Política

Falta definir quem vai
enfrentar Luiz Marinho

DANIEL LIMA - 05/04/2007

O triprefeito Maurício Soares de um lado e o ex-ministro do Trabalho e Emprego e agora da Previdência Social Luiz Marinho de outro. É improvável que a capital econômica do Grande ABC ofereça outro cenário na disputa pela Prefeitura no ano que vem. Entretanto, o deputado estadual Orlando Morando corre em raia estreita mas corajosa para ganhar o apoio do gabinete do prefeito William Dib e de um grupo de secretários.


 


Quem defende a candidatura de Maurício Soares levanta a bola da dúvida para saber quem vai ser o companheiro de chapa. São muitos os candidatos, casos dos secretários Ademir Silvestre e Admir Ferro. Candidato a vice-prefeito pode ser supérfluo em outros municípios, mas em São Bernardo faz parte da governabilidade e da própria estratégia de engrossar a votação.


 


A possibilidade cantada em prosa e verso de que Luiz Marinho já teria como vice-prefeito o forrozeiro Frank Aguiar pode frustrar-se. A escolha na qual o que menos conta é a governabilidade poderá ser deslocada em favor do até outro dia deputado estadual Gilberto Marson. A expectativa de Luiz Marinho é que com o cantor-deputado se privilegia a possibilidade de arrebanhar votos com a força da notoriedade, uma entre inúmeras formas de seduzir o eleitorado numa democracia em que o peso de individualidades é muito superior ao de partidos.


 


Entretanto, Frank Aguiar já teria manifestado desinteresse pelo cargo, porque não estaria interessado em trocar a vaga de deputado federal pela de vice-prefeito, com a perspectiva de assumir postos elevados no governo central. A colaboração do cantor ao PT seria a participação sempre eletrizante nos comícios. Por isso luta para retirar esse impedimento da legislação eleitoral.


 


Sem surpresa?


 


Em condições naturais, sem surpresas do destino, Maurício Soares sairá candidato a um Paço Municipal que ocupou durante 10 anos em três mandatos a partir de 1989. Dois desses mandatos foram seguidos e o terceiro acabou interrompido na metade, afastado do cargo por problemas de saúde que propiciaram a ascensão do vice William Dib.


 


A renúncia é o calcanhar-de-aquiles de Maurício Soares. Petistas sob a liderança de Luiz Marinho já martelam insistentemente na periferia de São Bernardo. Levantar dúvidas sobre a efetiva recuperação clínica de Maurício Soares é uma forma de despertar maliciosamente no eleitorado o risco de escolher alguém que, mais uma vez, poderia frustrar o voto digitalizado nas urnas.


 


Os governistas contra-atacam. Destilam também maliciosamente suposta aproximação do ex-sindicalista com executivos de alta patente em incursões internacionais regadas a programas sociais picantes, como denunciaram jornais em outubro de 2005.


 


Esquecer, jamais


 


Seria esperar demais que acusações contra Luiz Marinho sejam esquecidas. Em entrevista ao jornal alemão “Die Welt”, o ex-gerente de Recursos Humanos da Volkswagen, Klaus Joachim Gebauer, principal acusado do escândalo sexual que atingiu a montadora alemã, afirmou que na filial brasileira da empresa havia sistema de corrupção semelhante ao da matriz em Wolfsburg (Alemanha). Segundo Gebauer, o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, e o ex-diretor do conselho de fábrica Mário Barbosa, estiveram em uma boate em Wolfsburg às custas da empresa. Marinho divulgou em seguida uma nota em que classificou de “falsas e mentirosas” as acusações do executivo alemão. E prometeu acionar na Justiça os responsáveis pelas “calúnias e difamações” que atentavam contra a sua honra.


 


Esperar que as eleições em São Bernardo sejam civilizadas é desconhecer a agressividade típica de contendas azeitadas por orçamentos municipais limitadíssimos, quanto mais milionários — independentemente da carga de responsabilidade no combate a problemas sociais. Provavelmente nas declarações para a mídia os candidatos e correligionários mais próximos transmitirão a sensação de que vivem em respeitosa medição de forças, cujos decibéis e manobras semânticas permitiriam até que ocupassem uma sacristia sem que se cometesse sacrilégio. Entretanto, longe de microfones, gravadores e blocos de anotações, o pau quebra. É assim a política, em qualquer cafundó do País e do mundo — um jogo de espertezas, de dissimulações e de mistificações.


 


Basta lembrar o quanto os opositores do PT em Santo André, nas eleições de 2004, forraram as ruas durante madrugadas com material impresso de acusação a empresários próximos do Paço Municipal no caso da morte do prefeito Celso Daniel, por conta de suposta tomada de poder paralelo em nome de propinas. Em Mauá, no mesmo ano, o deputado estadual Donisete Braga e o candidato petista Márcio Chaves, citados pelo Ministério Público, foram sistematicamente hostilizados em domicílio por potentes alto-falantes de adversários. Eles também viraram assassinos de Celso Daniel. Como se observa, em disputa eleitoral, autores ficcionais de um crime tão escandalosamente manipulado não faltam no repertório de acusações.


 


A mais de um ano da abertura das urnas, a escolha de Luiz Marinho para o comando da chapa oposicionista é flagrantemente mais cômoda. Finalmente ele conseguiu ser aceito pelos militantes petistas de São Bernardo. A insistência com o deputado federal Vicentinho Paulo da Silva foi um tiro no escuro. Vicentinho é visto como bom moço mas ruim de discurso e de voto para cargo majoritário.


 


Luiz Marinho será testado pela primeira vez com a visibilidade de ministro muito próximo de Lula da Silva. Projeta-se que as atuais 17 mil unidades do Bolsa Família que beneficiam miseráveis e pobres de São Bernardo serão 40 mil até as eleições do ano vem. Algo como 160 mil votos, se for considerada a matemática eleitoral de que cada moradia beneficiada representa quatro votos. Praticamente um terço do eleitorado de São Bernardo. Os governistas temem o efeito-Lula das eleições presidenciais. Principalmente porque já se massificou a informação de que o Bolsa Família é ação social do Partido dos Trabalhadores.


 


Luiz Marinho entrou para valer na campanha eleitoral ainda oficiosa. O lançamento do jornal ABCD Maior é visto pelo Paço Municipal como ponta-de-lança da bateria de críticas preparadas para combater os governistas. A publicação conta com o suporte da Rede TV. Dominar a periferia e, com isso, chegar até as áreas centrais, eis a estratégia para o candidato petista ganhar as eleições.


 


A medida contraria conceitos para muitos ultrapassados de cientistas políticos que defendem exatamente o inverso: a força eleitoral se espalharia do centro em direção à periferia — como uma pedra atirada num lago. Além disso, pesquisas apontam que Luiz Marinho é mais bem visto pela classe média de São Bernardo do que Vicentinho Paulo da Silva. Luiz Marinho seria mais moderado quando comparado com outras lideranças que ocuparam a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.


 


O governista Maurício Soares, primeiro e único prefeito eleito pelo PT em São Bernardo, em 1988, vai ter de esperar para ver se consegue viabilizar-se como candidato a prefeito e, caso as costuras dêem certo, terá um segundo round, na definição de quem o acompanhará na chapa. Há candidatos em profusão. Desde o mesmo deputado estadual Orlando Morando até o secretário de Governo Osmar Mendonça. A lista pode contar com pelo menos outros seis ou sete nomes. Depende do grau de especulação.


 


Orlando Morando é menos próximo de Maurício Soares do que Osmar Mendonça, e isso pode influenciar na definição. Caso Maurício Soares seja eleito, Morando teria de renunciar ao cargo de deputado. A possibilidade de ser um vice-prefeito sem espaço além do formal, como Maurício de Castro durante o segundo mandato de Maurício Soares, assustaria Orlando Morando. O deputado prefere ignorar as especulações, não esconde interesse em sair candidato a prefeito pelo Paço Municipal e, por isso mesmo, evita discorrer sobre a possibilidade de ocupar chapa de Maurício Soares.


 


Divisões


 


Pesa contra Orlando Morando um feixe de restrições de grupos políticos alinhados ao Paço que temem ver o deputado estadual embalado como sucessor de William Dib. Por isso, tanto a indicação como cabeça de chapa como de companheiro de Maurício Soares encontra resistência. O também deputado estadual Alex Manente poderia lançar candidatura própria ou apoiar informalmente o petista Luiz Marinho, ou mesmo não fazer qualquer esforço eleitoral, caso Orlando Morando seja o escolhido para qualquer uma das duas vagas.


 


Morando obteve 70 mil dos 120 mil votos nas eleições do ano passado em São Bernardo, contra 50 mil de Alex Manente. A escolha de Osmar Mendonça seria vista com bons olhos pelo grupo de Manente e contrabalançaria eventual refluxo de votos do preterido Orlando Morando.


 


Entretanto, embora a candidatura de Maurício Soares ganhe corpo a cada semana, Orlando Morando não desiste da opção como concorrente ideal a prefeito. Jovem, impetuoso, Orlando Morando não aceita passivamente a possibilidade de ser deixado para depois exatamente porque é jovem e impetuoso. A eventualidade de imprimir pressão para ser escolhido sucessor de William Dib também não descarta a idéia-força de que estaria mesmo de olho na vice-prefeitura. Mesmo com os riscos de ter um prefeito Maurício Soares menos acessível ao projeto.


 


O ex-petista e sindicalista Osmar Mendonça estaria muito mais próximo dos radares de confiabilidade de Maurício Soares. Eles se conhecem desde os tempos em que os metalúrgicos de São Bernardo desafiaram o Regime Militar nos chãos de fábrica em que eram tratados como máquinas humanas. A escolha de Osmar Mendonça contribuiria para dividir o eleitorado petista de Luiz Marinho e, também, aproximaria Maurício Soares de Alex Manente.


 


Sem contar que a governabilidade do Paço estaria sob controle, embora deslocasse o eixo de poder hoje mais favorável a William Dib para o grupo de Maurício Soares. Diferentemente, portanto, do equilíbrio que seria preservado com Orlando Morando de vice, visto também por quem defende sua candidatura como companheiro ideal para o sexagenário Maurício Soares. Seria a juventude interagindo com a experiência — apenas uma das muitas variáveis que entram no liquidificador de vantagens e desvantagens na definição de candidatos.    


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