aidan Ravin, ontem à tarde, apenas um viralatas de irregularidades da campanha eleitoral do ano passado. O erro de Aidan Ravin é imaginar que o viralatas que lhe morde os calcanhares é tudo que os adversários possam ter para provar irregularidades de financiamento de campanha. Há uma matilha com variedade de raças mais nobres e mais ferozes pronta para ser liberada por ex-aliados do petebista. Aidan Ravin sabe disso e aos assessores mais diretos reconhece que, por mais proteção que venha a utilizar, as vestimentas por enquanto apenas levemente avariadas pelo viralatas não suportariam rottweilers e buldogues. Há quem afirme que, para agravar ainda mais a situação, ex-aliados estão prontos para liberar enxame de abelhas africanas. A dúvida é se a operação antecederá ou sucederá a soltura de cachorros.
De fato, de fato, o que a bancada petista apresentou ontem à tarde ao Ministério Público Eleitoral, em São Paulo, não tem a contundência do conjunto da obra ainda protegido. A representação exige investigações sobre o que os petistas chamam de fatos graves ocorridos durante as eleições do ano passado.
A diferença entre o material juntado e o arsenal de ex-aliados de Aidan Ravin que ficaram a ver navios depois das eleições é que os segundos têm mesmo chumbo grosso que dispensariam maiores investigações e, principalmente, aniquilariam com evasivas de defesa.
São elementos comprobatórios de que a campanha rumo ao Paço Municipal não foi tão franciscana quanto afirma o prefeito eleito. Ninguém sai de 22% dos votos no primeiro turno para uma avassaladora reviravolta sem muito dinheiro, força motriz de mobilizações.
Entretanto, a possibilidade de que a iniciativa petista se transforme em bumerangue não está descartada. Os vereadores de oposição ao governo Aidan Ravin podem mesmo ficar com a brocha na mão e darem munição retórica para o prefeito de Santo André propagandear — como o faz no Diário do Grande ABC de hoje — que está sendo vítima de maus perdedores. De vilão, viraria herói.
Não falta, por isso, quem entenda que houve precipitação petista, principalmente porque nenhum dos seis vereadores conta com elementos materiais rigorosamente implacáveis para prostrar a administração de Aidan Ravin, levando-o ao impeachment.
Como tudo na vida que precisa ser bem explicado, o desenrolar dos acontecimentos ilícitos que marcaram a campanha de Aidan Ravin em termos de financiamento eleitoral forma um conjunto harmônico de dados, de informações, de provas. A ação petista no Ministério Público Eleitoral reúne apenas alguns fragmentos e, como tal, prescinde de mais elementos. Isoladamente, pode ser facilmente bombardeada e desqualificada.
Entrelaçada com outros fatos e provas, a iniciativa ganha veracidade e contundência e, por extensão, poder explosivo. Daí a metáfora de viralatas e outros cachorros mais graduados. Com todo respeito que me merecem os viralatas pela comparação; até porque, do contrário, estaria frito diante de minha filha mais velha, alma generosíssima com os animais sem vistosas patentes genealógicas.
O ataque frontal do PT de Santo André ao prefeito Aidan Ravin não soa inteiramente desastrado para quem entende que, graças à medida, não há mais como segurar eventuais desencadeamentos do arranjo eleitoral que contou com altas autoridades tucanas e assemelhadas do Estado.
Agora, a situação se apresenta da seguinte forma: ou o prefeito Aidan Ravin cumpre mesmo que atrasadamente a agenda de recompensa a quem participou ativamente da campanha eleitoral (há farta documentação comprovando a intimidade das relações entre apoiadores e candidato) ou a cachorrada vai mesmo a campo. E aí será um inferno.
Pouco adiantará, nesse caso, o aparentemente único argumento do prefeito de Santo André à retidão da disputa em que se meteu, no caso a declaração de que o Tribunal Regional Eleitoral aprovou todas as contas da campanha. Aidan Ravin sabe tanto quanto os especialistas que o TRE aprova sim todas as contas formalmente corretas, até que eventualmente reformule posição diante do apontamento de irregularidades. Nada diferente do futebol, por exemplo. Qualquer árbitro pode validar um gol em completo impedimento, até que o bandeirinha lhe chame a atenção para o deslize. A legalidade de uma vitória eleitoral não se esgota com a diplomação e mesmo com a posse dos vencedores, como provam vários exemplos recentes na política nacional.
Para completar, sugiro aos leitores deste espaço uma leitura atenta dos jornais impressos e virtuais que circulam no Grande ABC. Não só a leitura, mas a estratégia de edição de cada material jornalístico. Diário do Grande ABC, Repórter Diário e ABCD Maior dão tratamento complementa diferente, mas deixo os leitores à vontade para eventuais interpretações.
Sem que a observação que se segue tenha qualquer intenção de desmerecer a individualidade desses veículos, diria que faltou a todos exatamente o que reúno neste texto. Sabem o que? O mote é simples e direto: o PT de Santo André abriu uma temporada de contestação legal à vitória de Aidan Ravin nas eleições do ano passado e a partir de agora tudo pode acontecer, ou seja, tanto o esvaziamento do ataque por conta de reaproximação entre ex-aliados e o prefeito eleito como a aproximação formal e estratégica entre ex-aliados e os petistas, com possibilidades de estilhaços incontroláveis.
E existe mais um ponto sobre o qual escreverei qualquer dia desses: há agrupamentos petistas no Grande ABC contrários à derrubada de Aidan Ravin, entre outros motivos porque enxergam uma floresta de oportunidades conjuntas, não apenas uma árvore de avanço circunstancial.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ