O São Caetano encerrou participação na Série A do Campeonato Paulista com rendimento médio abaixo da expectativa. A equipe se safou do rebaixamento apenas na penúltima rodada, após improvável vitória ante o Santos de Neymar e Ganso. Algo semelhante à escapadela de rebaixamento na Série B do Brasileiro do ano passado quando, na penúltima rodada, de virada nos últimos cinco minutos, superou o Vitória
A irregularidade do São Caetano e os erros de avaliação de Márcio Araújo indicariam a troca de comando para a disputa da Série B do Campeonato Brasileiro, mas há compatibilidades espirituais entre o treinador e o presidente Nairo Ferreira a quilômetros de distância da racionalidade técnica. O São Caetano despediu-se do campeonato deste ano com o empate ontem em Guaratinguetá de
No geral, foram apenas cinco vitórias em 19 jogos. Ninguém empatou mais vezes (oito) e poucos fora da zona dos oito finalistas perderam menos (seis) que o São Caetano. Os 24 gols marcados colocam a equipe um pouco acima dos quatro rebaixados. Já os 25 gols sofridos instalam a equipe numa zona intermediária. Até melhor que Ponte Preta e Bragantino, entre os classificados. Tradução: o São Caetano circulou numa zona de mediocridade (no sentido lato do termo) da qual não se pode esperar alcance de projeções traçadas.
As perspectivas para o Campeonato Brasileiro não são as melhores. Principalmente porque falta ao grupo a alma da competitividade. Algo que religiosidade em doses cavalares acaba por minar nos campos de futebol, embora seja indispensável em outros ambientes. Não é por outra razão que o São Caetano, longe de ser um time de primeira linha, é campeão em disciplina, com baixa média de cartões amarelos e cartões vermelhos e reduzidíssima média de faltas cometidas por jogo. Se houvesse bonificação no regulamento para equipes com tamanha dose de fair-play, Márcio Araújo teria muito do que se orgulhar.
Irregularidade repetitiva
A inconstância do São Caetano, sempre com viés negativo, é marca registrada de Márcio Araújo desde que assumiu a equipe em situação de dificuldades na Série B do Brasileiro do ano passado. Não que fosse diferente antes. Trata-se de uma espécie de estigma que precisaria ser eliminado. Está na hora do São Caetano jogar partidas seguidas com qualidade e confiança. Mas o time peca sobretudo por manter monótono comportamento individual e coletivo. Raramente se empenha para valer na redução e na eliminação de espaços aos adversários. A qualidade técnica individual é sufocada pelo baixo empenho coletivo. Transpira-se debilidade de condicionamento físico. Tanto que raramente consegue jogar dois tempos no mesmo nível de intensidade.
O São Caetano terminou o Campeonato Paulista em situação parecida com a do fim do Brasileiro do ano passado: sem ter um esquema tático que possa ser chamado de seu. Nem faz do ataque a opção de resultados desejados nem se utiliza de contragolpes como alternativa fatal, exceto em algumas apresentações. O São Caetano é um time que não oferece consistência ofensiva que o diferencie das equipes que ocupam posições subalternas na classificação e tampouco se sobressai entre aqueles que sabem se defender.
O São Caetano vai entrar na Série B do Brasileiro com alguns reparos imediatos, de forma a, por volta de cumpridos 30% dos jogos, parar as máquinas para reavaliar as necessidades. Exceto no comando de ataque, onde se improvisou o meia-atacante Geovane por conta de contusão do titular e da opção imediata, há jogadores no elenco que podem dar respostas mais eficientes que alguns dos titulares eleitos por Márcio Araújo. Kleber teve oportunidades demais e rendimento de menos. Outros valores poderiam ser mais utilizados, como Ailton e Allan.
Conformismo demais
O problema nuclear do São Caetano não está no grupo de jogadores. O técnico Márcio Araújo é boa praça, consegue costurar ambiente saudável, mas transmite conceitos que não têm vez no mundo do futebol ou de qualquer atividade de egos aflorados. Pior: incorre em sucessivos erros de avaliação durante os jogos, com leituras equivocadas de mudanças necessárias. O desgaste físico e as oscilações técnico-táticos não recebem tratamento imediato de restauração do poder coletivo. O São Caetano cansou de perder pontos importantes no campeonato porque viu o adversário assumir o controle das ações e não reagiu no momento adequado.
As últimas entrevistas de Márcio Araújo são desanimadoras. Ele relaciona os maus resultados da equipe a suposto estreitamento do calendário. Acha que o grupo ainda não teve tempo para obter rendimento coletivo melhor. Quem acompanhou atentamente o campeonato sabe que Márcio Araújo está exagerando. O São Caetano safou-se da degola por conta de individualidades. Eli Sabiá, Moradei, Augusto Recife e Geovane, principalmente pela regularidade, seguraram as pontas. Coletivamente o São Caetano é um time que marca mal e ataca sem criatividade. Dá espaços aos contragolpes dos adversários e tem baixa letalidade ofensiva. Depende demais de poucos jogadores à funcionalidade do sistema ofensivo e do sistema defensivo. Não é um time na acepção do termo. Foram poucos os jogos em que houve integração entre defesa, meio de campo e ataque. Os setores são estanques, compartimentados. Quando os vasos passam a ser comunicantes, coisas boas acontecem. Os bons momentos do São Caetano no campeonato foram exceção.
Não foi por acaso que o São Caetano ganhou apenas 29% dos pontos disputados ante os oito finalistas, 41,6% ante os quatro rebaixados e 52% ante as sete equipes que nem chegaram lá nem foram para o inferno. No total, o índice de aproveitamento de 40,4% dos pontos ficou 20% abaixo do necessário para estar entre os oito melhores e apenas 21% acima da Portuguesa, primeira da zona de rebaixamento. São números mais que discretos – são preocupantes, quando se sabe que a Série B do Brasileiro está cada vez mais difícil.
O histórico de clubes rebaixados no futebol brasileiro e mesmo no futebol internacional contempla uma lógica que deveria inquietar o São Caetano quando se anuncia a manutenção de um técnico que todos provavelmente gostariam de ter como genro: a lógica que não se cai necessariamente de repente, mas quando a subida não tem sustentabilidade estrutural e a descida é uma ameaça permanente em temporadas seguidas. Caso como o da Portuguesa, de campeã da Série B do Brasileiro à rebaixada à Série B do Paulista em poucos meses, enquadra-se como exceção.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André