O Grande ABC que vai às urnas neste domingo para definir em segundo turno a geopolítica regional será mais amarelado ou mais avermelhado do que saiu das urnas no primeiro turno? O que saiu das urnas no primeiro turno foi um amarelado forte em Santo André, São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Em todos esses municípios o PT não chegou a uma Prefeitura. O PT é o avermelhado. Os demais são amarelados.
Agora os avermelhados petistas têm duas possibilidades de manter o que têm desde 2020: em Diadema e em Mauá. O PT está barrado do baile no mais estilizado vermelho da praça regional e uma das principiais praças do País, na São Bernardo do domicilio eleitoral e sindical do presidente Lula da Silva.
Levando-se em conta que os três endereços de segundo turno deste domingo representam 63% do PIB do Grande ABC, o que esperar dos resultados, considerando-se a possibilidade de o PT seguir nas cidadelas de Diadema e de Mauá?
Teremos a contragosto dos radicais conservadores (os quais devem ser respeitados no direito de pretenderem o que quiserem em termos de representação) a possibilidade de sustentação de tons vermelhos que manteriam a participação de 15% dos petistas no PIB do Grande ABC? É pouco para quem já contou com mais de 80%, mas é melhor do que nada.
MISTURA COMPLICADA
Misturar resultado eleitoral com desempenho econômico em forma de PIB talvez não seja o mais interessante quanto se sabe que a ordem dos fatores econômicos e políticos no Grande ABC é uma barafunda.
Só valeria mesmo se houvesse regionalismo e variáveis inquestionáveis. Aí o balanço de riquezas daqui e dali dentro de uma mesma geografia seria objeto de avaliações. Como no Grande ABC se vive divisionismo municipalista dilacerante, o que teremos ao fim da contagem dos votos é uma colcha de retalhos em forma de perspectivas institucionais.
Não contamos no momento com cara alguma de ter preferência por alguma coisa que lembre as grandes batalhas ideológicas. Temários conservadores e temários esquerdistas não passam de ensaios mal-ajambrados na região. Prefeitos são integrantes de terceiro escalação no mapa de decisões dos Executivos Públicos. São pragmáticos por natureza e sobrevivência.
Se a fragmentação institucional da região vem do passado e mesmo durante o período em que o PT chegou a comandar cinco prefeituras e se também foi assim quando o PT simplesmente ficou sem prefeitura, por que seria diferente agora se não há nada a apontar um horizonte diferente?
O QUE MUDARIA?
Não vamos avançar nessa temática agora. O melhor mesmo é centrar fogo nos potenciais rescaldos dos resultados deste domingo. Com possíveis dois prefeitos petistas entre os sete prefeitos o Grande ABC poderá manter alguma coisa em forma de diversidade conflitante mas não desclassificatória de pensamento e de ações. Melhor diversidade conflitante e prospectiva do que uniformidade acomodatícia.
Não esperem o milagre da multiplicação dos pães de bom-mocismo e integracionismo dos prefeitos que vão compor o novo Clube dos Prefeitos porque o Clube dos Prefeitos há muito vive experiência de suposta diversidade cromática e nem por isso deixa de ser o que é, ou seja, um desfile impune de desperdícios.
O Clube dos Prefeitos dos primeiros tempos do Clube dos Prefeitos estava longe de ser o que imaginou Celso Daniel, mas também não era a avacalhação político-partidária sob influência do prefeito Paulinho Serra. O organismo passou a integrar o portfólio de carreirismo do tucano. Já escrevi sobre isso.
DE VOLTA AO CLUBE
O candidato Marcelo Lima, favorito ao comando da Prefeitura mais rica do Grande ABC (mais rica em números orçamentários, porque no campo social os desafios são enormes) já anunciou que pretende recolocar São Bernardo no também chamado Consórcio de Prefeitos.
Ninguém perguntou a ele e talvez nem tenha sido o momento, mas é preciso entender o que levaria o eventual prefeito a reconsiderar o que o antecessor e apoiador, Orlando Morando, levou em conta para romper com os atuais ocupantes.
Tite Campanella, prefeito eleito em São Caetano, ainda não teria anunciado retorno, mas está na mesma situação de Marcelo Lima, ou seja, precisará ter um entendimento com José Auricchio, prefeito que colocou toda a máquina pública para fazer o sucessor.
Uma coisa é certa se o foco principal for o que jamais foi o principal interesse dos prefeitos que se ocuparam da regionalidade, exceto um e outro, como Celso Daniel: a retomada de um grupamento de sete prefeitos não pode nem deve ser ação burocrática, formal, protocolar , supostamente restauradora de uma unidade que jamais existiu, embora muitos caiam nessa besteiragem.
PARA ESPECIALISTAS
O que fazer então? Já cansei de escrever sobre isso e resumo na seguinte resposta: reestruturem a organização deixada por Celso Daniel que muito antes de morrer pretendia reformas conceituais, estruturais e funcionais.
Para que a nova composição dos prefeitos eleitos que vão se juntar no Clube dos Prefeitos não seja apenas a extensão de um passado de mais de 30 anos de absoluto desprezo pelo futuro em forma de Desenvolvimento Econômico integrado, a primeira decisão que deveria ser tomada, portanto, caminharia no sentido de debater uma pauta enxuta em torno de uma busca incessante primeiro pelo estancamento do aumento da pobreza na região, derivada do declínio econômico, e em seguida, no uso de armamento técnico integrado por agentes locais e de consultorias consagradas. Fora isso, e repito isso há muito tempo, colecionaremos mais decepções.
Acho muito difícil que os novos prefeitos, como os prefeitos anteriores, tenham essa percepção de urgência cada vez mais grave. O erro de todos ao longo dos tempos foi o desprezo ao planejamento coletivo regional. Cada um sempre puxou a sardinha de necessidades locais para a brasa do individualismo de iniciativas que acentuaram fissuras de um regionalismo que é a única saída Ao rompimento com perdas que impactam diretamente quase três milhões de habitantes.
Sejam quais forem os novos vencedores do baralho de cartas eleitorais do Grande ABC neste domingo, o que se traça para o futuro próximo é a extensão da mesma linha de preocupação com as esgarçadas possiblidades de mudanças para valer.
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18/12/2024 MARCELO MORANDO LIMA NÃO SERIA GILVAN SERRA