Política

Marinho eleitoral está entre
bônus social e ônus econômico

DANIEL LIMA - 26/08/2016

O prefeito Luiz Marinho sabe por pesquisas e porque não é bobo nem nada  que vai ser muito difícil o PT sustentar-se no poder na manjedoura que o embalou para tomar conta do País durante 13,4 anos.  Será um desastre político Luiz Marinho bater perna como está batendo e constatar em outubro que seu candidato, Tarcísio Secoli, acabou derrotado. O resultado lhe daria muita dor de cabeça. O sonho de chegar ao Palácio dos Bandeirantes não está fora de seus planos. Quer ser candidato viável ao governo do Estado em 2018. Marinho é um sonhador se for considerado o contexto político-eleitoral atual. Mas como política e biruta de aeroporto são semelhantes, nada é definitivo.

O que Luiz Marinho espera nesta campanha eleitoral é que o peso do bônus social que assegura ter construído na cidade seja maior que o ônus econômico, que, como se sabe, vem de longe, desde os tempos de sindicalista.

Será que Luiz Marinho dará um nó na lógica de que o eleitor vota com o bolso? Quem acredita que o eleitor de São Bernardo supostamente tão politizado (politizado uma ova, acreditem!) vai votar em agradecimento a benfeitorias na infraestrutura social e material sem considerar o estado de calamidade em que se encontra a economia do País e, particularmente de um Município abatido duramente na indústria automotiva, carro-chefe do PIB local?

Para complicar o caudal de travessuras do destino, Luiz Marinho sabe que o impeachment de Dilma Rousseff e os escândalos petistas vão acrescentar à recessão econômica um caldo indigesto que nem o ex-presidente Lula da Silva, dotado de carisma que todos reconhecem espetacular,  será capaz de amainar nas proporções necessárias. Tanto que em todos as pesquisas especulativas com vistas a 2018 Lula da Silva bate recordes de rejeição e não passa de 22% de preferência do eleitorado.

Nome e sobrenome

Os adversários não perderão a ocasião para nominar o repudiado ladrão da esperança coletiva brandida durante vários anos de cultivo à heresia de que o Brasil contava com novo contingente de classe média vigorosa. É claro que o ladrão da ocasião, na opinião dos adversários de caminhadas pelos bairros, tem nome e sobrenome conhecido, segundo a turma do juiz Sérgio Moro: Partido dos Trabalhadores.

O partido da estrela vermelha que os próprios petistas tratam de esconder ou dissimular, sabedores do quanto estão pagando o pato de uma bandalheira generalizada, ganhou individualidade partidária estigmatizadora desde que a Operação Lava Jato, muito mais que o Mensalão, dá as cartas e joga de mão.

Luiz Marinho desenhou com sincronismo lógico e o suporte estrutural de executivos do governo federal, caso de Miriam Belchior, entre outros, a corrida rumo ao Palácio dos Bandeirantes. Tudo se deu assim antes mesmo de assumir a Prefeitura de São Bernardo em 2009. Não havia quem colocasse em dúvida que o caminho seria trilhado de tal forma que os tucanos haveriam de sofrer um bocado para seguir no comando da política do Estado mais importante do País.

Trapalhadas do destino

Havia oito anos de aprofundamento e consolidação de um projeto revolucionário. Luiz Marinho transformaria São Bernardo num canteiro acabado de obras. A Capital de Veículos do País galgaria também novos rumos produtivos. Tudo caminhava às mil maravilhas até que a febre dos chineses por commodities se contraiu e abalou os investimentos do governo federal. Daí à crise fiscal foi um pulo. De sobremesa indigesta vieram os escândalos sistematizados pelo PT.

Com isso, ao primeiro mandato de tanto embalo rumo ao Palácio ocupado pelos tucanos desde 1995 seguiu-se o pesadelo dos quatro anos seguintes.

Há uma reserva de obras principalmente na periferia de São Bernardo que serve ao discurso de transformações que Luiz Marinho tem usado exaustivamente.

Já na economia a desgraceira é patente. Mais de 20 mil trabalhadores de montadoras e autopeças estão pendurados em programas de proteção do governo federal. O montante é um quarto dos trabalhadores com carteira assinada do setor industrial. As demissões se avolumam. São Bernardo de segunda a segunda parece São Bernardo de feriado prolongado.

PIB despenca

A projeção de que o PIB per capita da cidade vai cair 20% nos quatro últimos anos da gestão Marinho não é catastrofista e tampouco retaliação político-partidária. É economia pura e se consumará quando os números do PIB Municipal do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) forem revelados. As temporadas de 2014, 2015 e 2016, desvendadas sempre com atraso de dois anos, não deixam margem a dúvidas. É esperar para chorar.

Luiz Marinho é um político experiente. Como disse outro dia numa entrevista à qual tive acesso na rede mundial de computadores, não perdeu tempo e copiou conceitos de muitas administrações petistas que deram bons resultados, especialmente de Celso Daniel. A retaguarda com que contou para esquadrinhar a São Bernardo que começou a dirigir em 2009 reunia talentos gerenciais sobretudo na aplicação de dinheiro que consumassem resultados rapidamente mensuráveis.

Marinho é tão experiente e matreiro que passou o tempo todo da entrevista a desfilar série de obras lançadas, encerradas ou em fase de finalização. Parece que à sua frente contava com informações fixadas em cartazes, tal a segurança com que se manifestou em tom quase coloquial.

Marinho é bom mesmo nesse negócio de proclamar o legado social ao qual se dedicou, embora nem tudo que afirme deva ser levado a sério. Político em período eleitoral não tem por costume respeitar os limites do real e do imaginário, quando não do especulativo.

Versão de Lula da Silva

Marinho transmite a sensação de que copia o grande inspirador e protetor de seus sonhos políticos, Lula da Silva, ao sugerir que antes dele não haveria nada vezes nada em São Bernardo em matéria de saúde, educação, transporte público, saneamento básico, zeladoria, essas coisas.

Lula diz coisas semelhantes em relação ao Brasil, cuja descoberta se deu em primeiro de janeiro de 2003, ao receber a faixa presidencial do antecessor Fernando Henrique Cardoso.

É claro que Lula da Silva não contabiliza como legado o desastre chamado Dilma Rousseff, gerentona que se descobriu dolorosamente sem a menor condição técnica – política, então, nem pensar – para administrar uma loja de esquina. Aliás, para administrar uma loja de esquina é preciso ter muito talento e perspicácia. O pequeno empreendedor sofre pra burro nesse País de grandes corporações protegidíssimas pelo aparelhamento do Estado.

A lista de fracassos de Luiz Marinho é extensa. Tudo está documentado no Observatório de Promessas e Lorotas desta revista digital, inovação do jornalismo brasileiro. Os jornais preferem mesmo correr atrás do prejuízo quando pretendem recompor a memória de uma administração pública.

São tantos os tropeços que a lista de realizações no campo social precisa ser devidamente estruturada e, mais que isso, ganhar transparência de modo que não se tenha também a sensação de que o prefeito petista fracassou igualmente na área.

Sabe-se que Luiz Marinho, com farta dinheirama do governo federal, realizou mesmo obras em todos os cantos de São Bernardo. O mérito do planejamento em sintonia com o cronograma de obras deve ser realçado como prova de que o titular do Paço Municipal não é um gestor desastrado. Mas isso é pouco. As barbeiragens no campo econômico são tantas, mas tantas, que apenas uma leitura atenta desta revista digital permitiria dar a dimensão mais próxima do abismo entre os dois setores.

Poupando os leitores

Para poupar os leitores não vou dizer aqui neste espaço tudo sobre as trapalhadas econômicas de Luiz Marinho. Longe de mim lembrar os anúncios do Aeroportozão e do Aeroportozinho que não deram em nada. Tampouco da indústria de defesa, da indústria do petróleo e do gás, dos Arranjos Produtivos Locais, do Polo Tecnológico e de tantas coisas mais.

Seria este jornalista mordaz demais se tocasse nesses assuntos. Esse é o buraco negro inescapável da Administração de Luiz Marinho durante oito anos em São Bernardo. Para quem anunciou que pretendia tornar São Bernardo menos dependente do setor automotivo, a constatação de que deixará o Paço Municipal numa temporada em que o setor que sustenta a cidade alcançará a façanha de produzir menos de dois milhões de veículos, nada mais impiedoso.

E pensar que mal havia iniciado o mandato, em 2009, Luiz Marinho promoveu uma festa no Centro do Professorado para anunciar a composição de um grupo especial de monitoramento do setor automotivo da região, particularmente de São Bernardo.

Quando se leva em conta que poucos conhecem o setor automotivo regional e nacional como Marinho, a inação ao longo de oito anos pode parecer incoerência indesculpável. Ledo engano.

Exatamente por conhecer e por estar comprometido até a medula com os agentes que atuam diretamente na indústria automotiva, o ex-sindicalista, atual prefeito e ex-ministro da Previdência Social e do Trabalho do presidente Lula da Silva não mexeu uma palha. Tudo coerentemente.

Marinho e São Bernardo estão presos às amarras sindicais de metalúrgicos sanguessugas que vivem sob a proteção do governo federal nos períodos de vacas magras e, nos tempos de vacas gordas, jogam no lixo qualquer iniciativa de ajustar as linhas de produção com base na produtividade do trabalho.



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