Bem que avisei, mas o que fazer se parte da mídia regional é intrinsecamente provinciana como a própria região? Luiz Marinho está para a disputa ao governo do Estado na próxima temporada assim como o chinês Zizao virar titular do Corinthians num jogo decisivo no Mundial de Clubes. Quem deu o recado ainda recentemente, com outras palavras, foi Lula da Silva, padrinho e mentor do prefeito de São Bernardo.
A pesquisa que o Datafolha publica na edição da Folha de S. Paulo de hoje confirma: Luiz Marinho não tem cacife politico-eleitoral nem mesmo para habilitar-se como pré-candidato petista. Ou seja: nem consta da lista de possíveis concorrentes ao Palácio dos Bandeirantes. E Geraldo Alckmin é favorito a dar continuidade à gestão tucana num dos Estados mais conservadores do País.
O que o Diário do Grande ABC andou embalando a candidatura de Luiz Marinho ao governo do Estado é uma grandeza. A insistência é proporcionalmente inversa ao silêncio que sempre se segue a denúncias de irregularidades apontadas na administração do petista mais importante da Província do Grande ABC. Sei lá se uma coisa tem a ver com a outra ou se uma coisa é uma coisa e a outra coisa é outra coisa, mas que o Diário do Grande ABC vive dilema nada kafkiano de tapas e beijos com Luiz Marinho, disso não tenho dúvida.
O prefeito de São Bernardo deveria se preocupar com a gestão municipal que assumiu há mais de quatro anos e na qual exerce ação medíocre, no sentido lato da palavra. Marinho é somente mais um prefeito da história de São Bernardo, quanto tem tudo para ser “o” prefeito de São Bernardo. Condições político-partidárias não lhe faltam. A ponte aérea com Brasília de Lula da Silva e de Dilma Rousseff é uma passarela à consagração. Tanto que o mundo social de São Bernardo, de obras de infraestrutura, deverá sim e tem sim de ganhar grande afluxo de recursos e de soluções.
Entretanto no campo de planejamento estratégico para tornar a capital econômica da Província do Grande AB C menos suscetível à crise que um dia retornará, a crise da doença holandesa do setor automotivo, praticamente nada foi feito. Exceto muita espuma de propostas que não saem do papel porque existe uma combinação de impotência organizacional interna e competitividade por matrizes econômicas com territórios nacionais mais consolidados nas atividades pretendidas pela administração petista. O jogo bruto da economia é um dialeto político que remete Luiz Marinho às cordas de um a tablado hostil.
Freguês de caderneta
Somente na cabeça oca de quem não enxerga um palmo à frente do nariz seria possível, nas circunstâncias atuais de desgaste do governo federal petista e da histórica rejeição ao partido no Estado de São Paulo, embalar essa bobagem de ver Luiz Marinho governador ou candidato competitivo à chefia do Estado. Luiz Zizao Marinho seria uma piada de mau gosto como concorrente de Geraldo Alckmin. Aliás, seria tanto um freguês previamente de caderneta que os tucanos trataram, ultimamente, de embalar o sonho do petista, com uma política de boa vizinhança que, como se sabe, não resistiria ao período pré-eleitoral.
Sou nascido no Interior e há mais de quatro décadas virei cidadão da Província do Grande ABC. Mas não esqueci origens e tampouco deixo de manter laços culturais com o passado. Não tenho nada do conservadorismo dos interioranos, por mais que eles também tenham mudado ao longo dos tempos, mas conheço suficientemente as raízes sociológicas longe das regiões metropolitanas paulistas para considerar Luiz Marinho candidato ao governo do Estado um convite à goleada de Geraldo Alckmin. Aliás, se nem o ex-presidente Lula da Silva faz frente ao governador, segundo a Datafolha, quem diria Luiz Marinho?
O fato é que o PT provavelmente terá de lançar mão de uma nova versão de escolha de Sofia, ou seja, terá de pinçar alguém para ir ao sacrifício de concorrer com Geraldo Alckmin e, consequentemente, salvar os demais de provável derrocada. Como o ex-presidente Lula da Silva já deixou claro que Luiz Marinho só seria contemplado à disputa se a vitória fosse compulsória, estava na cara que o prefeito de São Bernardo não teria a menor possibilidade de trocar o Paço Municipal por uma aventura.
Talvez a tentativa de solução meia boca do PT na tentativa de chegar ao governo do Estado de São Paulo seja análoga aos procedimentos que levaram o conservador Paulo Pinheiro à Prefeitura de São Caetano, Município da Província do Grande ABC que não chega a ser um espelho do comportamento eleitoral da média dos paulistas, mas também não está tão distante assim. Ou seja: o PT pode chegar ao poder no Palácio dos Bandeirantes utilizando-se de um Cavalo de Troia de uma agremiação menos estigmatizada pelo eleitorado interiorano.
É certo, entretanto, que, diferentemente do que se deu na região, a mídia não será tão complacente e não fechará os olhos à movimentação de bastidores que fez crer, à maioria do eleitorado, ter Paulo Pinheiro autonomia partidária, que não estava contaminado por supostas endemias esquerdistas.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)