Grande parte do secretariado de Luiz Marinho forma o que chamaria de Série A. Já os nomes, quase todos, da administração Aidan Ravin, não passa de Série B.
Essa é a principal diferença entre um prefeito que quer ser governador e um prefeito que ainda comemora o lucro da eleição inesperada e, portanto, traça perspectivas bem menos impactantes, por mais que, supostamente, sejam interessantes.
As circunstâncias e os objetivos colocam Luiz Marinho como cheff de um restaurante refinado, enquanto a Aidan Ravin basta o básico de arroz, feijão e um bife bem passado, com direito a salada de alface, da padaria ali da esquina.
Luiz Marinho é candidatíssimo a Marinho Daniel, ou seja, a ocupar um espaço petista de liderança regional que o então prefeito de Santo André exerceu com competência. Mas terá de ir ao extremo na característica que mais o enobrece: uma capacidade imensa de articulação entre iguais e diferentes, distribuindo funções sem perder o controle do processo. Marinho Daniel é melhor do que parece.
Há quem tema e não deixe de especular sobre até que ponto Luiz Marinho teria o controle da situação de descentralizar e monitorar, quando a maioria dos comandantes públicos não abre mão do autoritarismo ditado pela hierarquia conferida pelos votos.
Quem o acompanhou na carreira sindical da sempre combativa CUT, as andanças como ministro do governo Lula da Silva e também a campanha eleitoral que o consagrou prefeito de São Bernardo fornece um atestado que arrasa com os argumentos dos céticos: Marinho é tão discreto quanto incisivo.
Embora se inspire em pontos cardeais da administração Celso Daniel, razão pela qual atraiu para o secretariado e também para a assessoria mais íntima antigos colaboradores do prefeito ainda insubstituível no Grande ABC, Marinho Daniel tem estilo menos exuberante no conteúdo e aparentemente mais prático na forma.
Trocando em miúdos: Marinho Daniel difere de Celso Daniel na interlocução menos rebuscada e estruturada sob conceitos consagradas na literatura, mas as lides sindicais o treinaram para manter em torno de si a atenção forjada entre outras qualificações por um paradoxo: seu carisma é tão sutil e despojado que à primeira audição e visão o torna um interlocutor a mais num grupo deliberativo ou consultivo. Entretanto, na medida em que evolui nas ponderações, o direcionamento de intervenções ganha novas luzes.
Marinho Daniel não tem a eloquência verbal e o arcabouço teórico de Celso Daniel, porque seus mundos sempre foram diferentes, apenas ajustados e sobrepostos na ideologia petista, mas o contraste não o coloca necessariamente em desvantagem porque, repito, Marinho Daniel asfixia a lógica de que para reunir seguidores e admiradores é fundamental ter charme de líder. Mais que isso: Marinho é a prova provada de que liderança não tem protótipo, não se faz necessariamente com estridência ou com quietude ajuizada; é uma questão que transcende padrões esquadrinhados pela simplicidade rasa dos ignorantes.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ