Política

Cadê as pesquisas eleitorais?
O dinheiro está mesmo curto

DANIEL LIMA - 17/08/2016

Olho e não encontro. Fuço aqui, fuço ali e nada. De vez em quando aparece alguma coisa, mas é pouca coisa. Cadê as pesquisas eleitorais, tão fartas em outros tempos? A Província do Grande ABC está às escuras. Será que a Lava Jato que ainda não chegou para valer aqui é a explicação para a escassez estatística? Tenho sofrido crise de abstinência lascada, porque sou louco por pesquisas eleitorais.

O que se passa com as pesquisas eleitorais? Cadê o Ibope, cadê o Vox Populi, cadê o antigo Imes, de São Caetano. Cadê essa turma de industrializadores de dados?

Não vou afirmar que a Lava Jato está por trás de tudo, mas que tem cheiro de Lava Jato, isso tem. O caixa dois está mirrado, mirradíssimo. Os candidatos estão quase que inteiramente a pão e água. Mesmo os candidatos das chamadas máquinas públicas.

Como receber dinheiro de terceiros colaborativos se os terceiros colaborativos, geralmente fornecedores da máquina pública, estão fora da lista de pagamentos de faturas já vencidas?

Pedaladas pedagógicas

Fala-se que há uma montanha de dívidas dos atuais prefeitos, de quase todos os atuais perfeitos, com os fornecedores. As pedaladas de Dilma Rousseff foram pronunciadamente maiores que as dos governos estaduais e municipais, mas fizeram escolas. Os prefeitos sofrem mais porque não emitem dinheiro, não têm muita margem de manobra para aumentar impostos e estão de alguma forma presos à Lei de Responsabilidade Fiscal. Está certo que também aprenderam a dar um nó na LRF, principalmente nos gastos com pessoal, mas mesmo assim têm limites nas artimanhas.

O que quero saber e insisto em tentar saber é até quando vou ficar aqui no meu cantinho resmungando à espera de pesquisas eleitorais?

Sorte minha que não sou de roer as unhas, que não tenho alergia por conta de fatores psicológicos (só de produtos de limpeza, de tinta e de assemelhados, que são meu calvário), senão já estava ferrado e mal pago. Onde já se viu tanta tortura?

Acordo todos os dias imaginando que vou dar de cara com números dos quais sempre desconfio mas sobre os quais boto toda a minha atenção e interpretação porque ainda não inventaram outro jeito de analisar pesquisas sem ao menos crer um pouquinho sequer que se tratam de coisa séria.

Fartura em papel

Tenho em meus arquivos de papel (os arquivos digitais ficam por conta do Google, os quais exploro sempre na hora certa) uma imensidão de páginas sobre as mais diferentes campanhas eleitorais na região, em São Paulo, no Estado de São Paulo e no Brasil. Há dezenas de páginas que contam a história estatística das eleições. Há muitos furos nágua, mas também há muitos acertos.

Os institutos de pesquisa, como se sabe, são espertos. Seus comandantes trabalham sempre com uma margem de erro que torna a margem de erro uma margem de acerto mesmo que a margem de acerto deixe a impressão de que ultrapassou os limites.

Vou explicar: quando se colocam três pontos percentuais de margem de erro é sinal de que nove pontos percentuais separam o erro do acerto. A elasticidade é uma salvaguarda dos institutos de pesquisas ante a possibilidade de desmascaramento pós-urnas eletrônicas.

Não entendeu a história de três pontos percentuais de margem de erro? Vou explicar. Quando um instituto diz que determinado candidato supera o adversário por 33% a 30%, mas o jogo está estatisticamente empatado, isto quer dizer que o vencedor parcial pode contar tanto com 36% como com 30% dos votos, assim como o adversário pode contar com 33% e 27% dos mesmos votos. Entenderam?

Três pontos percentuais para cima ou para baixo é isso. Na verdade, são nove pontos de diferença, porque quando se eleva em três pontos, pode também rebaixar o adversário em três pontos. O que era uma disputa pau a pau vira uma goleada. Mas também pode virar uma reviravolta no placar. Quem não entendeu mesmo com esse didatismo, desista, porque é assim mesmo. Os ingleses que são loucos por apostas devem abominar esses truques numéricos.

Votos vulneráveis

Mas a graça de pesquisas eleitorais vai muito além de três para cima e três para baixo. Há muitos outros elementos que me hipnotizam em busca de respostas. Votos espontâneos, por exemplo. Sou vidradíssimo nos votos espontâneos, os quais chamo de votos com enorme potencial de sucateamento. Quem é entrevistado por um pesquisador e diante de pergunta sobre quem vai receber seu voto afirma que não sabe, vai votar em branco ou vai anular o voto, é candidatíssimo a aumentar o estoque de votos sucateados no dia do pega para capar da eleição para valer. Por isso, quando em seguida o pesquisador insiste em querer saber em quem o eleitor vai votar e lhe mostra um círculo com o nome de todos os candidatos, a escolha é menos convicta e, portanto, mais vulnerável.

Já escrevi sobre isso, mas não custa repetir. Estou à espera de algum estudo que dimensione quantos dos votos estimulados que deixaram de ser votos sucateados são votos convictos que se materializarão de fato nas urnas eletrônicas. Acho os responsáveis pelas pesquisas descuidados, porque não adotaram jamais algum mecanismo para avaliar para valer até que ponto voto estimulado é voto a ser confirmado.

Também fico muito invocado com os indicadores de aprovação de um determinado gestor público. As pesquisas não medem o que significa “regular”. Raramente se vê algum questionário que destrinche a alma do “regular”-- entre “regular” positivo e “regular” negativo. Regular para cima, com vizinhança próxima à aprovação, e regular para baixo, encaminhando-se à reprovação. Acho que avaliação “regular” isoladamente não caracteriza com segurança nem o céu nem o inferno do administrador que concorre à reeleição.

Regular para onde?

Vamos à prática dessa imprecisão: o caro leitor que mora em Santo André, por exemplo, considera a gestão de Carlos Grana “regular” para cima ou “regular” para baixo? Se for para cima, o resultado não aparecerá na pesquisa. Se for para baixo, também não. Isso vale para Paulo Pinheiro em São Caetano, para Donisete Braga em Mauá, para Lauro Michels em Diadema e mesmo para Luiz Marinho, em São Bernardo. Isso mesmo, para Luiz Marinho porque, mesmo sem concorrer, um “regular” para cima pode acenar com a possibilidade de oferecer ao candidato petista, Tarcísio Secoli, um apoio mais forte durante a campanha rumo ao Paço Municipal. Um “regular” para baixo, pode botar tudo a perder.

Viram por que estou quase insone com a ausência de pesquisas eleitorais na região? Perdi uma fonte preciosa de elementos estatísticos que nem sempre os editores dos jornais captam na intensidade e na profundidade necessárias. Sem contar que os próprios formuladores dos questionários deixam escapar elefantes porque estão viciados em descrever a trajetória de formigas.



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