Entrevista Especial

Chorar por indústria
não resolve o problema

MALU MARCOCCIA - 05/06/2000

Como uma jovem que quer ser cortejada, Santo André passa por verdadeira plástica urbana e rediscute o perfil econômico com intuito de seduzir investidores e resgatar a autoestima fraturada com a evasão industrial. A administração do PT, pela segunda vez no timão da cidade, deixou ideologia de lado e faz várias alianças com a livre iniciativa para intervenções urbanísticas que almejam transformar o Município em um polo metropolitano de serviços, cultura, lazer e equipamentos urbanos de qualidade.


O modelo de infraestrutura ficou inadequado para as demandas de uma cidade que caminha francamente para o setor terciário e de um aglomerado de 625 mil habitantes que em breve bate na casa do milhão, projeta o arquiteto e urbanista Klinger Luiz de Oliveira Sousa, ex-secretário de Serviços Municipais e homem forte nas duas gestões do prefeito Celso Daniel.


Klinger faz críticas às administrações que não prepararam a cidade para esse crescimento e para as transformações da globalização. Diz que a aposta no terciário é inapelável: “Jamais voltaremos ao parque fabril e ao emprego industrial do passado”. E faz ressalvas à integração ainda frágil do Grande ABC: “Há uma cultura de os prefeitos pensarem e planejarem somente suas cidades”.


Não é só Santo André que se transforma. Afastado do Executivo em campanha por uma vaga de vereador na próxima eleição e às vésperas de completar 37 anos, Klinger também promove revisão espiritual que inclui até consulta a um numerólogo. Tirar Proveito De Seus Inimigos, livro que o filósofo grego Plutarco escreveu no século I, e A Arte da Prudência, do pensador Baltazar Gracian, são reveladores do desconhecido lado místico desse maranhense de São Luiz que se formou no Rio de Janeiro e que sempre fez da literatura técnica companheira inseparável.


Por que só agora Santo André se mobiliza intensamente em torno de reestruturação urbana, programas de inclusão social, rediscussão da vocação econômica etc? A mesma equipe governou o Município no início dos anos 90, quando a globalização já mostrava os dentes e a crise brasileira fazia a cidade perder gordas arrecadações.


Klinger de Oliveira Sousa – São dois momentos muito diferentes desse grupo político e de abordagem da cidade. Na primeira administração, Celso Daniel pautava-se naquilo que o PT rotulava como perfil de atuação pública. Foi a grande safra de administradores do PT depois de experiências isoladas em 1982 com Gilson Menezes em Diadema e Maria Luiza Fontenelle em Fortaleza (CE). Em 88, o PT partiu de fato para a administração de cidades e a orientação era promover inversão de prioridades. Significava, acima de tudo, governar para os mais pobres. Nada de grandes obras, mas sim pequenas intervenções na periferia, investimentos em saúde, em programas de participação popular, de estruturação de renda e na assistência social. Totalmente oposto à visão militar do Brasil Grande, de desenvolvimento para fazer o bolo crescer e depois dividir. A prioridade do PT era inversa: fazer o governo gastar para reverter o modelo excludente. Não havia nenhuma preocupação com a questão econômica da cidade. Não se entendia, como hoje, que o Poder Público local poderia ter papel importante no desenvolvimento econômico.


No governo atual, quando começamos a elaborar a plataforma em 1996, a questão econômica passou para a linha de frente das preocupações do candidato Celso Daniel. Como deputado federal, ele havia escrito o primeiro documento em Brasília relatando o esvaziamento do ABC pela evasão de indústrias. Localizou o início desse processo no final da década de 70 e situou o problema como mais grave em Santo André, onde começou a industrialização da região, antes do boom automotivo que deslocou o eixo industrial para São Bernardo e Diadema, nos anos 50.


Na década de 20 já tínhamos em Santo André indústrias química-petroquímica, têxteis, de fertilizante e de plásticos. Por isso, a reestruturação em Santo André ocorreu antes, as perdas foram maiores no Município, mas as soluções também vieram antes e se espalharam pelo conjunto do Grande ABC até a questão ser alçada à prioridade de instâncias como Consórcio de Prefeitos e Câmara Regional.


A evasão industrial desafia a Região Metropolitana como um todo e Santo André tenta apegar-se a uma bóia salvadora com a recente Lei de Desenvolvimento Industrial, que libera empreendimentos em qualquer localidade. O que o senhor pensa exatamente sobre a debandada industrial?


Klinger – A desindustrialização é produto da falência de um modelo de desenvolvimento econômico a qualquer custo, do Brasil Grande. As indústrias hoje são outras, precisam de outro tipo de infraestrutura e de qualidade de vida, pedem outro perfil de cidade. Quando assumimos pela segunda vez, em 1997, Santo André tinha 625 mil habitantes de alto poder aquisitivo, mas um Centro urbano de cidade de 150 mil moradores, com parte da infraestrutura absolutamente atrofiada, montada para grandes fábricas, não para a pequena e média indústria e para o desenvolvimento de um setor terciário de ponta.


Mão-de-obra cara, sindicalismo exigente e infraestrutura caótica não influenciaram na fuga?


Klinger – É evidente que esses fatores combinados trazem deseconomias para a instalação ou expansão de indústrias. Não acredito, entretanto, que tenham sido causa determinante da evasão. Acho que houve esgotamento da cadeia produtiva do primeiro ciclo da indústria, notadamente a têxtil e de fertilizantes, que se situava em áreas urbanas muito próximas ao Centro e, por isso, muito valorizadas. Economicamente recomendavam outros usos, levando ao deslocamento regional das indústrias.


A qualificação da mão-de-obra, apesar do custo, não foi suficientemente forte para suplantar dificuldades como menor qualidade de vida — cada vez mais considerada pelo empreendedor quando escolhe novo local para seu negócio –, aumento do preço do metro quadrado urbano, desperdício de tempo no transporte etc. Somemos a isso a guerra fiscal de outras regiões do País, a total ausência de política econômica das prefeituras da região e do próprio Estado.


Afinal, Custo ABC é mito ou realidade?


Klinger – Não dá para desconsiderar que o Custo ABC é uma realidade. A ficção foi imaginar que esse custo era prioritariamente decorrente de conquistas sindicais, portanto, ligado exclusivamente ao preço da mão-de-obra. A ideia de Custo ABC foi prejudicial à região, pois enviesou por muitos anos as ações de recuperação econômica. Todos só se debatiam sobre o custo da mão-de-obra e a atuação sindical, ou mesmo sobre guerra fiscal. Se o diagnóstico preponderante fosse o da economia como um todo, analisando as indústrias que saíam mas também as que chegavam e as que poderiam vir pelas vantagens do Grande ABC, talvez tivéssemos radiografado mais precocemente a reestruturação econômica para atenuar os efeitos negativos e potencializar os positivos.


Faltou planejamento?


Klinger – Faltou lá no passado, muito antes da reestruturação com a globalização dos anos 90. Na verdade, o mercado esgarçou de vez o modelo que já estava se esgotando, mas que sucessivos administradores públicos iam esticando, até a hora em que ficamos na seguinte situação objetiva: grandes áreas industriais localizadas em regiões absolutamente nobres, com infraestrutura, núcleos residenciais e setor terciário pressionando, e a indústria precisando se remodelar.


Não houve planejamento lá atrás criando um espaço nitidamente industrial na cidade ou no Grande ABC que pudesse concentrar as novas necessidades da produção. Isso se aliou à própria reestruturação tecnológica pela competitividade. A indústria passou a ter outras exigências. Veja São Carlos: as indústrias começaram a verificar a vantagem competitiva em se localizar num polo que tivesse pesquisa de ponta, e nós não tínhamos. Não vislumbramos no passado que precisávamos preparar um berço de pesquisas, uma universidade vocacionada para o ABC.


Há aposta exagerada no poderio do setor terciário em substituição ao industrial, mas os números são implacáveis: Santo André perdeu dois terços de ICMS nas duas últimas décadas e não há comércio ou prestador de serviços que reponha isso no curto prazo. Questiona-se se, em vez de investir em coqueiros pela cidade e na recuperação do Parque Duque de Caxias para praticantes de cooper, a prioridade não é rediscutir seriamente o perfil econômico: incentivar setores estratégicos, como o da pesquisa, e dar mão forte ao pequeno varejo, esmagado por grandes redes.


Klinger – Não há dúvida de que, no campo da receita do Poder Público e da renda do cidadão, não há substituição à altura do setor industrial. Serviços e comércio agregam pouco à cota de participação do ICMS dos municípios e à renda. Onde o trabalho agrega menos, vale menos, daí os salários menores no terciário. Quando Santo André põe o foco no terciário, não está apostando numa troca compensatória. Está buscando alternativa para um fato consumado: é impossível retornar ao parque fabril e ao emprego industrial do passado.


Mas as pessoas precisam ter emprego, comprar na região, fazer o mercado girar. O tempo vai julgar se a aposta é a mais acertada, porém é a mais lógica porque está pautada em três elementos: primeiro, no aproveitamento do residual de boa renda da cidade e do Grande ABC para preencher a lacuna da indústria com a atração de um forte terciário; segundo, a realização de esforços para manter as indústrias que ficaram e derrubar barreiras para trazer novas.


Sabemos que as indústrias estão mais enxutas no emprego e nas atividades, preferindo descentralizar as plantas, mas podem contribuir para preencher o vazio que ficou das grandes corporações e para uma nova economia de escala para a cidade. Por isso temos a Lei de Desenvolvimento Industrial, por isso reunimos esforços para implantar o Eixo Tamanduathey.


Não seria o caso de focar um setor referência, como São Carlos fez ao tornar-se um polo de inteligência incentivando a pesquisa e empresas de tecnologia?


Klinger – Seria interessante se tivéssemos condições de caminhar para isso, porque a especialização produtiva é uma vantagem competitiva. Seria um sonho recuperar a dinâmica econômica e ao mesmo tempo ganhar expertise em um setor. Só acho difícil fazê-lo neste momento. Ouvi falar em cluster de vestuário. É uma pista. Mas tenho dúvidas se vamos conseguir tudo isso ao mesmo tempo.


Voltando ao terceiro pilar da aposta no setor terciário…


Klinger – O terceiro elemento é o que você colocou, de fortalecer o comércio, que também ganhou a Lei de Desenvolvimento Comercial, e enfatizar o pequeno varejo. Estamos com ações conjugadas exatamente buscando a recuperação dos centros comerciais. No sentido geográfico, a aposta macroeconômica é tornar Santo André um polo metropolitano de serviços e a aposta microeconômica é ter vários centros de bairros na periferia. É o conceito da cidade policêntrica: uma cidade com um centro forte e dinâmico, dois centros de bairros mais pujantes e alguns centros satélites em torno. Para isso, precisamos garantir qualificação do pequeno varejista, competitividade, qualidade de mix e de atendimento, e isso as entidades de classe estão providenciando. O Poder Público faz sua parte na infraestrutura física e urbanística.


Daí a tese de a plástica na imagem ser tão fundamental quanto uma discussão séria sobre o relançamento econômico?


Klinger – Uma coisa leva a outra. Quando começamos a trabalhar a marca Cidade Agradável, o sentido principal era reestruturar a infraestrutura, recuperar urbanisticamente o Município e prepará-lo para novo surto de desenvolvimento. O que as pessoas chamam de embelezamento tem o sentido de atrair novos negócios. Mais do que isso, a reurbanização quer resgatar a autoestima de prosperidade, perdida com a evasão das fábricas. A ideia é reinjetar o desenvolvimento dos negócios na cidade com novo mix de produtos. Primeiro, focando áreas centrais densas, como o Centro, Santa Terezinha e Vila Luzita, dentro da perspectiva da cidade policêntrica. Outro plano de ação é o Eixo Tamanduathey, que busca transformar Santo André num novo polo metropolitano de serviços, lazer, cultura e espaços urbanos de qualidade.


A expectativa é atrair recursos de fora do lastro econômico da cidade?


Klinger – Precisamos trazer capitais que não estão presentes hoje nos nossos empreendedores. São exemplos a Cidade Pirelli e a Rodoviária de Santo André. A nova rodoviária é uma aposta na recuperação de um eixo urbano por meio de um equipamento regional. O terminal fez o Município pular a oferta de viagens de 43 para 143 por dia, ou seja, mais ônibus, mais empresas, mais negócios, mais circulação de pessoas que iam até São Paulo para viajar para outras cidades e Estados. Isso gera renda que não foi originada aqui, mas que veio para cá.


Outro exemplo: se criarmos um grande museu em Santo André, como fez Bilbao, na Espanha, atrairíamos centenas de pessoas da Região Metropolitana para consumir esse negócio cultural. Sempre exportamos renda com nosso morador consumindo fora. Está na hora de o Grande ABC reagrupar renda. Para isso, é fundamental a intervenção plástica para atrair investidores e novos consumidores. Temos graves fatores de constrangimento na infraestrutura. As chuvas no Centro inviabilizavam o ABC Plaza Shopping, equipamento de compras e lazer importante para qualquer cidade.


Resolver constrangimentos de infraestrutura há muito tempo condiciona o mundo econômico. Por isso as empresas se foram.


Klinger – A cidade não se preparou para o crescimento, daí o esforço atual para resgatar o que for possível. Veja a Avenida Industrial. Não era possível manter deteriorada uma avenida que é o próprio vetor do Município. O Centro de Santo André, constrangido pela linha ferroviária e pela Avenida Perimetral, só pode crescer para dois lados: para o Casa Branca, que está debaixo d’água, ou para a Avenida Industrial, sucateada. A aposta inicial foi a remodelação da Industrial e agora vamos secar o Centro, hoje um pedaço do Bairro Jardim. O futuro Centro de Santo André será uma região expandida que vai do Viaduto Castelo Branco até a Avenida Santos Dumont. Isso é o Centro de uma cidade de milhões de habitantes, em breve.


Partidos de esquerda ainda torcem o nariz para a iniciativa privada. O que representa para o PT de Santo André aliar-se a empreendedores particulares para deslanchar ações como a urbanização da Avenida Industrial em parceria com o ABC Plaza e a UniABC, a Casa Abrigo que a Itororó Habitações erguerá em troca de um flat na Avenida Portugal e a Cidade Pirelli, que vai resgatar considerável pedaço do Município?


Klinger – Mudaram o PT, os empresários e o modelo de gestão pública. Havia preconceito recíproco: de um partido operário que tinha na luta de classes o mote de aglomeração no passado, e dos empresários, de achar que estávamos atrás do patrimônio deles para dividir. O PT perdeu muito do preconceito porque saiu dos sindicatos industriais e passou a ser efetivamente partido de trabalhadores, com espaço na sociedade, nas universidades e na representação de trabalhadores do comércio, dos bancos etc. Os empresários passaram a se relacionar com o partido no campo pragmático, não no ideológico. As parcerias foram absolutamente fundamentais na gestão de Santo André.


Nos últimos três anos e meio tivemos investimentos maiores que nos últimos 10 anos. O corredor da Vila Luzita, por exemplo, é investimento de R$ 18 milhões da livre iniciativa. É capital privado fazendo via pública, construindo rodoviária e equipamento de caráter social, e a Prefeitura viabilizando negócios, abrindo rua para shopping e urbanizando espaços que beneficiam iniciativas particulares.


Santo André também inova ao buscar financiamentos externos e experiências de fora. O prefeito Celso Daniel tem sido contumaz em viagens e em promover encontros internacionais no Município. O Eixo Tamanduathey é emblemático. Estamos pobres também de gestores públicos?


Klinger – Pelo contrário. Aproveitar o que há de melhor em experiências dos outros é dar um passo além, significa não ficar partindo do zero o tempo inteiro. Fomos buscar na Europa modelos de redesenvolvimento de cidades justamente para sair dessa inexorabilidade, achando que as coisas vão se ajeitar com o tempo. Não! Queremos mudar já o estado de coisas. O boom de desenvolvimento de Barcelona partiu de uma ação — as Olimpíadas — que mobilizou experiência muito rica. Por isso trouxemos o Jordi Borjas, em parceria com a Raquel Rolnik, para dar a consultoria que originou o Eixo Tamanduathey. Convidamos mais três arquitetos internacionais em parcerias com arquitetos nacionais, aos quais se juntou uma quarta equipe 100% nacional. Produziram projetos riquíssimos em ideias para nosso mais importante modelo de desenvolvimento urbano-econômico.


O estudo Cenário Para Um Futuro Desejado, que consolida projetos para até 2020, trabalha exatamente sobre esse conceito: cenário desejado. É transformar Santo André num pedaço de paraíso em se tratando de segurança, emprego e educação para todos, serviços de primeira linha, espaços urbanos qualificados etc. Qual o risco de o projeto ser interrompido por disputas políticas?


Klinger – O risco é diretamente proporcional à ausência de outros atores que não o ator público. Estamos nos esforçando para construir um processo com intensa participação comunitária, porque só isso garante a irreversibilidade dos projetos. Se o Cidade Futuro for identificado como projeto do Celso Daniel ou do PT, morre. Se for absorvido pela sociedade, pelos empresários, pelos formadores de opinião, torna-se inexorável.


Que avaliação histórica o senhor faz dos administradores públicos do Grande ABC? Temos defendido a tese de que faltou visão estratégica à região. Prevaleceu a ótica municipalista — mesmo assim, sem que os sete prefeitos e legisladores se dessem conta de que o desenvolvimento compulsório poderia ser atropelado por circunstâncias locais, nacionais e internacionais e que chegaria o dia, como chegou, de ser preciso induzir o fortalecimento econômico.


Klinger – A integração do Grande ABC teve início com o Consórcio Intermunicipal de Prefeitos em 1991 e veio questionar o processo extremamente infeliz da Região Metropolitana. As regiões metropolitanas são boa ideia, mas foram impostas por um modelo que não justifica para quê e porque veio. São cidades conurbadas, porém sem propostas comuns e soluções integradas, a não ser algumas visando linhas de crédito e incentivos para atender interesses políticos. Nunca houve modelo de gestão metropolitana no Brasil que efetivamente integre o gestor metropolitano — o Estado — com gestores locais. O Consórcio de Prefeitos do Grande ABC questionou isso e avançou-se para a Câmara Regional colocando sociedade, empresários e Estado num ambiente de debate de problemas comuns.


Apesar disso, vale lembrar que num Estado federativo o Município é instância autônoma com prerrogativas de natureza local muito fortes. Há uma cultura de os prefeitos pensarem e planejarem somente suas cidades. Estabelecem fronteiras entre municípios ligados por ruas, por pequenas pontes e até praças que, para o morador, formam uma região só, sobretudo em um urbano monolítico como o Grande ABC. Falta muito para romper a lógica do administrador de que seu universo não é o Município, e sim o interesse dos administrados.


A mudança no campo governamental tem de ser como a mudança da livre iniciativa com a globalização. As empresas perceberam que o foco não era o produto feito da forma rápida e barata, mas o cliente. Passaram as atenções ao que o cliente queria, não ao que fabricavam. Falta um choque de globalização nos administradores públicos: pensar global e no interesse da população.


Como você interpreta o que chamamos de Complexo de Cinderela, um sentimento de inferioridade em relação à Capital? E como entende a reação a esse sentimento, que nos leva ao exagero do ufanismo? Nosso regionalismo não é um obstáculo para enxergar realidades que saltam aos olhos mais lúcidos?


Klinger – O Eixo Tamanduathey é uma das respostas ao Complexo de Cinderela no sentido de mostrar que enxergamos nossos problemas e procuramos alternativas para realimentar a economia. Uma forte resposta à Capital será o aquecimento vigoroso da indústria do lazer no Grande ABC. Repito que exportamos o melhor de nossa renda, aquela destinada ao consumo da cultura e do entretenimento, exatamente porque a região não desenvolveu o negócio do lazer que prospera nas principais metrópoles do mundo. Vamos desmontar esse sentimento de inferioridade pensando grande, fazendo shows metropolitanos, atraindo eventos de porte.


Duas grandes polêmicas de Santo André têm sua marca: os radares eletrônicos, que criaram a chamada indústria das multas, e o aterro do Guaraciaba. Como se sente sendo visto como o homem das multas e do lixão do Município?


Klinger – Diria que faltou tempo para mostrar o acerto das medidas e encaminhar uma política voltada a mudar hábitos. Com o controle eletrônico de velocidade implantado em 1998, saímos de 12,3 mil acidentes de trânsito em 1997 para 11,2 mil em 1999, período em que a frota cresceu de 267 mil veículos para 290 mil. O número de vítimas fatais caiu 20% em 98 e o de feridos, 13%. No ano passado, 73% dos veículos não tomaram nenhuma multa. Sei que a multa é uma agressão, ofende, mas muda o comportamento transgressor. A informação e a educação para o trânsito são importantes, porém lentas. Garanto que não há quem lembre das várias campanhas que fizemos sobre o novo Código de Trânsito Brasileiro. Temos firme o desafio de mudar a cultura dessa respeitável minoria, já que os 27% dos carros multados representam famílias de boa renda. São carros das melhores marcas.


O Parque Guaraciaba terá essa determinação de postura?


Klinger – O Guaraciaba é menos uma questão de cultura e mais de pragmatismo. Santo André não tem como pagar o precatório de R$ 60 milhões pela desapropriação para viabilizar um parque ecológico na área. Seria o parque mais caro do mundo. São 512 mil metros quadrados de área, com 300 mil metros quadrados de uma lâmina d’água inaproveitada. Para viabilizar um parque no Guaraciaba, que consideramos fundamental à população, precisamos recortar o terreno: uma parte para o parque e outra para algum negócio que ajude a pagar o precatório. Um aterro sanitário com tecnologia que em nada lembra os lixões existentes é tão ou mais importante para o equilíbrio ambiental do que um, dois, 10 parques ecológicos. A proposta é simples: empresas interessadas pagam a parte maior do precatório para construirmos o parque e passam a ser donas do aterro. A polêmica não é ambiental. É acima de tudo econômica, porque toda vez que se inviabiliza um aterro em Santo André se consolida o monopólio de um único empreendedor cuidar do lixo das outras seis cidades da região.


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