Quem sustenta que Luiz Marinho ficará na história da Administração Pública da Província do Grande ABC como prefeito quase obreiro é o próprio Luiz Marinho. Esta é a conclusão a que cheguei (seria melhor dizer que é a conclusão confirmada a que cheguei) após ler a entrevista do petista ao jornal virtual e impresso ABCD Maior. Marinho discorre o tempo todo sobre as obras que realizou, sobre as obras que iniciou e sobre as obras que pretende deixar para o sucessor iniciar. Coloca tudo, absolutamente tudo, no mesmo saco.
Quem se ausentou por alguns anos da região e acompanha a entrevista não saberá distinguir realidade de projeção. Prefeito quase obreiro, portanto, é aquele que projeta muitas coisas e realiza algumas coisas. Prefeito obreiro projeta e realiza muitas coisas. O Observatório de Promessas e Lorotas desta revista digital revela o tamanho do buraco das propostas do prefeito de São Bernardo.
Pretendo escrever muito, mas muito mais sobre as duas temporadas de Luiz Marinho à frente da principal cidade da região. Já o fiz em várias situações. Não arredo pé de conclusão da qual gostaria muito de me arrepender, e não teria dúvidas em assumir mea-culpa: o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e ex-ministro de duas pastas do governo Lula da Silva é mesmo um gestor medíocre. Entendam medíocre no sentido lato do termo, embora, quando se invade o terreno econômico, ou seja, de olhar e de ações voltados às atividades produtivas, Luiz Marinho não passe mesmo de medíocre no sentido mais popular do termo.
Água no chope
Tenho cá comigo a certeza de que, exatamente por ser medíocre (agora no sentido etimológico do verbete), Luiz Marinho só alçou os voos que alçou -- e que lhe conferem trajetória interessante para quem observa biografia acriticamente -- porque sempre contou com o suporte logístico, por assim dizer, de seu patrono, o ex-metalúrgico, ex-dirigente sindical e ex-presidente Lula da Silva.
Nem mesmo o fato de ter contado com retaguarda experiente na área pública (a então ainda não ministra Miriam Belchior deu assessoria permanente antes de Marinho assumir o primeiro mandato) conferiu ao prefeito de São Bernardo brilho que não fosse emprestado temporariamente pelo fluxo de recursos financeiros do governo federal. Até que a Operação Lava Jato e as lambanças fiscais iniciadas com Lula da Silva e explicitadas por Dilma Rousseff colocaram água no chope de conquistas materiais.
Luiz Marinho reúne capacidade pouco comum de não conseguir surpreender com formulação verbal que o coloque distante da raia miúda da política. Suas declarações são velhos clichês -- e aí entra em campo um fator de enfraquecimento das possibilidades de vir a dar saltos sem o impulso do ex-presidente – no cometimento de barbaridades avaliativas ditadas pela ideologia cega.
Coleção de tropeços
Há nesta revista digital coleção de barbaridades interpretativas de Luiz Marinho. Imagino o dia em que, ao contar com alguma visibilidade nacional, o quanto sofrerá nas mãos de jornalistas igualmente independentes mas que tenham audiência maior nas principais publicações do País.
A entrevista de Luiz Marinho ao ABCD Maior no dia do aniversário de São Bernardo é o retrato bem acabado de um prefeito quase obreiro que não será reverenciado no futuro porque as obras físicas que deixará serão tão poucas e, muitas das quais, incompletas. A lógica política assegura que o povo atribuirá ao prefeito de plantão a paternidade das obras que inaugurar. Na maioria dos casos, nada mais lógico, porque existe uma fina sintonia orçamentária entre projetos e obras realizadas.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ