Esportes

Adivinhe quem é o responsável
pelo fracasso do ex-Ramalhão?

DANIEL LIMA - 29/10/2012

Compreende-se a omissão do Diário do Grande ABC em apontar nome e sobrenome da síntese do fracasso do ex-Ramalhão, transformado em Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva), rebaixado pela quinta fez em sete competições nas quais o empresário Ronan Maria Pinto comandou a terceirização do futebol da cidade. Dono do Diário do Grande ABC e temido por gregos e troianos na Província do Grande ABC, Ronan Maria Pinto constrange a equipe de jornalistas do jornal que ele adquiriu há oito anos. Mais que omitir a identidade do mais desastrado dirigente esportivo que a região já conheceu, os jornalistas do Diário do Grande ABC, nas entrelinhas próprias da inexatidão, procuram estender responsabilidades a ex-dirigentes ou mesmo ao prefeito Aidan Ravin. Pura idiotice.


 


A verdade irretocável é que Ronan Maria Pinto recebeu uma agremiação em dificuldades, é verdade, mas teve tudo para, fosse democrático e mais inteligente que supostamente esperto, liderar um grupo de força coletiva extraordinária. Mas o ego de quem imagina conhecer tudo, saber de tudo, sempre falou mais alto. 


 


Desafio os leitores a encontrar uma matéria sequer em que me deixei levar pelo encanto verbal de Ronan Maria Pinto quando se trata do futebol de Santo André. Nos arquivos desta revista digital há um total de 199 textos relacionados a Ronan Maria Pinto. O penta-rebaixamento do Saged (insisto em suprimir o nome de Ramalhão, porque Ramalhão é outra coisa) era questão de tempo.  Tão natural e compulsório quanto uma eleição depois da outra em regimes democráticos.


 


Sim, o Saged chegou ao penta-rebaixamento. Coloco nessa conta o descenso de fato (embora de direito tenha sido salvo pelo Brasil de Pelotas, que escalou um jogador em condições irregulares e caiu fora de campo) à Série C do ano passado.


 


Desvirtuamentos manjadíssimos


 


É sempre possível que alguém interprete as intervenções deste jornalista sob ângulo de desavença particular, porque é esse o recado que Ronan Maria Pinto transmite a interlocutores quando é analisado neste espaço. Pura bobagem. Escrevo publicamente que ele me prestou um favor ao romper o contrato que formulamos em 2004 para retirar o Diário do Grande ABC da Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro de Imprensa. Fiquei nove meses naquele endereço, a tempo de salvar minha saúde, porque aquela é uma casa de loucos. Não coloco minha honra profissional entre o saldo daquela contratação, porque jamais a submeti a risco. Não tenho vocação à marionete; tampouco a capacho; muito menos a pau mandado.


 


Não é à toa que o Diário do Grande ABC ocupa galhardamente já faz tempo a Quarta Divisão do Campeonato Brasileiro de Imprensa. Tudo a ver, como se vê, entre futebol e comunicação, áreas nas quais Ronan Maria Pinto sempre acreditou navegar com a destreza dos campeões. Falta-lhe humildade para reconhecer-se despreparado. Coisa típica de ignorante. Ronan Maria Pinto subestima a realidade de que todos somos ignorantes em muitas atividades. A inteligência está na capacidade de reconhecer-se ignorante e fugir das raias que nos possam causar estragos. Sou um cantor de meia tigela, um desenhista indecifrável, um ex-atleta sem brilho técnico. Por isso sempre me lancei de corpo e alma no jornalismo. Meu velho pai, grande pai, também como Ronan, era um homem de poucas letras. Mas jamais se meteu no jornalismo. E se se metesse, saberia ouvir os melhores e se recolheria a funções não contaminadoras do conteúdo.


 


De fato, o sexto rebaixamento


 


Acompanhei atentamente a transposição do Esporte Clube Santo André para o Saged muito antes da formalidade legal. Tanto que o rebaixamento do então Ramalhão à Série B do Campeonato Paulista, no primeiro semestre de 2007, se deu por força de intervenção externa de Ronan Maria Pinto, que, ao inventar um candidato de oposição a Celso Luiz de Almeida, indicado por Jairo Livolis, retirou o foco de equipe e, com isso, desorganizou o planejamento e a execução. Tudo para conseguir o controle do então Ramalhão através da Saged, algo que se deu no segundo semestre daquele ano, quando Jairo Livolis e Celso Luiz de Almeida foram excluídos não sob uma saraivada de ataques, mas com os punhos de renda de quem tem malicia e sabe jogar nos bastidores.


 


Por isso, na ponta do lápis, contando com o rebaixamento de fato embora não de direito na Série C do Brasileiro do ano passado, o Saged supera o próprio recorde de penta-rebaixamento, para chegar ao hexa.


 


Testemunho aos leitores, no sentido de destruir qualquer ilação que dê sentido à bobagem de que faltou ao Saged a colaboração e o apoio do Esporte Clube Santo André, que ninguém é mais responsável, solitariamente responsável, pelo fracasso do futebol do Santo André senão Ronan Maria Pinto. Autoritário, autossuficiente, debochado, Ronan Maria Pinto eliminou de qualquer possibilidade de participação efetiva todos aqueles que julgava incômodos por não pensarem exatamente como ele. Ronan Maria Pinto é um ditador adocicado, o pior dos ditadores, porque comete injustiças sem que as vítimas se deem conta da gravidade dos abusos. Foi assim no ex-Ramalhão quando se lançou na empreitada de destruir qualquer vestígio dos dirigentes que atuaram durante anos no Ramalhão.


 


Compartilhar não é um conceito ao qual Ronan Maria Pinto dê a menor prioridade quando, evidentemente, entende que prescinde de companhia. Dirigir o ex-Ramalhão é uma responsabilidade coletiva da qual Ronan Maria Pinto abriu mão por livre e espontânea vontade, uma vontade gestada na personalidade individualista de quem simplifica tudo ao acreditar que basta colocar dinheiro para que o resto aconteça. Deve ter descoberto que a democracia do futebol, de transparência senão absoluta mas saudável, não tem parentesco algum com a esperteza dos bastidores de outras atividades menos sujeitas às verdades da competitividade dos gramados.


 


Quando perder é vencer


 


Confesso publicamente que já se foi o tempo em que perdia cabelos torcendo pelo antigo Ramalhão. Aliás, há muito tempo não sinto o menor interesse pessoal pela agremiação. Algo que me espanta, porque não foram poucas as situações em que me penalizava na eterna luta para conter sentimento clubístico por conta da função social que exerço há quase meio século. Ou vou mentir que não comemorei feito um louco a conquista da Copa do Brasil em 2004, ou do memorável acesso à Primeira Divisão Paulista em 1981, entre tantos outros feitos? Confesso também publicamente que não foram poucas as vezes em que torci para o Saged perder, porque sabia que havia um conto de vigário implicitamente incubado e assanhado em cada vitória, uma espécie de caderneta de poupança reversa, cujos rendimentos cediam lugar a penalizações.


 


Ronan Maria Pinto é o nome e o sobrenome da hecatombe que domina o futebol de Santo André. A única lógica entre o futebol e o jornal que dirige é mesmo a Quarta Divisão. Ronan Maria Pinto não é de nenhum desses ramos, bem sabe disso. Até mesmo a breve passagem pela Série A do Campeonato Brasileiro fundamenta essa constatação, porque estava na cara que a agremiação empresarial não contava com estrutura econômica, física, técnica e institucional para frequentar o clube fechado das maiores agremiações do País. Quando forçou a barra para chegar lá, como forçou a barra para ganhar a Série A do Campeonato Paulista, ao montar um dos melhores times da história do ex-Ramalhão, Ronan Maria Pinto patrocinou uma corrida maluca, uma roleta russa, um anabolizante cujos custos não tardariam a vir. E vieram dolorosamente.


 


Do futuro do ex-Ramalhão voltaremos a escrever, embora não faltem textos (sugiro três logo abaixo) nesta revista digital que tornam este novo trabalho apenas um fragmento de atualização clamorosamente coerente, cristalizadas na essência do jornalismo independente.


 


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